terça-feira, 14 de janeiro de 2014

              O maior caso de bullying da história

Acho que foi na primeira Bienal de que participei lançando meus livros psicografados que dei a sorte de comparecer no mesmo dia em que também lá estava o Ziraldo, de quem sou fã desde criança.

Eu colecionava todos os almanaques da Turma do Pererê, e ainda meu filho mais velho chegou a lê-los. 

E como as Bienais são uma espécie de paraíso na Terra para amantes da leitura, em sendo convidada pela editora para autografar em duas tardes, aproveitei para dedicar o máximo possível do tempo ao evento, chegando mais cedo, e me deliciando pelas muitas avenidas agitadas onde leitores, editoras e autores compartilhavam as novidades do maravilhoso universo dos livros.

Numa das avenidas, num cercadinho, com fãs infantis ou adultos para além dos limites permitidos pela segurança do autor, lá estava Ziraldo fazendo o seu lançamento. Sorridente, com seus assessores e amigos, recebia alguns leitores que queriam autógrafos, posava para algumas fotografias.

 E eu, autora modesta, em início de carreira, com um ou dois livros publicados, lá me detive por breve momento, admirando a cena, e aproveitando também para registrá-la, como todo bom visitante, com a máquina de meu celular.

É bom ser querido assim! Indizível, esta sensação de que o nosso trabalho é bem recebido pelo público, e que lhe presta benefícios.

 Bom, também, ser estimado por este mesmo público, que acata e se encanta com o produto de nossa atividade literária, comentando, ou mesmo tecendo críticas úteis ou favoráveis.

Hoje, um pouco mais adiante daquele começo, posso dizer com prazer que conheço a sensação. 

Porque nada compensa mais o autor do que esta troca enriquecedora com leitores de variadas procedências, já que assim também crescemos como pessoas.

Conhecemos uma gama enorme de indivíduos com as suas origens culturais, idiomas, pensamentos e percepção de vida, e, consequentemente, de nosso trabalho.

 Disso tudo, portanto, a lição maior extraída é a da humildade, perante a grandiosa diversidade da vida.

Mas o que isto tem a ver com o mencionado no título deste texto - o maior caso de bullying da história?

Amigos, alguém, um dia, também colheu os louros justos pelo seu trabalho, que em toda a história de nossa civilização ocidental nos compareceu como o mais revestido de importância, de validade, de luz!

Durante algum tempo, muitos que foram devagar se apercebendo do que acontecia acorreram a conhecer quem era o autor daquelas obras espetaculares de que se falava em todo canto de uma determinada região do mundo: prédicas de consolação sem igual.

 Curas! 

Auxílio e amor incondicionais, a quem quer que o procurasse em busca de algum lenitivo...

Tratava-se de um ser tão diferente dos demais, por conta destas atitudes inéditas, das ideias de vanguarda que defendia, favorecendo principalmente a gente simples daqueles tempos, que, a partir de certo ponto, todavia - e ao cair a ciência da presença daquele homem no domínio de outros, da casta mais favorecida da época - começou a incomodar!

Sim! Aquela diferença em seu comportamento, todo pautado em amor e compaixão dos sofredores, dos mais simples, começou a incomodar, principalmente aos poderosos daqueles tempos!

Pois que suas palavras e atitudes ensinavam a igualdade de todos perante a consideração de Deus.

Ensinava aos indivíduos sedentos de esperança, vindos de todos os recantos daquelas terras longínquas, que não deveriam depositar todo o sentido e objetivo da existência nas coisas ilusórias e que seriam fatalmente, mais cedo ou mais tarde, corroídas por traças. 

Dizia-lhes que deveriam dar a César o que a César pertencia, e a Deus o que era de Deus, apontando a inutilidade de investirem demasiado e exclusivamente nas coisas deste mundo - que esta postura, portanto, fosse deixada aos que dela se nutriam e que por ela se orientavam, pois aos mortos deve ser entregue o enterro dos mortos.

A Vida viva, que repousa na qualidade de nossas atitudes, contudo, deveria ser almejada por todos que já se viam fartos e exaustos destas miragens enganosas!

Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, pois eu os aliviarei... – Mateus, 11; 28-30.

Pois a diferença incomensurável existente entre estas anotações e o que, ao contrário, era defendido e realizado pelo farisaísmo míope da época, sob o peso do constrangimento romano, começou a incomodar demais.

 Quem, pois, era aquele homem que se atrevia a fazer apologia de um segundo Reino dentro de um reino institucionalizado já existente?!

Conveniente às autoridades, sentindo-se ameaçadas pela popularidade sem precedentes de Jesus, considerar as coisas assim! 

Aquilo seria o pretexto perfeito para se agir, para se abrir fogo - e logo!

Quem, portanto, era aquele homem que se atrevia a se declarar o Messias?! 

Que alegava direitos a um reino, vindo ameaçar o poder estabelecido, as representatividades consolidadas do próprio imperador romano?!

Alguma coisa deveria ser feita, e rápido.

 Ou aquele homem enigmático, incompreensível, que só respondia com solene e altivo silêncio às perguntas insidiosas que lhe lançaram no interrogatório infamante, acabaria por acossar o povo a algum levante contra o governo, que, dada as proporções supostas, seria difícil de se debelar!

Criara-se, assim, o ardil para o maior caso de bullying - de perseguição insidiosa e execução por tortura - já havido em toda a história da humanidade!

Todavia, meus amigos, qual foi a atitude do Cristo, frente a estas infâmias?

Revidou à altura?!

 Desceu da indescritível altitude espiritual de que já era portador para se nivelar aos seus algozes, com ataques físicos ou verbais de quaisquer ordens?!

Sim - outrora, nalguns instantes, frente aos fariseus hipócritas que buscavam distorcer intencionalmente o sentido de seus apontamentos, indicara-os com firmeza como sepulcros caiados, cheios de podridão por dentro -, guias cegos, que nem entram no Reino dos Céus, nem permitem que outros entrem, em distorcendo a visão e entendimento do povo para o verdadeiro sentido das coisas de Deus.

Todavia, não agiu assim no momento do testemunho.

 Porque, ali, não se tratava de defender a autenticidade daquelas verdades com palavras diante da multidão - tratava-se de defender a Verdade com a atitude definitiva, que viria validar, com silêncio, sofrimento e sangue, que o que distancia o anjo do homem vulgar é, sobretudo, a firmeza eventualmente muda, porém sólida, do exemplo!

Deste exemplo que, até os dias de hoje, mais de dois mil anos depois, se revalida, a cada dia, quando, diante da fenomenologia social tida como inédita e rebatizada de bullying, vamos dolorosamente resgatando a conclusão de que nada se modificará nos panoramas sociais do mundo enquanto não prevalecer em mentes, em corações, o entendimento de que nossas atitudes perante o próximo devem ser pautadas, em nosso próprio benefício, quanto para o bem de todo o planeta, em compreensão e amor!
E não há outro caminho!...

Christina  Nunes – o cnsolador