quarta-feira, 30 de abril de 2014


                                     Filhos adotivos e nossas atitudes

1 – À luz do Espiritismo, quais as diferenças entre um filho adotivo e o filho consangüíneo? 

Como no ensina o Livro dos Espíritos, Item 205, a doutrina da reencarnação amplia a função dos laços de família enquanto proposta de vivência da fraternidade entre espíritos afins, e mesmo não afins mas que têm ajustes a realizarem nas suas convivências, tanto entre os chamados filhos legítimos como os filhos adotivos.

 Como nos ensina Emmanuel, essa doutrina nos mostra que “no vizinho ou no servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhamos estado presos pelos laços da consangüinidade”.

Podemos pois, inferir com segurança que, em se tratando de espíritos encarnados numa ou noutra condição não há nenhuma diferença. Os chamados filhos do coração podem ser entendidos assim em toda a extensão que esta expressão possa conter quanto a co-responsabilidades paternais e filiais.

2 – Um filho natural pode ter o mesmo nível de carência afetiva do que um filho adotivo?

A carência afetiva não me parece estar atrelada ao fato de ser filho natural ou adotivo. O ser humano é, intrinsecamente, um ser carente. No entanto, vale evidenciar que o filho adotivo tem uma carência agravada pelo fato de ser um indivíduo rejeitado. Difícil haver um amor sobre a Terra que possa lhe tirar esta sensação. Ele vai ser feliz por ter sido aceito e amado, porém vai conviver com a rejeição.

3 – Toda adoção tem vínculos com as vidas passadas dos pais?

Não diria tal coisa. Podemos ser levados a pensar desta forma por causa da lei de ação e reação. No entanto isso pode não estar acontecendo num processo de adoção. Não posso pensar que trabalho durante anos num asilo de velhos por que tenho vínculo com todas aquelas pessoas idosas que ali estão. O afeto que dedico a eles é, antes de tudo, um afeto que não precisa estar sendo manifesto apenas por acerto de contas ou resgate por dívidas contraídas. Os gestos amorosos não precisam estar condicionados a dívidas pregressas.

4 – Qual a melhor forma para se contar para a criança que ela é adotiva?

Diria que se conta a uma criança que ela é adotiva assim como se ensina uma criança a perder o medo de escuro ou a ficar sozinha em casa. Aos poucos. Doses homeopáticas são o alimento afetuoso que vai fortalecer os sentimentos de confiança do ser que traz em si dúvidas por ter sido rejeitado.

5 – Até que ponto a revelação da adoção pode gerar conflitos emocionais e situações traumáticas?

Se essa revelação for sendo feita com cuidado e com afeto, não deverá causar traumas. No entanto os conflitos emocionais, em alguns casos poderão ser inevitáveis, não devido a maneira errada da revelação mas sim pelas características do espírito que está ali encarnado na condição de filho adotivo. Um espírito inseguro ou irascível ou que já traz em si uma baixa estima, provavelmente viverá conflitos causados por essa revelação. O que restará aos pais será uma missão ainda mais complexa no sentido de doar afeto, ter paciência e ser perseverante na tarefa que assumiram.

6 – Os adultos adotam crianças por amor ou por necessidade psicológica?

As duas coisas. Seria ideal que só o fizessem por amor. É bom dizer porém, que necessidades psicológicas desse calibre precisariam ser muito bem diagnosticadas e esclarecidas. Principalmente para que não estejam por trás dessa atitude, mecanismos psíquicos de compensação, de auto afirmação, de sublimação, de substituição, enfim mais relacionados a orgulho ou “status” do que a um legítimo ato de amor ou afeto. Não fosse assim teríamos menos rejeitados nos abrigos e “lares” como negros, feios, doentes, limitados intelectualmente e outros.

7 – A origem fiso-psíquica dos adotados, mesmo vivendo em uma boa estrutura familiar pode influenciar seus atos e atitudes no futuro?

Com certeza. O que é constituição de caráter vai estar presente pela vida toda. Um espírito problemático, rebelde será assim pela sua história e não pelo lar que o adotou. Pode aprender e assimilar o afeto que for a ele dedicado? Certamente, e isso pode mudar o seu rumo proporcionando um salto no seu progresso intelectual, moral e espiritual. “O Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação”. Esse mandato que está no Livro dos Espíritos parece-nos muito apropriado tanto a filhos naturais quanto a filhos adotados. A educação é a maneira correta de influenciar, lembrando porém que não se trata de “mudar” alguém mas sim de criar condições para que ali se dê o processo educativo juntando as oportunidades que o indivíduo tenha de perceber os ensinamentos e que toquem o seu espírito para que ele próprio, pelo seu livre arbítrio, mude o seu interior. Como nos ensina Paulo Freire, “o homem se educa a si mesmo”, porém facilitado pela condição educacional que o ambiente familiar oferecer.

8 – Os sentimentos (amor e mágoa) que a criança nutre pela mãe natural, podem ser transferidas para a mãe adotiva?

Com certeza. Hoje sabemos que os fetos tem uma intensa vida intra-uterina na relação com a mãe natural. Certamente ele já vive no útero que o gerou a dor de que vai ser rejeitado. Quando vier à luz se a mãe natural, por alguma razão, não o quiser ou não estiver livre para desejá-lo para ela, amor ou mágoa existirão e irão sim em forma de amarguras e dúvidas para a mãe adotiva. As dúvidas são inerentes aos espíritos amados e bem equilibrados, quanto mais para os espíritos que foram realmente enjeitados. O filho adotivo, muito provavelmente, terá nas suas raivas e rebeldias naturais (por exemplo na adolescência) o agravante de ter sido adotado. E a mãe natural será alvo desses sentimentos e emoções agravantes.

9 - Um filho adotivo problemático é sempre um “carma” que os pais precisam resgatar?

Não podemos pensar assim pois se não os filhos adotivos que dão certo e são felizes, produtivos e gratos, também teriam que ser considerados prêmios. Não podemos pensar numa providência divina que se utilize de seres encarnados para serem “carmas” ou troféus entregues a pais dedicados. Aliás falando de carma, vamos abandonar a idéia limitada e limitante de que os carmas são dívidas a serem pagas. Os carmas podem ser entendidos como heranças a serem transmutadas ou transformadas. É melhor pensar em carma como estímulo para o nosso desenvolvimento ou mesmo proposta de superação para o nosso progresso. Os carmas podem mesmo ser entendidos por talentos. O homem que enterrou o único talento recebido transformou-o em carma. O outro que multiplicou o talento recebido transformou-o e o multiplicou.

10 - Há mais facilidade em lidar com uma criança adotada recém nascida ou com aquela de maior idade?

Diria que a recém nascida é mais amoldável ao ambiente e aos costumes do casal que a adotou. A própria voz dos pais adotivos se farão ouvir desde muito mais cedo. A criança adotada de maior idade já terá passado outras experiências e também já sofrido mais as agruras da sua rejeição, quer pelos pais naturais ou pela experiência de viver num “lar” provisório ou mesmo na rua ou, sob a guarda de um juizado, ou então nas mãos dos pais naturais que a maltrataram. Não há dúvida que o processo de adaptação da criança de maior idade, será muito mais doloroso para todos, e muito mais difícil enquanto tarefa a ser assumida.


Referências Bibliográficas:
Maldonado, Maria Tereza – “Os caminhos do coração: pais e filhos adotivos”, Edit. Saraiva.
Miranda, Ermínio – “Nossos filhos são espíritos”, Edit. Arte e Cultura.
Oliveira, Amarilis de; Espírito Dori – “Pai Adotivo”, Edit. DPL
Sulloway, Frank J. – “Vocação: Rebelde”, Edit. Record
Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo – “Sexo e Destino”, F.E.B.
Xavier, Francisco Cândido; Espírito Emmanuel – “Vida e Sexo”, F.E.B.

(Revista Literária Espírita DELFOS Março/Abril de 2001)

sexta-feira, 25 de abril de 2014


                                               LEIS DE AMOR

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, estabelece novos princípios que vão nortear a humanidade, como vem acontecendo, quando ensina que:

 “Com o Espiritismo, a humanidade deve entrar numa fase nova, a do progresso moral, que lhe é consequência inevitável”, estabelecendo bases seguras e muito lógicas, além de muito objetivas quando ensina que a moral dos Espíritos superiores se resume como a do Cristo, nesta máxima evangélica:

 “fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem”, ou seja, fazer o bem e não fazer o mal.

O homem encontra nesse princípio a regra universal de conduta, mesmo para as menores ações. 

Tal ensinamento nos remete ao conhecimento de nós mesmos. 

Bastar buscarmos na pergunta 919 de OLE, quando é indagado aos Espíritos “qual o meio mais prático e eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal?.

 “Conhece-te a ti mesmo”, respondem os Espíritos de modo peremptório e objetivamente, levando-nos à reflexão de que devemos sondar a nossa própria alma na busca da compreensão de nossos anseios e expectativas nesta vida, além de nos aprofundarmos em nosso ser com o propósito de melhor nos conhecermos.

 Mas faltava uma grande questão a ser resolvida. 

Como conhecer-se? Que métodos ou estratégias poderíamos usar para tal mister?

Vamos encontrar o caminho em o Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo Os Bons Espíritas, novamente de modo objetivo e cristalino:

 “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelo esforço que empreende no domínio das más inclinações”. 

Para tanto o homem precisa compreender e aceitar que é portador de limitações e dificuldades, as quais sozinho não consegue superar.

 É quando, então, podemos seguir uma outra regra do Evangelho que nos ensina a nos conhecermos através do convívio com o próximo, procurando através da bondade e da solidariedade, amando ao próximo como a si mesmo, ou seja, fazendo aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, daí decorrendo a mais completa expressão da caridade, pois é sabido que aí se resumem todos os deveres para com o próximo: 

a verdadeira caridade.

Os relacionamentos entre os seres humanos através da convivência social e as experiências vividas ensinam constantes lições novas, como, por exemplo, o conhecer-se pela dor.

 É novamente o Evangelho que vem em nosso socorro e amparo quando ensina que:

 “todos quantos sejam feridos no coração por reveses e decepções da vida consultem serenamente a sua consciência, remontem pouco a pouco à causa dos males que os afligem, e verão se, as mais das vezes, não poderão confessar:

 se eu tivesse feito, ou se não tivesse feito tal coisa, não estaria nesta situação”.

Posto isto, podemos concluir o quanto esta vida é uma grande lição e quão importante se faz a vida em sociedade, já que é através dela que somos burilados em nossas virtudes e imperfeições, levando-se em consideração que toda semeadura é livre, porém, obrigatória é a colheita. 

Nada mais oportuno e educativo do que a vida na grande sociedade chamada humanidade. 

A dor pode nestas circunstâncias retificar as nossas mazelas do ontem ou o futuro próximo, já que os processos de sofrimento, nas suas mais variadas formas, podem provocar na nossa alma o despertar da consciência e a ampliação do nosso grau de sensibilidade, para percebermos os aspectos edificantes que o coração, nas suas manifestações mais nobres, pode realizar.

Diante do quadro atual da humanidade, vemos com clareza que necessitamos urgentemente transformar intimamente três grandes vertentes da alma humana, com vistas ao porvir de nossa evolução, quais sejam: 

os vícios, os defeitos e as virtudes.

 Os vícios da atual humanidade, como o uso e o abuso de todas as drogas (álcool, tabaco e outras), os malefícios do jogo (incluindo aqui a anuência dos governos), os malefícios da gula e, entre tantos outros, temos os malefícios do abuso sexual.

No tocante aos defeitos, naturalmente, como maior e pai de todos os demais, encontramos o orgulho, que nos remete para a vaidade, a inveja, o ciúme, a avareza, o ódio, a vingança e a agressividade entre dezenas deles. 

É sabido que ninguém é portador somente de vícios ou defeitos, estando presentes na alma humana as virtudes, mas que de modo geral se encontram latentes (dormentes na alma), e necessitam ser despertadas e aperfeiçoadas, tais como a humildade, a modéstia, a resignação, a piedade, a afabilidade, a compreensão.

 No entanto, em uma lista imensa de virtudes humanas, é preciso destacar a do perdão, como o grande recurso e instrumento de que dispomos para superar as adversidades e contrariedades desta nossa jornada terrena, onde frequentemente somos atacados, magoados e feridos em nossa busca incessante de crescimento, mas que nem sempre somos compreendidos ou nos compreendemos uns aos outros.

Precisamos compreender e aprender que outros prados, outras pradarias nos esperam. Mundos espirituais, onde a Justiça não fenece, onde o Amor continuamente floresce, e onde a Bondade perdura como recursos à disposição de todo aquele que busca o Reino de Deus.

VALCI SILVA

terça-feira, 22 de abril de 2014




                    Observando os animais

 Um dia desses, no mês de maio, saindo de uma casa humilde onde vive uma pessoa que assistimos, vimos uma cena que gostaríamos de ter fotografado se tivéssemos ali uma máquina. 

Uma cena cativante: um cachorro, desses vira-latas, mas bem simpático e peludo, cor marrom, e quatro gatos em que se via a ascendência siamesa, cinzentos, olhos azuis, iguais aos siameses, mas com o peito branco peludo em forma triangular e mais gordinhos que o siamês propriamente dito.

A cena era a seguinte: o cachorro estava deitado, abraçado a um gato, como quando abraçamos alguém amado. 

Os dois estavam acordados, quietinhos, e os outros três gatos acomodados um ao lado do outro, fazendo de travesseiro o corpo do cachorro e olhando sobre ele. 

A cena nos encantou e a todos os que ali estavam. A dona da casa disse que era sempre assim a amizade entre os cinco animais. 

O nosso pensamento então voou longe, imaginando o princípio de inteligência, o Espírito criado por Deus.

Vemos o ser humano hoje agindo muitas vezes movido pela ignorância, com tanta violência, demonstrando imaturidade, muitas vezes até barbárie, sem a compreensão do amor, e aí encontramos esses animaizinhos, que muitos dizem serem inimigos naturais, convivendo em harmonia, pacificamente, com laços claros de amizade.

O homem deveria observar melhor a natureza e mesmo aprender com os animais. 

Se estes sabem viver em paz, o ser humano, dois mil anos após Jesus, deveria fazer mais esforços para a conquista do amor e da paz.

Um mandamento eu vos deixo: 

Que vos ameis uns aos outros, disse Jesus. Animaizinhos criados juntos num mesmo lar estão tendo afeto e Espíritos que vieram para uma mesma família e que, por suas atitudes, denotam inimizade advinda de vidas anteriores, necessitam despertar, visto que às vezes conseguem abraçar um gato ou um cachorro e não abraçam o irmão, ou o pai, ou a mãe, havendo casos em que até crimes cometem no seio de sua família. É a imaturidade.

Um dia, graças às múltiplas encarnações e às experiências adquiridas, eles haverão de amar, e amar tão profundamente a ponto de se sacrificarem, se necessário, em nome do amor.

 Até que isso aconteça, paciência é o que devemos ter, muita paciência e exemplos a dar. 

Que aprendamos com Jesus e observemos a natureza, os animais. Eles também evoluem. 

Quando o homem perceber bem isso, acabará naturalmente se tornando vegetariano!

Por enquanto, como dizem os Espíritos, a carne nutre a carne, mas o que realmente importa mais é nos alimentarmos dos ensinos de Jesus e bebermos da água que Ele nos oferece, vivendo o amor a cada dia e amando cada vez mais.

  JANE MARTINS VILELA - O Consolador

segunda-feira, 21 de abril de 2014

                                HOMENS NÉSCIOS

Em sua poesia "Hombres Necios" (Homens Néscios) Sóror Juana Inés de la Cruz, grande poetisa hispano-mexicana do século XVII, uma das encarnações de Joanna de Ângelis – mentora do querido médium, escritor, orador e obreiro do bem Divaldo Pereira Franco –, mestra e benfeitora de todos nós, acusa os homens de sua época de serem inconseqüentes ao acusarem as mulheres por atitudes por eles mesmos causadas.

 É evidente que, naquela época, como hoje e em todos os tempos, havia homens em todos os degraus de evolução e, certamente, a poetisa estava ciente de que aquilo que disse em verso se referia a uma maioria e não à totalidade deles.

A poesia de Sóror Juana nos veio à mente há alguns anos diante da badalação da obra O Código da Vinci e do argumento central nela contido, o de que Jesus ter-se-ia casado com Maria de Magdala e tido filhos com ela. 

Trata-se, como todos sabem, de uma obra de ficção, no entanto, não foi imaginada na íntegra pelo autor Dan Brown, uma vez que sua tese central vem de longa data, da Idade Média ou de épocas ainda mais remotas. 

Talvez tenhamos um vislumbre de onde tudo se originou, recorrendo ao chamado Evangelho de Maria, um texto gnóstico encontrado no Codex Akhmin, adquirido pelo Dr. Carl Rheinhardt na cidade do Cairo em 1896. 

Nesse evangelho singular, cujo conteúdo evidencia ter sido escrito por seguidores de Maria de Magdala, que fica caracterizada, assim, como apóstola, fica-se sabendo que os apóstolos homens, Pedro, em particular, tinham ciúmes de Maria e não aceitavam que Jesus ensinasse a uma mulher coisas que não ensinava a eles.

Pouco poderíamos concluir tendo como fonte apenas o testemunho de seguidores da própria. No entanto, é no próprio Novo Testamento aceito pela Igreja Católica e pelas Igrejas Evangélicas que se verifica que havia uma forte resistência dos apóstolos homens e da nascente comunidade cristã contra a participação das mulheres no apostolado.

Uma leitura de qualquer dos quatro evangelhos nos mostra que um grupo de mulheres, incluindo Maria, mãe de Jesus, Maria de Magdala, Joana de Cusa, Susana e Maria, mãe de Tiago, seguiam Jesus constantemente em suas pregações. 

Eram, portanto, tão discípulas quanto Pedro, Tiago ou André e, dificilmente, Jesus as teria deixado de lado na missão apostólica, uma vez que o Mestre jamais demonstrou qualquer espécie de preconceito em suas atitudes nem corroborou em momento algum que se os tivesse em seus ensinamentos. 

Entretanto, em contradição com esse entendimento, os evangelhos se referem a apenas doze homens como apóstolos, dando a entender que Jesus não confiava nas mulheres para divulgar sua mensagem.

Ocorre que, naquela época, como ainda hoje, mesmo que em menor escala, a humanidade era profundamente machista, sempre relegando a mulher à função reprodutiva. 

É de se notar, nesse sentido, que a veneração por Maria, mãe de Jesus, é em grande parte devida ao fato de ela ter sido mãe de Jesus e não às suas virtudes morais e intelectuais.

 Outra mentalidade que certamente existia na época e persiste nos dias atuais é a de que não existe amizade entre homem e mulher, o único motivo de aproximação possível entre os dois sendo o interesse sexual. 

Não é surpresa, portanto, que pessoas que assim pensem ainda hoje levem a sério a hipótese de que Jesus e Maria de Magdala casaram e tiveram filhos. 

São os “homens néscios” a que se referia Sóror Juana. Eles pensam que todos agem da mesma forma que eles e assim não aceitam que haja pessoas que pensem e ajam de forma diferente, projetando nos outros sua forma de ser.

Por que dizemos que a razão e o bom senso nos indicam que o casamento de Jesus nunca aconteceu?

 É simples, basta analisarmos a vida de outros grandes mensageiros, homens e mulheres que a história registrou, e verificaremos que todos ficaram solteiros.

 O casamento e a criação de filhos implicam responsabilidades que tomam grande parte do tempo das pessoas de bem, pois tais pessoas vêem no bem-estar e na evolução de sua família sua principal missão. 

É por isso que nenhum dos grandes mensageiros do bem que a história registra casou-se, nem constituiu família no sentido estrito do termo, antes vendo como sua família todos os pobrezinhos do corpo e do Espírito com os quais se encontravam.

Esperando ter demonstrado ao leitor que a razão e o bom senso nos dizem que Jesus não se casou nem teve filhos, é bom fazer uma observação para que não se interprete errado o que queremos dizer.

O fato de ser nosso entendimento que Jesus não se casou com Maria de Magdala nem teve filhos com ela, isso não quer dizer, de modo algum, que, se o tivesse feito, isso em algo denegrisse a sua imagem ou a de Maria de Magdala.

 O sexo é obra de Deus e, como tal, é santo em sua natureza.

 É o ser humano, Espírito ainda ignorante, que, com seus pensamentos e atitudes, faz bom ou mau uso dos bens naturais com que Deus lhe agraciou. 

Se o sexo é praticado com amor e pureza no coração, ele é tão sagrado como o trabalho ou a diversão, quando praticados da mesma forma. 

Se, por outro lado, ele é praticado com devassidão e sem amor, ele não é mais deplorável que outras atividades praticadas com os mesmos sentimentos desequilibrados.

Assim sendo, quando dizemos que Jesus e Maria de Magdala não se casaram nem tiveram família, não queremos dizer, de modo algum, que isso seria algo errado se tivesse ocorrido, e sim que o bom senso e a razão nos dizem que tal não ocorreu.


RENATO COSTA

sábado, 19 de abril de 2014

                                    Espiritismo e política  

Quando me perguntam como ficamos os espíritas na hora das eleições, respondo o que qualquer espírita responderia: 

 o espírita continua procurando seguir os ensinos e os exemplos de Jesus quando declarou o famoso texto, lá em O Novo Testamento: 

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus; 

isto porque alguns fariseus o testavam na questão dos impostos que o povo deveria pagar a Roma e mesmo ao reizinho Herodes. 

E na hora de pagar impostos, ninguém deve ficar contente em tirar do bolso dinheiro que nem sempre será revertido para o bem-estar do povo em geral.

Antes de ser espírita, sou um cidadão e, como cidadão, voto neste ou naquele candidato que, a meu ver, não me trairá nem trairá quem mais lhe tenha dado o voto.

 Caso eu mesmo tivesse tendência para exercer cargos eletivos, como cidadão poderia fazê-lo tornando-me candidato por um partido que mais se afinasse com as minhas opiniões de espírita.

Assim procedendo, estaria dando (como de fato tenho dado) o que é de César, o que é do mundo em que estou de passagem num corpo de mais ossos do que carne (45 kg para 1,65m de altura).

Relativamente à parte de Deus, penso que assim eu a ela atendo na medida em que procuro viver, como posso, outro ensino de Jesus quando declarou a síntese do amar a Deus sobre todas as coisas e ao meu semelhante, ao meu próximo, inclusive dentro do meu lar e mesmo em relação aos que se dizem meus possíveis inimigos, como acho que a mim mesmo eu me amo.

É possível que esteja agindo errado, mas é assim que tenho buscado viver e me retificaria se agora, já, alguém mais experiente e de boa vontade me esclarecesse o assunto.

 Desde já agradeço de coração, pois quero errar menos...

Agora um ponto é pacífico entre nós, os espíritas: o espírita vota e pode ser votado, se for o caso de ele postular um cargo eletivo, como a Lei permite. 

O espírita tem o seu livre-arbítrio para votar em quem quiser. O Centro Espírita não indica este ou aquele candidato, este ou aquele partido. 

Isto fica por conta do cidadão espírita. Da mesma forma, a tribuna espírita jamais será usada para propaganda política. 

Não é da mesa de uma palestra que alguém irá proferir um discurso em favor ou contrário a A, a B ou a C. 

Não é a tribuna espírita um palanque eleitoral. Isso se chama político-partidária, o que não há no meio espírita...

Podemos até na vivência espírita discutirmos a política como discutimos a reencarnação, a mediunidade, o abortamento criminoso, os transgênicos, a situação dos sem-terra, a estupidez da guerra. 

Sim, podemos e devemos discutir estes temas, claro que em alto nível, quer dizer, com educação e fraternidade. Mas a isto o nome certo é política como aquela arte, aquela ciência de administrar.

Não discutimos político-partidária.

Isto foge do âmbito do meio espírita. 

Por isso mesmo nenhum candidato poderá dizer-se indicado pelos espíritas porque esta indicação jamais partirá de um Centro ou do meio espírita.


CELSO MARTINSO consolador

quarta-feira, 16 de abril de 2014




                          PRECIOSA ORIENTAÇÃO PARA OS PAIS

Quando nos casamos, e após os primeiros tempos, a preocupação dominante passa a ser a conquista ou manutenção do patrimônio material, entre outros anseios do casal, preocupados com o futuro – especialmente considerando-se os filhos que virão.

 O homem volta sua atenção, assim como a mulher nos dias atuais – um tanto diferente do passado –, para o sucesso profissional e a escalada dos valores sociais.

Em muitos casos, viagens, cursos, aprimoramentos e os desdobramentos próprios de uma vida que se equilibra gradativamente. Tudo muito natural, normal. 

Em outros casos, como os dos casamentos prematuros, das precipitações – inclusive geradoras da gravidez precoce –, ou de jovens casais sem estruturas materiais, psicológicas e emocionais para assumir a vida a dois, alguns desfechos infelizes causam traumas e dificuldades.

 Nada além de nossa limitada condição humana.

Consideremos, porém, um detalhe.

Fazemos cursos, nos especializamos, destinamos recursos e tempo para a formação profissional, voltamos nossa atenção para formação e manutenção do patrimônio material, buscamos um bom nível de vida, mas não somos preparados para a mais importante função de um casal:

 educar os filhos.

Tornamo-nos pais. 

Sem experiência.

 Sem estrutura para educar, para formar o caráter, para direcionar os filhos numa via que lhes possibilite crescer moral e intelectualmente, simultaneamente ao equilíbrio psicoemocional que todos precisamos para enfrentar os desafios da vida humana.

Além da formação para a profissão, para cuidar da casa, para administrar bens e providências de uma família, para gerar renda, para conduzir a própria vida conjugal e mesmo para atender às crescentes exigências da vida moderna, deveríamos nos preparar igualmente para a missão incomparável de educar os filhos.

Transferimos a eles nossas neuroses, nossos descaminhos, lhes contaminamos o caráter com nossos vícios, influenciamos sua conduta, exemplificamos mal com nosso comportamento nem sempre recomendável, e agimos na maioria das vezes sem vigiar o que falamos ou fazemos.

Com isso, ao invés de educar, deseducamos.

É CORRETO QUE HÁ PAIS E PAIS


 ORSON PETER CARRARA - O consolador


sábado, 12 de abril de 2014

                                   TUDO NOVO  OU  TUDO DE NOVO

A posição pessimista responderá ou perguntará, para começar o dia ou responder pelos compromissos do dia:

Tudo de novo!? 
Já a posição otimista dirá: 
Tudo novo!

Sim, é uma questão de ótica. 

Diante de um novo dia ou diante de uma tarefa ou compromisso, ao invés da reclamação de dizer que vai fazer tudo igual outra vez, não é melhor encarar como se novo fosse?

 Sim, encontrar motivação em tudo que faz como se fosse tudo novo!

Encarando as providências e responsabilidades diárias como se novas fossem, dedicando a elas atenção e boa vontade, tudo flui com mais naturalidade. 

O contrário ocorre quando enfrentamos os compromissos com a má vontade de quem diz:

 tudo de novo?

Aliás, você sabe como se comporta um pessimista? 

Ao levantar-se de manhã, senta-se na cama, olha para o relógio, põe as duas mãos na cabeça e diz: 

Vai começar tudo de novo?

Já o otimista levanta-se, senta-se na cama, olha as horas e diz:

Nossa! Já essas horas? 

Obrigado, meu Deus. Vamos em frente, que o dia vai pegar. E vai animado para o tudo novo daquele dia que começa.

Isso me faz lembrar o personagem Horácio, do Maurício de Souza. Lembra-se dele? 

É um dinossaurozinho animado, sempre de boa vontade com as ocorrências.
 Em determinadas quadras de suas histórias, porém, viveu uma situação que bem cabe na presente reflexão:

Estava nosso personagem na solidão de uma paisagem, quando uma nuvem baixa de poeira o envolveu completamente, escondendo-o de um leão faminto de passagem. 

Horácio reclamou do pó, o leão passou sem percebê-lo e a nuvem reclamou: seu ingrato! 

Não percebeu que o protegi? 

Assim ocorre conosco.

 Não percebemos que a rotina diária nos amadurece nas experiências. 

Por outro lado, as adversidades muitas vezes significam proteção que nem sempre percebemos, desviando-nos de ocorrências que podem ser dramáticas ou altamente prejudiciais.

Por isso é preciso encarar a vida com boa vontade, pois vivemos para aprender. 

Levantar-se com bom ânimo, enfrentar com coragem os desafios diários e sempre procurar entender que o enfrentamento das situações tem finalidades educativas que nos amadurecem.

Portanto, nada de medo.

 Prudência, sim, mas também ânimo, coragem, bom humor, boa vontade.

Para que nossa vida não seja tudo de novo e, sim, tudo novo a cada dia.

ORSON P. CARRARO - O CONSOLADOR



quarta-feira, 9 de abril de 2014




Gravidez precoce na adolescência

Cortava cabelo com o Nilton, na barbearia da Afonso Pena, quando ele começou a conversar sobre a educação dos filhos, demonstrando a sua grande preocupação com a gravidez precoce de meninas de treze e doze anos de idade.

Aproveitei a ocasião para informá-lo de que a professora Nadja do Couto Valle, no livro Pelos Caminhos da Educação, ao abordar esse preocupante tema da atualidade, declara ser um dos mais dolorosos fenômenos que o sexo irresponsável produz, considerando-se as conseqüências que ele gera.

Informei ainda ao meu amigo Nilton que a Nadja, também em seu livro, considera que uma das causas desse grave problema é a falta de informação dos jovens sobre sexualidade, e que também colabora para esse quadro preocupante o desejo da jovem afirmar sua personalidade pela via da sexualidade como uma espécie de “liberdade”.

Nesse momento o meu amigo Nilton me atalhou falando da educação que deu a seus filhos, lembrando que não se podia esquecer a responsabilidade dos pais, no sentido de educar os filhos para a vida.

Finalizando a conversa, comentei que o perfil da adolescente que engravida precocemente, traçado pela professora na sua obra, é caracterizado pela curiosidade quanto ao sexo, além da falta de preparo psicológico e de sentimentos amadurecidos, com a erotização precoce.

Aproveito para informar que a professora Nadja estará autografando o seu livroPelos Caminhos da Educação, na próxima quarta, dia 7, das 15 às 18 horas, no quiosque da Livraria Espírita, no 1º piso do Botafogo Praia Shopping. Informações pelo tel. 3171-9882.

Segundo o Espírito Emmanuel, no livro Vida e Sexo, psicografado por Chico Xavier, em torno do sexo bastam quatro normas:

 “Não proibição, mas educação; não abstinência, imposta, mas emprego digno; não indisciplina, mas controle; e não impulso livre, mas responsabilidade”.

Como o benfeitor espiritual destaca a educação como primeira norma, aconselho os pais a conversarem sem medo num diálogo franco com os seus filhos sobre sexo, pois é melhor encarar o problema antes do que ter surpresas desagradáveis depois.


GERSON SIMÕES MONTEIRO

domingo, 6 de abril de 2014

                      O skate

Os olhos de Talita brilharam quando ela viu o presente enviado por sua tia: 

um skate. 
Seus primos tinham o brinquedo, mas não deixavam ela andar, dizendo que era muito pequena e podia se machucar. 

Talita sonhava em um dia disputar os campeonatos de skate que assistia pela televisão e fazer todas aquelas manobras radicais.


Pegou o skate, pôs um pé e ... Caiu. 

Percebeu, então, que ao lado do skate havia um capacete, joelheiras, cotoveleiras e um envelope. 

Colocou o equipamento de proteção e descobriu que no envelope havia uma carta de sua tia. 

Nela a tia parabenizava a sobrinha pelo aniversário e lembrava que andar de skate pode ser perigoso e que era necessária uma qualidade que Talita ainda não tinha: 

paciência.

 Mas dizia também que para aproveitar bem o presente, Talita deveria usar a fórmula: 

E = E + E + T + P, que vinha explicada em 3 bilhetinhos azuis, numerados, devendo abrir um bilhete por dia, a fim de entender o recado. 

A garota achou estranho, mas adorava a tia, que sempre tinha ideias divertidas, e resolveu entrar na onda.

Assim, abriu o bilhete número um. Nele estava escrito apenas: 

EVOLUÇÃO = ESTUDO + E + T + P. Abaixo, em letras menores: Observe os bons exemplos.

O que era aquilo? 

Uma fórmula de matemática?

Ela não entendeu. 

Foi perguntar a sua mãe, que respondeu com uma cara de quem já conhecia o esquema.

– Acho que tua tia está querendo te ensinar a andar de skate.

Como assim?

 A mãe disse então que aprender é uma forma de evoluir e que a tia devia estar se referindo a aprender a andar de skate. 

E que não diria mais nada. 

A garota ficou mais intrigada ainda. Entendeu a parte da EVOLUÇÃO, mas e ESTUDO? 

Como assim, estudo?

 Ela não conhecia sites de como andar de skate, não havia livros sobre o assunto... 

Pensou um pouco e resolveu ir até a pista de skate perto de sua casa, para observar os bons exemplos, conforme dizia o bilhete.

Chegando lá, tentou novamente andar e... 

Nova queda.

Só que desta vez ela estava de capacete, joelheiras e cotoveleiras. 

Sentou em cima do skate e ficou observando...

 Olhou como os garotos faziam com os braços e as pernas para se equilibrar. 

Logo tentou novamente, ficou em pé em cima do skate e ... 

Caiu de novo. 

E assim passou a tarde: observava, estudando os movimentos dos outros skatistas e tentava fazer também. 

Chegou a casa, à tardinha, exausta, mas satisfeita com os seus progressos. 

No dia seguinte, abriu o segundo bilhete. 

Nele estava escrito: 

EVOLUÇÃO = ESTUDO + ESFORÇO + T + P. 

Era o que ela havia feito no dia anterior: estudava os movimentos dos garotos e se esforçava para fazer igual. 

Assim, ao final do segundo dia, Talita já andava de skate, mas sem a graça e a leveza que ela tanto admirava nos outros skatistas. 

Ao abrir o terceiro bilhete, a garota já não tinha o mesmo entusiasmo, afinal, ela já andava de skate.

 O bilhete dizia: 

EVOLUÇÃO = ESTUDO + ESFORÇO + TRABALHO + PERSEVERANÇA. 

Quando voltou para casa naquel
a tarde, percebeu que era verdade o que diziam os bilhetes, pois para participar dos campeonatos de skate seria preciso muito trabalho, durante muito tempo, afinal, as manobras radicais não eram tão fáceis como ela imaginara.


Naquela noite, havia um e-mail para Talita. 

Era de sua tia, perguntando se ela havia gostado do presente e se havia aberto os bilhetes na ordem certa. 

Nele a tia também explicava que, assim como para andar de skate, que é um tipo de aprendizado, para aprender a ter paciência Talita poderia usar a mesma fórmula: 

EVOLUÇÃO = ESTUDO + ESFORÇO + TRABALHO + PERSEVERANÇA.

 Estudar suas atitudes, entendendo quando e por que fica impaciente, esforçar-se para mudar, trabalhar a paciência, praticando-a todos os dias e ser perseverante, ou seja, não desistir de ser mais calma e ter paciência quando a situação exigir.

 Terminava o e-mail prometendo que viria, em breve, ver os progressos da sobrinha skatista.

Talita guardou com carinho o envelope com os bilhetinhos azuis e o e-mail da tia. 

Aquele foi um aniversário especial, pois aprendeu a usar a fórmula E = E + E + T + P para se tornar uma boa skatista e, principalmente, para adquirir outras virtudes importantes ao longo de sua vida.
 
Claudia Schimidt -  O consolador