quinta-feira, 8 de outubro de 2015

                       Por que o socorro, às vezes, chega tarde?

Existe um fato que muito nos marcou e que contamos no jornal “O Imortal” no mês de maio de 2009. 

Como há histórias que sempre nos ensinam, vou tentar recontá-la.
No ano de 1997 atendíamos em um ambulatório clínico na cidade de Londrina e, frequentemente, éramos visitados por representantes de empresas produtoras de medicamentos que vinham divulgar os seus medicamentos ou fazer lançamentos de novos produtos.

Nessa época, um frequentador de nosso Núcleo Espírita experimentava um gravíssimo câncer de fígado, em fase terminal, o que despertava em nós, daquele grupo, um sincero desejo de ajudar.

Fizemos uma reunião e decidimos por visitá-lo, alternadamente, de maneira que ele não ficasse nem uma só semana sem a presença de alguém de nossa casa, para estimulá-lo, nessa hora difícil. 

Orávamos com ele enquanto aplicávamos passes magnéticos.

Certa sexta-feira, um desses representantes adentrou nosso consultório, bastante efusivo, dizendo estar ali para falar de importante lançamento: uma medicação antiespasmódica de profunda utilidade nas dores hepáticas, incluindo as causadas por câncer de fígado.

Imediatamente nos lembramos do amigo enfermo, e solicitamos algumas amostras, com a ideia de visitá-lo ainda naquela noite...

 O que não fizemos. Deixamos a visita para a outra semana, acreditando que alguém do grupo já estaria se desincumbindo dessa tarefa por aqueles dias.
Alguns dias depois, lembrando-nos de nosso dever para com nosso irmão, fomos até a casa do amigo.

 Logo na entrada, sua esposa, lavando a calçada, sem muita emoção nos avisou: -

“Nem adianta entrar, ele está muito magoado. Faz três dias que está em crise de dor e nada o alivia. Parou até de orar... porque diz não estar adiantando...”.
Pedimos, então, para que ela já fosse preparando o remédio novo enquanto nos dirigimos ao seu quarto. Ele estava de costas para a porta e, quando o cumprimentamos, mal respondeu, demonstrando profunda amargura. 

Tentamos um diálogo, meio sem sucesso, quando ele lentamente se virou para nós e disse:

 “Sabe, eu acho que Deus só cuida de seus filhos depois que vão para o lado de lá... Faz três dias que estou com essa dor insuportável, e apesar das minhas preces, nada de melhorar”.

Nesse momento, contamos para ele a história do remédio que carregávamos conosco e que já estava no porta-luvas do nosso carro há alguns dias e, no mesmo instante, sua esposa adentrava o recinto com uma xícara com água, já com o medicamento.

Num súbito, como quem sai de profunda dor e ilumina seus olhos com o retorno da esperança, ele, bastante sincero e agora sem o semblante da mágoa, lançou seu olhar sobre nós e disse:

 “Então não foi Deus quem se esqueceu de mim?... Foi você?”.

Sem ter como nos desculpar, rimos por ver sua alegria voltar e completamos:

-“Pois é, meu irmão, veja com quem Deus tem que contar para socorrer seus filhos. 
Por isso é que o socorro às vezes chega tarde. 

Não é pela ausência da piedade paterna, mas pela falta da caridade dos cristãos de hoje”.

Abraçamos-nos, com muito cuidado, porque o estado dele era muito frágil. Em poucos dias ele desencarnou, deixando comigo uma profunda reflexão.




 


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

                                          Riso e pranto

“A felicidade é sempre um misto de riso e pranto, até a nossa união integral na Vida Maior.”
Com essa frase procedente de Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, podemos compreender que, de fato, a Terra não é aquela estação de aperfeiçoamento capaz de nos oferecer riso e alegria, durante o período integral em que estivermos compromissados com a missão abraçada por imposição da Grande Lei de Causa e Efeito.
Se o curso da existência for demasiado longo, maior será esse misto de forças opostas se contrapondo durante todo o período; ora de um lado, ora de outro, como a frase bem a define:
de um momento a alegria, que cada qual a usufrui ao seu jeito; de outro, a tristeza, que às vezes mergulha fundo na alma, transtornando a vida e perturbando o Espírito.
As trevas, que chegamos mesmo a compreender que se acham distantes em certos dias, vemo-las com seus tentáculos a nos envolver com a espessa cortina da indiferença, resultando numa momentânea perda de equilíbrio em nossos pensamentos e atos.
E é justamente nesse campo que atuam as forças invisíveis e contrárias à nossa felicidade, pois com essa presença indesejada vemos contrariar e, às vezes, naufragar os nossos planos, preparados e construídos ao longo do tempo e organizados com muito sacrifício.
Reconhecidamente, na condição de espíritas, temos o entendimento natural para esses quadros dolorosos.
 É aí que a Grande Lei executa os planos traçados para a existência individual ou coletiva.
Por isso mesmo é que a espiritualidade também afirma que a felicidade não é deste mundo.
Para nós, que temos a visão limitada, sabemos o que é felicidade, mas sabemos da felicidade que se pode alcançar na Terra, nada mais além desse alcance singular.
Não é possível achar falta de algo que não se conhece, podemos, isso sim, imaginar situações diferentes e que consideramos especiais, como por exemplo, uma vida, quando feliz, não poderia nunca ser simplesmente desfeita. A morte, outra situação, além de subtrair um ente amado no seio da família, deixa eterna cicatriz no espírito e no coração e que assim permanecerá enquanto encontrar-se no chão terreno, aguardando pelo seu momento derradeiro.
E foi nesse dia, quando um amigo, que aqui identifico como Antônio Monteiro, chamado de ‘Toninho’ pelos que lhe são próximos, ao ser convidado para o fechamento da reunião mediúnica a que estávamos participando, abordou o assunto referente à frase que inicia este texto e que estava estampada na tela onde são projetadas mensagens sobre a Doutrina.
Tomando a palavra, disse que nossa vida na Terra é razoável, em face da presença do bem e do mal que caminham simultaneamente ao lado de cada um.
Lembrou que a dificuldade atual de comparecer para uma visita a familiares ou mesmo a pessoa doente limita-se a contatos pelas vias disponíveis.
Através do computador, hoje, se felicita alguém, transmite-lhe um abraço, um beijo etc...
Enfim, esse é o momento que estamos vivenciando.
Tudo ou quase tudo é feito pela máquina que, pela sua fria condição mecânica, eletrônica ou digital, não oferece nada mais, além de executar uma possibilidade virtual na intenção.
E pergunta:
“O aparelho tem sentimento?
Tem amor?
Você poderá, por esse equipamento, fazer com que chegue à pessoa amada, por exemplo, o seu abraço?
Poderá dar-lhe um beijo?
 Fazer com que seu sentimento seja registrado, de fato?
Claro que não. Isso ainda não é possível.

E é uma verdade.

É por isso que, a cada dia, mais distantes nos tornamos do nosso próximo. O tempo, que sempre julgamos escasso, sempre será o repositório da culpa que lançamos mão para justificar um comportamento ausente e falho. Também assim agimos em relação à oração. Como sempre o tempo está curto e a pressa é presença constante e a cada dia que passa nos damos conta de que estamos na condição de devedor, também neste campo.

Sendo assim, para que o riso ou o bem-estar faça parte da vida e o pranto ou o arrependimento, por consequência, sejam mantidos afastados, mudemos ou aperfeiçoemos nossos atos e atitudes frente às necessidades verdadeiras da vida que se relacionam com os nossos próximos e menos próximos, e igualmente as que estão vinculadas com nosso Criador, Senhor da Vida e dos Mundos, a quem devemos tudo o que somos e que temos”.

VLADIMIR POLÍZIO




quarta-feira, 9 de setembro de 2015


                                          ASSOCIAÇÃO  ESPÍRITA FRATERNIDADE
                                                  Rua Julio Cesar, 90  -- Quintão RS
                                                                   CONVIDA

SEMINÁRIO :   VANDERLEI FERREIRA
ATENDIMENTO FRATERNO    -   DIA 12.09.2015    ÀS 14.00 hs AS 16.hs

                                     
Nós e os animais

“Iahweh Deus modelou então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual deveria levar o nome que o homem lhe desse.” (Gênese, 2-3)

A Bíblia relata que os animais foram criados por Deus de maneira semelhante à criação do homem. 

Esse sentido figurado da modelagem pode ser interpretado, na concepção evolutiva, como o início da vida na água e a transição desta para a terra, com a formação de organismos mais complexos.

 Nesse ponto, o criacionismo não contradiz a teoria evolucionista, excetuando na ideia de aparecimento quase simultâneo (humanos e animais), com ligeira primazia temporal ao homem. 

No evolucionismo, organismos marítimos teriam precedido aos demais e o homem, ao contrário da descrição bíblica, foi o último elo da corrente.

A convivência entre o homem e o animal demorou muito tempo para ocorrer. É possível supor que o interesse recíproco entre eles tenha se desenvolvido por fatores ligados à sobrevivência. 

Os animais, em período de escassez de comida, aproveitavam as sobras de alimentos deixados por humanos e, assim, rondavam os grupos humanos em deslocamento. 

Por seu turno, o homem mantinha-se atento quanto à proximidade dos animais, observando seus comportamentos, caçando-os para saciar a fome, especialmente quando passaram a dominar o fogo.

Essa proximidade, que foi se estreitando, levava a repetidas escaramuças, algumas vezes com perdas de ambos os lados. 

Por outro lado, com frequência, nossos antepassados copiavam estratégias dos animais como, por exemplo, os comportamentos dos antropoides na localização de alimentos, dos roedores nos debates das primeiras coberturas dos troncos de plantas até a obtenção da polpa comestível, das aves e insetos, nas elaborações de armadilhas e disfarces para evitar predadores etc. 

Pode-se supor que os resultados dessas observações facilitaram as primeiras tentativas de domesticação de algumas espécies. Esse ganho, ligado à sobrevivência, impulsionou o homem para o domínio do mundo animal, levando-o a supor-se, equivocadamente, como rei da criação.

Já há muito tempo, o homem dedica-se também à criação de várias espécies destinadas ao abate, tais como a bovina, a suína, a avícola e a marítima. 

Nesse negócio rentável, os animais crescem em número preocupante, pois, para isso, precisam de extensas áreas de terras desmatadas, além de recursos hídricos, cinco vezes maiores do que o necessário para produzir a mesma quantidade de cereais (FAO/Wikipédia). 

Esses são apenas um dos problemas relacionados à forma como nós, os humanos, lidamos com os animais. Percebendo a gravidade desses problemas, inúmeras pessoas se organizaram na formação de entidades de defesa do bem-estar e da vida animal. 

Esses movimentos cresceram e influenciaram a legislação, de modo que temos, hoje, responsabilidades sociais bem definidas em relação aos animais e isso representa um avanço, contudo, não ainda suficiente.

No lado oposto à criação e matança de animais para o consumo, temos problemas nos cuidados com os chamados animais de estimação. Essa também é uma relação delicada, que será abordada a seguir.
*
Certo dia uma universitária relata ao professor o cuidado que dispensa à sua cachorrinha. 

Conta que o segundo dormitório do apartamento, em que reside com seu marido, pertence à sua mascote e que esta somente vai dormir após ter seus dentes escovados por ela (“mamãe”) e receber afagos do dono (“papai”). 

O professor aproveita-se de uma pausa na descrição que detalha esses excessos de mimos e diz à jovem: Vocês precisam de um filho para deixar de brincar de mamãe-papai.

Considerando que essa falsa maternidade vem se alastrando, a sugestão do professor tem sentido, principalmente ao se levar em conta a impossibilidade de o animal preencher todos os requisitos envolvidos na troca entre pais-filhos. 

É sintomático que, em alguns países europeus, a diminuição da natalidade tem uma relação direta com aumento da população de animais de estimação. 

Esse fenômeno se tornou um excelente negócio em quase todo o mundo, gerando ofertas que vão das rações e medicamento a objetos que incluem produtos de higiene, roupas e brinquedos semelhantes aos usados por uma criança, o que reforça o sentimento maternal. 

O exagero chega ao ponto de uma convivência promíscua entre humanos e animais, com estes coabitando camas e partilhando momentos de refeições.

Por que pessoas “amam” tão intensamente os animais, como cães, gatos, coelhos, macacos, tartarugas etc.? Primeiramente porque é fácil controlá-los e manejá-los. 

Podemos dispor deles conforme nosso humor: brincamos e os afagamos a qualquer momento e, também, a qualquer momento os deixamos de lado. 

Treiná-los em obediência (“deite, pegue, aqui, dê a pata”) é muito mais fácil do que educar uma criança. Se, por algum motivo, não formos bem-sucedidos, existem clínicas que dispõem de profissionais prontos a nos socorrer mediante, é claro, a remuneração ditada pela lei de “oferta e procura”. 

Em segundo lugar, esse “amor” aos animais reside no enorme bem-estar que eles produzem a todos os seus donos. É muito prazeroso brincar ou apenas observar os animais. 

A terapia já descobriu isso há um bom tempo e os vem utilizando como recursos terapêuticos para diferentes problemas e incapacidades do homem.

A doutrina espírita entende a vida animal como um dos elos do processo evolutivo no qual estagia o espírito. 

Nesse sentido, dentro da condição humana, ainda temos muito a percorrer. Mais do que discutir nossos direitos sobre a vida animal, se é que temos algum, precisamos repensar nossos deveres. 

De modo geral, entre outras tarefas coletivas, uma das mais importantes relaciona-se aos cuidados com a fauna e flora do planeta. 

Para repensar essa relação com os animais, antes de tudo é necessário esquecer a vaidosa noção de reis da criação. Somente assim poderemos ser admitidos na posição de defensores do mundo animal, equilibrando essa relação que parece ser menos meritória ao homem.

 ALMIR DEL PRETTE 


sábado, 29 de agosto de 2015

                                                              Cegueira

O ínclito escritor português, José Saramago, assim inicia sua obra:
(...) O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecânico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito elétrico, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do para-brisa, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o trânsito, batem furiosamente nos vidros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta:

Estou cego.

A trama, muito bem engendrada pelo magistral escritor, envolve o leitor e o faz refletir acerca das misérias humanas. A obra é permeada por situações angustiantes, degradantes, aflitivas, que denotam a condição humana.

 É um libelo contra as injustiças sociais, contra a moral e os costumes aviltantes.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo X, intitulado: Bem-aventurados os que são misericordiosos, encontramos o excerto do Mestre Nazareno, que transcrevemos abaixo:

Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? 

Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: ─ Deixa-me tirar um argueiro do teu olho ─, vós que tendes no vosso uma trave? Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (Mateus, 7:3 a 5). 

Interessante o paralelo que se pode estabelecer entre a obra de Saramago e a passagem evangélica. Em verdade, para se analisar as mazelas que estão em nós mesmos, faz-se mister que nos transportemos para fora de nós mesmos e nos perguntemos:

“Que pensaria eu se visse alguém fazer o que faço?”.
É imperioso que nos coloquemos diante de um espelho e nos autoanalisemos.

Diz-nos o evangelho que o orgulho e a vaidade nos obstam tal reflexão.
Curiosamente, porém, Saramago elege a figura feminina como a única a conseguir ver diante da cegueira branca.

Assim, a obra é passada ao leitor pelos olhos daquela única personagem que vê.

Não é fortuita tal eleição pelo feminino. Já é um atributo da mulher a nobreza nos sentimentos. Logo, ela não precisa ver para compreender determinada situação

. Ao contrário, ela sente e, por sentir, consegue compreender e, por conseguinte, AMAR!

Falta-nos justamente essa percepção, essa sublimação dos sentimentos, já que temos os olhos oblíquos para o negativo, para os estereótipos, para a maledicência, para o orgulho e a vaidade.

O Mestre de Nazaré já sabiamente nos recomendava

tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão”,

quer dizer, devemos envidar todo o esforço para nos tornarmos bons, probos, justos, caridosos.

E, imbuídos de virtudes espirituais, ao invés de julgarmos e achincalharmos os nossos irmãos, devemos traçar meios de melhor auxiliá-los, para a sua e a nossa edificação rumo ao Infinito de Eterno Amor.  

O consolador

Referências bibliográficas:  
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131. ed. Brasília: FEB, 2013. 
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. Disponível em:
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/

 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

                                         Trabalhar não é sofrer

Ouve-se com frequência: “Toda profissão é honrosa, não há por que sentir-se humilhado com as tarefas simples”. Embora este pensamento seja verdadeiro, normalmente ele é aplicado aos outros, nunca a quem fala. 

As palavras ditas nem sempre são sinceras.

 No campo profissional grande parte das pessoas não se submete a trabalho humilde, segundo a opinião de que não é condizente com a sua posição.

 Fora da área profissional não é diferente para a maioria que, pelo mesmo e outros motivos, não gosta de cumprir pequenas tarefas que lhe dizem respeito, menos ainda as que não dizem.

Porém, num mundo como o nosso onde as situações podem mudar a qualquer tempo e sem aviso, a ocupação singela é um fato que pode se oferecer a qualquer pessoa, de inesperado. 

Neste caso o humilde acatará as atribuições naturalmente, com a sensação de cumprir um dever, o orgulhoso sofrerá descontente.  
  
Em linhas gerais, o conceito de trabalho que permeia a sociedade moderna está estritamente associado à permuta, à troca: trabalho por dinheiro. 

Fora das relações contratuais de trabalho, documentadas ou verbais, muitos não se sentem obrigados a nada. 

Já a visão do Espiritismo sobre a questão é bem outra e ultrapassa esses estreitos limites.

 “Toda ocupação útil é trabalho”, disseram os Espíritos a Allan Kardec (1). 

Com esse conceito abrangente, não só a atividade material conta, mas toda e qualquer ação da inteligência que vise ao bem comum, ao progresso individual e coletivo. Segundo o Espiritismo, o trabalho é meio de desenvolvimento material e espiritual.

Com esse entendimento – ainda estranho para a humanidade – o trabalho braçal ou intelectual, remunerado ou voluntário, passa a ter um sentido diferente, um caráter especial, compreendido também como instrumento de aprendizado e elevação, não somente de manutenção, e não só voltado para as necessidades imediatas do homem. 

O trabalho, na conceituação espírita, além de provedor da subsistência do corpo, é acumulador de experiências para a formação do patrimônio do Espírito.

O trabalho na Terra tem caráter compulsório, o homem precisa trabalhar para viver, consequência da sua natureza corpórea. 

Mas as convenções e os interesses humanos desvirtuam seu real significado, transformando-o num peso social, numa coisa tormentosa de que as pessoas se desincumbem com aborrecimento. 

Enquanto nos mundos mais adiantados a ociosidade parece ser um suplício, na Terra é tida como benefício, como faz lembrar a questão 678, de “O Livro dos Espíritos”. 

“Trabalhar não é sofrer, mas progredir, desenvolver-se, conquistar a felicidade”, afirma Herculano Pires em nota de rodapé ao capítulo “Lei do trabalho”, do mesmo livro.

Seguindo esse raciocínio, por menores aptidões que uma pessoa possa ter, jamais lhe faltará ocupação, seja para o seu sustento, seja na colaboração em prol da ordem, do progresso e da justiça social. 

Diante de tantos benefícios que Deus concede ao homem e das condições que cria para que ele aprimore sua inteligência, não se justifica que o indivíduo negligencie sua participação no desenvolvimento da vida ou mesmo se desculpe com não ter o que fazer. Deus é generoso e a natureza, pródiga.

O conceito espiritualizado de trabalho que o Espiritismo formula leva o homem à conquista de valores definitivos que o aproximam de condições bem mais felizes do que quaisquer cargos ou posições humanas possam oferecer.  

(1)  Questão 675 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, LAKE Editora.

Claudia Bueno da Silva – O Consolador
 



segunda-feira, 10 de agosto de 2015



Com Kardec eu aprendi

Com a devida permissão do leitor para me utilizar de uma experiência pessoal, lembro-me dos tempos da juventude, passados quase 25 anos, quando me tornei espírita e frequentava o GECON-Grupo Espírita do Colégio Naval, núcleo religioso que funcionava na escola militar à qual eu pertencia, na aprazível cidade de Angra dos Reis-RJ, nos idos de 1990, e que até hoje atende aqueles jovens em regime de internato.

Nesse grupo, formado de adolescentes estudiosos e disciplinados, a nossa breve reunião ocorria de 17h às 17h50, alterando-se entre terças com o estudo de “O Livro dos Espíritos” e nas quintas com o Estudo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. 

Aprendi muito naqueles crepúsculos de discussão se abeirando nas obras básicas. Aprendi e aprendemos todos, amadurecendo nesse processo de interação mútua, de hora marcada, que às vezes se espraiava por discussões na hora do almoço.

Dessa experiência inicial, que compartilhei em outros grupos de outras casas espíritas de maneira similar, colhi duas percepções que trago comigo e que penso serem úteis se trazidas à reflexão, em especial no contexto atual do movimento espírita e a sua relação com o estudo doutrinário e temáticas correlatas.


Primeiro, tem-se a importância de se prestigiar o estudo das obras da codificação kardequiana, as chamadas obras básicas. Isso se deve à necessidade de entender uma doutrina pelas suas bases, pelo seu fundamento, entendendo as origens, da mesma forma que, em qualquer área do conhecimento humano, estudamos seus autores clássicos e a sua história.

Além disso, as questões postas por Kardec, sua metodologia, os problemas por ele enfrentados encontram-se atuais. Às vezes assistimos a programas de televisão com estudos de reencarnação, sobre a vida após a morte e aquele batalhão de céticos e, quando vemos, está tudo ali nas obras básicas, as ponderações, as argumentações no bom senso que tornaram o mestre lionês tão peculiar.

Não se trata de ortodoxia ou bitolação, mas falamos de um contexto de grande profusão de editoras e obras espíritas, de supervalorização de textos psicografados e ainda, de buscas pelas novidades literárias, por vezes com interesses mercadológicos, em uma selva louca e desvairada (parafraseando Vinicius de Moraes) na qual necessitamos de faróis seguros a nos guiarem e, em termos de metodologia e coerência, estou para ver coisa melhor que o Professor Rivail.

Isso não invalida as obras monumentais que temos à disposição, como os estudos e reflexões de autores encarnados do naipe de Hermínio Miranda, Herculano Pires e Richard Simonetti, somente para ilustrar, além daqueles clássicos da psicografia, nas obras pela pena de Divaldo Franco e Chico Xavier, entre outras. Obras essas que trouxeram reflexões e acrescentaram, sim, à construção da doutrina espírita um tijolinho, dado o seu caráter dinâmico, valorizado, inclusive por Allan Kardec.

Entretanto, penso que a casa espírita deve, nas suas preleções e grupos de estudos, valorizar as obras básicas, não por uma sacralização, mas pelo seu valor basilar, pela sua completude, coerência e metodologia, como forma de autonomia dos espíritas, que os habilitem a trafegar pelos inevitáveis mares no campo do conhecimento transcendente e que andam por aí.

A segunda colheita dessa experiência juvenil é que a abordagem do estudo espírita deve, na minha humilde opinião, valorizar o contato com as obras. Devemos utilizar a “Pedagogia do manuseio”, na qual os estudantes devem se abeirar do texto da obra, buscando a discussão em grupo, inclusive como o próprio Kardec fazia com mensagens trazidas de Espíritos.

 O coletivo traz sinergia, na máxima de um mais um é sempre mais que dois.

Observo alguns cursos superiores que abandonam os livros e passam a atuar com apostilas; alguns, meras cópias de lâminas exibidas nas aulas por professores polivalentes.

 Essa visão resumitiva, de tópicos, conteudista, é empobrecedora, favorece pouco a reflexão, em uma visão “pasteurizada” da prática educativa. 

No movimento espírita não ficamos livres dessa cultura apostilada, que por vezes favorece a “formatação” e esquece a reflexão.

É verdade, o pessoal gosta, em geral, de coisas mais facilitadas e a linguagem das obras básicas, por vezes, é complexa, por ser um texto antigo.

 Nesse sentido, têm surgido esforços de traduções mais contemporâneas, com notinhas explicativas, mas há de se considerar que uma boa discussão em grupo fortalece o aprendizado pela pesquisa e pelas dúvidas, tornando límpido o complexo.

Penso que devemos caminhar para um movimento que enxugue as palestras na grade da casa espírita e que se fortaleçam os estudos em grupo, que, de forma autônoma, favorecem a síntese e a discussão, gerando um conhecimento robusto e firme. 

A palestra chama as pessoas, mas o grupo as retém. A palestra é um mecanismo passivo enquanto grupo é interativo, de construção do saber, potencializado, se realizado à luz de uma obra relevante. No grupo de estudos é que forjamos o conhecimento espírita sólido.
O grupo de estudo exige esforço das pessoas, convoca à leitura, a falar, se expressar e se posicionar. Formam-se amigos, é democrático como espaço de participação e de revezamento da condução. Apresenta-se como modelo de estudo de excelência, antenado com as modernas tendências pedagógicas.

Por fim, insta considerar que valorizar Kardec não é só citá-lo em palestras ou artigos, por vezes com a inserção de trechos de seus livros sem contextualização. 

Trata-se de estudar a sua obra, entendê-la e transpô-la para nossos problemas atuais, enriquecida, obviamente, pelo que de bom surgir; se é espírita pelas ideias, pelos fundamentos, e não por um selo nominal.

A quantidade de obras é imensa, mas tudo começou lá na França, passados mais de 150 anos, e aqueles pressupostos, límpidos e razoáveis, ainda aplacam nossos anseios pelos problemas do ser, do destino e da dor. Não defendo a fossilização, saudando as produções vindouras, algumas basilares, mas devemos ter em mente a importância da obra de Kardec em nosso movimento.

Da mesma forma, reputo que esses estudos devem se fundamentar no manuseio de obras, enxergando naquelas linhas potencial de expansão de ideias que podem ser agregadas pela pesquisa em outras obras e pela opinião dos próprios integrantes do grupo.

 A doutrina não sobreviveu e se fortaleceu esses anos por ter criado uma bula proibitiva de conhecimentos, pela busca da padronização de ideias, e sim pela valorização do bom senso de discussão, fortalecendo seus adeptos, diante da razão em todas as épocas da humanidade.

À feição de antiga música do movimento espírita carioca, importa lembrarmos que “com Kardec eu aprendi que a vida não termina aqui”... E, daí, surgiu tudo isso de belo e consolador que vivenciamos hoje, que impulsiona vidas, ideais, trabalhos e modificações.

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA

quinta-feira, 30 de julho de 2015


                                  A HISTÓRIA  DE VALÉRIA                                                                              CHICO XAVIER


Por volta de 1953 até 1959, quando mudamos para Uberaba, nós sempre, desde muitos anos, fazíamos assistência, uma assistência carinhosa de levar uma oração ou a expressão de fraternidade a doentes, a necessitados, quando uma senhora nos pediu para visitar a irmã dela, que tinha se tornado hemiplégica e muda.

A moça tinha uns 40 anos, chamava-se Valéria.

Então, fomos a primeira vez; nós fazíamos, sempre aos sábados, nossas visitas.

Íamos visitar Valéria, levávamos um pedaço de bolo, algumas balas. Isso que se dá a uma criança, porque a gente não podia fazer mais, mas visitávamos Valéria com muito carinho; eram diversas casas e ela, Valéria, estava numa delas. A irmã dela chamava-se D. Laura.

A casa se erguia num lugar onde, em Pedro Leopoldo, se construiu o recinto das exposições pecuárias; eu estou explicando, porque alguém na minha cidade poderá perguntar onde estava esta casa; estava no lugar onde está hoje o recinto das exposições pecuárias.

Então, todos os sábados, durante uns seis anos, visitávamos Valéria e levávamos uma prece, e ela guardava um pedaço de bolo debaixo do travesseiro. A irmã dela, a dona da casa, muito distinta, muito amiga, nos recebia com muito carinho.

Num sábado, eu fazia a prece; no outro sábado, outro amigo fazia a prece; no outro, uma senhora fazia a prece, e, assim, estávamos há uns seis anos, quando Valéria foi acometida por uma gripe pneumônica muito sé-ria e D. Laura chamou um médico e o médico avisou que ela estava às portas de uma pneumonia, e a pneumonia se manifestou.

A pneumonia se manifestou, e nós chegamos no sábado. Ela estava muito abatida e, todas as vezes que nós íamos, eu falava:

— Valéria, agora você fala Deus! (Ela lutava muito para falar, porque ela entendia tudo, mas não conseguia).

Eu falava assim:

— Jesus, Valéria!

Ela fazia força, mas a língua enrolava e ela não conseguia; isso se repetiu mais de seis anos, mas, neste sábado, a pneumonia...

Eu falei:

— D. Laura, ela está com febre muito alta, o que diz o médico?

— Bem, o médico, que está tratando, já deu bastantes antibióticos, e ela está bem medicada.

E eu falei assim:

— Está bem, agora, ao invés de virmos aos sábados, viremos todos os dias.

E ela sempre piorando. Então, num sábado, no último sábado, depois que fizemos a prece, eu falei:

— Valéria, fala Jesus, fala Deus!

E ela: ã, ã, ã, ã, ã, mas não falava. Eu falei:

— Valéria, Jesus andou no mundo, curou tanta gente, tantos iam buscá-lo nas estradas, na casa onde ele permanecia, e pediam a ele a graça da melhora, da cura e foram curados.

— Lembre-se de Jesus andando e você caminhando, embora você não esteja caminhando há tantos anos, lembre-se de você caminhando e chegando aos pés dele e dizendo: Jesus! Fale Jesus!

Aí ela falou:

— Josusu, Josusu!

Eu falei:

— Meu Deus, mas que alegria, Valéria falou o nome de Jesus, que coisa maravilhosa! D. Laura, venha cá para a senhora ver!

Ela com muita febre, mas ficou satisfeita falando:

— Josusu! Josusu!

E não me esqueço daquele nome vibrando nos meus ouvidos. Eu falei:

— Ela vai melhorar, ela está falando Jesus, D. Laura.

Nós todos muito alegres, ela sorrindo, mas desinteressada do bolo que tínhamos levado, a febre muito alta.

Eu falei:

— Valéria, repete, eu estou tão interessado de ver você falar o nome de Jesus. Fale Jesus, Jesus!

— Josusu, Josusu!

Mas dando todas as forças. Aí, eu disse:

— Se Deus quiser, ela está muito melhor.

Mas, no outro dia de manhã, chegou a notícia de D. Laura de que Valéria tinha falecido pela manhã, tinha desencarnado.

Fomos para lá, e tal, e lembramos muito aquela amiga que estava partindo. Comoveu-nos muito e sofremos bastante, porque ela era muito, era muito querida, uma criatura que não falava, mas tinha gestos extraordinários.

Mas os anos rolaram, os anos passaram, e eu mudei para Uberaba e, em 1976, fui vítima de um enfarte, enfarte que me levou ao médico, que me hospitalizou em casa.

Disse-me assim:

— Não, você pode conturbar o ambiente do hospital com visitas, é melhor você ficar hospitalizado em casa, a porta do quarto ficará com acesso apenas a esta senhora, que é enfermeira.

É uma senhora, que está conosco, de nome D. Dinorá Fabiano.

Então, D. Dinorá era a única pessoa que entrava, para eu ficar 20 dias mais ou menos imóvel e eu fiquei, mas isso não impedia que os espíritos me visitassem e, então, muitos amigos desencarnados de Pedro Leopoldo, de Uberaba, entravam assim à tarde ou à noite e eu conversava em voz alta.
E eu falei:

— D. Dinorá, quando a senhora me encontrar falando sozinho, a senhora não se impressione, eu estou conversando com alguém.

Ela falou:

— Não, eu compreendo, eu compreendo.

Ficou naquilo, não é?

E uma tarde entrou uma moça muito bonita (no quarto havia sempre uma cadeira perto da cama).

Ela entrou, eu falei em voz alta:

— Pode fazer o favor de sentar.

Ela falou:

— Você não está me conhecendo?

Eu respondi:

— Olha, a senhora vai me perdoar, eu tenho andado doente com problemas circulatórios e eu estou com a memória estragada e eu não estou me lembrando.

Mas era um desculpa, era porque eu não estava reconhecendo mesmo.
Então, ela falou assim:

— Mas nós somos amigos, eu quero tão bem a você.

Era uma moça morena, muito bonita; aí eu falei:

— Olha, eu não posso assim de momento fazer muito esforço de memória, porque o médico me recomendou repouso mental. Minha senhora, faça o favor de dizer o nome.

Ela falou assim:

— Não, eu não vou dizer, eu quero ver se você lembra; eu sou uma de suas amizades de Pedro Leopoldo.

Eu falei assim:

— Então, a senhora pode falar; se a senhora falar Maria ou Alice, eu conheço tantas. Então fale o sobrenome da família, porque pela família eu vou saber.

Ela falou assim:

— Não, eu não vou falar, eu vou falar um nome só; quando eu falar, você vai lembrar quem é que eu sou.

Eu falei:

— Então, a senhora faz o favor, fale o nome, o nome que a senhora quer falar e ela foi e falou assim:

— Josusu!

Eu disse:

— Meu Deus, é a Valéria! Meu Deus, Valéria, como você está bonita! Eu não mereço a sua visita.

Ela disse:

— Mas eu vim lembrar os nossos sábados, em que nós orávamos tanto. Eu me lembrei da última palavra e eu vim te trazer confiança em Jesus.

(Chico relata o episódio muito emocionado).

Pôs a mão no meu peito e a dor desapareceu.

Então, isso para mim, eu acho que o nome de Jesus é tão grande, é tão grande, que remove os nossos obstáculos orgânicos.

Eu estou com uma angina que ficou como sendo uma herança do enfarte, mas uma angina muito bem controlada. Eu sigo as instruções médicas, as instruções dos amigos espirituais, me abstenho de tudo aquilo que não posso usufruir, de modo que eu, graças a Deus, estou, vamos dizer, estou doente, mas estou são. Se alguém puder compreender...

Mensagem Espírita

sexta-feira, 17 de julho de 2015

                                                O HOMEM DE BEM


O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. 

Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros aquilo que queria que os outros fizessem por ele.

Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a sua permissão, e submete-se em todas as coisas à sua vontade.


Tem fé no futuro, e por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.

O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre o seu interesse à justiça.

Encontra usa satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros., antes que em si mesmo, de tratar dos interesses dos outros, antes que dos seus. 

O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada ação generosa.

É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele.

Em todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. 

Considera que aquele que prejudica os outros com palavras maldosas, que fere a suscetibilidade alheia com o seu orgulho e o seu desdém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não tem ódio nem rancor, nem desejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e não se lembra senão dos benefícios.

 Porque sabe que será perdoado, conforme houver perdoado.
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: 

“Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra”.

Não se compraz em procurar os defeitos dos outros, nem a pô-los em evidência.

 Se a necessidade o obriga a isso, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.

Estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha sem cessar em combatê-las. 

Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa melhor do que na véspera.
Não tenta fazer valer o seu espírito, nem os seus talentos, às expensas dos outros. 

Pelo contrário, aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar a vantagens dos outros.

Não se envaidece em nada com a sua sorte, nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado.

Usa mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe tratar-se de um depósito, do qual deverá prestar contas, e que o emprego mais prejudicial para si mesmo, que poderá lhes dar, é pô-los ao serviço da satisfação de suas paixões.

Se nas relações sociais, alguns homens se encontram na sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus. 

Usa sua autoridade para erguer-lhes a moral, e não para os esmagar com o seu orgulho, e evita tudo quanto poderia tornar mais penosa a sua posição subalterna.

O subordinado, por sua vez, compreende os deveres da sua posição, e tem o escrúpulo de procurar cumpri-los 
conscientemente. (Ver cap.XVII, nº 9)

O homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que lhes são assegurados pelas leis da natureza, como desejaria que os seus fossem respeitados.

Esta não é a relação completa das qualidades que distinguem o homem de bem, mas quem quer que se esforce para possuí-las, estará no caminho que conduz às demais.

O Evangelho Segundo o Espiritismo por ALLAN KARDEC 

– tradução de José Herculano Pires

sexta-feira, 10 de julho de 2015


           
Quando o cônjuge morre, o outro tem o direito 
                   de refazer sua vida sentimental? 
 
Dia desses recebi e-mail de um jovem, que assim dizia:

“Minha mãe morreu há 2 anos, meu pai, que ainda é jovem, está de paquera com uma moça... 

Mas e minha mãe? 
E o que eles viveram?
 Então ele não a amava?”

Respondi-lhe: 

Meu caro amigo, não se aflija por isso, o lugar de sua mãe no coração de seu pai é cativo. 

A história que viveram é deles, somente deles... 

O coração é elástico, quanto mais se ama mais cabe amor. 

Não é o fato de ele querer refazer a vida sentimental que o fará se esquecer de sua mãe. 

Não se preocupe com isso. 

Ademais, ele tem todo o direito de buscar a felicidade e não nos cabe podar as iniciativas dos outros que querem encontrar seu lugar ao sol. 

Sejamos benevolentes e apoiemos as pessoas em busca de sua felicidade. 

Abençoe seu pai e seu novo relacionamento. 

Vou lhe confessar algo: 

Também passei por isso. 

Minha mãe se foi e meu pai arrumou outra companheira. 

Foi a melhor coisa que aconteceu. 

Pessoa de ótimo caráter trouxe outra família para brindar a vida com a nossa. 

Pense nisso e seja feliz...

O Espiritismo trata com muita propriedade dos temas que inquietam o coração das pessoas.

 Basta que o estudemos para constatar que ele pode, realmente, responder a várias indagações da alma.

Ele nos mostra que ninguém é de ninguém, que somos Espíritos em evolução e em busca da felicidade.

 Sabedores de que o Espírito não morre e continua sua jornada na vida além-túmulo, naturalmente não morre o amor que sentimos pelos outros e os outros por nós. 

Em assim sendo, é razoável refletir que quando algum ente querido deixa este plano é perfeitamente aceitável que não cultivemos o sofrimento contínuo e nos abramos para um amor que poderá surgir.

Caso surja, vamos vivê-lo. 

Por que não?

Até porque a ideia de metade eterna é fantasia e não estamos fadados a viver com alguém pela eternidade.

Já tivemos, pelas inúmeras andanças, inúmeros companheiros e companheiras de jornada e o fato de termos nos relacionado com outros não apaga a nossa história com quem quer que seja.
Sim, somos seres que têm uma história!

E, por isso, quem nos ama deverá nos respeitar; respeitar nossas escolhas e querer nos ver bem e feliz.

Ilustrativa é a história do Espírito de André Luiz que, no plano dos Espíritos, ao saber que sua ex-companheira consumara matrimônio, sente uma ponta de ciúmes, mas depois reflete e percebe que o amor é sentimento que não pode conhecer exclusividade.

Reconhece-se o verdadeiro espírita pelos esforços que faz para domar suas más inclinações. 

Foi o que fez André Luiz: controlou-se.

A vida na Terra já não é “bolinho”. 

Se formos nos preocupar em podar a felicidade dos outros e querer anular a vida alheia porque a morte do corpo físico visitou nossa família, iremos complicar ainda mais a situação.

Vida mais leve, mais tranquila, certeza na imortalidade, menos cobrança e fé no futuro...

Isso o Espiritismo nos ensina, por isso é uma doutrina consoladora, e cabe-nos divulgá-la sempre...

Pensemos nisso.

Wellington Balbo  -  O consoldor