Lições da
tristeza
A criatura humana, normalmente, combate e evita a tristeza, como se esse sentimento fosse algo proibido ou que nos situasse num nível evolutivo primário, inferior, bem como pelo medo que se tem da instalação da depressão.
Essa conceituação equivocada leva o
indivíduo a dissimular, porque, em muitos momentos existenciais, estará
enfrentando um problema grave e tenderá a esconder a tristeza interior,
apresentando falsos sorrisos, o que lhe trará um desgaste físico e emocional,
na medida em que conviverá com essa dualidade, a aparência exterior diversa da
realidade íntima.
O espírito Joanna de Ângelis, na obra
“Atitudes Renovadas” (Capítulo 5), através do médium Divaldo Pereira Franco,
escreve uma bela mensagem sobre a tristeza, apresentando-nos seu real conceito
e efeitos.
A referida benfeitora assevera-nos
que a tristeza não é o inverso da alegria, mas a sua ausência
momentânea.
É um estado que conduz à reflexão e não ao desinteresse pela
vida...
A tristeza, porém, é um fenômeno natural que ocorre com todas as
pessoas, mesmo aquelas que vivenciam os mais extraordinários momentos de
alegria. Pode ser considerada como uma pausa para a compreensão da existência.
Dessa forma, mostra-se perfeitamente
natural que nós, os cristãos (espíritas, católicos, evangélicos, protestantes...),
diante de algumas situações da vida, vivenciemos a emoção da tristeza.
Haverá, basicamente, dois tipos de
situações que nos propiciam a experimentar a tristeza.
A primeira situação decorre dos
problemas existenciais, como, por exemplo, a traição do cônjuge ou de um amigo,
um filho nas experiências da droga, o diagnóstico de uma doença grave, a perda
de um emprego, a morte de um ente querido e outras.
Há algumas pessoas que diante dessas
ocorrências buscam as fugas psicológicas através do álcool, das drogas ilícitas
ou do sexo casual.
Haverá outros que mantêm um estado de alegria permanente,
sorrindo para tudo, o que representa um quadro patológico de alienação da
realidade.
Em ambas as situações, haverá um
agravamento do estado espiritual e emocional do indivíduo, que lhe trará
comprometimentos morais e profunda infelicidade.
Por mais equilibrado que estejamos, é
natural que a tristeza apareça quando enfrentamos as citadas situações externas
e permaneça até a resolução parcial ou total do impasse.
A segunda situação, de âmbito
interno, se desdobra a partir do momento em que identificamos que aquilo que
estamos fazendo da nossa vida não é o correto ou o que se gostaria de realizar.
Normalmente isso ocorre quando se
desperta para os valores do evangelho, para o verdadeiro sentido da vida, e
percebe-se o tempo perdido e os equívocos, a nos trazer certa tristeza.
Também pode ocorrer quando se percebe
a falha na escolha da atividade profissional, que nos faz infeliz, triste, e
deseja-se mudar de área, o que, para muitos, constitui-se num desafio incomum.
Anote-se que nas duas hipóteses,
externas e internas, a tristeza, para ser produtiva e eficiente, deve
apresentar algumas características.
Deve ser transitória, isto é, não
devemos nos acomodar na tristeza, porque, com o decorrer do tempo, essa emoção
poderá intensificar-se e converter-se num estado depressivo, com danos
existenciais mais graves, podendo culminar no suicídio direto ou indireto, ou
no denominado suicídio moral, quando a pessoa se nega a viver e não se permite
qualquer conquista na esfera do bem.
Assim sendo, ao experimentar a
tristeza, devemos continuar a frequentar o templo religioso, mantendo nossa
vinculação com Deus através da prece, da reflexão religiosa, do bem ao próximo,
da fé no futuro, o que nos fortalecerá para o enfrentamento dos problemas.
É comum as pessoas se afastarem da
religião quando se deparam com o sofrimento, abrindo campo para a ampliação da
tristeza e para a maior dificuldade na resolução dos desafios pessoais.
À luz do Espiritismo, não podemos
ignorar a interferência espiritual inferior, pois Espíritos ainda imperfeitos
poderão criar sintonia conosco a partir da tristeza descontrolada, criando
maiores embaraços em nossa vida.
Registre-se, ainda, que podemos nos
socorrer dos médicos da mente, nos ramos da psicologia e da psiquiatria, que
nos ajudarão no enfrentamento da situação desafiadora, prescrevendo remédios,
se necessário.
A terapia dos passes, do evangelho no
lar, da água fluidificada também se constituirão em hábitos eficientes a nos
fortalecer o ânimo e a resignação.
A tristeza transitória, enquanto
dure, não pode ser o quadro emocional predominante, haveremos de buscar
momentos de esperança, de confiança em Deus, de alegria por outras conquistas,
de convivência social saudável, sob pena de descontrole da situação, porquanto
a tristeza se intensificará de tal forma, que passará a ser um estado
permanente.
Com o Espiritismo também aprendemos a
manter a fé na vida futura, pois certos problemas não dependem apenas de nós
para serem solucionados. Por exemplo, um filho na droga que insiste em manter
essa escolha.
Obviamente que isso trará certa tristeza, mas também haveremos de
ter alegrias na vida, e agiremos como semeadores, amando esse filho sem cessar,
confiando que nenhum investimento de amor é perdido, de forma que nesta ou em
futuras reencarnações, essa alma querida despertará para a verdade e o bem.
Fica evidente que a visão da
reencarnação minimiza nossa tristeza, ante a confiança no futuro.
Convém destacar, também, que a
tristeza bem compreendida trará efeitos positivos e saudáveis.
Na destacada lição do livro “Atitudes
Renovadas”, Joanna de Ângelis fala acerca das reflexões positivas da tristeza,
que nos permitirão refazer experiências... , trabalhando o indivíduo
para a renovação interior e a conquista de valores mais profundos e
significativos do que os existentes e consumidores... Fenômeno psicológico
transitório, deve ceder lugar à reflexão, ao despertamento e à valorização dos
tesouros morais, culturais e espirituais. A tristeza sem lamentações,
sem queixas, sem ressentimentos, é, pois, psicoterapêutica...
Com efeito, ao vivenciarmos essa
tristeza nas lidas cotidianas, devemos fazer uma pausa acompanhada de silêncio
interior, para que as reflexões terapêuticas possam fluir do íntimo,
convidando-nos à renovação moral e comportamental.
É de bom alvitre enfatizar que não
se deve cultivar a tristeza como necessária para o discernimento a cada
instante ou em toda parte.
Não estamos estimulando a tristeza, mas apenas
compreendendo seu verdadeiro significado, até porque a mensagem do evangelho é
de alegria.
Ademais, Joanna de Ângelis nos lembra
que Jesus, em algumas ocasiões, chorou de tristeza ao contemplar a loucura
humana e o seu desequilíbrio, massorriu, também, quando choraram aqueles que
O foram ver no sepulcro.
A tristeza serena de Jesus revelava
que Ele veio para auxiliar a criatura humana a encontrar o caminho do amor, da
autoiluminação, ciente de que a terapia do tempo e da dor a todos corrigirá.
Finalizo o artigo com uma frase de
Joanna para nossa reflexão:
Não cultives a tristeza nem fujas dela,
aceitando-a, quando se te apresentar e retirando o melhor resultado da
oportunidade de reflexão que te proporcione. Com esse comportamento estarás
experienciando atitudes renovadas.
ALESSANDRO VIANA VIEIRA DE PAULA - O Consolador