Filosofia,
religião e ética
A Filosofia tem como objeto de
estudo a moral e a ética, ou seja, estabelecer ideal de conduta do ser humano
dentro de princípios de correção. O grave problema enfrentado é definir
critérios para avaliar corretamente o que é certo e o que é errado.
Percebe-se que essa é uma
preocupação da humanidade desde os primórdios da civilização, pois jamais houve
na história do homem sociedades sem critério algum, sem códigos de ética, mesmo
que rudimentares
.No passado, os códigos se baseavam nas concepções religiosas
vigentes, normalmente baseadas em lideranças ou personalidades especiais,
dotadas de certas habilidades como os profetas, as pitonisas, os gurus, seres
alegadamente portadores de dons especiais, sobrenaturais, que pretendiam ter
contato com as divindades.Na Idade Média, o comportamento dos indivíduos ficou
tenazmente atrelado aos códigos religiosos.
Nesse período começou o declínio do
poder da religião, porque a conduta daqueles que deveriam ser os responsáveis
pelo cumprimento das normas éticas – as lideranças político-religiosas – eram
os que mais se comprometiam em fraudá-la (perseguições, torturas, corrupções,
assassinatos e guerras patrocinadas pelas Igrejas...).
A moral das religiões
instituídas foi intimamente interligada a uma série de costumes externos como
as liturgias, os rituais, os sacramentos, as hierarquias despropositadas,
baseadas no mote “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Surge, então,
o Renascimento através do movimento das artes, das ciências e das filosofias,
procurando desconectar a cultura e a ética do obscuro caminho escolhido pelas
religiões.
Uma série de livres-pensadores procura imprimir “novos ares” ao
pensamento humano. Sem as bases religiosas, removidas pelos intelectuais,
criaram-se dificuldades para se restabelecer novos princípios éticos de conduta
objetiva.
Jogou-se fora toda a liturgia dogmática das Igrejas e, junto a ela, a
moral irretocável do cristianismo, perdendo-se valiosa oportunidade de
restabelecer a pureza dos ensinamentos do Cristo.
Reaparecem inúmeras formas
filosóficas de estudo do comportamento humano, algumas com graves
comprometimentos em seus aspectos morais, muitas trazendo reflexos negativos
até hoje na sociedade.
Aparece o relativismo ético, segundo o qual o que é certo
e errado depende do indivíduo, da época, do grupo a que pertence e da situação.
Essa forma de conduta moral traz desastrosas consequências, provocando
verdadeiras distorções no comportamento humano. Nessa teoria não há a formação
de uma base racional, pois tudo é justificável e qualquer atitude pode ser
considerada certa ou errada de acordo com a situação. Ora, o que é errado hoje,
já era errado há centenas ou milhares de anos atrás.
Não é a situação que
diferencia o que é ético, do não-ético, mas a compreensão desta virtude que
aumenta à medida que o ser humano evolui moral e intelectualmente.
Outras filosofias surgiram com propostas opositoras ao relativismo moral, como
a racionalista de I. Kant e o utilitarismo de J. Locke.
Especialmente a segunda
serviu de esteio para o estabelecimento de sistemas sociais mais justos e
éticos, dando origem aos diversos códigos vigentes até hoje, como o dos
direitos humanos, cartas magnas de diversos países, com ideais de justiça e
liberdade.
Mesmo nobres, esses sistemas filosóficos, a longo prazo, perderam
importância por não terem uma base sólida de experimentação e também por
dependerem do pensamento especulativo de seus criadores.
Em meados do século
XIX, surge a Doutrina Espírita, trazendo uma valiosa contribuição para o
panorama da ética humana.
Construída através de uma pesquisa metodológica
científica e não somente da mera especulação racional, comprovou através da
mediunidade, a existência e a sobrevivência do Espírito após a morte do corpo
físico, trazendo elucidações, até então inéditas, das consequências das
atitudes do ser humano para o futuro, não só no plano físico, mas também no
extrafísico. Elucida que o indivíduo é responsável pela sua própria conduta,
sofrendo as consequências agradáveis ou desagradáveis, de acordo com as suas
ações.
É a afirmativa de Jesus “a cada um segundo as suas obras”, explicada
pela Doutrina Espírita como Lei de Causa e Efeito.O Espiritismo fornece ao homem conhecimento
seguro das regras do bem proceder e os porquês de assim se conduzir, indicando
o caminho que o levará à harmonização interior, ao equilíbrio, tornando-o um
potente colaborador na formação de uma sociedade mais justa e fraterna,
fundamentada na observância da lei de Deus, que é a prática do bem em todas as
suas formas, segundo um preceito infalível de Jesus (O Livro dos Espíritos,
questão 632):
“Vede o que gostaríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo
se resume nisso. Não vos enganareis”.
Fonte
de consulta: artigo de Silvio S. Chibeni, Religião Espírita, na Revista
Reformador de setembro de 1999, ou no site
www.geocites.com./athens/academy/8482.