domingo, 22 de fevereiro de 2015

                                                  Vigilância 
As reações intempestivas resultam, invariavelmente,  em graves consequências

“Nossa vigilância deve ser uma permanente lâmpada acesa em nossos caminhos, iluminando-nos e conduzindo nossos passos.” - 
Bezerra de Menezes

Jesus já nos alertava: “vigiai e orai”. 

Observemos que o Meigo Rabi colocou o verbo “vigiar” antes do verbo “orar”, e tal ênfase indica de modo claro que somente a oração não basta, pois também é a vigilância algo muito necessário em nossas vidas. 

Tal vigilância não deve ficar restrita somente aos fatores externos, mas, principalmente, aos de ordem interna, nas camadas abissais do“self”, endereço do “homem-velho”. 

O acervo de desconcertos vige muito forte na intimidade de todos nós, mormente no estágio evolutivo em que nos encontramos atualmente.

vigilância é a direção; a oração é a força, a energia, a potência... 

Assim, quanto mais possante o veículo, maior responsabilidade compete à direção que se lhe dá.

Mantendo-nos firmes na vigilância, jamais seremos vítimas dos crimes de precipitação dos quais André Luiz nos dá notícias.

A ponderação não pode ser elemento estanque e inoperante na equação da vida do Espírita-Cristão. 

As reações primárias, intempestivas e impensadas, resultam, invariavelmente, em graves consequências de ásperos contornos, cujos aguilhões e sequelas só poderão ser erradicados sob o buril de muitas dores, sofrimentos e angústias...

Enquanto o egoísmo e o orgulho estiverem na direção do carro de nossas emoções, cairemos nos cipoais dos equívocos semeados em nossa senda evolutiva.

Ao assumir o comando da direção, a vigilância ensejará a superação oportuna dos óbices, canalizando os recursos necessários ao sucesso do grande empreendimento de nossas vidas, fanal a que estamos destinados pela vontade do Pai Celestial: a perfeição relativa e a felicidade sem mesclas.

Dr. Bezerra de Menezes nos aconselha a buscar “a vigilância em todos os instantes, em todos os lugares”, caso contrário, nosso veículo ficará retido à beira do caminho evolutivo, no lamaçal das dificuldades sem nome.

Aprendizes da vida ainda somos tardios no entendimento e lentos na consolidação dos reais valores. 

Onde, então, buscar a orientação segura para nos habilitarmos à proteção que vem da vigilância? Para começar, acreditamos que o primeiro passo na direção certa é o autoconhecimento. 

Por compreender assim é que Sócrates já propagava ao seu tempo o axioma de Sólon: “conhece-te a ti mesmo”.  

Busquemos, então, com Jesus em Seu Evangelho de Luz, e com o grande Mestre Lionês, nas obras da Codificação Espírita, as diretrizes de segurança para nossa caminhada evolutiva.

Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XVII, item 3, desenhou o perfil do verdadeiro homem de bem. Seguindo aquele roteiro, por certo, já estaremos no bom caminho. 

Santo Agostinho completa a instrução com excelentes normativos para tal procedimento.

Com esse elenco de orientações estaremos, com toda certeza, habilitados a aumentar a bagagem de vigilância em nossas vidas e, consequentemente, caminharemos mais firmes e seguros pela senda evolutiva em busca do ideal da perfeição.

O Consolador  - Rogério Coelho

 


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015


                      Homossexualidade: uma visão mais além

“O problema do sexo é do Espírito e somente do Espírito virá, para ele, a solução.” – Joanna de Ângelis. (Após a Tempestade)

A edição de nº 2297, de 28 de novembro de 2012, da revista VEJA, páginas 102 a 104, traz uma reportagem abordando o assunto da adoção por casais homossexuais. 

Vejamos uma pequena amostra: “Estimulados por leis, livros, filmes e novelas que tratam da homossexualidade como um fato da vida, os gays assumem sua orientação sexual sem constrangimento. 

Há um forte componente de classe nesse fenômeno. 

Quanto mais ricas e mais instruídas são as pessoas, maior tende a ser entre elas a proporção de casais que se declaram gays.

 Um estudo feito pelo demógrafo Reinaldo Gregori, de São Paulo, tendo como base os dados do Censo 2010, confirma essa percepção – e revela uma surpreendente taxa de casais do mesmo sexo no Brasil que já têm filhos. 

Eles são 20%, em comparação com os 16% verificados nos Estados Unidos. 

As pesquisas apontam para o fato de que os casais gays não fazem as exigências que, em geral, são colocadas como condição para adotar, entre elas, que a criança seja ainda um bebê, sem problemas de saúde e da mesma etnia dos futuros pais. 

Em 2012, o Superior Tribunal de Justiça autorizou a adoção de uma criança por um casal de mulheres. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal aprovou a união estável para os homossexuais”. 

Fora da Doutrina Espírita, por certo, essa atitude aumentará o número de calvos no país, mas as explicações espíritas não nos dão o direito de arrancar os cabelos. 

Ouçamos a opinião de Raul Teixeira exarada no livro Desafios Da Vida Familiar sobre a adoção de crianças por casal homossexual: 
“O Pai-Criador vê sempre as intenções que inspiram as ações. 

Assim, vale refletir que o amor que se dedica a uma criança, tornando-a filha sentimental, independe da inclinação sexual adotada pelos pais ou pelas mães postiços. 

Acompanhamos inúmeras situações em que os cuidados desenvolvidos para atender a criança fizeram com que os indivíduos ou pares homossexuais alterassem a rota dos próprios passos, enobrecendo o sentimento paternal ou maternal, ausentando-se da promiscuidade ou do desassossego íntimo, passando a sintonizar com frequências luminosas, acalmando o coração e os pensamentos – quando antes experimentavam tormentos – conquistando, então, valores espirituais de grande significação, superando lutas imensas no cerne d’alma. 

A adoção, desse modo, corresponde a um gesto sublime que Deus sempre abençoará”. 

De que adianta um lar heterossexual onde a criança vê o pai alcoolizado espancar a mãe e os irmãos? De que adianta um lar heterossexual onde o pai violenta sexualmente a própria filha?

 De que adianta um lar heterossexual onde o pai utiliza-se do próprio filho como “mula” de tóxicos? 

De que adianta um lar heterossexual onde os pais obrigam os filhos a esmolarem nos sinaleiros da cidade?

 De que adianta um lar heterossexual onde os pais prostituem a própria filha? 

Ou será que ainda confundimos moral com sexualidade? 

Os noticiários que infestam os canais de televisão com os crimes mais variados, onde as corrupções mais lamentáveis, onde as impunidades que desafiam as leis são cometidas por homossexuais? 

Onde a criança corre mais riscos: nas ruas do abandono com os mais variados tipos de crime ou no aconchego de um lar onde sejam verdadeiramente amadas por irmãos ou irmãs situadas na faixa da homossexualidade?

Mas por falar sobre homossexualismo, você se lembra das lições de André Luiz e Manoel P. de Miranda, respectivamente nos livros Sexo e Destino e Sexo e Obsessão

Não?

Vamos trazer uma pequena lembrança do segundo: “Destituído de equipamentos sexuais, o Espírito é neutro na forma da expressão genésica, possuindo ambas as polaridades em que o sexo se expressa, necessitando, através da reencarnação, de experienciar uma como outra manifestação, a fim de desenvolver sentimentos que são compatíveis com os hormônios que produzem. 

Face a essa condição, assume uma ou outra postura sexual, devendo desenvolvê-la e vivenciá-la com dignificação, evitando comprometimentos que exigem retornos dolorosos ou alterações orgânicas sem a perda dos conteúdos emocionais ou psicológicos.

 Isto equivale dizer que, toda vez quando abusa de uma função, volta a vivenciá-la, a fim de recuperá-la, mediante processos limitadores, inibitórios ou castradores. 

Todavia, se insiste em perverter-se, atendendo mais aos impulsos do que à razão, dominado pelo instinto, antes que pelo sentimento, retorna em outra polaridade que não o capacita para a sua manifestação conforme desejara, correndo o risco de canalização das energias de forma equivocada. 

Face aos processos evolutivos, muitos Espíritos transitam na condição homossexual, o que não lhes permite comportamentos viciosos, estando previsto, para o futuro, um número expressivo que chamará a atenção dos psicólogos, sociólogos, pedagogos, que deverão investir melhores e mais amplos estudos em torno dos hábitos humanos e da sua conduta sexual”. (destaque nosso)

Já no livro de André Luiz encontramos a afirmativa de que inúmeros Espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam. (destaque nosso)

Afirma Joanna de Ângelis no livro citado anteriormente: 

“Assim, cultiva o lar, atende a família, faze-te cocriador na Obra de Nosso Pai, coopera com os que transitam em dores e edifica na mentalidade geral o conceito segundo o qual o sexo é para a vida e não a vida para o sexo”. 
(destaque nosso)

Onde os casais homossexuais que adotam uma criança e proporcionam a elas o amor de um lar estariam fugindo a essa orientação? 

Por quanto tempo ainda estaremos com a pedra na mão sempre pronta para atirá-la contra o nosso semelhante? Pior ainda se essa pedra estiver nas mãos de alguém que se diga espírita...

 O Consolador


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015




                                        O MUNDO DAS DROGAS
                              NA VISÃO  ESPÍRITA



Há quem diga que não exista ex-drogado. 


Há usuários que perderam a esperança de conseguir viver sem as drogas. Há familiares desesperados sem saber como lidar, aconselhar, ajudar de forma realmente eficaz.

De fato, este assunto é muito complexo quando se refere à causa, e um tanto problemático no que diz respeito ao efeito. Mas a espiritualidade nos diz que estes casos não somente estão ligados ao corpo físico, como também - e principalmente - ao Espírito.

A dependência química é fato e está aí a ciência que nos comprova tal fenômeno referente ao efeito provocado de curto ou logo prazo. Mas e a causa? Como podemos chegar a ela de forma profunda, de tal maneira a reconhecê-la e eliminá-la?

 Pois quando se elimina a causa, fica muito mais fácil tratar o efeito ao ponto de combatê-lo completamente.

Sim, a religião muito ajuda o indivíduo e DEVE, sem sombra de dúvida, ser utilizada como "antídoto" JUNTAMENTE com a medicina clínica e psíquica. 

Porém há casos de usuários (e também traficantes) que vão além do conhecimento da maioria das religiões no que concerne à CAUSA, e, neste aspecto, nem tão pouco a medicina pode alcançar (apesar da tentativa da medicina psíquica, onde muitos médicos psicólogos e psiquiatras hoje em dia já indicarem o Espiritismo). 

É justamente aí que entra o Espiritismo na busca de um diagnóstico espiritual para um tratamento paralelo ao científico-religioso, começando pela causa e posteriormente o efeito.

Muitos podem não dar crédito, ou achar que não é correto biblicamente falando (o que é um equívoco, dadas as inúmeras possibilidades de interpretação humana aos livros divinos), porém, o trato espiritual que se dá a estes 'enfermos da alma', baseando-se na receita de médicos espirituais, somado à conduta moral e cristã que nos é ensinada através da codificação de Kardec, de fato são transformadoras e renovadoras.

Uma das explicações dadas à causa que dá início ao uso de químicos em geral, e principalmente os tais alucinógenos, pode estar vinculada ao desequilíbrio mediúnico.

Pessoas boas de coração, denominadas sensíveis ou sensitivas, que geralmente encontram nas artes sua forma de livre expressão; pessoas propensas a ajudar os outros sem requerer reconhecimento ou gratidão; 

pessoas desapegadas a bens materiais em sua grande maioria; pessoas geralmente injustiçadas, exploradas, mal interpretadas e que sofrem muitas decepções e fracassos em diversos aspectos da vida... 

Pessoas neste perfil, com o tempo, tendem a tornar-se inseguras, partindo para o desânimo, angústia, tristeza profunda, depressão, crises existenciais, bipolaridade; e a fuga, em suas diversas formas, passa a ser sua única saída mais palpável e de pronto socorro. 

Mediunidade desequilibrada, não compreendida e não utilizada de forma construtiva.

Mediunidade é assunto sério! Seu desequilíbrio pode levar ao negativismo, pessimismo, autodestruição... 

Não há outro lugar que saiba tratar e ensinar o indivíduo médium a lidar com sua sensibilidade que não seja na doutrina espírita.

E não é menosprezando as outras religiões, cada qual tem sua missão na Terra, mas, infelizmente, algumas religiões ainda menosprezam a doutrina espírita sem ao menos darem a chance de conhecer e entender o porquê de sua existência e utilidade nos tempos de hoje.

Drogas... Isso também tem cura! Mas lembre-se: enfermidade da alma, a causa é no Espírito. Não adianta tratar o efeito sem antes conhecer e eliminar a causa.

KET ANTÔNIO - O Consolador


domingo, 1 de fevereiro de 2015



                                   O PONTO DE VISTA

As maiores vulnerabilidades do ser humano provêm da inconsciência de sua natureza espiritual. 

Ainda que intelectualmente quase todos nós acreditemos numa vida espiritual, e ainda que abracemos crenças religiosas e tenhamos vivido e testemunhado experiências concretas que evidenciem realidades transcendentes, na prática, o ponto de vista dominante ainda é o de seres terrestres que, em sua maioria, apenas intuem ou aceitam a dimensão espiritual, focando-a principalmente no cenário pós-morte. 

Há nesse ponto de vista uma distorção grave e mesmo pandêmica, posto que somos essencialmente Espíritos infinitos numa passagem fugaz pela vida corporal. 

É esse espírito imaterial e infinito que pensa, sente, intui e age dentro das limitações de um corpo físico perecível, e não o contrário. Inquietudes, tormentos e angústias sem-fim decorrem dessa visão invertida.

O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo II, item 5, aborda as agruras do homem que “concentra todos os seus pensamentos na vida terrena”, da seguinte forma:

“A perda do menor dos seus bens causa-lhe pungente mágoa.

 Um desengano, uma esperança perdida, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que for vítima, o orgulho ou a vaidade feridos, são tantos outros tormentos, que fazem sua vida uma angústia perpétua, pois que se entrega voluntariamente a uma verdadeira tortura de todos os instantes”.

Por estarmos imersos na vida material terrestre, estamos necessariamente submetidos aos impositivos biológicos e psicológicos próprios do aparelho carnal, voltado à manutenção da sobrevivência física no planeta e à interação social e afetiva com nossos companheiros de viagem.

 Pelo fato de essa passagem material ser significativamente complexa e desafiadora, estamos por ela de tal forma enredados e absorvidos que, muitas vezes, esquecemo-nos de nossa natureza essencial. 

É como se o Espírito, nessas circunstâncias, ao invés de encarnar num corpo físico, se deixasse ‘encarnar’ pelo corpo, abdicando desastrosamente de sua hegemonia e submetendo-se às contingências de uma realidade passageira.

O Espírito assim sufocado em suas aspirações e natural capacidade de aprender e evoluir manifesta uma ‘angústia perpétua’, com reflexos no corpo físico, que só será debelada quando esse mesmo Espírito reassumir a função de comando de sua saga encarnatória. 

O privar-se da plena utilização de suas potencialidades produz necessariamente sofrimento, o que é, em última análise, um desajuste, um pedido de socorro e um aviso benfazejo de que as coisas não estão funcionando de maneira adequada.

Mais uma vez, O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo V, item 25, esclarece-nos:
“Sabeis por que uma vaga tristeza se apodera por vezes de vossos corações, e vos faz sentir a vida amarga? 

É o vosso Espírito que aspira à felicidade e à liberdade, mas, ligado ao corpo que lhe serve de prisão, se cansa em vãos esforços para escapar. 

E vendo que esses esforços são inúteis, cai no desânimo, fazendo o corpo sofrer sua influência, com languidez, o abatimento e uma espécie de apatia, que de vós se apoderam, tornando-vos infelizes”.

 As vicissitudes e as dificuldades da vida do encarnado não deveriam constituir desafios para o corpo físico, mas sim para o Espírito que, quando consciente e presente de maneira plena, tem acesso a recursos e informações, que proporcionam um enfrentamento saudável das mesmas, num autêntico exercício de aprendizado evolutivo.

Assim sendo, mantendo-se o Espírito ocluso e omisso, focado somente em questões terrenas, não haverá o enfrentamento devido, recaindo todo o problema sobre uma psique desarmada e sem as habilidades e possibilidades próprias do Espírito liberto que, consciente de sua natureza transcendental e mediúnica, trará à encarnação as inspirações e intuições do plano espiritual com todas as alegrias e regalos delas decorrentes. 

A psique, assim vulnerável, reflete no corpo físico seus desequilíbrios, que acabam por se manifestar em enfermidades e abatimentos próprios dessa desadequação. Pelo fato de estar focada no plano físico, inconsciente de sua natureza primordial, a psique torna-se um obstáculo à plenitude do Espírito e à ação saudável do mesmo sobre o corpo físico.

Essa habilidade mediúnica refere-se à interação espírito/corpo físico e está ao alcance de qualquer encarnado, diferindo, portanto, da chamada mediunidade ostensiva, destinada, esta sim, ao abençoado serviço mediúnico, especificamente voltado aos trabalhos de auxílio fraterno, praticados na seara de Jesus. 

Trata-se, portanto, da capacidade de perceber e lidar com as realidades que transcendem a matéria e do acesso intuitivo a conhecimentos próprios do plano espiritual, que trazem sentido à aventura da alma humana. 

Claro que o acesso a todo esse cabedal de conhecimentos só acontecerá de forma plena, quando seguido pelo esforço da reflexão, do estudo, e da aplicação prática dos mesmos na vida cotidiana, uma vez que na evolução espiritual não existe conhecimento real sem a experimentação prática do que se aprende, nem sem a transformação íntima correspondente. 

Para isso, encarnamos e reencarnamos.

É preciso, entretanto, estarmos abertos e receptivos a essa percepção intuitiva, rompendo a camada dos condicionamentos e das preocupações próprias da experiência material terrena, sejam elas atuais ou remanescentes de encarnações anteriores, que permanecem registradas e vivas em nossa memória inconsciente, influenciando-nos de forma significativa. 

Por se tratar de uma memória própria do nosso inconsciente, não nos damos conta do quanto ela nos afeta. Sobre essa influência, o nobre Espírito Joanna de Ângelis observa:

“A grande maioria dos atos e comportamentos humanos, na sua expressão mais volumosa, procede do inconsciente, sem a interferência da consciência lúcida”. (Do livro Em Busca da Verdade – Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo P. Franco.)

Para que o rompimento dessa camada de preocupações terrenas e condicionamentos inconscientes aconteçam, é preciso silenciar a mente aturdida, desviando a atenção consciente para além das tribulações terrenas, das memórias ressentidas e das tristezas indefinidas.

 Desse modo, o ato deliberado de isolar-se do burburinho do mundo e da mente e buscar-se o retorno consciente à realidade espiritual, intuitivamente percebida, será suficiente para dar início ao processo de reintegração com essa mesma realidade espiritual, dando assim abertura à manifestação da consciência lúcida que, sem a interferência confusa e alienante do mundo, trará o discernimento, para que se saiba distinguir o que é essencial e permanente daquilo que é aparente e transitório.

Joanna de Ângelis prossegue, em nosso auxílio, incitando-nos a essa investigação interna:

“O ser humano necessita de silêncio mental, de espaço físico para a autoidentificação, para o autodescobrimento”... “O silêncio íntimo, que permite ouvir-se a voz da consciência, é de alta relevância para uma existência feliz, porque permite saber-se o que realmente deseja produzir e como fazê-lo de maneira excelente.” (Do livro Liberta-te do Mal – Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo P. Franco.)

Jesus, em Sua divina sabedoria, exortou-nos, através de suas parábolas, a olharmos os lírios do campo e as aves do céu, a construirmos sobre a rocha e não sobre a areia, levando-nos com isso a considerar, no silêncio do coração, as manifestações esplendorosas da Força Criadora eterna, que transcende o mundo transitório e instável, e a não agirmos como o homem néscio, que armazenou suas colheitas em celeiros e descansou, esquecendo-se de que seu corpo mortal não poderia usufruir 
indefinidamente das riquezas materiais acumuladas, nem sobreviveria a todos esses tolos cuidados e preocupações terrenas.

Reflitamos, portanto: Qual tem sido nosso ‘ponto de vista’ em relação à nossa jornada terrestre?



  
JOSUÉ DOUGLAS RODRIGUES - O Consolador

domingo, 25 de janeiro de 2015


                   IMATURIDADE DO SENSO MORAL

A compreensão da parte essencial do Espiritismo exige
um certo grau de sensibilidade
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral
e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”
- Allan Kardec
 
Numa página psicografada pelo médium René Pessa, em Rio das Flores, aprazível e morigerada cidade do Estado do Rio de Janeiro, terra natal de Dona Yvonne do Amaral Pereira, essa benfeitora abençoada identificou duas causas principais do mecanismo de interferência dos inimigos da Luz na seara espírita:

Primeira: 

É o próprio companheiro espírita que recebe todo o repositório de informações de uma Casa Espírita, mas que não o vivencia no dia a dia de sua existência.

Segunda: É a persistência dos chamados “donos dos Centros Espíritas”, que não observam os conteúdos da Codificação Kardequiana, deixando-se levar pelos reflexos da “modernidade” das teorias espiritualistas, que jamais se aproximam do vero exercício da Doutrina Espírita. (Torna-se evidente que a segunda causa decorre da primeira.)

Mas, por que o companheiro espírita, aquele que se diz “trabalhador” da Seara do Cristo, assenhoreando-se de todo o repositório de informações do conteúdo doutrinário do Espiritismo, torna-se um aliado das sombras, oferecendo “brechas” para a interferência nefasta e destruidora dos agentes das trevas?

Antes de apelar para Kardec, em busca da solução, devemos nos lembrar de que até mesmo o Colégio Apostólico teve o seu Judas. 

Além disso, arriscamos uma hipótese: movidas pelo orgulho, pelo egoísmo e pelo abominável personalismo dissolvente, tais criaturas não atentam para o lamentável corolário de seus “labores” na seara espírita, onde comumente não primam pela fidelidade doutrinária. 

Mas isso ainda não é tudo, porque não podemos subestimar a influência ativa e persistente dos Espíritos obsessores. 

Com tais ingredientes tão explosivos, fabrica-se a “dinamite” da cizânia, do destempero e da irresponsabilidade, com o consequente desmantelamento dos profícuos e sérios trabalhos da Casa Espírita e a evasão dos bons trabalhadores que os executavam.

No livro “Tormentos da Obsessão” de Manoel Philomeno de Miranda, psicografado por Divaldo Franco, podemos observar o destino que aguarda no Mundo Maior esses pretensos espíritas. 

Aliás, André Luiz também já deu mostras dessa realidade no livro “Os Mensageiros”, psicografado por Chico Xavier.

Kardec, assessorado pelos Maiores da Espiritualidade, elucida o problema da seguinte forma1
“(...) Muitos dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos.

 A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. 

A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direto à inteligência.

 Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo. Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum?

 Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. 

Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado.

Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do Infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. 

Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. 

Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. 

Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura cediça e monótona. 
Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os arcanos do Criador. 

Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. 

Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.

Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. 

O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé”.

Identificamos, assim, com Kardec, ser a imaturidade do senso moral o vulnerável “tendão de Aquiles” dos “trabalhadores” espíritas, que tantos danos intestinos têm provocado no movimento doutrinário.

Jesus conclamou2: “Resplandeça a vossa luz diante dos homens”, e para tal, segundo Martins Peralva, torna-se necessário o aprendizado, a reflexão e o automelhoramento, através do trabalho.

Continua Peralva3: “(...) O interesse do Senhor é que os Seus discípulos de ontem, de hoje e de qualquer tempo, sejam enobrecidos por meio de uma existência moralizada, esclarecida, fraterna...

 O Evangelho aí está, como presente dos Céus, para que o ser humano se replete com as suas bênçãos, se inunde de suas luzes, se revigore com as suas energias, se enriqueça com os seus ensinos eternos.

O Espiritismo, em particular, como revivescência do Cristianismo, também aí está, ofertando-nos os oceânicos tesouros da Codificação. 

Então de que mais precisa o homem para engrandecer-se, pela cultura e pelo sentimento, se lhe não faltam os elementos de renovação, plena, integral, positiva?!... Que falta ao homem moderno, usufrutuário de tantas bênçãos, para que se lhes resplandeça a luz?!...

A renovação do homem, sob o ponto de vista moral, intelectual e espiritual, é difícil, sem dúvida; mas é francamente realizável.

 É indispensável, tão somente, disponha-se ele ao esforço transformativo, com a consequente utilização desses recursos, desses meios, desses elementos que o Evangelho e o Espiritismo lhe fornecem farta e exuberantemente, sem a exigência de qualquer outro preço a não ser o preço de algo bem simples: a boa vontade, a disposição de automelhoria.

(...) Renovação moral, cultural, espiritual... Tal o sublime programa ao qual fomos convocados por Jesus. 

A estrada é difícil, o caminho é longo, repleto de espinhos e pedras, de obstáculos e limitações, porém, a meta é perfeitamente alcançável.

 E uma condição apenas é indispensável: um pouco de boa vontade. Boa vontadeério coelho construtiva, eficiente, positiva... O resto virá, no transcorrer natural da longa viagem...”.
 
[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. XVII, item 4.
[2] - Mateus, 5:16.
[3] - PERALVA, Martins. Estudando o Evangelho.  3. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1975, cap.: “Renovação”.

Rogério Coelho - O Consolador

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

                        Ferias e feriados. Lá vamos nós outra vez

No meu livro anterior – “Inquietações de um Espírita” – há um capítulo chamado

 “As férias e o centro espírita”

Nele, comento Férias e feriados. Lá vamos nós outra vez

No meu livro anterior – “Inquietações de um Espírita” – há um capítulo chamado “As férias e o centro espírita”. Nele, comento sobre trabalhadores e frequentadores de centros espíritas que somem por dois ou três meses quando as atividades das quais participam entram em recesso em dezembro, janeiro e fevereiro. 

Volto ao assunto por julgar pertinente e por achar que se trata de um fato mais corriqueiro – e preocupante – do que eu imaginava.
Fui responsável por alguns anos pelas escalas das reuniões públicas doutrinárias da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep).

 Certa vez, Cilene (nome fictício), expositora escalada para falar no sábado seguinte ao carnaval, me ligou dias antes do início das festas de momo. Ela iria estender o feriado além da terça-feira gorda e viajar com marido e filhos.

 Por isso, não poderia fazer a palestra e pediu para que eu escalasse outra pessoa. Sem problema. Trocas na escala acontecem. Além disso, todo mundo tem direito de aproveitar um feriado para dar uma relaxada.

No entanto, o que ela disse em seguida me surpreendeu. Cilene alegou que não deveria haver reunião pública doutrinária nos sábados seguintes ao carnaval. Afinal, é um feriado longo e muita gente aproveita para descansar por toda a semana.

 Respondi, então, que, se fosse assim, deveríamos suspender as reuniões públicas de sábado quando dos feriados de Semana Santa e Corpus Christi.

 E deveríamos, também, suspender toda e qualquer reunião pública que caísse em feriado (Finados, Proclamação da República, Dia do Trabalho...), fosse no sábado, quarta-feira, segunda-feira... Calhou de ser feriado em dia de reunião pública, suspende-se a reunião, pois ninguém vai e todo mundo quer descansar.

Ninguém e todo mundo costumam ser conceitos bem subjetivos. Certa vez, Reginaldo, amigo meu residente em outra cidade, ouviu do filho Mateus, de 14 anos, que não haveria reunião de mocidade no sábado seguinte. Motivo: a coordenadora de mocidade suspendera a reunião porque iria ser feriado prolongado e todo mundo iria viajar. 

Todo mundo quem, cara-pálida? Só se for todo mundo que essa coordenadora conhece. Como pode ela responder por todas as pessoas que frequentam o centro espírita?

 Reginaldo e família não iriam viajar, pois a grana estava curta. As famílias de outros jovens também iriam ficar na cidade, e por vários motivos: trabalho, compromissos sociais, falta de vontade de viajar... Em suma, vários jovens, frequentadores da mocidade, iriam ficar sem a evangelização, da qual tanto gostavam, pois todo mundo iria viajar, segundo a coordenadora.

Não sei se ela viajou. Provavelmente sim. E talvez outros aplicadores de estudo quisessem descansar no feriado prolongado. Todos têm esse direito, é claro. 

Mas decerto havia outros aplicadores que não iriam viajar e poderiam muito bem tocar a reunião de mocidade. Mas optou-se pela conveniência de alguns, que acham que todo mundo vai viajar.

Já vi centros espíritas que suspendem a reunião de mocidade no mês de janeiro alegando que todo mundo está de férias.

 Quem é todo mundo, afinal? Sei que é período de férias escolares. Sei também que muitos profissionais tiram férias no início do ano. Mas sei, ainda, que nem todo mundo tira férias nessa época. 

E muitos que tiram férias não têm condições de viajar. Estamos no Brasil, país de muitos contrastes econômicos.

Fechar as portas da mocidade em janeiro é tirar de muitos jovens o ensejo de se encontrarem. Digo isso de cadeira, pois evangelizei jovens por muitos anos e sempre mantivemos a reunião de mocidade em janeiro, e com o salão cheio. 

Aproveitávamos para fazer atividades diferentes, como dinâmicas de grupo. Os jovens adoravam, e os evangelizadores que não estavam de férias também.
Inquieta a mim quando reuniões são suspensas por causa de feriados. E me inquieta quando vejo que a frequência às reuniões públicas cai porque é feriado.

No centro do qual faço parte há reuniões públicas nas terças e quartas-feiras às 20h. Certa vez, fiz a palestra do dia 12 de outubro, feriado nacional, que caiu numa terça-feira. 

O salão, sempre cheio, estava praticamente vazio. Não estou questionando, deixo claro, o fato de as pessoas aproveitarem o feriado para descansar. Muitos tiram o dia para dormir até tarde, visitar alguém, curtir a família... 

Mas uma reunião pública doutrinária noturna não é alcançada pelo horário comercial do feriado. Ou seja, em dias comuns, saímos do trabalho no fim da tarde, passamos em casa ou vamos tratar de outro assunto. Em seguida, vamos ao centro assistir à palestra. Se for feriado, eu vou descansar do trabalho e de outras atividades. 

À noite, já estou pronto para ir ao centro. No entanto, muita gente encara a ida ao centro espírita não como uma atividade prazerosa que tem a ver com nossa evolução espiritual, mas como uma obrigação da qual se deve descansar se for feriado.

 É como se fosse algo imposto pelo meio social, como trabalhar e ir à escola. Como é feriado, não se vai ao centro. É triste atestar como as pessoas ainda tratam a educação do Espírito imortal de forma tão secundária.

Há centros espíritas que enfrentam problemas parecidos, mas com os grupos de estudo, que geralmente entram em recesso no final do ano e só retornam em fevereiro. Sem problema quanto a isso. 

Afinal, o estudo sistematizado tem uma dinâmica e um cronograma que permitem um recesso. Tanto que se trata de um estudo feito de forma sistemática. É diferente da mocidade, na qual o estudo pode ser conduzido de forma mais informal e com atividades lúdicas, como já observado.

Certa vez, uma integrante de um grupo de estudos entrou na livraria da Umep para comprar um livro. Era dezembro. Eneida, responsável pela livraria, disse que não tinha o livro, mas que ele chegaria dentro de 10 dias. A moça, então, disse:

 - Ué, mas a Umep não está entrando de férias hoje? Como eu vou comprar o livro daqui a 10 dias se só voltaremos das férias em fevereiro?Eneida, então, explicou que centro espírita não tira férias.

O que estava entrando de férias, ou melhor, recesso, eram os grupos de estudo. E completou dizendo que a moça, como integrante de um desses grupos, já era para ter percebido isso. Vânia, coordenadora do grupo da moça, virou-se para Eneida e disse:

 - Não é por falta de aviso.

Infelizmente, há quem frequente os grupos de estudo do centro espírita como se estivesse matriculado em um curso técnico. Às vezes, passam anos dentro do centro indo apenas na sala onde estudam. 

Chegam e saem uma vez por semana e não percebem que o centro espírita é um espaço de convivência fraterna e uma escola de aprimoramento de almas. Quando chega o final do ano letivo, saem de férias e só voltam quando do reinício das aulas.

 Só faltou fazerem prova. E julgam equivocadamente que todo o centro funciona desse jeito, apesar dos reiterados esclarecimentos que recebem.

Tudo isso ainda acontece pelo fato de ainda não termos despertado para todas as potencialidades que um centro espírita possui.

 No livro “O Jovem Espírita quer Saber”, o professor e pedagogo espírita Ney Lobo, no capítulo que aborda o assunto sociedade, diz, em resposta à terceira pergunta que lhe foi formulada, que os centros espíritas devem ter centros de convivência social para que os jovens (e também todas as pessoas, a meu ver) tenham acesso não só à boa música atual, mas também à clássica, além de leituras coletivas, debates, lanches culturais, jogos instrutivos e afins

Mas tudo intercalado com exposições e debates doutrinários. Além disso, todo centro espírita deveria ficar aberto até às 22h, de domingo a domingo. Seria uma forma de tornar o centro espírita cada vez mais vivo e atraente, iluminando consciências de forma sempre criativa e abrindo várias frentes de trabalho.

É um desafio que nos aguarda e um trabalho que precisa ser posto em prática. Quando os que somente frequentam ou estudam se dispuserem a pôr a mão na massa, veremos o quanto um centro espírita é capaz de fazer por todos nós. Aí, não haverá férias ou feriados que mantenham gente afastada.

sobre trabalhadores e frequentadores de centros espíritas que somem por dois ou três meses quando as atividades das quais participam entram em recesso em dezembro, janeiro e fevereiro.  

Volto ao assunto por julgar pertinente e por achar que se trata de um fato mais corriqueiro – e preocupante – do que eu imaginava.
Fui responsável por alguns anos pelas escalas das reuniões públicas doutrinárias da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep). 

Certa vez, Cilene (nome fictício), expositora escalada para falar no sábado seguinte ao carnaval, me ligou dias antes do início das festas de momo. 

Ela iria estender o feriado além da terça-feira gorda e viajar com marido e filhos. Por isso, não poderia fazer a palestra e pediu para que eu escalasse outra pessoa. Sem problema. Trocas na escala acontecem. Além disso, todo mundo tem direito de aproveitar um feriado para dar uma relaxada.

No entanto, o que ela disse em seguida me surpreendeu. Cilene alegou que não deveria haver reunião pública doutrinária nos sábados seguintes ao carnaval. 

Afinal, é um feriado longo e muita gente aproveita para descansar por toda a semana. Respondi, então, que, se fosse assim, deveríamos suspender as reuniões públicas de sábado quando dos feriados de Semana Santa e Corpus Christi. 

E deveríamos, também, suspender toda e qualquer reunião pública que caísse em feriado (Finados, Proclamação da República, Dia do Trabalho...), fosse no sábado, quarta-feira, segunda-feira... Calhou de ser feriado em dia de reunião pública, suspende-se a reunião, pois ninguém vai e todo mundo quer descansar.

Ninguém e todo mundo costumam ser conceitos bem subjetivos. Certa vez, Reginaldo, amigo meu residente em outra cidade, ouviu do filho Mateus, de 14 anos, que não haveria reunião de mocidade no sábado seguinte. 

Motivo:

 a coordenadora de mocidade suspendera a reunião porque iria ser feriado prolongado e todo mundo iria viajar. Todo mundo quem, cara-pálida? Só se for todo mundo que essa coordenadora conhece. Como pode ela responder por todas as pessoas que frequentam o centro espírita? 

Reginaldo e família não iriam viajar, pois a grana estava curta. As famílias de outros jovens também iriam ficar na cidade, e por vários motivos: trabalho, compromissos sociais, falta de vontade de viajar... 
Em suma, vários jovens, frequentadores da mocidade, iriam ficar sem a evangelização, da qual tanto gostavam, pois todo mundo iria viajar, segundo a coordenadora.

Não sei se ela viajou. 

Provavelmente sim. 

E talvez outros aplicadores de estudo quisessem descansar no feriado prolongado. 

Todos têm esse direito, é claro. Mas decerto havia outros aplicadores que não iriam viajar e poderiam muito bem tocar a reunião de mocidade. Mas optou-se pela conveniência de alguns, que acham que todo mundo vai viajar.

Já vi centros espíritas que suspendem a reunião de mocidade no mês de janeiro alegando que todo mundo está de férias. Quem é todo mundo, afinal? Sei que é período de férias escolares. 

Sei também que muitos profissionais tiram férias no início do ano. Mas sei, ainda, que nem todo mundo tira férias nessa época. E muitos que tiram férias não têm condições de viajar. 

Estamos no Brasil, país de muitos contrastes econômicos.

Fechar as portas da mocidade em janeiro é tirar de muitos jovens o ensejo de se encontrarem. 

Digo isso de cadeira, pois evangelizei jovens por muitos anos e sempre mantivemos a reunião de mocidade em janeiro, e com o salão cheio. Aproveitávamos para fazer atividades diferentes, como dinâmicas de grupo. 

Os jovens adoravam, e os evangelizadores que não estavam de férias também.

Inquieta a mim quando reuniões são suspensas por causa de feriados. E me inquieta quando vejo que a frequência às reuniões públicas cai porque é feriado.

No centro do qual faço parte há reuniões públicas nas terças e quartas-feiras às 20h. Certa vez, fiz a palestra do dia 12 de outubro, feriado nacional, que caiu numa terça-feira. 

O salão, sempre cheio, estava praticamente vazio. Não estou questionando, deixo claro, o fato de as pessoas aproveitarem o feriado para descansar. 

Muitos tiram o dia para dormir até tarde, visitar alguém, curtir a família... Mas uma reunião pública doutrinária noturna não é alcançada pelo horário comercial do feriado. 

Ou seja, em dias comuns, saímos do trabalho no fim da tarde, passamos em casa ou vamos tratar de outro assunto. Em seguida, vamos ao centro assistir à palestra. 

Se for feriado, eu vou descansar do trabalho e de outras atividades. À noite, já estou pronto para ir ao centro. No entanto, muita gente encara a ida ao centro espírita não como uma atividade prazerosa que tem a ver com nossa evolução espiritual, mas como uma obrigação da qual se deve descansar se for feriado.

 É como se fosse algo imposto pelo meio social, como trabalhar e ir à escola. Como é feriado, não se vai ao centro. É triste atestar como as pessoas ainda tratam a educação do Espírito imortal de forma tão secundária.

Há centros espíritas que enfrentam problemas parecidos, mas com os grupos de estudo, que geralmente entram em recesso no final do ano e só retornam em fevereiro. 

Sem problema quanto a isso. Afinal, o estudo sistematizado tem uma dinâmica e um cronograma que permitem um recesso. Tanto que se trata de um estudo feito de forma sistemática. É diferente da mocidade, na qual o estudo pode ser conduzido de forma mais informal e com atividades lúdicas, como já observado.

Certa vez, uma integrante de um grupo de estudos entrou na livraria da Umep para comprar um livro. 

Era dezembro. 

Eneida, responsável pela livraria, disse que não tinha o livro, mas que ele chegaria dentro de 10 dias. 

A moça, então, disse: - Ué, mas a Umep não está entrando de férias hoje? Como eu vou comprar o livro daqui a 10 dias se só voltaremos das férias em fevereiro?Eneida, então, explicou que centro espírita não tira férias.

 O que estava entrando de férias, ou melhor, recesso, eram os grupos de estudo. E completou dizendo que a moça, como integrante de um desses grupos, já era para ter percebido isso. 

Vânia, coordenadora do grupo da moça, virou-se para Eneida e disse: - Não é por falta de aviso.

Infelizmente, há quem frequente os grupos de estudo do centro espírita como se estivesse matriculado em um curso técnico. Às vezes, passam anos dentro do centro indo apenas na sala onde estudam. 

Chegam e saem uma vez por semana e não percebem que o centro espírita é um espaço de convivência fraterna e uma escola de aprimoramento de almas. 

Quando chega o final do ano letivo, saem de férias e só voltam quando do reinício das aulas. Só faltou fazerem prova. 

E julgam equivocadamente que todo o centro funciona desse jeito, apesar dos reiterados esclarecimentos que recebem.

Tudo isso ainda acontece pelo fato de ainda não termos despertado para todas as potencialidades que um centro espírita possui. 

No livro “O Jovem Espírita quer Saber”, o professor e pedagogo espírita Ney Lobo, no capítulo que aborda o assunto sociedade, diz, em resposta à terceira pergunta que lhe foi formulada, que os centros espíritas devem ter centros de convivência social para que os jovens (e também todas as pessoas, a meu ver) tenham acesso não só à boa música atual, mas também à clássica, além de leituras coletivas, debates, lanches culturais, jogos instrutivos e afins.

 Mas tudo intercalado com exposições e debates doutrinários.

 Além disso, todo centro espírita deveria ficar aberto até às 22h, de domingo a domingo. Seria uma forma de tornar o centro espírita cada vez mais vivo e atraente, iluminando consciências de forma sempre criativa e abrindo várias frentes de trabalho.


É um desafio que nos aguarda e um trabalho que precisa ser posto em prática. 

Quando os que somente frequentam ou estudam se dispuserem a pôr a mão na massa, veremos o quanto um centro espírita é capaz de fazer por todos nós. Aí, não haverá férias ou feriados que mantenham gente afastada.

Marcelo Teixeira - O Consolador