sexta-feira, 3 de maio de 2013




Sai mais barato perdoar

Geraldinho suplicava que o pai lhe perdoasse, sabia que errara ao bater o carro do “velho” por conta de sua pouca habilidade ao volante, mas não compreendia a razão de sua extrema irritação. Afinal, em sua visão, o carro poderia ser consertado e, convenhamos, acidentes acontecem.

Não tinha intenção de causar qualquer dano ao pai. Todavia, Godofredo, o pai, fazia ouvidos moucos aos pedidos de Geraldinho e vociferava desequilibrado:

 - Isso não tem perdão, Geraldinho, não tem.  E o prejuízo? Quem pagará o conserto do automóvel? Com certeza eu; eu terei de arcar com o prejuízo de sua barbeiragem.

 - Calma, papai, mantenha a calma, perdoe-me... Eu pagarei; ganho pouco, mas posso pagar-lhe se me dividir em algumas prestações.

Furioso com as explicações do filho, Godofredo desferiu potente chute na parede.

O resultado: fratura no pé esquerdo e mais de 6 meses afastado da atividade profissional.

No outro dia, após a cirurgia do pai, Geraldinho entrou no quarto do hospital segurando flores para presenteá-lo, e, sorrindo, disse:
- Sai mais barato perdoar, papai, sai mais barato perdoar...

O perdão é um dos temperos da vida. Deve ser utilizado na medida exata.

Tem gente que perdoa muito. Transita pela vida a perdoar os outros. Por qualquer contrariedade ou até mesmo advertência que recebam, sentenciam bondosos: “Eu perdoo!”. Pessoas assim dão claro sinal de que se ofendem por qualquer coisa. Isso não é bom.
Tem gente, entretanto, que está no oposto. Não perdoa nada nem ninguém. Pessoas assim estão enfermas: dureza no coração.

Mahatma Gandhi afirmava não perdoar seus adversários, afinal, só perdoa quem se sente ofendido, e ele, em sua grandeza espiritual, pairava acima das querelas do ser humano, logo, não se ofendia.

Contudo, Gandhi é uma exceção em meio às regras do mundo.

Profundo conhecedor da natureza humana, Jesus recomendava o perdão sem limites e, em Mateus, V:7, o mestre ensina: 
Bem-aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia. 

Já que na Terra de vez em quando, ou melhor, de vez em sempre, damos nossas escorregadelas e ofendemos ou nos sentimos ofendidos, é necessário perdoar e pedir perdão, enfim, sermos misericordiosos para termos uma vida mais serena.

Se não exercitarmos a dinâmica do perdão em duas vias - conceder e pedir -, é sinal de que, como Godofredo, cedo ou tarde desferiremos potente pontapé na parede, representado na forma da ofensa, da palavra áspera e da ironia ferina, ou, bem pior:

adoeceremos do coração de modo que gastaremos muito, seja para reparar fraturas provindas de nosso desequilíbrio ou nos livrarmos de alguma outra enfermidade oriunda de nossa inflexibilidade.

Aliás, até mesmo Geraldinho aconselhou: “Sai mais barato perdoar!”. 

Wellington Balbo - O consolador