HOMENS NÉSCIOS
Em sua poesia
"Hombres Necios" (Homens Néscios) Sóror Juana Inés de la Cruz, grande
poetisa hispano-mexicana do século XVII, uma das encarnações de Joanna de
Ângelis – mentora do querido médium, escritor, orador e obreiro do bem Divaldo
Pereira Franco –, mestra e benfeitora de todos nós, acusa os homens de sua
época de serem inconseqüentes ao acusarem as mulheres por atitudes por eles
mesmos causadas.
É evidente que, naquela época, como hoje e em todos os tempos,
havia homens em todos os degraus de evolução e, certamente, a poetisa estava
ciente de que aquilo que disse em verso se referia a uma maioria e não à
totalidade deles.
A poesia de Sóror
Juana nos veio à mente há alguns anos diante da badalação da obra O Código da
Vinci e do argumento central nela contido, o de que Jesus ter-se-ia casado com
Maria de Magdala e tido filhos com ela.
Trata-se, como todos
sabem, de uma obra de ficção, no entanto, não foi imaginada na íntegra pelo
autor Dan Brown, uma vez que sua tese central vem de longa data, da Idade Média
ou de épocas ainda mais remotas.
Talvez tenhamos um
vislumbre de onde tudo se originou, recorrendo ao chamado Evangelho de Maria,
um texto gnóstico encontrado no Codex Akhmin, adquirido pelo Dr. Carl
Rheinhardt na cidade do Cairo em 1896.
Nesse evangelho singular, cujo conteúdo
evidencia ter sido escrito por seguidores de Maria de Magdala, que fica
caracterizada, assim, como apóstola, fica-se sabendo que os apóstolos homens,
Pedro, em particular, tinham ciúmes de Maria e não aceitavam que Jesus
ensinasse a uma mulher coisas que não ensinava a eles.
Pouco poderíamos
concluir tendo como fonte apenas o testemunho de seguidores da própria. No
entanto, é no próprio Novo Testamento aceito pela Igreja Católica e pelas
Igrejas Evangélicas que se verifica que havia uma forte resistência dos
apóstolos homens e da nascente comunidade cristã contra a participação das
mulheres no apostolado.
Uma leitura de qualquer dos quatro evangelhos nos
mostra que um grupo de mulheres, incluindo Maria, mãe de Jesus, Maria de
Magdala, Joana de Cusa, Susana e Maria, mãe de Tiago, seguiam Jesus
constantemente em suas pregações.
Eram, portanto, tão discípulas quanto Pedro,
Tiago ou André e, dificilmente, Jesus as teria deixado de lado na missão
apostólica, uma vez que o Mestre jamais demonstrou qualquer espécie de
preconceito em suas atitudes nem corroborou em momento algum que se os tivesse
em seus ensinamentos.
Entretanto, em contradição com esse entendimento, os
evangelhos se referem a apenas doze homens como apóstolos, dando a entender que
Jesus não confiava nas mulheres para divulgar sua mensagem.
Ocorre que, naquela
época, como ainda hoje, mesmo que em menor escala, a humanidade era
profundamente machista, sempre relegando a mulher à função reprodutiva.
É de se
notar, nesse sentido, que a veneração por Maria, mãe de Jesus, é em grande
parte devida ao fato de ela ter sido mãe de Jesus e não às suas virtudes morais
e intelectuais.
Outra mentalidade que certamente existia na época e persiste
nos dias atuais é a de que não existe amizade entre homem e mulher, o único
motivo de aproximação possível entre os dois sendo o interesse sexual.
Não é
surpresa, portanto, que pessoas que assim pensem ainda hoje levem a sério a
hipótese de que Jesus e Maria de Magdala casaram e tiveram filhos.
São os
“homens néscios” a que se referia Sóror Juana. Eles pensam que todos agem da
mesma forma que eles e assim não aceitam que haja pessoas que pensem e ajam de
forma diferente, projetando nos outros sua forma de ser.
Por que dizemos que a
razão e o bom senso nos indicam que o casamento de Jesus nunca aconteceu?
É
simples, basta analisarmos a vida de outros grandes mensageiros, homens e
mulheres que a história registrou, e verificaremos que todos ficaram solteiros.
O casamento e a criação de filhos implicam responsabilidades que tomam grande
parte do tempo das pessoas de bem, pois tais pessoas vêem no bem-estar e na
evolução de sua família sua principal missão.
É por isso que nenhum dos grandes
mensageiros do bem que a história registra casou-se, nem constituiu família no
sentido estrito do termo, antes vendo como sua família todos os pobrezinhos do
corpo e do Espírito com os quais se encontravam.
Esperando ter
demonstrado ao leitor que a razão e o bom senso nos dizem que Jesus não se
casou nem teve filhos, é bom fazer uma observação para que não se interprete
errado o que queremos dizer.
O fato de ser nosso
entendimento que Jesus não se casou com Maria de Magdala nem teve filhos com
ela, isso não quer dizer, de modo algum, que, se o tivesse feito, isso em algo
denegrisse a sua imagem ou a de Maria de Magdala.
O sexo é obra de Deus e, como
tal, é santo em sua natureza.
É o ser humano, Espírito ainda ignorante, que,
com seus pensamentos e atitudes, faz bom ou mau uso dos bens naturais com que
Deus lhe agraciou.
Se o sexo é praticado com amor e pureza no coração, ele é
tão sagrado como o trabalho ou a diversão, quando praticados da mesma forma.
Se, por outro lado, ele é praticado com devassidão e sem amor, ele não é mais
deplorável que outras atividades praticadas com os mesmos sentimentos
desequilibrados.
Assim sendo, quando
dizemos que Jesus e Maria de Magdala não se casaram nem tiveram família, não
queremos dizer, de modo algum, que isso seria algo errado se tivesse ocorrido,
e sim que o bom senso e a razão nos dizem que tal não ocorreu.
RENATO COSTA