terça-feira, 15 de julho de 2014


               A nossa tarefa regada com as luzes da
                      Parábola do Semeador

Após limparmos o nosso terreno, ou seja, o nosso Espírito, que se encontra cheio de espaços vagos pela retirada dos miasmas e mesmo muito sensível, as etapas seguintes visam à observação cuidadosa dos elementos que escolheremos para completar tais espaços e beneficiar o nosso solo, bem como a busca de auxílio de outros lavradores, pois sozinho não se consegue uma colheita saudável.

Os buracos resultantes da retirada das ervas daninhas, pedras, sujeiras etc. serão completados e compensados com os elementos que agregarão mais saúde ao solo e eles terão a função de manter a sua fertilidade.

O adubo representa a Fé. A função do adubo é agregar compostos que são necessários à complementação de nosso solo.

A Fé é a capacidade de concentrar a vontade que o indivíduo possui em si, pois, assim como o adubo, ela manterá unidas as partículas dos elementos constituintes deste terreno e os ativará para que cada um exerça o seu trabalho no cultivo; tal ação visa à preservação do campo psicoemocional do Espírito, pois a união, a concentração e o foco são estados para onde precisamos caminhar para que não sejamos influenciados pelas ervas daninhas que procurarão um vão, uma falha em nosso terreno para novamente enraizarem-se.

Assim, a Fé preserva o nosso foco no caminho que devemos trilhar. Ela tranquilizar-nos-á quando nos depararmos com um eu que não conhecíamos, pois, de acordo com cada situação, somos levados a nos observarmos a partir de outros pontos de vista que não somente o do egocentrismo.

 Portanto, tal como existe a constante necessidade do lavrador sempre observar o desenvolvimento de seu solo e posteriormente de suas plantas, devemos sempre nos atentar para o conhecimento que precisamos adquirir e, acima de tudo, analisar cada atitude tomada em cada situação e, a partir daí, lapidarmos o diamante.

Apesar dos abalos ocasionados pelo contato com nosso eu que acabam gerando dúvidas e inseguranças e muitas vezes sensação de incapacidade em continuar na tarefa de lavradores de nós mesmos, a Fé, como aquela que une, nos erguerá para retornar ao nosso objetivo de luz.

A Fé transporta montanhas. A nossa categoria na estrutura de homo sapiensjustifica-se na necessidade de sermos constantemente lembrados de nossa condição de pequenos, mas belos aprendizes, apesar de ainda confundirmos humildade com rebaixamento de nossas capacidades divinas. É por isso que transformamos as ervas daninhas em uma Floresta Amazônica impenetrável.

Qual farol em meio ao mar bravio a orientar a pequena embarcação para a praia mais próxima e segura, a Fé, quando confiada na tarefa de nossa guardiã, sempre nos apontará o lugar em que repousaremos o nosso corpo cansado e que oferecerá o alimento e a água para reposição de nossas forças e finalmente retornarmos à navegação.

Carecemos em acreditar que a movimentação de nossas lembranças, a partir da vontade de mudança, o perdão e o autoperdão, auxilia-nos a nos tornarmos seres mais leves e com a bagagem mais espaçosa para novas experiências. 

Quando entupimos nossas malas com objetos desnecessários à viagem, não resta lugar para dispormos novos utensílios e, se para a próxima parada é necessário que tenhamos instrumentos específicos os quais não possuímos por conta da ausência de espaço, os choferes não permitirão que desembarquemos e teremos que retornar para o ponto onde embarcamos.

 Ou seja, se eu não faço a minha parte de autolimpeza, se eu me coloco na situação de depósito de tralhas (emoções e memórias negativas), quando eu for passar por uma experiência nova, eu não terei a capacidade de compreender o que ela me trará de conhecimento, interpretando-a de maneira equivocada em um processo cíclico de estagnação ocasionado por mim mesmo.

Compreende-se, então, que a limpeza do solo, mesmo quando já foram semeadas as sementes, é tarefa de suma importância, pois, se relegarmos o terreno à sua própria sorte, as ervas daninhas retornarão e abafarão os brotos e eles morrerão.
A nossa tarefa, regada com as luzes da Parábola do Semeador, é conduta eficaz do lavrador:
  • Proteger as sementes das aves e das intempéries.
  •  Não plantar em terreno pedregoso.[1] Os terrenos mais profundos possuem maior capacidade e durabilidade de produção.
  •  A necessidade de constante limpeza protege a produção que cresce com vitalidade.
A vida social, aqui simbolizada pela correção do terreno, normalmente utiliza-se cal para neutralizar o Ph do solo. Neutralizamos as nossas emoções através da convivência constante com outras pessoas, em diferentes ambientes, pois a sociedade possui uma série de regras que limitam as nossas manifestações instintivas, compreendidas no processo evolutivo em que trazemos conosco características de quando habitávamos os primeiros hominídeos.

 O determinismo não existe para o indivíduo e o estado de condição é imposto pelo próprio sujeito que não é senhor de si mesmo. 

Deus nos ofereceu as Ciências, as Artes e as Filosofias para que pudéssemos atuar nestes caminhos que, apesar de sua aparente diferença em níveis epistemológicos, são complementares como partes de um todo. Na natureza, a única manifestação una é Deus. Toda a sua criação é plural, assim como nós, Espíritos, possuímos inúmeras maneiras de nos manifestarmos na natureza.

 As aptidões são capacidades latentes em todo e qualquer indivíduo, independente de sua roupagem física, cultural, étnica ou social. É da necessidade que surge a ferramenta.

Corrigir o solo é permitir se envolver com os meios que Deus nos oferece para evoluirmos, do contrário, nós seríamos e viveríamos solitários, cada um em um planeta próprio. 

A vida social é intrínseca ao desenvolvimento do Espírito, a sua existência mostra que todo tempo deve ser utilizado em consciência e não ser desperdiçado em atividades (tem-se o pensamento como atividade) que atravanquem o seu progresso. 

Para tanto, a vida em comunidade permite que estejamos sempre ligados uns aos outros, que dependamos uns dos outros em todos os sentidos.

 Desta maneira, descobriremos que é amando uns aos outros, ou seja, que é valorizando a existência de cada indivíduo em nossa sociedade, cuidando uns dos outros, doando o nosso tempo em favor da evolução do outro, que garantiremos o nosso aprendizado, pois ele depende da conduta do outro. 

Mesmo que não tenhamos a consciência de que tal postura agregue insumos ao nosso terreno, Deus permite que assim o seja para que a ocorrência dos fatos transcorra.

É uma questão de permissão. Ora, como donos de nós mesmos, a única coisa que possuímos é o nosso Espírito, que somos nós, a única coisa que eu possuo é uma força da natureza mutável, que é eterno no universo e está sob meus cuidados:

 o eu

Nada mais.

 Portanto, eu tenho todo o direito de permitir ou não que eu realize certas tarefas e adote certas posturas. Permitir-me conhecer pessoas, estar em contato com pessoas, trabalhar com pessoas, viajar com pessoas, pensar as pessoas, enfim, viver as pessoas. Há quem acredite que o contrário é a alternativa, é se isolando que eu alcanço o nirvana.

 Ledo engano.

A contenção de algumas manifestações ou expressões mentais é necessária em nossa sociedade, é nítido que já atravessamos algumas eras em que nos assemelhávamos aos grandes símios.

Considera-se que o convívio com o outro tem como objetivo o de auxiliar em minha lavoura, pois é inviável que somente uma pessoa dê conta de uma plantação inteira.

 Em tamanho e em capacidades limitadas, precisamos de ajuda, pois é o outro quem possuirá o composto para equilibrar o nosso Ph.

[1] Todo terreno merece a sua devida valorização, pois tudo é uma questão de graus de evolução.

 Tais terrenos, apesar de serem pedregosos, possuem capacidades peculiares de cultivo, a paciência na sua transformação em um solo mais profundo e ferroso, bem como na oferta dos elementos vitais para seu desenvolvimento, são oferecidos por Deus e aguardados por Jesus para que um dia completem o seu ciclo de maturação.

Angélica dos Santos Simone é geógrafa e mestranda em Geografia Física pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.