quarta-feira, 19 de agosto de 2015

                                         Trabalhar não é sofrer

Ouve-se com frequência: “Toda profissão é honrosa, não há por que sentir-se humilhado com as tarefas simples”. Embora este pensamento seja verdadeiro, normalmente ele é aplicado aos outros, nunca a quem fala. 

As palavras ditas nem sempre são sinceras.

 No campo profissional grande parte das pessoas não se submete a trabalho humilde, segundo a opinião de que não é condizente com a sua posição.

 Fora da área profissional não é diferente para a maioria que, pelo mesmo e outros motivos, não gosta de cumprir pequenas tarefas que lhe dizem respeito, menos ainda as que não dizem.

Porém, num mundo como o nosso onde as situações podem mudar a qualquer tempo e sem aviso, a ocupação singela é um fato que pode se oferecer a qualquer pessoa, de inesperado. 

Neste caso o humilde acatará as atribuições naturalmente, com a sensação de cumprir um dever, o orgulhoso sofrerá descontente.  
  
Em linhas gerais, o conceito de trabalho que permeia a sociedade moderna está estritamente associado à permuta, à troca: trabalho por dinheiro. 

Fora das relações contratuais de trabalho, documentadas ou verbais, muitos não se sentem obrigados a nada. 

Já a visão do Espiritismo sobre a questão é bem outra e ultrapassa esses estreitos limites.

 “Toda ocupação útil é trabalho”, disseram os Espíritos a Allan Kardec (1). 

Com esse conceito abrangente, não só a atividade material conta, mas toda e qualquer ação da inteligência que vise ao bem comum, ao progresso individual e coletivo. Segundo o Espiritismo, o trabalho é meio de desenvolvimento material e espiritual.

Com esse entendimento – ainda estranho para a humanidade – o trabalho braçal ou intelectual, remunerado ou voluntário, passa a ter um sentido diferente, um caráter especial, compreendido também como instrumento de aprendizado e elevação, não somente de manutenção, e não só voltado para as necessidades imediatas do homem. 

O trabalho, na conceituação espírita, além de provedor da subsistência do corpo, é acumulador de experiências para a formação do patrimônio do Espírito.

O trabalho na Terra tem caráter compulsório, o homem precisa trabalhar para viver, consequência da sua natureza corpórea. 

Mas as convenções e os interesses humanos desvirtuam seu real significado, transformando-o num peso social, numa coisa tormentosa de que as pessoas se desincumbem com aborrecimento. 

Enquanto nos mundos mais adiantados a ociosidade parece ser um suplício, na Terra é tida como benefício, como faz lembrar a questão 678, de “O Livro dos Espíritos”. 

“Trabalhar não é sofrer, mas progredir, desenvolver-se, conquistar a felicidade”, afirma Herculano Pires em nota de rodapé ao capítulo “Lei do trabalho”, do mesmo livro.

Seguindo esse raciocínio, por menores aptidões que uma pessoa possa ter, jamais lhe faltará ocupação, seja para o seu sustento, seja na colaboração em prol da ordem, do progresso e da justiça social. 

Diante de tantos benefícios que Deus concede ao homem e das condições que cria para que ele aprimore sua inteligência, não se justifica que o indivíduo negligencie sua participação no desenvolvimento da vida ou mesmo se desculpe com não ter o que fazer. Deus é generoso e a natureza, pródiga.

O conceito espiritualizado de trabalho que o Espiritismo formula leva o homem à conquista de valores definitivos que o aproximam de condições bem mais felizes do que quaisquer cargos ou posições humanas possam oferecer.  

(1)  Questão 675 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, LAKE Editora.

Claudia Bueno da Silva – O Consolador