segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

                JAMAIS ABANDONADOS                         
“... o Senhor pôs o seu selo em todos os que creem nele. Cristo vos disse que a fé transporta montanhas.

Eu vos digo que aquele que sofre e que tiver a fé como apoio será colocado sob a sua proteção e não sofrerá mais...

Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus.
” (“O mal e o remédio”, Santo Agostinho, O Evangelho segundo o Espiritismo.

Quando adquirimos uma compreensão da dor através da razão e das leis de Causa e Efeito, realmente a vemos não como um mal, mas como um remédio eficaz para o aprimoramento do Espírito que o recebe com resignação, galgando degraus de luz com a maturidade espiritual que adquire, maturidade do senso moral, que acompanhará esse Espírito em suas vidas sucessivas, independente da idade corporal.

Um dia, talvez não tão distante, a humanidade há de compreender que o Espírito que anima um corpo jovem não é uma criancinha pequenina, mas tem uma bagagem milenar que se revela desde o berço. 
Um dia se compreenderá que não é a idade do corpo físico que faz um entendimento, mas sim a maturidade do Espírito.

Há jovenzinhos que parecem mais velhos que os pais ou os avós, nesse sentido, por isso, tantos se surpreendem hoje com a infância, que parece ensinar a muitos. 

A vida é uma oportunidade de luz e as provações são necessárias para o Espírito ascender na sabedoria, mas jamais uma dor será maior que o amor.

Convém lembrar que o amor cobre uma multidão de pecados, como disse o apóstolo Pedro, e sempre o amor estará à frente, pronto a diminuir os sofrimentos, quando as provações chegarem ao seu limite e puderem ser minimizadas ou até retiradas. 
Dentro disso que tratamos, temos uma história assim, de amor, provação, fé e amadurecimento. 

Uma senhora ainda jovem levou-nos dois meninos para atender, quase da mesma idade, muito amigos.

Um, filho dela, de cerca de 8 anos, a quem poderíamos chamar de Jonathan, e outro, filho do atual marido dela, de 8 anos também, que chamaríamos de Mateus. 

Jonathan estava com uma intoxicação alimentar – comeu algo que não lhe fez bem, estava com vômito, diarreia, mas quadro passageiro.
Uma criança feliz que sempre teve o amor dessa mãe. 

O outro, Mateus, parecia um adulto, uma linguagem racional e uma maturidade incomuns. Estava com lesões na cabeça, uma micose, “tinea capitis”. 

Conversando, a madrasta foi contando a história e o menino confirmando e dando os seus apontamentos.

Quem conhece os mecanismos das leis de Causa e Efeito, do amor de Deus socorrendo sempre, entenderia bem esse momento. 

Disse-nos ela que o marido e a mãe do Mateus há cerca de 4 anos tinham se separado e a ex-esposa desapareceu com as crianças, mudando para outro Estado e não dando o endereço a ele.

 Eles tinham 3 filhos – uma menina que hoje tem 10 anos, o Mateus, e um mais novo, hoje com 5 anos. 
Esse pai ficou desesperado procurando esses filhos, até que se resignou, confiando em Deus e em que um dia ele encontraria os meninos de novo. 

Há cerca de uns dois meses, um amigo dele, viajando a trabalho, reconheceu o Mateus, depois de quatro anos, numa cidade do interior de São Paulo, e o avisou.

Poucos dias após, o “ex-cunhado” dele telefonou-lhe dizendo que fizesse de tudo para buscar os filhos, porque estavam abandonados pelas ruas da cidade, completamente descuidados pela mãe, sofrendo, e que ele, o “ex-cunhado”, lhe daria todo o apoio que precisasse para reaver as crianças. 

A madrasta, contando, era de emocionar. 

Ela e o marido foram imediatamente, e os filhos, quando o viram chegando, correram para abraçá-lo de tal modo que ele parecia-lhes a última tábua de salvação, o último recurso. 

Ele conseguiu trazer os dois mais velhos, convenceu a “ex-esposa” a deixá-los ficar pelo menos um tempo, na esperança de que ficassem em definitivo. 

O Mateus, nesse momento, interferiu e disse que não volta mais para a casa da mãe, de jeito nenhum.

 Agora ele é cuidado com amor e carinho pela madrasta, fez amizade com o Jonathan, toma banho todos os dias, tem comida todos os dias, dorme numa cama limpinha e não sofre agressões.

Relatou-nos ele que o padrasto bebe e batia todos os dias nele e na irmã. 

A madrasta disse que a irmã dele não se afasta dela, tal o amor por se sentir bem tratada.

A preocupação do Mateus agora é com o irmãozinho de 5 anos que ficou lá com a mãe: saudades do irmão e preocupação, pois acha que ele deve estar apanhando do padrasto e sofrendo.

Não volta mais, disse ele, e o pai e a madrasta vão tentar tudo para que amigavelmente a mãe se convença a deixá-los em definitivo aqui e que permita que o mais novo também venha. 

Víamos o Mateus assim, relatando os fatos com desassombro e sem revolta, um menino bom, a despeito dos sofrimentos passados, muito amadurecido, bem mais que o Jonathan, da mesma idade. 
Parece coisa de novela, mas é do dia-a-dia de milhões de pessoas por aí afora. 
Nesse caso, parece que chegou o fim do sofrimento.

O amor divino interveio para que aqueles que não necessitassem de tamanha provação pudessem ser socorridos.

Merecimento deles e do pai que deve ter sofrido demais nesses quatro anos de buscas.
Era hora de parar de sofrer. Assim é a vida. Há momentos de sofrer, de crescer, de parar de sofrer, de ser feliz.

A cada um segundo as suas obras. Jamais desamparados pelo amor, jamais abandonados.
 Em nenhuma circunstância deve um Espírito imaginar-se abandonado, sem esperanças.
O amor sempre socorre e ampara, se não diretamente aqui na Terra, nas ações humanas, indiretamente na ação da espiritualidade, socorrendo nas horas dolorosas do caminho. 

Como diz o Espírito Emmanuel, no livro Justiça Divina, “...



Por amor, os bem-aventurados, que já conquistaram a Luz Divina, descerão até nós, quais flamas solares que não apenas se retratam nos minaretes da Terra, mas penetram igualmente nas reentrâncias do abismo, aquecendo os vermes anônimos...”. 

Jane Martins Vilela - O Consolador