Trabalhar não é sofrer
Ouve-se com frequência: “Toda profissão é honrosa, não há por que sentir-se humilhado com as tarefas simples”. Embora este pensamento seja verdadeiro, normalmente ele é aplicado aos outros, nunca a quem fala.
As palavras ditas nem
sempre são sinceras.
No campo profissional grande parte das pessoas não se
submete a trabalho humilde, segundo a opinião de que não é condizente com a sua posição.
Fora da área profissional não é diferente para a maioria que, pelo mesmo e
outros motivos, não gosta de cumprir pequenas tarefas que lhe dizem respeito,
menos ainda as que não dizem.
Porém, num mundo como o nosso onde as situações
podem mudar a qualquer tempo e sem aviso, a ocupação singela é um fato que pode
se oferecer a qualquer pessoa, de inesperado.
Neste caso o humilde acatará as
atribuições naturalmente, com a sensação de cumprir um dever, o orgulhoso
sofrerá descontente.
Em linhas gerais, o
conceito de trabalho que permeia a sociedade moderna está estritamente
associado à permuta, à troca: trabalho por dinheiro.
Fora das relações
contratuais de trabalho, documentadas ou verbais, muitos não se sentem
obrigados a nada.
Já a visão do Espiritismo sobre a questão é bem outra e
ultrapassa esses estreitos limites.
“Toda ocupação útil é trabalho”, disseram
os Espíritos a Allan Kardec (1).
Com esse conceito abrangente, não só a
atividade material conta, mas toda e qualquer ação da inteligência que vise ao
bem comum, ao progresso individual e coletivo. Segundo o Espiritismo, o
trabalho é meio de desenvolvimento material e espiritual.
Com esse entendimento –
ainda estranho para a humanidade – o trabalho braçal ou intelectual, remunerado
ou voluntário, passa a ter um sentido diferente, um caráter especial,
compreendido também como instrumento de aprendizado e elevação, não somente de
manutenção, e não só voltado para as necessidades imediatas do homem.
O
trabalho, na conceituação espírita, além de provedor da subsistência do corpo,
é acumulador de experiências para a formação do patrimônio do Espírito.
O trabalho na Terra tem
caráter compulsório, o homem precisa trabalhar para viver, consequência da sua
natureza corpórea.
Mas as convenções e os interesses humanos desvirtuam seu
real significado, transformando-o num peso social, numa coisa tormentosa de que
as pessoas se desincumbem com aborrecimento.
Enquanto nos mundos mais
adiantados a ociosidade parece ser um suplício, na Terra é tida como benefício,
como faz lembrar a questão 678, de “O Livro dos Espíritos”.
“Trabalhar não é
sofrer, mas progredir, desenvolver-se, conquistar a felicidade”, afirma
Herculano Pires em nota de rodapé ao capítulo “Lei do trabalho”, do mesmo
livro.
Seguindo esse
raciocínio, por menores aptidões que uma pessoa possa ter, jamais lhe faltará
ocupação, seja para o seu sustento, seja na colaboração em prol da ordem, do
progresso e da justiça social.
Diante de tantos benefícios que Deus concede ao
homem e das condições que cria para que ele aprimore sua inteligência, não se
justifica que o indivíduo negligencie sua participação no desenvolvimento da
vida ou mesmo se desculpe com não ter o que fazer. Deus é generoso e a
natureza, pródiga.
O conceito
espiritualizado de trabalho que o Espiritismo formula leva o homem à conquista
de valores definitivos que o aproximam de condições bem mais felizes do que
quaisquer cargos ou posições humanas possam oferecer.
(1) Questão 675 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, LAKE
Editora.
Claudia Bueno da Silva –
O Consolador