quarta-feira, 26 de março de 2014

                              
                                 
Três velhinhas tomavam o chá da tarde.

Preocupada, ponderava uma delas:

– Minhas queridas, creio que estou ficando esclerosada. Ontem me vi com a vassoura na mão e não me lembrava se varrera a casa ou não.

– Isso não é nada, minha filha – comentou a segunda –, noutro dia, de camisola ao lado da cama, eu não sabia se tinha acabado de acordar ou se me preparava para dormir.

– Cruzes! – espantou-se a terceira. – Deus me livre de ficar assim!

E deu três pancadas na mesa, com o nó dos dedos, toc-toc-toc, enfatizando:

– Isola!

Logo emendou:

– Esperem um pouco. Já volto. Tem gente batendo na porta!

Pois é, leitor amigo, parece que velhice é sinônimo de memória fraca, raciocínio lento, confusão mental…

Sabemos que a evocação do passado e o registro do presente dependem das conexões entre os neurônios, as chamadas sinapses. Há uma perda de ambos com o passar do tempo.

O cérebro também envelhece.

Mas, e o Espírito? 

Não reside no ser pensante, imortal, a sede da memória? 

Não está ele isento de degeneração celular?

Obviamente, sim!

Ocorre que, enquanto encarnados, dependemos do corpo para as inserções mnemônicas na dimensão física, tanto quanto o pianista depende do piano ou o orador depende das cordas vocais.

Uma das razões pelas quais não temos consciência das vidas anteriores é a ausência de registros relacionados com elas em nosso cérebro.

Pelo mesmo motivo, temos dificuldade para lembrar as experiências extracorpóreas, durante as horas de sono, na emancipação da Alma, como define Allan Kardec.

Natural, portanto, que tudo o que afeta a massa cinzenta, perturbe a memória – acidentes, concussões cerebrais, distúrbios circulatórios, doenças degenerativas, envelhecimento...

Sabe-se hoje que é possível prolongar o viço, cultivando existência saudável – ginástica, alimentação adequada, disciplina de trabalho e repouso, ausência de vícios…

Da mesma forma, podemos conservar, até a idade provecta, a acuidade mental, desde que nos disponhamos a elementar cuidado:
 exercitar os miolos. 

Todo labor intelectual, que implica em movimentação dos neurônios, é salutar.

Neste aspecto, os pesquisadores têm valorizado a leitura. 

A concentração exigida, quando lemos, é um exercício prodigioso para o cérebro, tanto mais vigoroso quanto maior o grau de concentração e o empenho por digerir o que lemos.

A experiência demonstra: as pessoas que cultivam o hábito de ler chegam mais longe com lucidez, preservam a memória, não obstante o avançar dos anos.

Sem movimentar os neurônios a velhice perde-se em sombras.

É preciso conservar a vivacidade, o ideal de aprender, de desdobrar experiências, considerando que sempre é possível ampliar horizontes, fazer novas aquisições.

Alguém poderia contestar, afirmando que seria pura perda de tempo na idade provecta, em contagem regressiva para vestirmos o pijama de madeira e nos transferirmos para a cidade dos pés juntos.

Ocorre que lá ficarão apenas nossos despojos carnais. Espíritos imortais, habitaremos outros planos do infinito. 

Portanto, nenhum aprendizado será ocioso.

Um velhinho de oitenta anos propôs-se a tocar piano.

 O professor alertou:

– Estudo longo e cansativo. 

Pela ordem natural, o senhor não usufruirá desse aprendizado.
E ele, animado:

– De forma alguma! Se não der para tocar aqui, serei pianista no Além!

Certíssimo! 

É assim que crescemos espiritualmente e mantemos “azeitadas” as engrenagens da mente, para que nunca nos falte esse élan que valoriza e torna feliz a existência, promovendo nossa evolução.

Praza aos céus seja essa a marca de nossos dias.

Toc-toc-toc!

Livro Abaixo a Depressão - Richard Simonetti