A preguiça
Tida como doença da alma, a preguiça tem,
como sócio majoritário, o desânimo
aversão ao trabalho; morosidade; negligência; pachorra; moleza;
indolência; vadiagem. Portanto, preguiçoso é todo o indivíduo portador de
qualquer desses “predicados”; e a doutrina espírita nos assevera que a preguiça
causa sérias implicações na vida do indivíduo preguiçoso, alertando para o fato
de que é ela um dos maiores empecilhos ao progresso moral e espiritual do
indivíduo, e, por conseguinte, um grande entrave ao desenvolvimento geral da
sociedade, em todos os campos da atividade humana.
A preguiça é uma doença da alma, e tem, como sócio
majoritário, o desânimo, por conseguinte, provoca, com sua ação maléfica ao
espírito que se deixa impregnar por seus efeitos paralisantes, sérios
transtornos para o desenvolvimento de uma vida digna e saudável, acarretando em
seu portador sérios e pesados desequilíbrios que o arremessarão de encontro a
prejuízos de incalculável monta.
Os efeitos provocados pela preguiça no indivíduo iniciam-se
de forma bem sutil e quase imperceptível, na forma de um pequeno desânimo, que,
se não for logo detectado e combatido, se estabelecerá com grande rapidez nas
engrenagens psíquicas do indivíduo, justamente quando ele, mantendo as mãos
desocupadas e a cabeça despreocupada de pensamentos positivos que a
responsabilidade do trabalho exige, para a sua consecução, entrega-se à
ociosidade que fatalmente o levará de encontro à invigilância e o colocará na
faixa vibratória dos inimigos da Luz, que logo estarão lhe fazendo companhia,
sugerindo pensamentos de baixo teor de moralidade e dignidade, arrastando-o ao
encontro de idealizações inferiores e enfermiças sem proveito algum para a sua
necessidade de crescimento espiritual, trazendo à tona as sombras da cegueira
espiritual de que é portador, envolvendo-o, sem que se dê conta, em
desequilíbrio, mergulhando num mar de enfermidades, moléstias e tormentos.
Desse infeliz consórcio, dentro em pouco estará o indivíduo
envolto em sérios problemas obsessivos, em que os representantes das trevas lhe
causarão muitos dissabores e sofrimentos de difícil solução; pois, a ociosidade
é tóxico poderoso que polui a vida moral-espiritual do incauto que lhe concede
abrigo.
Na literatura espírita, encontramos sábios e importantes
alertas dos benfeitores espirituais para que nos mantenhamos em guarda,
“vigiando e orando”, como nos ensinou o Mestre de Nazaré, para não cairmos em
tentação, conforme segue:
Dissertação moral ditada por São Luís à senhorita Ermance
Dufaux (5 de maio de 1858)l
Um homem saiu de madrugada e foi para a praça pública para
ajustar trabalhadores.
Ora, ele viu dois homens do povo que estavam sentados de
braços cruzados.
Foi a um deles e o abordou dizendo:
"Que fazes tu
aqui?"
e este, tendo respondido: "Não tenho trabalho", aquele
que procurava trabalhadores lhe disse:
"Tome tua enxada, e vá para o meu
campo, sobre a vertente da colina, onde sopra o vento sul; cortarás a urze e revolverás
o solo até que a noite chegue; a tarefa é rude, mas terás um bom salário".
E o homem do povo carregou a enxada sobre os ombros, agradecendo-lhe em seu
coração.
O outro trabalhador, tendo ouvido isso, se ergueu do seu
lugar e se aproximou dizendo:
"Senhor, deixai-me também ir trabalhar em
vosso campo", e o senhor, tendo dito a ambos para segui-lo, caminhou
adiante para lhes mostrar o caminho.
Depois, quando chegaram à beira da colina,
dividiu a obra em duas partes e se foi dali.
Depois que partiu, o último dos trabalhadores que havia
contratado, primeiramente pôs fogo nas urzes do lote que lhe coube em partilha,
e trabalhou a terra com o ferro de sua enxada.
O suor jorrou do seu rosto sob o
ardor do sol.
O outro o imitou, primeiro murmurando, mas se cansou cedo do seu
trabalho, e, cravando sua enxada sob o sol, sentou-se perto, olhando seu
companheiro trabalhar.
Ora, o senhor do campo veio perto da noite e examinou a obra
realizada, e tendo chamado a ele o obreiro diligente, cumprimentou-o dizendo:
"Trabalhaste bem; eis teu salário", e lhe deu uma peça de prata,
despedindo-o.
O outro trabalhador se aproximou também e reclamou o preço de sua
jornada; mas o senhor lhe disse:
"Mau trabalhador, meu pão não acalmará
tua fome, porque deixaste inculta a parte de meu campo que te havia
confiado", não é justo que aquele que nada fez seja recompensado como
aquele que trabalhou bem; e o mandou embora sem nada lhe dar.
Eu vos digo, em verdade: sua vida será lançada de lado como
uma coisa que não foi boa em nada, quando seu tempo se tiver cumprido;
compreendei isto por uma comparação.
Qual dentre vós, se há em vosso pomar uma
árvore que não produz bons frutos, não dirá ao seu Servidor:
Cortai essa árvore
e lançai-a ao fogo, porque seus ramos são estéreis. Ora, do mesmo modo que essa
árvore será cortada por sua esterilidade, a vida do preguiçoso será posta de
lado porque terá sido estéril em boas obras. ¹
Os Espíritos Superiores nos afirmam que o trabalho é uma Lei
Natural, a que todos estamos submetidos, consoante os esclarecimentos contidos
nas respostas esclarecedoras que prestaram às questões formuladas pelo
codificador da doutrina espírita, nas questões seguintes:
Necessidade do trabalho
647. A necessidade do trabalho é lei da Natureza?
“O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui
uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe
aumenta as necessidades e os gozos.”
675. Por trabalho só se devem entender as ocupações
materiais?
“Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação
útil é trabalho.”
676. Por que o trabalho se impõe ao homem?
“Por ser uma consequência da sua natureza corpórea. É
expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o
trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência.
Por
isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho
e da sua atividade. Ao extremamente fraco de corpo, outorgou Deus a
inteligência, em compensação. Mas é sempre um trabalho.”
678. Em os mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham
submetidos à mesma necessidade de trabalhar?
“A natureza do trabalho está em relação com a natureza das
necessidades.
Quanto menos materiais são estas, menos material é o trabalho.
Mas não deduzais daí que o homem se conserve inativo e inútil. A ociosidade
seria um suplício, em vez de ser um benefício.”
679. Achar-se-á isento da lei do trabalho o homem que possua
bens suficientes para lhe assegurarem a existência?
“Do trabalho material, talvez; não, porém, da obrigação de
tornar-se útil, conforme aos meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua
inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho.
Aquele a quem Deus
facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existência não está, é
certo, constrangido a alimentar-se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe
é a obrigação de ser útil aos seus semelhantes, quanto mais ocasiões de
praticar o bem lhe proporciona o adiantamento que lhe foi feito.”
680. Não há homens que se encontram impossibilitados de
trabalhar no que quer que seja e cuja existência é, portanto, inútil?
“Deus é justo e, pois, só condena aquele que voluntariamente
tornou inútil a sua existência, porquanto esse vive a expensas do trabalho dos
outros. Ele quer que cada um seja útil, de acordo com as suas faculdades.”
(643)²
Diante dos cristalinos ensinamentos, contidos nas obras da
esclarecedora doutrina espírita, precisamos de toda atenção para que não nos
tornemos, por nossa vez, vítimas desse dragão devastador que é a preguiça,
causadora de muitos tormentos e decepções a um número incalculável de criaturas
que lhes caíram nas malhas.
Só através do trabalho constante e disciplinado, na busca do
nosso crescimento como Seres em processo de autoburilamento, enfrentando
corajosamente os obstáculos que a vida nos impõe, utilizando da bênção do
trabalho, é que conseguiremos atravessar com eficiência esse atual estágio
evolutivo em que nos achamos, na construção de um futuro brilhante e proveitoso
na busca da felicidade relativa que tanto almejamos e que só depende de nós
consegui-la.
O trabalho é por isso mesmo o único meio pelo qual poderemos
conquistar nossos objetivos de elevação como Seres imortais que somos, em
direção ao encontro com o Pai criador que nos aguarda com os necessários
benefícios que serão ofertados a tantos quantos fizerem o inevitável esforço
por merecer.
Portanto, reage com vigor e determinação às tentativas de
alojamento da preguiça nos tecidos sutis de teu equipamento psíquico, e assume
nova postura diante da vida, que te oferece diariamente inúmeras oportunidades
de crescimento e desenvolvimento a teu próprio benefício, e procura entender
que ninguém está no mundo por acaso, e sim com finalidades e objetivos adredemente
estabelecidos, que deve atender, para seu aperfeiçoamento, e espelha-te no
exemplo que te dá o Sol, que todos os dias aquece e ilumina teus caminhos, e
prossegue trabalhando na construção do teu destino final que é a perfeição e a
felicidade.
2- O Livro dos Espíritos – FEB, 76º edição.