sábado, 22 de fevereiro de 2014

                                             O repórter e o médico

O repórter pergunta ao médico nutrólogo: – “Como deve ser preparado um bom churrasco, preservando as qualidades nutricionais e organolépticas?”. Omédico responde:

 – “Autoridades em nutrição do mundo todo recomendam a ingestão moderada de produtos de origem animal, carne, leite, ovos.

Deve-se remover a gordura visível do produto animal. Deve-se evitar a queima excessiva da carne, isto é, ela não deve ser muito queimada. Isto porque quando a carne fica ‘estorricada’ formam-se substâncias cancerígenas”.

O repórter faz nova pergunta: –

 “O que há de mito e de verdade com relação ao consumo de carne bovina? Carne aumenta o mau colesterol?”.

O médicoexplicita:

– “O excesso de proteína e de gordura animal contribui para o aumento dos níveis de colesterol. Isto é válido para todo produto animal”.

O entrevistador se mostra objetivo:

– “Carne causa câncer no estômago?”.

O nutrólogo não recua ante o dever de informar, diz:

 – “Há uma recomendação para que se modere a ingestão de produtos animais, como se disse acima. Há dados indicando que o excesso de produto animal pode promover a produção de amônia e nitrosaminas (substâncias cancerígenas) pela microbiota intestinal”.
Pois bem: 

o repórter estava fazendo matéria para a Revista dos Criadores de Zebu, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu.

Deveria ter sido uma entrevista bem tendenciosa, onde toda a brasa fosse puxada para a sardinha, digo carninha, da Associação. Mas não foi o que aconteceu. O médico nutrólogo que concedeu a entrevista é o Dr. Ênio Cardillo Vieira, da Academia Mineira de Medicina, PhD em Bioquímica, professor emérito e titular de Química Fisiológica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Antes de o bife virar bife

Vamos ler um interessante depoimento, também voltado para a questão do consumo de carne:

“Fisiologicamente, conhecemos o que é termos um pedaço de carne no estômago para digerir: 
o processo é lento, nos sentimos lerdos, o intestino se torna preguiçoso. 

Acredito muito na energia dos alimentos e a influência que podemos sofrer com ela. Antes do bife virar bife, infelizmente temos um processo muito cruel, doloroso, triste.

Os animais, já no pasto, têm uma vida difícil.

Não é um tratamento suave. Ao serem transportados, em caminhões, sofrem (tomam choque para não se sentarem, pois a carne pode escurecer); antes de serem mortos, ainda na fila, percebem o que ‘está se passando’! No momento de serem abatidos, escorrem lágrimas e de longe se escutam os mugidos...

Nessa hora o animal libera hormônios de dor e medo. E isso vai para o prato”.

O realista depoimento, que lembra bastante o que escreveu André Luiz sobre o assunto, pelo Chico Xavier, é de Caroline Bergerot, escritora, nutricionista, especializada em Nutrição Clínica.

Demonstrando moderação e bom senso, ela conclui: “... cada um de nós faz suas escolhas, segue seus processos.

Evidentemente não critico a opção de ninguém, pois cada um de nós tem necessidades e condutas de pensamento pessoais, mas é importante termos consciência do que estamos ingerindo e dos benefícios ou malefícios que determinados alimentos podem nos trazer”.

O pensamento espírita não é diferente.
Escala das prioridades
Muitas pessoas não se dispõem a assumir o sacrifício das mudanças, ainda mais quando se trata de mexer com hábitos arraigados.

No caso da ingestão de carne, alegam que há outras prioridades em que pensar.

 É certo, mas, dependendo do ângulo que se observe, a questão pode ser refletida com muito proveito e estimular uma modificação em nossa vida.

O que se sabe, com certeza, é que todo exagero traz consequências.

Há muita coisa envolvida nesse hábito humano que só agora, com as graves polêmicas ambientais, as pandemias globais periódicas, e, por outro lado, o avanço das pesquisas na área da alimentação, está sendo discutido de forma transparente por médicos, pesquisadores e ambientalistas sérios, compromissados com a melhora das condições gerais da saúde e com o desenvolvimento dos níveis de conduta humana minimamente aceitáveis para o equilíbrio da vida planetária.

                                   Escolha segundo a consciência

É grande o número de filósofos, pensadores, escritores, cientistas, médicos, artistas, santos, em todos os tempos e lugares, que se preocuparam com a questão dos animais e da carne como alimento humano.

Fosse um problema irrelevante, e não teriam deixado tantas reflexões e depoimentos. Todos eles se sentiram motivados, em algum momento de suas vidas, a pensar no assunto e tomar atitude coerente com suas reflexões.

A filosofia espírita, nesse como em todo assunto, nada proíbe, por entender que o indivíduo é livre para escolher segundo sua consciência.

O Espírito Lamennais, filósofo e escritor político francês (1782-1854), assinou um texto sobre a alimentação do homem, incluído por Allan Kardec na Revista Espírita de 1863, onde adverte que o corpo deve ser nutrido com a matéria, “mas a natureza da matéria influi sobre a espessura do corpo e, em consequência, sobre as manifestações do Espírito”.

 Admite que “o esquecimento da carne leva mais facilmente à meditação e à prece”, mas que “pode-se ser bom cristão e bom Espírita e comer a seu gosto, desde que seja razoável”.  

A matéria é ainda controvertida, como tantos outros temas. Mas o tempo e o progresso do pensamento irão solucionando as questões.
 Por ora, não custa nada pensarmos no assunto.
 

 CLÁUDIO BUENO DA SILVA