SIT - NOVA DOENÇA SOCIAL
Numa breve viagem efetuada em serviço profissional, não pude deixar de
constatar o mundo que me rodeia, desde o embarque no avião, a viagem, o
desembarque, enfim, as múltiplas ações e reações das pessoas na sua interação
social.
Confesso que fiquei preocupado ao aperceber-me de uma
nova doença que afeta a sociedade ocidental:
chama-se SIT.
Curiosamente, ao ler "O Livro dos
Espíritos", de Allan Kardec, verdadeira pérola da literatura mundial, onde
está confinada a parte filosófica da Doutrina Espírita (que não é mais uma
religião nem mais uma seita, mas sim ciência, filosofia e moral), no seu
capítulo VII, intitulado "Lei de Sociedade", podemos encontrar
questões interessantes:
766. A
vida social está na Natureza?
“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade.
Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à
vida de relação.”
767. É
contrário à lei da Natureza o isolamento absoluto?
“Sem dúvida, pois que por instinto os homens buscam a
sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.”
768.
Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento
pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais
geral?
“O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso
possível, por não dispor de todas as faculdades.
Falta-lhe o contato com os
outros homens. No isolamento, ele se embrutece e estiola.”
“Homem nenhum possui faculdades completas.
Mediante a
união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o
bem-estar e o progresso.
Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens
foram feitos para viver em sociedade e não isolados."
O ser humano, estimulando a sua inteligência, vai
criando e modificando a matéria e o mundo material, tornando-o mais agradável
para a sua vida no quotidiano, que, por sua vez, se torna mais confortável e
mais feliz.
“O
homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso possível, por não
dispor de todas as faculdades.
Falta-lhe o contacto com os outros
homens. No isolamento, ele se embrutece e estiola.” (Allan
Kardec)
Vemos, ao longo destes últimos 100 anos, um incremento
fantástico ao nível tecnológico, contribuindo sobremaneira para uma maior e
melhor qualidade de vida do ser humano.
Curiosamente, esta tecnologia, ao invés
de contribuir para uma partilha saudável de vivências entre os seres
humanos, tem contribuído para um uso desajustado, levando-o ao isolamento.
Paradoxalmente, nestes tempos que deveriam ser de
alegria, face ao incremento da tecnologia, a sociedade sofre de grave doença
mortal, a solidão, mesmo quando rodeados de uma imensidão de pessoas.
Naquele avião potente, com 200 pessoas a bordo,
meditava fascinado no avanço da tecnologia, naquele grande pássaro de ferro
rasgando o ar, tranquilamente, e verificava com alguma tristeza que, naquela
hora e meia de viagem, as 200 pessoas iam, cada uma delas, imersas no seu mundo
(com auriculares ouvindo música ou outra coisa qualquer, com computadores
trabalhando ou jogando, agarrados interminavelmente aos seus telemóveis e/ou
agendas eletrônicas, dormindo ou descansando de olhos fechados), ao invés de aproveitarem
o tempo para conversarem, fazer novos conhecimentos, trocar ideias, partilhar
opiniões, enfim, sociabilizarem-se.
Foi aí que me apercebi da grave doença, que se vai
instalando silenciosamente, que nos afeta nos dias de hoje:
a "SIT"
(Solidão, Isolamento e Tecnologia).
Se as novas tecnologias são uma bênção para a
humanidade, o seu uso deve ser efetuado com parcimônia, de modo a que o rumo
orientador de sociabilização apontado em "O Livro dos Espíritos", nos itens acima referidos, não venha
a ser posto em causa por este flagelo que associa a tecnologia ao isolamento e
à solidão do ser humano.
José Lucas - O consolador