quinta-feira, 8 de outubro de 2015

                       Por que o socorro, às vezes, chega tarde?

Existe um fato que muito nos marcou e que contamos no jornal “O Imortal” no mês de maio de 2009. 

Como há histórias que sempre nos ensinam, vou tentar recontá-la.
No ano de 1997 atendíamos em um ambulatório clínico na cidade de Londrina e, frequentemente, éramos visitados por representantes de empresas produtoras de medicamentos que vinham divulgar os seus medicamentos ou fazer lançamentos de novos produtos.

Nessa época, um frequentador de nosso Núcleo Espírita experimentava um gravíssimo câncer de fígado, em fase terminal, o que despertava em nós, daquele grupo, um sincero desejo de ajudar.

Fizemos uma reunião e decidimos por visitá-lo, alternadamente, de maneira que ele não ficasse nem uma só semana sem a presença de alguém de nossa casa, para estimulá-lo, nessa hora difícil. 

Orávamos com ele enquanto aplicávamos passes magnéticos.

Certa sexta-feira, um desses representantes adentrou nosso consultório, bastante efusivo, dizendo estar ali para falar de importante lançamento: uma medicação antiespasmódica de profunda utilidade nas dores hepáticas, incluindo as causadas por câncer de fígado.

Imediatamente nos lembramos do amigo enfermo, e solicitamos algumas amostras, com a ideia de visitá-lo ainda naquela noite...

 O que não fizemos. Deixamos a visita para a outra semana, acreditando que alguém do grupo já estaria se desincumbindo dessa tarefa por aqueles dias.
Alguns dias depois, lembrando-nos de nosso dever para com nosso irmão, fomos até a casa do amigo.

 Logo na entrada, sua esposa, lavando a calçada, sem muita emoção nos avisou: -

“Nem adianta entrar, ele está muito magoado. Faz três dias que está em crise de dor e nada o alivia. Parou até de orar... porque diz não estar adiantando...”.
Pedimos, então, para que ela já fosse preparando o remédio novo enquanto nos dirigimos ao seu quarto. Ele estava de costas para a porta e, quando o cumprimentamos, mal respondeu, demonstrando profunda amargura. 

Tentamos um diálogo, meio sem sucesso, quando ele lentamente se virou para nós e disse:

 “Sabe, eu acho que Deus só cuida de seus filhos depois que vão para o lado de lá... Faz três dias que estou com essa dor insuportável, e apesar das minhas preces, nada de melhorar”.

Nesse momento, contamos para ele a história do remédio que carregávamos conosco e que já estava no porta-luvas do nosso carro há alguns dias e, no mesmo instante, sua esposa adentrava o recinto com uma xícara com água, já com o medicamento.

Num súbito, como quem sai de profunda dor e ilumina seus olhos com o retorno da esperança, ele, bastante sincero e agora sem o semblante da mágoa, lançou seu olhar sobre nós e disse:

 “Então não foi Deus quem se esqueceu de mim?... Foi você?”.

Sem ter como nos desculpar, rimos por ver sua alegria voltar e completamos:

-“Pois é, meu irmão, veja com quem Deus tem que contar para socorrer seus filhos. 
Por isso é que o socorro às vezes chega tarde. 

Não é pela ausência da piedade paterna, mas pela falta da caridade dos cristãos de hoje”.

Abraçamos-nos, com muito cuidado, porque o estado dele era muito frágil. Em poucos dias ele desencarnou, deixando comigo uma profunda reflexão.