sábado, 1 de fevereiro de 2014

                                    A MULTA MAIOR
O recinto do tribunal estava lotado, não tanto pela importância dos crimes que seriam julgados, mas pela presença do prefeito de Nova Iorque, La Guardiã. 

Costumava, nessas ocasiões, julgar casos policiais simples, com decisões que ficavam famosas pelo seu conteúdo de sabedoria e originalidade.

Um dos acusados fora pilhado em flagrante, roubando pão em movimentada padaria. 

O homem inspirava compaixão: muito magro, barba por fazer, roupas em desalinho – era a própria imagem da miséria!

La Guardiã submeteu-o, solene, ao interrogatório, consultou as testemunhas e, após rápida apreciação, considerou-o culpado, aplicando-lhe a multa de cinqüenta dólares. A alternativa seria a prisão.

 Em seguida, dirigindo-se à pequena multidão que acompanhava, atenta, o julgamento, disse, peremptório:

– Quanto aos senhores, estão todos condenados a pagar meio dólar cada um, importância que servirá para liquidar o débito do réu, restituindo-lhe a liberdade.

E ante a estupefação geral, acentuou:

– Estão multados por viverem numa cidade onde um homem é obrigado a roubar pão para matar a fome!

***
Todos nós, habitantes de qualquer cidade do Mundo, estamos sujeitos a uma multa muito mais severa, a uma sanção muito mais grave – a frustração dos anseios de felicidade, os desajustes intermináveis, as crises de angustia – por vivermos num planeta onde as palavras fraternidade, bondade, solidariedade, compaixão, caridade, são enunciadas como virtudes raras, quando são apenas elementares deveres de convivência social, de observância indispensável ao equilíbrio de qualquer sociedade.

Dizem os Espíritos Superiores que a felicidade do Céu é socorrer a infelicidade da Terra.

Diríamos que somente na medida em que estivermos dispostos a socorrer a infelicidade da Terra é que estaremos a caminho da felicidade do Céu.

Não há alternativa. 

Podemos nos isolar da multidão aflita e sofredora, mas jamais estaremos bem, porquanto a infelicidade é o clima crônico dos que se fecham em si mesmos.

Mãos servindo, mãos trabalhando em benefício do próximo, são antenas que estendemos para a sintonia com as fontes da Vida e a captação das bênçãos de Deus!


Livro "Atravessando a Rua"