Casamento e divórcio
“Não perturbeis o que Deus harmonizou”.
Tudo o que procede
de Deus é imutável no mundo. Tudo o que procede do homem está sujeito a
mudanças.
Todas as Leis Divinas permanecerão sem
modificações, porque são eternas, enquanto as leis dos homens não o são, pois
se transformam, alteram-se, à medida que o ser humano evolui. Assim, em cada
lugar e, em diferentes épocas, essas leis sofreram, sofrem e sofrerão
modificações, atendendo às novas necessidades. Os ensinamentos de Jesus nos
trazem esses dois esclarecimentos, mas também nos dão a certeza de que, um dia,
quando essas duas leis caminharem juntas, os homens serão felizes.
Entretanto, não podemos prescindir
dessas leis, porque são elas que regulam o bem-viver; são elas que estabelecem
os direitos e os deveres de cada um de nós em relação aos demais; são elas que
permitem a convivência social, se não fraterna, pelo menos respeitosa; são elas
que regulam os interesses familiais; e são elas, por fim, que tiram o homem do
estado de selvageria para a civilidade. A lei civil é útil, necessária, mas
variável, enquanto a de Deus é eterna e imutável.
Isso acontece, também, em relação à
união dos seres, pois os homens interpretam as palavras de Jesus, segundo seus
interesses e não segundo a Lei de Deus. Jesus nos ensinou que o sentimento mais
elevado que o ser humano possui é o amor e, em cada experiência evolutiva que
temos mais e mais se desenvolvem os valores morais que as conquistas
espirituais proporcionam nesse processo.
Assim, é com o sentimento que une dois
seres: lentamente, ele vai-se afastando dos interesses da matéria, que envolvem
paixões de todas as espécies, onde apenas os sentidos o movem, para um
sentimento verdadeiro que não une apenas corpos, mas também almas. Nenhuma lei
civil, nem os compromissos que ela determina podem suprir a lei de Amor, que
deve presidir uma união, seja ela qual for. Nenhuma lei humana obrigará as
pessoas a se amarem, seja entre cônjuges, entre filhos e pais, seja entre
aqueles que convivem em um grupo mais amplo.
Dessa forma, a afirmação de Jesus de
“não separar o que Deus uniu” só terá sentido real se juntarmos a ela a idéia
de que aquilo que se uniu à força, isto é, que não procurou a satisfação do
coração através do amor verdadeiro, mas somente a do orgulho, da vaidade, da
ganância, da posse, do ciúme, da carência afetiva, para se livrar da família,
enfim de todos os interesses pessoais, de valores ilusórios, por si mesmo se
separará.
É muito importante que tenhamos a
coragem de nos perguntar e responder, com total honestidade de propósitos,
quais são os valores que motivam nossas escolhas afetivas, porque quando o
móvel dessas escolhas é outro que não o amor, não há como sustentar essa
situação. Estabelecemos, dessa forma, necessidades emocionais, sem consciência
e sem responsabilidade pelas perdas futuras, que trarão, mais adiante,
frustrações, desilusões quando não situações desesperadoras que podem levar,
até mesmo, a atitudes criminosas.
Assim, os compromissos conjugais ou
domésticos que não atenderem os desígnios superiores, ou seja, a união pelo
amor, serão corrigidos e restaurados pelos princípios que equilibram a lei
divina no seu devido tempo.
Há mais de mil anos essas palavras do
Cristo, como tantas outras, foram erroneamente interpretadas ou interpretadas
de maneira a atender apenas a interesses econômicos, políticos, financeiros ou
de poder, e tudo isso ainda está gravado em nós, como se não pudéssemos, sob
hipótese de estar cometendo um crime perante Deus e a sociedade, dissolver uma
união infeliz que traz sofrimento para todos os envolvidos. Assim é com o
divórcio que separa legalmente o que já estava separado de fato.
A idéia de que aquilo que Deus uniu
não se separa é porque somente o amor verdadeiro, o afeto real de alma para
alma, sobrevive à destruição do corpo, e esses seres se procuram e se encontram
no mundo dos Espíritos, fortalecendo esses laços.
Isso também acontece no que diz
respeito às amizades. Se, de um lado, temos as amizades interesseiras que
buscam uma aproximação para usufruir as vantagens que isso possa proporcionar
em que não há afinidades, espontaneidade, cujo sentimento é superficial e sem
qualquer vínculo afetivo, do outro lado, temos as amizades verdadeiras, que se
fortalecem com as vidas sucessivas, e que, a cada oportunidade que se
apresenta, procuram reunir-se, novamente, no corpo físico, a fim de trabalharem
juntas e se fortalecerem no amor, alegrando-se umas com as outras pelo
crescimento que cada uma dessas almas conquistou.
Uma visão bastante interessante e que
deve ser alvo de nossa reflexão é a que Emmanuel traz em Caminho, Verdade e Vida. O Instrutor Espiritual,
referindo-se às palavras de Jesus: ...“Portanto, o que Deus juntou não o
separe o homem”, alerta-nos para o fato de que a palavra divina não se
refere apenas aos casos do coração, mas vai além. Corresponde, também, ao “não
perturbeis o que Deus harmonizou”.
Assim, por mais duro que seja o dever
a cumprir, ele constitui sempre a vontade do Criador e, para isso contamos com
a nossa consciência, sentinela vigilante de Deus, que permanece apta a
discernir o que constitui obrigação moral e o que representa, apenas, fuga
disfarçada desse compromisso.
“O Pai criou seres e reuniu-os.
Criou igualmente situações e coisas, ajustando-as para o bem comum. Assim, quem
desarmoniza as obras divinas deve preparar-se para a recomposição”. (2)
Na Terra, hoje, existem milhões de
criaturas em serviço restaurador por haverem perturbado, com o mal, o que Ele
estabelecera para o bem. “Às vezes, é possível perturbar-lhe as obras com
sorrisos, mas seremos, invariavelmente, forçados a repará-las com suor e
lágrimas”. (2)
Bibliografia:
(1) Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Lake, Capítulos 22 e 17, item 7.
(2) Emmanuel (Espírito) . Caminho Verdade e Vida, [psicografado por] Francisco Cândido
Xavier. FEB Editora, 17 ed., Rio de Janeiro: RJ, Lição 164.
(3) Joanna de
Ângelis (Espírito). Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda,
[psicografado por] Divaldo Pereira Franco. 1 ed., LEAL Ed., p. 163.