terça-feira, 19 de novembro de 2013

A gula

O desequilíbrio fisiopsíquico leva a criatura a
alimentar-se além do necessário

O prazer de comer tem lá seus atrativos. E quem se esmera preparando os alimentos recebe - de bom grado - os elogios pelo seu desempenho.

Em “O Livro dos Espíritos”, na questão 716, lemos que a natureza traçou o limite de suas necessidades na sua organização, mas o homem é insaciável, quer sempre mais, criando para si necessidades artificiais. 

A Doutrina Espírita ensina, então, que todas as paixões e vícios têm como princípio originário uma necessidade natural, e que os prazeres que o físico proporciona são regulados por leis divinas. 
Estas estabelecem, por sua vez, limites em função das reais necessidades do homem.  O desrespeito a essas leis ocasiona consequências funestas.

Emmanuel alerta para o fato de que Deus criou corpos perfeitos para abrigar Espíritos perfeitos.  Entretanto, o homem, pelas suas imperfeições, desarmoniza essa máquina danificando-a.

 Esclarece, ainda, que apenas cinco por cento das nossas doenças atuais são resultados de desatinos em existências passadas; o restante são escolhas equivocadas, ilusórias, que fazemos nesta reencarnação. 

O excesso de alimentação, que sobrecarrega nossos órgãos, não passa de um descontrole ocasionado por fatores físicos e/ou emocionais.   

O desequilíbrio fisiopsíquico leva a criatura a alimentar-se além do necessário, e tal excesso traz acúmulos de gordura no sistema circulatório em forma de colesterol, triglicérides e quejandos...

Entendemos que a gula é, também, uma manifestação de egoísmo. A porção alimentar que poderia sustentar mais de uma ou duas pessoas é indevidamente consumida por apenas uma, com visível prejuízo para a coletividade. 

O homem primitivo era um ser totalmente glutão, abrutalhado e egoísta. Talvez pela dificuldade de encontrar alimento à sua volta, consumia tudo o que encontrava e, egoisticamente, comendo tudo o que podia, sem repartir com ninguém. Não desconhecemos, hoje, as afirmações médicas de que os glutões, de modo geral, estão mais propensos a enfermidades ligadas ao excesso alimentar.

Sobre a Lei de Conservação, na questão 723, de “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta aos Espíritos superiores quanto à alimentação animal para o homem, se ela é contrária à lei natural

 A resposta é não, porque, na constituição física do ser humano, a carne nutre a carne, caso contrário, o homem perece.

 A lei impõe ao homem o dever de conservar suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. 

 Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização ou estrutura orgânica. Não existe, pois, por parte da Doutrina Espírita, nenhuma restrição quanto à ingestão de alimentos animais. Ela nada proíbe, apenas conscientiza. Cabe a cada um agir de acordo com o seu foro íntimo. 

Embora consideremos as proteínas de origem animal importantes à nossa subsistência, a preferência pelos produtos naturais, como os cereais, verduras, frutas, ovos, mel, leite e seus derivados, ou seja, a alimentação natural, ainda é a ideal. 

 É a mais condizente com a natureza da criatura que busca ascender espiritualmente.  

Entretanto, sejamos realistas e não nos fanatizemos seguindo a alimentação com objetivo de ascensão espiritual, pois

 “não é o que entra pela boca que nos faz melhores, mas o esforço que empreendemos em fazer com que, através dela, saiam palavras confortadoras, dóceis, construtivas”, 

ensinou-nos o Excelso Amigo.

Um dado interessante: a ciência mostra que o homem possui aproximadamente 6m de intestino.  Portanto, pela sua natureza fisiológica, deveria ter uma alimentação natural, mais leve.

A lei natural tem, necessariamente, como manifestação, a conservação da matéria que, por sua vez, é responsável pelo maior ou menor desempenho das faculdades do Espírito.

 O desrespeito a ela nos conduz, também, a um desequilíbrio psíquico:

 “Amai vossa alma, mas cuidai, também, do corpo, instrumento da alma; desconhecer as necessidades que lhes são peculiares por força da própria natureza é desconhecer a lei de Deus”.¹

O excesso de alimento é um vício nocivo ao psiquismo, porque energia mal distribuída gera desequilíbrio generalizado.

 A anorexia nervosa, por exemplo, é uma doença de nível inconsciente, quadro mórbido em que o indivíduo diminui a quantidade de alimentos ingeridos, eliminando aqueles ricos em calorias, por meio de uma dieta rígida, autoimposta, que alterna com crises de bulimia, vômitos provocados ou ingestão de purgativos.

Sob o ponto de vista espiritual, o glutão é considerado suicida, além do que está sujeito a reencarnar com doenças gástricas, úlceras etc.

No livro “Nosso Lar”², o próprio André Luiz é taxado de suicida quando retorna ao plano espiritual, devido às condições de seu decesso. Ao passar pelo serviço de assistência médica, o Irmão Henrique de Luna diz:

 “... É de se lamentar que tenha vindo pelo suicídio... Todo aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. Devorou-lhe as energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável...”

Inconformado, André Luiz não poderia supor noutro tempo, que lhe seriam pedidas as contas de episódios simples, que costumava considerar como fatos sem maior importância.
Um outro aspecto de destaque, que deve ser considerado neste tema, diz respeito à absorção das energias contidas nos alimentos. 

Para se aproveitar as energias e os valores alimentícios, durante as refeições, é necessário que tenhamos a mente tranquila e as emoções acalmadas, pois, quando, durante as refeições ocorrem discussões e contrariedades, metabolizamos mal, provocando perturbações estomacais e impregnamos os alimentos mastigados de vibrações negativas, altamente perniciosas ao nosso Espírito.

Vejamos o que nos revela o autor de “Nosso Lar”, através da orientação do médico benfeitor Henrique de Luna a André Luiz sobre sua desencarnação:

 “O organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo... A moléstia, talvez, não assumisse características tão graves, se seu procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princípios de fraternidade e da temperança. 

Entretanto, seu modo especial de conviver, muitas vezes exasperado e sombrio, captava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam... A ausência de autodomínio o conduzia, frequentemente, à esfera dos seres doentes e inferiores”.

A apetência é uma necessidade natural, enquanto que o abuso é uma necessidade artificial criada pela mente.

 Portanto, o ponto de ataque não é o físico, mas a fantasia. Daí, a importância de sermos moderados, porque do abuso é que nasce a dor. Progredir é usar bem os empréstimos de Deus.

 O homem só conseguirá a realização plena quando tiver o domínio de si mesmo.

Mais uma vez, lembrando Kardec, na questão 964 de “O Livro dos Espíritos":

“Deus tem Suas leis a regerem todas as vossas ações. Se as violais, vossa é a culpa. Indubitavelmente, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: 

Foste guloso, vou punir-te. Ele traçou um limite; as enfermidades e, muitas vezes, a morte são consequências dos excessos. Eis, aí, a punição; é o resultado da infração da lei. Assim é tudo”.                                               

Bibliografia consultada:
1 - KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XVII, item 11;
2- ANDRÉ LUIZ (Espírito). Nosso Lar. [psicografado por] F. C. Xavier - 49ª edição. FEB, Rio de Janeiro, 1981. 
Outra fonte de pesquisa: RABELLO, André. A busca pelo bem-estar