sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Os ombros largos do próximo

A revista VEJA, edição 2269 de 16/05/2012, páginas 112 a 114, traz uma interessante reportagem sobre a arte de culpar os outros ou, em termo mais vulgar, a arte de encontrar um bode expiatório. 
Vamos a um trecho:
 “Nada paralisou mais a inteligência do que a busca por bodes expiatórios”, escreveu o historiador britânico Theodore Zeldin no livro Uma História Íntima da Humanidade, de 1994.
 Paralisou, e continua a paralisar. 
A tentativa de jogar a culpa por uma situação indesejada – de desastres naturais e guerras, de crises econômicas e epidemias – nas costas de um único indivíduo ou grupo quase sempre inocente é uma prática tão disseminada que alguns estudiosos a consideram essencial para entender a vida em sociedade. 
 Se observarmos à nossa volta, encontraremos muitos exemplos. 
Quando um adulto interrompe a briga de duas crianças, uma aponta o dedo inquisidor para a outra: “Foi ela quem começou!”. 
De maneira semelhante, a campanha para as eleições presidenciais na França, encerradas na semana passada com a vitória do socialista François Hollande, foi pautada em parte pelas retóricas anti-imigração e antiunião europeia, como se um fator qualquer vindo de fora fosse o bastante para explicar o desemprego no país. Nos Estados Unidos, o culpado da vez é o 1% mais rico da população, que paga proporcionalmente menos impostos do que a classe média. 
Na América Latina, a tradição populista não existiria sem a invenção de inimigos imaginários internos (as oligarquias, os bancos, a imprensa) e externos (o FMI, os Estados Unidos). 
A ditadura cubana sustenta-se há mais de quatro décadas sobre a fantasia de que a miséria de sua população se deve ao embargo ameriacano à ilha, e não ao fracasso de seu sistema comunista.
Continua a reportagem: No livro intitulado em português, traduzido do inglês – (Bode Expiatório – Uma História da Prática de Culpar Outras Pessoas), publicado recentemente nos Estados Unidos e na Inglaterra, o autor, Charlie Campbell, defende a tese de que cada ser humano tende a se considerar melhor do que realmente é, e por isso tem dificuldade de admitir os próprios erros. “Adão culpou Eva, Eva culpou a serpente, e assim continuamos assiduamente desde então”, escreveu Campbell.
Infelizmente, como isso é frequente nos dias atuais, não é verdade? Muitas pessoas tidas como possíveis responsáveis em falcatruas as mais diversas procuram um bode expiatório para eximirem-se de culpa. 
Se forem vários os “bodes”, tanto melhor. No terreno particular isso também acontece.
 Ou será que não? Por exemplo, quando a paz no lar é comprometida devido a uma discussão perfeitamente evitável entre os seus componentes, sempre foi o outro lado quem deu início à confusão. 
Quando um filho é envolvido pelas drogas ilícitas, a culpa é só do traficante. Quando um velho vai parar no asilo, a culpa é dele. 
Quando uma criança é abandonada, procura-se o responsável cujo autor da “proeza” é sempre o outro, o tal de bode expiatório. 
Quando um casal se separa, os motivos foram sempre fornecidos pela outra parte. 
O homem está absolutamente correto e a mulher também. Aliás, nas brigas de casais, é uma das raras ocasiões em que podemos encontrar um ser humano perfeito porque nunca nenhum dos dois está errado. 
Isso quando não sobra culpa para os filhos, as maiores vítimas de uma separação. 
Quando no serviço alguma coisa dá errado, a culpa é do patrão que paga mal. Ou será do funcionário que não cumpre com suas obrigações? 
E no trânsito, você já viu como só tem gente certa? 
A culpa é sempre do outro, do tal do bode expiatório, que pode ser até um sinaleiro que funciona mal ou de uma placa de sinalização ausente ou mal colocada, nunca do real culpado.
Agora, meu amigo e minha amiga, embora os Espíritos não tenham ombros como entendemos no sentido material do termo, haja ombro neles para aguentar a culpa que a eles imputamos!
Falta paz no lar? 
Debite na conta dos Espíritos. Aconteceu um acidente? 
Jogue nos ombros perispirituais dos Espíritos. É. Para jogar no ombro do coitado do Espírito, até ombro perispiritual serve, como não?  
Os filhos estão indo mal na vida? 
Não vacile, debita na conta (ou nos ombros?) dos Espíritos. Brigou com a sogra? 
Espíritos que se cuidem. Desentendeu-se com a esposa ou com o marido? 
Ah! Não existem dúvidas.
 Coloca nos ombros deles! É. Dos Espíritos! 
É correto que O Livro Dos Espíritos nos ensina que eles participam intensamente de nossas vidas até o ponto de, se permitirmos, sermos dirigidos por eles, mas gente, em nossos ombros não vai culpa nenhuma?