terça-feira, 5 de março de 2013

                       
   APRENDENDO COM AS DIFERENÇAS


“Dize-me o que pensas, dir-te-ei com quem andas” (1). Allan Kardec.

Um assunto muito atual não só no meio espírita como na sociedade em geral é a alteridade, ou seja, “a qualidade do que é outro” (2).

É na alteridade que se desenvolve, é nas diferenças de qualidades com o outro que se aprende, é na variedade de aptidões que se complementa uma tarefa. 
Aceitar, conviver, aprender e amar a diversidade denota a presença de um ser mais evoluído, seja individual ou coletivamente.

O predomínio que a vaidade e o orgulho ainda exercem sobre as pessoas impede, muitas vezes, de crescerem somando qualidades e esta atitude facilita o acesso dos Espíritos inferiores para a influenciação negativa, exacerbando as mazelas internas de cada um, provocando embates, cisões, rupturas no trabalho.

Quando isto ocorre nas Casas Espíritas, o prejuízo se torna inda maior, porque ali é o local onde a causa única e suprema deve ser o desenvolvimento da caridade e da tolerância como ferramenta de renovação íntima individual.

Allan Kardec, no seu discurso de encerramento do ano social da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas do ano de 1858/59, tecia comentários de outras sociedades que surgiram desejando rivalizar com aquela a qual ele pertencia.

 Contava-se de sociedades com grandes números de participantes, com muitos recursos financeiros, sendo para ele um motivo de regozijo, ressaltando, apenas, que elas tivessem uma “unicidade de sentimentos para frustrar as influências de maus Espíritos e consolidar a sua existência” (3).

Naquela época, nos Estados Unidos, na Europa, especialmente em Paris, ocorria o surgimento de inúmeras reuniões íntimas, como outrora fora a própria Sociedade Parisiense, fato normal devido ao então crescente interesse pelos assuntos espíritas e ao surgimento de vários médiuns. 

 Denotavam-se os mais variados resultados possíveis, desde reuniões sérias com resultados notáveis, até de fanfarronices e brincadeiras fúteis, de acordo com os interesses e intenções de cada uma. 

A despeito disso, Kardec ressaltou que poucas constituíam uma sociedade propriamente dita, pois lhes faltavam condições de vitalidade em razão do escasso número de componentes, de sua estabilidade, permanência e persistência.

A primeira condição, preconizada pelo mestre francês, é a de homogeneidade de princípios e maneira de ver. Toda sociedade formada de elementos heterogêneos traz em si o germe da dissolução, podendo considerá-la natimorta.

Mais adiante o Codificador explica a homogeneidade como comunhão de pensamentos. Sem a calma e o recolhimento, dificilmente os bons Espíritos se apresentarão, pois não encontrarão as condições necessárias para dar assistência à sociedade. 

Eles desejam ardentemente esclarecer para o bem, não participando em reuniões onde impera o espírito da oposição sistemática, da discórdia e da controvérsia.

A homogeneidade propagada por Kardec é a de ideais nobres, da vivência ético-moral e do estudo doutrinário com seriedade. 

As diferentes maneiras de agir, de conduzir e de pensar são saudavelmente administradas para o crescimento do grupo e dos seus componentes, quando não comprometem o corpo doutrinário.

Neste ideal, Bezerra de Menezes levanta a bandeira da unificação não como a uniformização de procedimentos, mas como a união afetiva em torno da prática da moral de Jesus à luz dos esclarecimentos espíritas.

Para unir deve-se ter o trabalho consistente, a ação correta, a vivência do discurso cristão.

São Luís, Espírito protetor da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fornece o meio infalível para não temer os conflitos: 
“Compreendei-vos e amai-vos” (4).

O trabalho da compreensão exige caridade e abnegação. “Que o amor ao próximo esteja inscrito em nossa bandeira e seja a nossa divisa” (5).

Kardec considerava todas as outras sociedades como irmãs e jamais como concorrentes.

 A inveja, o ciúme e a rivalidade indicam a assistência dos maus Espíritos e um direcionamento equivocado.

 A boa intenção, a benevolência, a vontade de servir e o pensamento reto revelam a natureza superior dos Espíritos que presidem a sociedade, procurando conduzi-la, por meio dos homens que a servem, ao trabalho no bem.

Aos grupos que se sintam melindrados pelo crescimento de outro, Kardec instiga que depende somente dele não ser ultrapassado.

 A Doutrina Espírita, sendo acessível a todos, depende do esforço próprio, do trabalho em equipe e da dedicação para que a Sociedade evolua e cumpra o seu papel na comunidade. 

Neste particular, outras poderão igualar-se, tanto melhor, pois serão irmãos que crescem juntos.

O laço de união dos homens de bem, sejam quais forem as divergências, é o amor ao bem, a abnegação, a abjuração de todo sentimento de inveja e ciúme.

Na alteridade, em vista de diversidade humana, importa seu enfoque prático de convivência fraterna.

O codificador encerra seu discurso com a convicção de que a finalidade do Espiritismo é melhorar aqueles que o compreendem, buscando através do exemplo demonstrar a vivacidade da Doutrina e a sua praticidade na vida cotidiana. 

“Numa palavra, sejamos dignos dos bons Espíritos se quisermos que eles nos assistam. 

O bem é uma couraça contra a qual virão sempre quebrar-se as armas da malevolência” (6).
 
Referências:
(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita 1859. Sobradinho, DF: EDICEL, Discurso de encerramento do ano social (1858-1859), p. 196.
(2) Novo Dicionário Aurélio.
(3) KARDEC, Allan. Idem, p. 200.
(4) Idem, p. 20.1
(5) Idem.
(6) Idem, p. 202.
 
O CONSOLADOR - LUIZ ROBERTO SCHOLL