quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


                                  TAFOFOBIA          
Lucas, 7:11-17

Cerca de dez quilômetros a sudeste de Nazaré, na Galiléia, existe ainda hoje, quase em ruínas, a cidade de Naim.
O lugarejo entrou para a história cristã graças a um prodígio operado por Jesus.
Logo após o contato com o centurião, o Mestre ali esteve, numa de suas costumeiras viagens de divulgação da Boa Nova.
Dois grupos se cruzaram:

Um entrava.
Trazia a Vida, a exprimir-se em bom ânimo, alegria, otimismo…
Chegava Jesus, acompanhado de seus discípulos.

O outro saía.
Levava a morte, marcada por desolação e lágrimas.
Partia o cortejo fúnebre do filho único de uma viúva.

Jesus observou a angustiada mãe.
Compadeceu-se dela.

– Não chores.
Segurou o esquife, fazendo parar o cortejo.
Dirigindo-se ao finado, disse-lhe:

– Jovem, eu te digo: Levanta-te!
Eventuais circunstantes terão considerado que aquele homem esquentara os miolos ante o sol inclemente.
Delirava!
Mas, para estupefação geral, o finado se mexeu!
Como se despertasse de sono profundo, sentou-se na padiola e pôs-se a falar.
Imaginamos o assombro que causou.
Supremo prodígio – ressuscitar o morto!
Empolgados, diziam os presentes:

– Um grande profeta se levantou entre nós e Deus visitou seu povo.
Novamente Jesus maravilhava a multidão com seus poderes miraculosos, fazendo alguém retornar da viagem sem volta – a morte.

***

Na atualidade, graças aos avanços da Medicina, temos com freqüência, nos hospitais, a experiência de quase morte.
O enfartado sofre parada cardíaca.
Morre!
Os médicos atendem prontamente.
Usam modernos recursos de ressuscitamento.
Se o coração não estiver demasiadamente comprometido, poderá retornar à vida.
Alguns pacientes reportam-se a significativas experiências que vivenciam durante esses dramáticos minutos.

• Vêem-se fora do corpo, ligados a ele por um cordão, não raro flutuando, a observar a ação dos médicos.
• Viajam vertiginosamente dentro de um túnel.
• Revivem, em poucos minutos, as emoções de toda a existência.
• Conversam com seres espirituais.
Essas experiências fazem parte de mecanismos automáticos que envolvem a desencarnação, espécie de preparo, tomada de consciência do Espírito, no retorno à vida espiritual.
É disparado ante a iminência da morte ou quando ela se consuma.
Se o coração volta a pulsar, imediatamente o paciente perde as percepções espirituais e desperta no corpo.
As pessoas que passam pela EQM encaram a morte com serenidade.
Foram “até lá”.
Constataram que não é tão terrível como situa o imaginário popular.


***

Teria ocorrido a EQM na passagem evangélica?
Parece-nos que não.
Não havia o costume de velar o corpo, que era sepultado logo após a morte.
Algumas horas teriam se passado desde o óbito.
Sem oxigenação, em virtude da falência circulatória, as células cerebrais morrem a partir de quatro minutos, consumando-se a morte.
É irreversível.
Admitamos que Jesus tivesse poderes para superar essa dificuldade, mas é mais provável que a “ressurreição” do filho da viúva de Naim não tenha sido um retorno à vida física.
Apenas um despertamento.
Não estava morto.
Situava-se em letargia, estado especial de adormecimento profundo, em que a respiração, as batidas cardíacas e as pulsações tornam-se tão sutis que o indivíduo parece sem vida, até com a palidez e a rigidez que caracterizam os defuntos.
Jesus simplesmente o despertou, como faria em outras oportunidades com a filha de Jairo, chefe da sinagoga de Cafarnaum e Lázaro, irmão de Marta e Maria, duas discípulas, em Betânia.
O leitor perguntará:


– O que sucederia, sem a interferência de Jesus?
Simplesmente o jovem acordaria, antes ou depois do sepultamento.


Na segunda hipótese, não lhe seria agradável a experiência...


***

Muitos sofrem de tafofobia.

O medo de ser enterrado vivo.


Freqüentemente, quando abordo o assunto, em palestras sobre a morte, há quem pergunte:


– E se eu passar por transe letárgico e despertar no túmulo?


Costumo responder que haverá duas conseqüências:


Uma ruim, outra boa.


A ruim:

– Você morrerá, sem dúvida. Em poucos minutos, sufocado, “baterá as botas”.


A boa:

– Não haverá despesas com atestado de óbito, caixão, velório, sepultamento...


Essa experiência desagradável pode ser evitada recorrendo-se a caixão com dispositivo especial para pessoas que sofrem de tafofobia.

Se o suposto defunto se mexe, acordando, dispara um alarme que frustra a indesejável ceifeira, avisando o coveiro de que alguém foi sepultado por engano.


Providência mais simples: colocar um telefone celular no caixão.


Imaginemos breve diálogo surrealista, bem capaz de matar de susto o vivo que recebe a ligação do “morto”:


– Alô…


– É o fulano.


– ??!!
– Estou vivo! Venha abrir a sepultura!
– Uaaaii!!

***
São numerosos os tafófobos.

Sua origem pode estar em experiências dramáticas, ocorridas em existências anteriores.
Soterramento ou sepultamento em transe letárgico...


Em épocas recuadas, senhores poderosos cultivavam o mau hábito de enterrar vivos seus desafetos.


Não raro os emparedavam, convertendo cubículos, sem portas e janelas, em túmulos de horror.


Mulheres condenadas à morte preferiam morrer assim, evitando a humilhação de uma execução pública, sob apupo da multidão.

Tais situações traumatizam a vítima, repercutindo em vidas futuras.


O mais freqüente é o Espírito ficar preso ao corpo durante algum tempo, o que lhe impõe a impressão extremamente penosa de que o enterraram vivo.


É o ônus de pessoas presas aos interesses imediatistas, aos vícios e paixões.


***

Há, também, problemas relacionados com fantasias escatológicas.

Noutro dia conversei com um Espírito, em reunião mediúnica.


Estava contrariado, agressivo.


– Vocês não tinham o direito de me acordar! Deveria dormir até o juízo final!


em dificuldade para lidar com a realidade espiritual.

Permanece alienado.


***

A dolorosa experiência de ser sepultado vivo acontecia, não raro, em epidemias e batalhas.

Havia tantos cadáveres, que nem sempre os coveiros improvisados se davam ao trabalho de verificar se o finado finara-se realmente.


Hoje há maior cuidado, evitando sepultamento indevido, envolvendo a letargia. O médico, cuja presença é exigida por lei para firmar o atestado de óbito, identificará facilmente essa situação.


Usando o estetoscópio, ouvirá as batidas cardíacas; examinando a os olhos, verá que não há midríase, extremada dilatação da pupila, caracterizando a morte cerebral.


Aparelhos podem ser usados – eletrencefalógrafo e eletrocardiógrafo, demonstrando que o cérebro e o coração estão funcionando.

Não há, portanto, por que cultivar a tafofobia.


***

Materialistas perseguem a imortalidade física.

Apelam para a criogenia, o congelamento do cadáver, objetivando futura ressurreição, promovida a partir dos avanços da Ciência.


Nos Estados Unidos há firmas especializadas em manter o cadáver “criogenado” pelo tempo necessário, até que a Medicina descubra a cura para o mal que o vitimou e como reanimá-lo.
Não é para qualquer defunto.


Exige muito dinheiro para garantir, por tempo indeterminado, mediante disposição testamentária, o congelamento.


Uma empresa propõe algo menos dispendioso, ainda assim proibitivo para defuntos de menor poder aquisitivo: a cabeça é cortada e congelada.


 Concebe-se que futuramente a Ciência terá condições para reanimá-la e arranjar-lhe outro corpo.
Jamais alguém perderá dinheiro apostando na ingenuidade humana!


A criogenia é um engodo.


Consumada a morte, inicia-se o desligamento do Espírito. Inútil, portanto, preservar o corpo.
Fala-se na criogenia em vida.


Em viagens espaciais, por exemplo, o viajante, em plena vitalidade permaneceria congelado por anos, até completar-se a jornada, preservando suas funções vitais.


Ficaria em estado de vida latente.


Talvez essa fantasia se transforme em realidade, em futuro remoto, mas não será boa experiência para o Espírito, ligado a um corpo congelado, vida suspensa.


Algo como morar num freezer!


***

Melhor cuidar de outra viagem, que todos faremos.

O retorno à pátria.


Não somos deste mundo.


Viemos da dimensão espiritual. Retornaremos em breves décadas.
É preciso que nos preparemos, superando o apego às situações transitórias.


Amemos os familiares, cuidemos dos negócios, estimemos conforto e bem-estar, preservemos a saúde, mas consideremos a transitoriedade de tudo isso, cultivando valores de conhecimento e virtude, que as traças e a ferrugem não destroem nem os ladrões roubam, como ensina Jesus (Mateus, 6:19).


Então, desaparecerão temores e dúvidas.

Tranqüilos e confiantes em Deus, preparados para uma existência melhor, poderemos repetir com o apóstolo Paulo (I Cor. 15:55):


– Onde está, ó morte, o teu aguilhão?