A nossa tarefa regada com as luzes da
Parábola do Semeador
Após
limparmos o nosso terreno, ou seja, o nosso Espírito, que se encontra cheio de
espaços vagos pela retirada dos miasmas e mesmo muito sensível, as etapas
seguintes visam à observação cuidadosa dos elementos que escolheremos para
completar tais espaços e beneficiar o nosso solo, bem como a busca de auxílio
de outros lavradores, pois sozinho não se consegue uma colheita saudável.
Os buracos
resultantes da retirada das ervas daninhas, pedras, sujeiras etc. serão
completados e compensados com os elementos que agregarão mais saúde ao solo e
eles terão a função de manter a sua fertilidade.
O adubo
representa a Fé. A função do adubo é agregar compostos que são necessários à
complementação de nosso solo.
A Fé é a capacidade de concentrar a vontade que o
indivíduo possui em si, pois, assim como o adubo, ela manterá unidas as
partículas dos elementos constituintes deste terreno e os ativará para que cada
um exerça o seu trabalho no cultivo; tal ação visa à preservação do campo
psicoemocional do Espírito, pois a união, a concentração e o foco são estados
para onde precisamos caminhar para que não sejamos influenciados pelas ervas
daninhas que procurarão um vão, uma falha em nosso terreno para novamente
enraizarem-se.
Assim, a Fé
preserva o nosso foco no caminho que devemos trilhar. Ela tranquilizar-nos-á
quando nos depararmos com um eu que não conhecíamos, pois, de
acordo com cada situação, somos levados a nos observarmos a partir de outros
pontos de vista que não somente o do egocentrismo.
Portanto, tal como existe a
constante necessidade do lavrador sempre observar o desenvolvimento de seu solo
e posteriormente de suas plantas, devemos sempre nos atentar para o
conhecimento que precisamos adquirir e, acima de tudo, analisar cada atitude
tomada em cada situação e, a partir daí, lapidarmos o diamante.
Apesar dos
abalos ocasionados pelo contato com nosso eu que acabam
gerando dúvidas e inseguranças e muitas vezes sensação de incapacidade em
continuar na tarefa de lavradores de nós mesmos, a Fé, como aquela que une, nos
erguerá para retornar ao nosso objetivo de luz.
A Fé
transporta montanhas. A nossa categoria na estrutura de homo sapiensjustifica-se
na necessidade de sermos constantemente lembrados de nossa condição de
pequenos, mas belos aprendizes, apesar de ainda confundirmos humildade com
rebaixamento de nossas capacidades divinas. É por isso que transformamos as
ervas daninhas em uma Floresta Amazônica impenetrável.
Qual farol
em meio ao mar bravio a orientar a pequena embarcação para a praia mais próxima
e segura, a Fé, quando confiada na tarefa de nossa guardiã, sempre nos apontará
o lugar em que repousaremos o nosso corpo cansado e que oferecerá o alimento e
a água para reposição de nossas forças e finalmente retornarmos à navegação.
Carecemos em
acreditar que a movimentação de nossas lembranças, a partir da vontade de
mudança, o perdão e o autoperdão, auxilia-nos a nos tornarmos seres mais leves
e com a bagagem mais espaçosa para novas experiências.
Quando entupimos nossas
malas com objetos desnecessários à viagem, não resta lugar para dispormos novos
utensílios e, se para a próxima parada é necessário que tenhamos instrumentos
específicos os quais não possuímos por conta da ausência de espaço, os choferes
não permitirão que desembarquemos e teremos que retornar para o ponto onde
embarcamos.
Ou seja, se eu não faço a minha parte de autolimpeza, se eu me
coloco na situação de depósito de tralhas (emoções e memórias negativas),
quando eu for passar por uma experiência nova, eu não terei a capacidade de
compreender o que ela me trará de conhecimento, interpretando-a de maneira
equivocada em um processo cíclico de estagnação ocasionado por mim mesmo.
Compreende-se,
então, que a limpeza do solo, mesmo quando já foram semeadas as sementes, é
tarefa de suma importância, pois, se relegarmos o terreno à sua própria sorte,
as ervas daninhas retornarão e abafarão os brotos e eles morrerão.
A nossa
tarefa, regada com as luzes da Parábola do Semeador, é conduta eficaz do
lavrador:
- Proteger as sementes das aves e
das intempéries.
- Não plantar em terreno
pedregoso.[1] Os
terrenos mais profundos possuem maior capacidade e durabilidade de
produção.
- A necessidade de constante
limpeza protege a produção que cresce com vitalidade.
A vida
social, aqui simbolizada pela correção do terreno, normalmente utiliza-se cal
para neutralizar o Ph do solo. Neutralizamos as nossas emoções através da
convivência constante com outras pessoas, em diferentes ambientes, pois a
sociedade possui uma série de regras que limitam as nossas manifestações
instintivas, compreendidas no processo evolutivo em que trazemos conosco
características de quando habitávamos os primeiros hominídeos.
O determinismo
não existe para o indivíduo e o estado de condição é imposto pelo próprio
sujeito que não é senhor de si mesmo.
Deus nos ofereceu as Ciências, as Artes e
as Filosofias para que pudéssemos atuar nestes caminhos que, apesar de sua
aparente diferença em níveis epistemológicos, são complementares como partes de
um todo. Na natureza, a única manifestação una é Deus. Toda a sua criação é
plural, assim como nós, Espíritos, possuímos inúmeras maneiras de nos
manifestarmos na natureza.
As aptidões são capacidades latentes em todo e
qualquer indivíduo, independente de sua roupagem física, cultural, étnica ou
social. É da necessidade que surge a ferramenta.
Corrigir o
solo é permitir se envolver com os meios que Deus nos oferece para evoluirmos,
do contrário, nós seríamos e viveríamos solitários, cada um em um planeta próprio.
A vida social é intrínseca ao desenvolvimento do Espírito, a sua existência
mostra que todo tempo deve ser utilizado em consciência e não ser desperdiçado
em atividades (tem-se o pensamento como atividade) que atravanquem o seu
progresso.
Para tanto, a vida em comunidade permite que estejamos sempre
ligados uns aos outros, que dependamos uns dos outros em todos os sentidos.
Desta maneira, descobriremos que é amando uns aos outros, ou seja, que é
valorizando a existência de cada indivíduo em nossa sociedade, cuidando uns dos
outros, doando o nosso tempo em favor da evolução do outro, que garantiremos o
nosso aprendizado, pois ele depende da conduta do outro.
Mesmo que não tenhamos
a consciência de que tal postura agregue insumos ao nosso terreno, Deus permite
que assim o seja para que a ocorrência dos fatos transcorra.
É uma
questão de permissão. Ora, como donos de nós mesmos, a única coisa que
possuímos é o nosso Espírito, que somos nós, a única coisa que eu possuo é uma
força da natureza mutável, que é eterno no universo e está sob meus cuidados:
o eu.
Nada mais.
Portanto, eu tenho todo o direito de permitir ou não que eu realize
certas tarefas e adote certas posturas. Permitir-me conhecer pessoas, estar em
contato com pessoas, trabalhar com pessoas, viajar com pessoas, pensar as
pessoas, enfim, viver as pessoas. Há quem acredite que o contrário é a
alternativa, é se isolando que eu alcanço o nirvana.
Ledo engano.
A contenção
de algumas manifestações ou expressões mentais é necessária em nossa sociedade,
é nítido que já atravessamos algumas eras em que nos assemelhávamos aos grandes
símios.
Considera-se
que o convívio com o outro tem como objetivo o de auxiliar em minha lavoura,
pois é inviável que somente uma pessoa dê conta de uma plantação inteira.
Em tamanho
e em capacidades limitadas, precisamos de ajuda, pois é o outro quem possuirá o
composto para equilibrar o nosso Ph.
[1] Todo terreno merece a sua devida valorização, pois tudo é uma
questão de graus de evolução.
Tais terrenos, apesar de serem pedregosos,
possuem capacidades peculiares de cultivo, a paciência na sua transformação em
um solo mais profundo e ferroso, bem como na oferta dos elementos vitais para
seu desenvolvimento, são oferecidos por Deus e aguardados por Jesus para que um
dia completem o seu ciclo de maturação.
Angélica dos Santos Simone é geógrafa e mestranda em Geografia Física pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.