domingo, 9 de fevereiro de 2014

Escolha de uma mãe

Uma senhora de 58 anos,que veio até nós chamou-nos a atenção pela linguagem muito correta e pelo porte distinto.

 Estava simplesmente vestida, mas, ao mesmo tempo, elegantemente vestida. 

Isso não é comum, na periferia onde trabalhamos. 


Pensamos até tratar-se de uma senhora de classe social mais elevada. Enquanto conversávamos, ela mencionou uma dor nas costas que a estava incomodando muito, provavelmente fruto dos anos em que ela, para ajudar a família, trabalhou duro como faxineira. 


Nunca imaginara no passado que aqueles esforços na faxina iriam prejudicá-la tanto, a ponto de não poder mais carregar peso, tamanha a dor que sente. 

Surpreendida, dissemos que, sem desmerecer a profissão, que achamos muito digna, jamais imaginaríamos, pela sua linguagem impecável e incomum, que ela tivesse sido faxineira. Pensamos que fosse professora. 

“Esse era meu sonho, estudar geografia e dar aulas”, disse-nos ela. “Tive, no entanto, de optar. 

Tive quatro filhos, todos homens. Meu marido precisava de ajuda e meus filhos tam-bém. 

Escolhi ser faxineira para comandar meus horários, escolher quais horários eu podia trabalhar, para dar atenção aos meus filhos e educá-los. Não me arrependi. Meus quatro filhos são homens excelentes, educados, gentis, honestos e carinhosos.


 Os três mais velhos são casados e já têm filhos. O mais novo, de 24 anos , trabalha, mas ainda mora comigo.


 É meu amigo, respeita-me muito. Com a idade que tem, como mora em minha casa até hoje, quando vai sair, me pergunta se pode ir, se não me incomodo, enfim, se eu dei-xo. Se deseja levar alguém em casa pergunta se eu permito.


 Outro dia, saindo, eu disse a ele num tom mais alto: Volte até as onze da noite, está bem? Ele falou: oh! Mãe! Voltou, me beijou e abraçou dando risada e disse: Não fale tão alto! Quer que os vizinhos todos escutem? 


E saiu. Voltou às onze da noite. Não me arrependo de ter desistido de uma carreira com que sonhava, pelos meus filhos. Posso dizer que valeu a pena, sou feliz, vendo os homens que meus filhos se tornaram. Eu tinha o sonho de fazer geografia.” 

Agora a senhora pode. Nunca é tarde demais, dissemos a ela. “Sabe que sua conversa está me tentando? Vou pensar seriamente no caso. Agora eu posso!”

Ficamos pensando nessa mãe, que renunciou aos seus desejos por amor a seus filhos, que hoje são homens de bem. Poderia ter escolhido uma profissão que fizesse jus à sua capacidade, mas fez a melhor escolha: seus filhos. Hoje ela é feliz.

Temos falado bastante com as mães sobre a melhor escolha. Muitas estão escolhendo ter coisas , dar coisas.


 Querem dar tudo o que nunca tiveram e se esquecem de que hoje são o que são porque tiveram o principal: suas mães.

Temos tido muitas mães chorando, descobrindo tarde que o que seus filhos queriam eram elas, sua presença, seu amor, sua educação. Uma dessas chorou contando o que sucedeu com a filha. 


Sempre sozinha a menina, sem afeto, sem carinho, ela trabalhando demais para comprar coisas para a filha. A menina se desequilibrou tanto, ainda aos 8 anos de idade, que tivemos de encaminhá-la para socorro espiritual, homeopatia e psiquiatria infantil, para tentar ajudá-la, pois seu comportamento está assustando a escola toda e também à própria mãe, que, diante do fato, percebe que o dinheiro agora é o menos importante. 


O importante é a criança ficar bem. Pelo quadro que está apresentando, será difícil. Ficamos nos perguntando se isso teria acontecido caso a menina tivesse a couraça do amor para protegê-la. Talvez o fato não ocorresse, pois não existe poder maior que o amor.

Trabalhar é bendita oficina de aprendizado e socorro. A oportunidade de trabalhar é abençoada e ajuda o ser no processo de crescimento espiritual. O que lamentamos é o excesso, o abandono. Como um Espírito encarnado aprenderá a amar se aqueles aos qual Deus o confiou estão esquecendo disso? 

O comportamento de muitas crianças desta geração está mostrando, como num grito de socorro, que os pais despertem, que as mães vejam a grandeza do seu papel e cuidem, amem, eduquem. 


Que trabalhem fora, mas não só isso.


 Enxerguem a criança ao lado, ensine-lhe o amor ao próximo, a piedade.


 Quem tem compaixão não faz mal a ninguém, ao contrário, torna-se foco de luz por onde passa, o que consola a dor e acende nas almas tristes a esperança. 

A escolha dessa mãe faxineira foi uma renúncia aos seus desejos pessoais por amor aos filhos. Preferiu um trabalho mais humilde, mas que lhe permitiu tempo para educá-los.

Quando os filhos estão esquecidos, o egoísmo grassa e a dor aumenta pelas ações de desequilíbrio. 


Dizem os Espíritos, na questão 915 de O Livro dos Espíritos: “É certo que o egoísmo é o vosso mal maior, mas ele se liga à inferioridade do Espíritos encarnados na Terra e não à humanidade em si mesma. 


Ora, os espíritos se purificam nas encarnações sucessivas, perdendo o egoísmo, assim como perdem as outras impurezas. Não tendes na Terra algum homem destituído do egoísmo e praticante da caridade?


 Existem em maior número do que julgais, mas conheceis poucos porque a virtude não se procura fazer notar. E se há um, por que não haverá dez? Se há dez por que não haverá mil, e assim por diante?”

Como essa mãe faxineira, há dez, há mil, há milhares que estão zelando por seus filhos, ensinando-os a amar, a serem homens de bem no futuro, aqueles que farão a diferença para um amanhã melhor.

Mantenhamos, pois, nossas esperanças num mundo melhor amanhã. Jesus está no leme e a Terra sob seu comando. Às mães, força, coragem, para fazerem de seus filhos os cristãos do presente, os que honram Jesus, os que o amam, amando os homens, seus irmãos.



Jane Martins Vilela – o consolador

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

                                              QUE MUNDO É ESTE?

A humanidade tem-se perguntado que mundo é este em que vivemos sob o guante da violência, da promiscuidade, da corrupção, das misérias e mazelas humanas.

 Incluem-se aqui a exploração da fé, através das crenças materialistas que ensinam que “você será salvo se doar a Jesus (para que ele lhe devolva em dobro – que Jesus é esse afinal?)”, que tanto nos assombram e, o que é pior, por mais esforços e programas, projetos e processos que o homem cria, não consegue ao menos amenizar tudo isso.

Torna-se angustiante e sofrível diante da sua incapacidade de solucionar as misérias que ele mesmo cria, pois em síntese a vida é sempre o resultado do que dela fazemos.

Responder a essas questões não é tarefa fácil, alguns diriam que não é mesmo plausível respondê-las. Façamos uma análise e algum esforço para nos perguntarmos qual é a natureza (a sua essência) do homem na face do planeta na atualidade? 

Diríamos, corroborados nos princípios espíritas da Filosofia Espírita (necessitamos de um parâmetro razoável para tentar explicar tais indagações) que, entre os homens da modernidade, “... há os que não fazem nem o mal nem o bem; outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando se lhes depara ocasião de praticá-lo.

 Há também os levianos ou estouvados, mais perturbadores do que malignos, que se comprazem antes na malícia do que na malvadez e cujo prazer consiste em mistificar e causar pequenas contrariedades, de que se riem.”

Como se confirma na assertiva, o homem ainda é o ser mais “primitivo” no reino da criação, apesar de nos considerarmos no topo da cadeia evolutiva das espécies, o que é verdade, mas ainda primitivo no terreno do moral, mesmo tendo alcançado o patamar intelectual que já alcançamos.

 “Isso indica que existe no homem uma variedade de sentimentos, de posição na escala evolutiva ainda inferior e que parece desconhecer o valor do bem, que não sentem tendência para a caridade, ao contrário, procuram menosprezar o bem e mesmo atrapalhar quem começa a melhorar as suas condições de benevolência”.

 Está presente em seu caráter a mentira, o egoísmo o orgulho e adora criar discussões estéreis, pois isso confunde e desarmoniza qualquer ambiente ou ideia ajustada. Essa natureza está presente em grande parte nos que habitamos este maravilhoso planeta.

 Encontra-se (o homem) presente em todos os setores e atividades da humanidade, quer na política, na ciência e na religião, encontrando sintonia em uma massa que não sabe pensar e conduzir os próprios destinos, portanto fáceis de serem manipulados e conduzidos feito boiada. 

Podemos conseguintemente entender por que no campo político a realidade é de tanto escracho (caso para polícia) e usurpadora do bem público. 

Quando o povo elege um governante, deputado, senador ou vereador, o faz para que este lhe represente e lhe garanta os direitos de cidadão no contexto das necessidades humanas e não o autoriza a roubar, explorar, promover tráfico de influências, ficar refém de grupos políticos, de facções criminosas ou coisa do gênero.

Como pode um prefeito ou um vereador, que sãos os governantes mais próximos da população, tornar-se usurpador do bem público, visando seu próprio interesse e esquecendo-se do primeiro e primordial compromisso democrático que é o de representar o cidadão diante da comunidade?

 A questão é tão antiga que o pensador Rousseau afirmava em seu tempo:

 “Na política, como na moral, é um grande mal não se fazer de algum modo o bem e todo cidadão inútil pode ser considerado pernicioso (…). Os antigos políticos falavam constantemente de costumes e virtudes, os nossos só falam de comércio, de dinheiro e de poder.

 Avalia os homens como gado. Segundo eles (os políticos), um homem só vale para o Estado pelo seu consumo, concluindo que a razão política está em crise.

 Na cidade não existe o cidadão. Foi anulado, nulificado, sem ‘costumes e virtudes’. 

O comércio, o dinheiro e poder são valores humanos para uma minoria e a maioria excluída, à margem da sociedade, sem esses bens econômicos. Sem viver. Sem direitos”. Enquanto que outros (geralmente os que estão temporariamente no poder temporal das coisas) enriquecem da noite para o dia. Só mesmo a natureza perversa do homem para explicar tais realidades.

Analisemos o significado da religião nos tempos modernos. Religião é um termo que nasceu com a língua latina, podendo ter três interpretações diferentes: "re-legio" = "re-ler", um significado atribuído por Cícero para descrever a repetição de escrituras; "re-ligio" = "re-ligar", o que poderia significar a tentativa humana de "religar-se" a suas origens, a seu (s) criador (es), a seu passado e finalmente "re-ligio" = "re-atar", (no sentido de "prender", não de "conectar"), significando uma restrição de possibilidades. 

“Independente da origem, o termo é adotado para designar qualquer conjunto de crenças e valores que compõem a fé de determinada pessoa ou conjunto de pessoas. 

Cada religião inspira certas normas e motiva certas práticas. Os símbolos tem o significado de representação.
“O problema é que as igrejas, ou religiões, se transformaram em instituições políticas e lucrativas (esqueceram-se de Deus). Seus líderes usam seu poder de persuasão para ganhar dinheiro e eleger seus políticos, e para demonstrar sua força perante as demais, cria regras absurdas, como algumas que proíbem as mulheres de cortar os cabelos e rapar as pernas, ou outras que não admitem transfusão de sangue. 

Com base em teologias fajutas e em promessas impossíveis de um paraíso depois da morte, eles manipulam multidões. 

Muitos desses religiosos, que sequer têm uma fé verdadeira, mas que usam a religião como muleta para a vida – porque é sempre mais fácil seguir o caminho que os outros "aconselham" em vez de fazer a sua própria trilha –, cultivam preconceitos absurdos, apesar de recitar salmos bíblicos e dizer que "deve-se amar ao próximo como a si mesmo", a ponto de desrespeitar os seguidores de outras religiões, chutando imagens e fazendo pouco de rituais, apesar dos seus também não terem o menor sentido.”

Atentemos para a reflexão do Espírito Miramez, a seguir:

 “O quadro da Terra é algo triste, no que tange ao ambiente inferior, não obstante, os recursos estão e vão ser usados para o devido saneamento espiritual. 

Cabe a nós outros, já despertados para o bem comum, fazer parte daqueles que saíram a semear com Jesus, sem reclamar, sem exigir e sem blasfemar, para que não percam as sementes de luz deitadas nas leiras dos corações.

 A última categoria dos Espíritos não se compõe de almas totalmente más, no sentido da palavra expressa, mas que carregam consigo toda espécie de deturpação da verdade.

 O seu ambiente constitui um ninho de serpentes, de todas as más qualidades que se possa imaginar... Entretanto, são irmãos que precisam da nossa assistência, mas, ao dá-la, é sempre bom nos lembrar da advertência de nosso Jesus Cristo, quando nos fala: Vigiai e orai...

 Mas a Doutrina Espírita, na feição do Evangelho Redivivo, está no mundo para limpar a eira das nações e colocá-las à frente de todas as decisões que possam tomar a palavra e a vivência daquilo que conheces pelo nome de Amor”. 

Alci Silva - O consolador


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Capacidade de amar


Naquela noite, na sala de uma emergência médica, o jovem estudante aprendia a arte da medicina. Depois de atender alguns pacientes com quadros psiquiátricos descompensados, chegou a vez de uma senhora que muito lhe chamou atenção.

Vestida com roupas extravagantes e transparecendo uma sexualidade exacerbada, ela adentrou o consultório cantando de modo bem estridente e caricatural, ao mesmo tempo em que era acompanhada por uma irmã e a filha mais velha.

Porém, a certa altura do atendimento, estafada, a irmã falou enfaticamente com a sobrinha, referindo-se à transtornada mulher – 

eu não aguento mais, não! 

Agora que você completou dezoito anos, vai passar a cuidar também dela.

Foram tomadas todas as condutas diagnósticas e terapêuticas adequadas ao caso e, depois disso, o futuro esculápio, procurando entender melhor o enquadramento familiar, indagou à jovem moça - há quanto tempo tua mãe tem esta doença?.

Fez-se um silêncio breve, e, parecendo ter passado por uma retrospectiva de vida, a menina respondeu – faz tanto tempo que eu nem me lembro, “desde que eu me entendo por gente ela é assim”.

Não houve, contudo, tempo para ela terminar a frase. Automaticamente, as lágrimas rolaram em seu rosto de modo convulsivo. Um silêncio dominou o ambiente e, até mesmo a paciente, diminuindo o estado de agitação em que se encontrava, deixou-se emocionar...

A fala de Jesus, indicando que o maior dos mandamentos seria o de amar ao próximo como a si mesmo, bem como a Deus acima de tudo, é  de uma veracidade singular. Para se amar o Criador, que é ainda um grande desconhecido, é necessário amar a sua criação, sobretudo a mais encantadora, que é o ser humano, o próximo, portanto.

 Entretanto, para se amar o outro, imprescindível é se amar.

Sem o autoamor, não se dispõe de matéria-prima para amar o semelhante, muito menos o desigual. Somente se consegue doar abundantemente aquilo que se possui em abundância.

É por isso que pessoas muito rígidas consigo tendem a ser inflexíveis nas relações diárias; aqueles que não conseguem se perdoar de modo algum passam a ser rancorosos em demasia com os outros; e muitos que se culpam e se torturam mentalmente, muitas vezes, são implacáveis com o próximo.

Nesta perspectiva, observa-se que, até mesmo o amor de mãe, considerado quase sempre como o que há de mais divino, não consegue ser adequadamente demonstrado em situações de intensa dor, insatisfação e vazio pessoais.

 Em reiteradas ocasiões, assim, os filhos são convidados pela vida, desde tenra idade, a inverterem os papéis e, ao invés de receberem mimos, passarem a ser cuidadores dos pais.

Em tais circunstâncias, pode-se optar pelas vitimização, revolta ou mágoa; ou, então, tentar se preencher de um saudável auto-amor, espalhando luzes pela existência.

Certamente, esta segunda via é mais difícil porque faz um convite à transcendência, ou seja, ao indivíduo ir além do que se acha capaz; no entanto, seguramente, é o que conduz à paz e à saúde duradouras.


Para tanto, não há uma receita única infalível; antes, cada um deve encontrar seu próprio caminho, agregando ajudas nos saudáveis ramos da sabedoria humana. 

 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

                           SIT – NOVA DOENÇA SOCIAL
               SOLIDÃO – ISOLAMENTO E TECNOLOGIA

Numa breve viagem efetuada em serviço profissional, não pude deixar de constatar o mundo que me rodeia, desde o embarque no avião, a viagem, o desembarque, enfim, as múltiplas ações e reações das pessoas na sua interação social.

Confesso que fiquei preocupado ao aperceber-me de uma nova doença que afeta a sociedade ocidental: chama-se SIT.

Curiosamente, ao ler "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, verdadeira pérola da literatura mundial, onde está confinada a parte filosófica da Doutrina Espírita (que não é mais uma religião nem mais uma seita, mas sim ciência, fAilosofia e moral), no seu capítulo VII, intitulado "Lei de Sociedade", podemos encontrar questões interessantes:

766. A vida social está na Natureza?

“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”

767. É contrário à lei da Natureza o isolamento absoluto?

“Sem dúvida, pois que por instinto os homens buscam a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.”

768. Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral?

“O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contato com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e estiola.”

“Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não isolados."

O ser humano, estimulando a sua inteligência, vai criando e modificando a matéria e o mundo material, tornando-o mais agradável para a sua vida no quotidiano, que, por sua vez, se torna mais confortável e mais feliz.

“O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e estiola.” (Allan Kardec)

Vemos, ao longo destes últimos 100 anos, um incremento fantástico ao nível tecnológico, contribuindo sobremaneira para uma maior e melhor qualidade de vida do ser humano. Curiosamente, esta tecnologia, ao invés de contribuir para uma partilha saudável de vivências entre os seres humanos, tem contribuído para um uso desajustado, levando-o ao isolamento.

Paradoxalmente, nestes tempos que deveriam ser de alegria, face ao incremento da tecnologia, a sociedade sofre de grave doença mortal, a solidão, mesmo quando rodeados de uma imensidão de pessoas.

Naquele avião potente, com 200 pessoas a bordo, meditava fascinado no avanço da tecnologia, naquele grande pássaro de ferro rasgando o ar, tranquilamente, e verificava com alguma tristeza que, naquela hora e meia de viagem, as 200 pessoas iam, cada uma delas, imersas no seu mundo (com auriculares ouvindo música ou outra coisa qualquer, com computadores trabalhando ou jogando, agarrados interminavelmente aos seus telemóveis e/ou agendas eletrônicas, dormindo ou descansando de olhos fechados), ao invés de aproveitarem o tempo para conversarem, fazer novos conhecimentos, trocar ideias, partilhar opiniões, enfim, sociabilizarem-se.

Foi aí que me apercebi da grave doença, que se vai instalando silenciosamente, que nos afeta nos dias de hoje: a "SIT" (Solidão, Isolamento e Tecnologia).

Se as novas tecnologias são uma bênção para a humanidade, o seu uso deve ser efetuado com parcimônia, de modo a que o rumo orientador de sociabilização apontado em "O Livro dos Espíritos", nos itens acima referidos, não venha a ser posto em causa por este flagelo que associa a tecnologia ao isolamento e à solidão do ser humano. 

José Lucas –

Crônicas  -O consolador

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


         Portadores de necessidades especiais na Casa Espírita

A Doutrina Espírita deve estar acessível a todos, sem distinção.

 E quando falamos que o seu acesso deve ser permitido e facilitado a todos estamos nos referindo também aos portadores de necessidades especiais que, diga-se de passagem, não são poucos em nosso país.

Estima-se que temos em território nacional  mais de 20 milhões de pessoas portadoras de necessidades especiais.

 No entanto, alguns estudiosos no assunto, como, por exemplo, o especialista em esportes adaptados para deficientes físicos, Steven Dubner, afirma que são mais de 30 milhões de pessoas no Brasil portadoras de necessidades especiais.

Diante deste número expressivo e em face da importância do que podemos aqui chamar de inclusão espírita, se faz imperioso um olhar atencioso por parte do dirigente espírita para com este público, incluindo-o nas atividades desenvolvidas pela Casa Espírita.

Facilitar, portanto, o acesso dos portadores de necessidades especiais ao centro espírita, à informação espírita e, naturalmente, à Doutrina Espírita é tarefa das mais urgentes e que não pode ser desprezada.

Por isso, sugiro que nós espíritas pensemos com carinho na estrutura de nossos centros espíritas, fazendo algumas reflexões.
Será que estamos preparados para receber os portadores de necessidades especiais? Nosso centro possui rampas de acesso, banheiros adaptados etc.?

Outro ponto que é importante destacar refere-se aos deficientes visuais e auditivos. Devemos pensar neles também.

 Uma sugestão para o caso dos deficientes auditivos é qualificarmos nossos trabalhadores para oferecer palestras em LIBRAS, a linguagem brasileira de sinais. 

Por que não?

No caso dos deficientes visuais devemos trabalhar de forma mais ativa a confecção de livros em Braille, por exemplo.

São apenas sugestões, podemos, no entanto, debater mais para que cheguemos a um denominador comum.
Se nossa Constituição é clara em afirmar que todo cidadão tem direito à saúde, educação, habitação, lazer, trabalho etc., não é menos verdade que este mesmo cidadão deve ter seu acesso facilitado à informação espírita. Porém, cabe a nós espíritas proporcionar ao cidadão este direito.

Questão, portanto, de trabalharmos a cidadania dentro do centro espírita, conversando com nossos companheiros, buscando alternativas e mostrando os imperativos da inclusão, ou poderíamos chamar de não exclusão. Afinal, uma doutrina democrática como a espírita não pode nem deve oferecer qualquer empecilho ao seu conhecimento.

Obviamente que é um assunto longo e não se tem aqui a pretensão de esgotá-lo, porém, a ideia é trazer à baila o tema para que possamos estudá-lo e assim proporcionar ao público em geral aquilo que convencionamos chamar aqui de inclusão espírita.

Pensemos nisto.

Wellington Balbo - O Consolador

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


                                  MENSAGEM AO JOVEM

Que Deus abençoe a juventude!

Os jovens são as primeiras luzes do amanhecer do futuro.

Cuidar de os preservar para os graves compromissos que lhes estão destinados constitui o inadiável desafio da educação.

Criar-se condições apropriadas para o seu desenvolvimento intelecto-moral e espiritual, é o dever da geração moderna, de modo que venham a dispor dos recursos valiosos para o desempenho dos deveres para os quais renasceram.

Os jovens de hoje são, portanto, a sociedade de amanhã, e essa, evidentemente, se apresentará portadora dos tesouros que lhes sejam propiciados desde hoje para a vitória desses nautas do porvir.

Numa sociedade permissiva e utilitarista como esta vigoram os convites para a luxúria, o consumismo, a excentricidade irresponsáveis.

Enquanto as esquinas do prazer multiplicam-se em toda parte, a austeridade moral banaliza-se a soldo das situações e circunstâncias reprocháveis que lhes são oferecidas como objetivos a alcançar.

À medida que a promiscuidade torna-se a palavra de ordem, os corpos jovens, ávidos de prazer, afogam-se no pântano do gozo para o qual ainda não dispõem das resistências morais e do discernimento emocional.

Os apelos a que se encontram expostos desgastam-nos antes do amadurecimento psicológico para os enfrentamentos, dando lugar, primeiro, à contaminação morbosa para a larga consumpção da existência desperdiçada.

Todo jovem anseia por um lugar ao Sol, a fim de alcançar o que supõe ser a felicidade.

Informados equivocadamente sobre o que é ser feliz, ora por castrações religiosas, familiares, sociológicas, outras vezes, liberados excessivamente, não sabem eleger o comportamento que pode proporcionar a plenitude, derrapando em comportamentos infelizes…

Na fase juvenil o organismo explode de energia que deverá ser canalizada para o estudo, as disciplinas morais, os exercícios de equilíbrio, a fim de que se transforme em vigor capaz de resistir a todas as vicissitudes do processo evolutivo.

Não é fácil manter-se jovem e saudável num grupo social pervertido e sem sentido ou objetivo dignificante…

Não desistam os jovens de reivindicar os seus direitos de cidadania, de clamar pela justiça social, de insistir pelos recursos que lhes são destinados pela Vida.

Direcionando o pensamento para a harmonia, embora os desastres de vário porte que acontecem continuamente, trabalhar pela preservação da paz, do apoio aos fracos e oprimidos, aos esfaimados e enfermos, às crianças e às mulheres, aos idosos e aos párias e excluídos dos círculos da hipocrisia, é um programa desafiador que aguarda a ação vigorosa.

Buscar a autenticidade e o sentido da existência é parte fundamental do seu compromisso de desenvolvimento ético.

A juventude orgânica do ser humano, embora seja a mais longa do reino animal, é de breve curso, porquanto logo se esboçam as características de adulto quando os efeitos já se apresentam.

É verdade que este é o mundo de angústias que as gerações passadas, estruturadas em guerras e privilégios para uns em detrimento de outros, quando o idealismo ancestral cedeu lugar ao niilismo aniquilador e a força do poder predominava, edificaram como os ideais de vida para a Humanidade.

É hora de refazer e de recompor.

O tempo urge no relógio da evolução humana.

Escrevendo a Timóteo, seu discípulo amado, o apóstolo Paulo exortava-o a ser sóbrio em todas as coisas, suportar os sofrimentos, a fazer a obra dum evangelista, a desempenhar bem o teu ministério. (*)

Juventude formosa e sonhadora!

Tudo quanto contemples em forma de corrupção, de degradação, de miséria, é a herança maléfica da insensatez e da crueldade.

Necessário que pares na correria alucinada pelos tóxicos da ilusão e reflexiones, pois que estes são os teus dias de preparação, a fim de que não repitas, mais tarde, tudo quanto agora censuras ou te permites em fuga emocional, evitando o enfrentamento indispensável ao triunfo pessoal.

O alvorecer borda de cores a noite sombria na qual se homiziam o crime e a sordidez.

Faze luz desde agora, não te comprometendo com o mal, não te asfixiando nos vapores que embriagam os sentidos e vilipendiam o ser.

És o amanhecer!

Indispensável clarear todas as sombras com a soberana luz do amor e caminhar com segurança na direção do dia pleno.

Não te permitas corromper pelos astutos triunfadores de um dia. Eles já foram jovens e enfermaram muito cedo, enquanto desfrutas do conhecimento saudável da vida condigna.

Apontando o caminho a um jovem rico que O interrogou como conseguir o Reino dos Céus, Jesus respondeu com firmeza: - 

Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos Céus, depois vem e segue-me...(1) iniciando o esforço agora.
Não há outra alternativa a seguir.

Vende ao amor as tuas forças e segue o Mestre Incomparável hoje, porque amanhã, possivelmente, será tarde demais.
Hoje é o teu dia.

Avança!

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da
noite de 22 de julho de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em
Salvador, Bahia, data da chegada do Papa Francisco ao Brasil, para
iniciar a 28ª Jornada Mundial da Juventude.

Em 27.8.2013.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Educar pelo exemplo
 

- Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?

“Encarnando-se com o fim de aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível, durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação.” (Questão 383 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Ensinar teoricamente, fazendo uso de conceitos e palavras, tem, sim, grande valor e importância no campo educacional das crianças, mas exemplificar é fundamental.

Recebendo, essa geração infantil, a quantidade de conhecimentos diários que estão à disposição dela, concluímos, sem sombra de dúvida, que a mente e o raciocínio desses pequenos trabalham numa velocidade espantosa, ampliando, pelo exercício contínuo, a capacidade de armazenamento de informações.

Assim nos deparamos quotidianamente com um público infantil que nos surpreende a cada instante, desafiando os nossos mais sofisticados e atuais métodos de educação. Tal situação nos remete a profundas reflexões, buscando encontrar os caminhos mais adequados e seguros, visando direcionar a vida pelas veredas do que é correto e ideal.

Não temos qualquer dúvida de que os Espíritos retornam ao palco da Terra, em seguidas reencarnações, com a proposta de realizar progresso e aprimoramento. Dessa forma, aos pais ou responsáveis cabe uma quota enorme de responsabilidade ao receber, sob sua guarda, as crianças que Deus lhes confia.

Surgem em forma infantil para que, no período da infância, possam receber as correções de que necessitam, uma vez que na postura adulta dificilmente aceitariam quaisquer mudanças em suas vidas. Sendo Espíritos buscando por evolução, é claro que ainda carregam consigo uma imensa gama de defeitos e imperfeições, que esperam diminuir através da educação que os adultos têm o dever e a obrigação de lhes oferecer.

Plenamente consciente dessa insofismável realidade, incontestavelmente, o exemplo digno, sublime e moralizado é a maior ferramenta à disposição dos adultos que realmente amam e desejam corretamente educar as crianças que estão sob as suas responsabilidades.

Vale pouco falar da necessidade do respeito ao próximo se em nossas atitudes diárias mostramos o contrário. Fica sem valor a nossa palavra de reprimenda ao filho por ter agredido a um colega de classe se no trânsito mostramos irritabilidade e intolerância e em casa deixamos claro a nossa revolta e incompreensão ante qualquer situação que nos desagradou.

Nossas palavras ficam vazias e sem fundamento quando informamos aos nossos filhos os malefícios decorrentes do uso do álcool, fumo ou de outras substâncias tóxicas se eles nos veem fumando e bebendo, mesmo que sob o disfarce de o fazer socialmente.

As crianças aprenderão que as coisas materiais deverão ser adquiridas com os recursos financeiros obtidos pelo trabalho honesto e digno, quando identificam os adultos, principalmente os pais ou responsáveis diretos, laborando com perseverança quotidianamente.

Falar é importante, exemplificar é indispensável.

Quando a providência divina coloca uma criança sob os nossos cuidados e guarda, expressa imensa confiança em nosso potencial, esperando que tudo façamos para que esse Espírito reencarnante, cheio de esperança e novos ideais, realmente concretize seus sonhos e projetos de redenção e aprimoramento, pelos novos caminhos do mundo.

Falir nessa gigantesca e valiosa tarefa, por certo será plantar uma lavoura de decepções cuja colheita de sofrimentos será farta.

A infância, a adolescência e a juventude refletirão, inapelavelmente, aquilo que nós adultos a elas oferecermos.

Reflitamos...  

O  Consolador - Waldenir Aparecido Cuin


sábado, 1 de fevereiro de 2014

                                    A MULTA MAIOR
O recinto do tribunal estava lotado, não tanto pela importância dos crimes que seriam julgados, mas pela presença do prefeito de Nova Iorque, La Guardiã. 

Costumava, nessas ocasiões, julgar casos policiais simples, com decisões que ficavam famosas pelo seu conteúdo de sabedoria e originalidade.

Um dos acusados fora pilhado em flagrante, roubando pão em movimentada padaria. 

O homem inspirava compaixão: muito magro, barba por fazer, roupas em desalinho – era a própria imagem da miséria!

La Guardiã submeteu-o, solene, ao interrogatório, consultou as testemunhas e, após rápida apreciação, considerou-o culpado, aplicando-lhe a multa de cinqüenta dólares. A alternativa seria a prisão.

 Em seguida, dirigindo-se à pequena multidão que acompanhava, atenta, o julgamento, disse, peremptório:

– Quanto aos senhores, estão todos condenados a pagar meio dólar cada um, importância que servirá para liquidar o débito do réu, restituindo-lhe a liberdade.

E ante a estupefação geral, acentuou:

– Estão multados por viverem numa cidade onde um homem é obrigado a roubar pão para matar a fome!

***
Todos nós, habitantes de qualquer cidade do Mundo, estamos sujeitos a uma multa muito mais severa, a uma sanção muito mais grave – a frustração dos anseios de felicidade, os desajustes intermináveis, as crises de angustia – por vivermos num planeta onde as palavras fraternidade, bondade, solidariedade, compaixão, caridade, são enunciadas como virtudes raras, quando são apenas elementares deveres de convivência social, de observância indispensável ao equilíbrio de qualquer sociedade.

Dizem os Espíritos Superiores que a felicidade do Céu é socorrer a infelicidade da Terra.

Diríamos que somente na medida em que estivermos dispostos a socorrer a infelicidade da Terra é que estaremos a caminho da felicidade do Céu.

Não há alternativa. 

Podemos nos isolar da multidão aflita e sofredora, mas jamais estaremos bem, porquanto a infelicidade é o clima crônico dos que se fecham em si mesmos.

Mãos servindo, mãos trabalhando em benefício do próximo, são antenas que estendemos para a sintonia com as fontes da Vida e a captação das bênçãos de Deus!


Livro "Atravessando a Rua"


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014


                                             O SANTO CASAMENTEIRO

A jovem era devota de Antônio de Pádua.
Orava, genuflexa, diariamente, reiterando rogativa;

– Abençoa meus familiares, dá-lhes saúde e paz. Quanto a mim, santo querido, peço seus préstimos, ajudando-me a encontrar um companheiro, um bom rapaz que realize meu sonhos de um lar feliz, abençoado por muitos filhos…

A família até que ia bem, certamente amparada pelo santo…
Quanto ao casamento, nada feito. Ele parecia fazer ouvidos moucos.

Entrava ano, saía ano, e nada de aparecer o príncipe encantado.

Já quase conformada em ser “titia”, viu-se, certa feita, em sonho, diante do grande pregador do Evangelho.
Sem vacilar, cobrou-lhe resposta às reiteradas solicitações.

– Meu santo, tenho feito tudo para merecer suas graças, arranjando-me um companheiro, conforme sua especialidade. Guardo recato. Pouco saio, fugindo às tentações. Só vou à igreja… Comungo diariamente, acendo velas em sua homenagem, repito o rosário duzentas vezes, rogo ardentemente… O que está faltando?

O santo sorriu:

– Minha filha, tenho procurado ajudá-la, mas está difícil, porquanto depende de você. Participe da vida social, freqüente uma escola, integre-se em serviços comunitários, amplie seu círculo de relações… Dê uma chance ao amor!

André Luiz faz interessante observação, em Ação e Reação, psicografia de Chico Xavier:
Deus ajuda as criaturas por intermédio das criaturas.

Sempre há Espíritos dispostos a atender nossas rogativas, quando orientadas pelo coração, em empenho contrito de comunhão com a Espiritualidade.

Podemos dirigi-las a Deus, a Jesus, aos santos, aos guias, protetores, aos anjos, de acordo com nossas convicções religiosas.

Os santos autênticos, Espíritos iluminados que passaram pela Terra, como Francisco de Assis, Antonio de Pádua, Tereza D’Ávila, Maria de Nazaré, Simão Pedro, não têm condições para atender, pessoalmente, às multidões que os procuram, em milhões de preces a eles dirigidas, diariamente.

Para tanto, contam com enorme contingente de auxiliares, que em seu nome ajudam os fiéis.

O mesmo acontece na área espírita, com veneráveis entidades, como Bezerra de Menezes, Eurípides Barsanulfo, Cairbar Schutel, Batuíra e, hoje, o nosso querido Chico Xavier.

Em nível mais modesto, há familiares, amigos e mentores desencarnados, que atentam às nossas rogativas, a partir de singelas iniciativas.
Jamais estaremos desamparados.
Contamos, invariavelmente, com o amparo das criaturas de Deus que, em nome do Criador desenvolvem iniciativas que visam nosso bem-estar.

Ficaríamos surpreendidos se tivéssemos consciência do permanente empenho de nossos amigos espirituais, buscando ajudar-nos a aproveitar as oportunidades de edificação da jornada humana.

E o fazem por amor ao Bem, como é próprio dos Espíritos que vivenciam em plenitude as leis divinas, conscientes de que a felicidade do Céu está em socorrer as necessidades da Terra.

Não obstante, é preciso atentar a um detalhe quando rogamos auxílio aos benfeitores espirituais.

Eles não são babás, chamados a cuidar de marmanjos.

Sua função primordial é nos inspirar a fazer o melhor.
Mostram caminhos.

A iniciativa de caminhar é nossa.

É preciso sair a campo, lutar pelo ideal, trabalhar pela realização de nossos sonhos, para que não nos situemos como a jovem que estava ficando para titia, por fechar-se numa redoma, sem acesso para o “príncipe encantado”.


Do Livro Abaixo a Depressão.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014



                                    NOVO HORIZONTE

O Universo é criação de Deus.
Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais.

Desde que começou a olhar o céu e a contemplar as estrelas, o Homem sonha devassar os mistérios do Universo.

Quando e como tudo começou?
Durante séculos, particularmente na Idade Média, em tempos de obscurantismo, prevaleceram teorias religiosas inspiradas na mitologia.
A razão cedera lugar à fantasia.

Os conceitos bíblicos, base do pensamento religioso ocidental, sugeriam que Deus criou o Universo em seis dias, incluindo o primeiro casal: Adão, a partir do barro, e Eva, de uma costela que lhe foi subtraída.

Essa situação prevaleceu praticamente até o século XVII, quando a Ciência começou a livrar-se das amarras impostas pela teologia atrelada ao poder temporal, acelerando paulatinamente seu desenvolvimento, até atingir as culminâncias atuais.

Modernas pesquisas científicas demonstram que o Universo é muito mais velho do que sugere a cronologia bíblica, que situa o início de tudo há aproximadamente quatro mil anos.

***
Uma das dificuldades da Astronomia, base dos estudos sobre as estruturas do Universo, é a distorção imposta pela atmosfera, um manto etéreo que envolve a Terra, algo semelhante a observar uma árvore do fundo de uma piscina.

Essa limitação foi superada pelo telescópio Hubble, prodígio da moderna tecnologia, colocado em órbita terrestre, acima da atmosfera. Controlado por poderosos computadores, fotografa astros que estão a bilhões de anos-luz da Terra, o que significa que o Universo tem no mínimo essa idade.

O leitor não familiarizado com o assunto certamente questionará o que tem a luz das estrelas a ver com a idade do Universo.

Simples:
A visão é um fenômeno luminoso.
A luz reflete-se no ambiente, conduzindo imagens luminosas que são captadas pelos olhos e decodificadas pelo cérebro.
É por isso que sem luz não há visão.

Assim, quando olhamos as estrelas, estamos contemplando o passado. Se fotografarmos uma situada a cinco mil anos-luz a foto registrará a imagem luminosa que viajou 50 séculos, à espantosa velocidade da luz (trezentos mil quilômetros por segundo) para nos dar notícia de sua existência, onde estava e como era há cinco milênios.

Talvez nem mais exista, já que as estrelas, como os seres humanos, também morrem. Fachos celestes, apagam-se lentamente, à medida que se esgota a energia que consomem.

É o que ocorrerá com o nosso Sol.
Não se preocupe, leitor amigo.
Levará alguns bilhões de anos.
Até lá descobriremos outro lugar para morar, em planos etéreos, superado o ciclo das reencarnações terrestres.
Fácil concluir, levando-se em consideração como funciona a visão, que qualquer estrela observada indica que o Universo tem pelo menos a idade correspondente ao tempo que a luz emitida leva para nos trazer sua imagem.

***
Desde as primeiras décadas deste século inúmeras teorias foram desenvolvidas, tentando-se explicar a origem de tudo.

A mais consistente, com evidências científicas, é a do big-bang.
Há perto de quinze bilhões de anos, teria ocorrido uma grande concentração de energia em determinada região do Cosmos. Atingido um ponto de saturação, houve a grande explosão, mais exatamente uma imensa expansão de energia que, condensando-se, deu origem à matéria, produzindo as nebulosas, nuvens de gases, berço das galáxias, que são imensos aglomerados estelares.

Aparelhos de grande precisão demonstram que as galáxias estão se expandindo, como que obedecendo ao impulso de uma grande explosão.
Daí o big-bang.

***
Com relação aos seres vivos, sabe-se hoje que tudo começou a partir de organismos extremamente simples, unicelulares, após o esfriamento da crosta terrestre.
Submetidos a sofisticados mecanismos evolutivos, lentamente desenvolveram-se, multiplicaram-se, diversificaram-se, em incontáveis espécies, num período de bilhões de anos, até atingir a complexidade necessária ao aparecimento do Homem.
O ser pensante é o ápice da evolução biológica.

Quando essa teoria foi lançada por Charles Darwin, biólogo inglês, em 1859, na Inglaterra, causou furor.
Houve reações violentas das religiões de um modo geral, contra aquele inglês alucinado e atrevido, que pretendia destruir a Bíblia, situando o ser humano como mero parente dos macacos.

Mas, assim como aconteceu em relação aos avanços da cosmologia, a ciência inexorável acabou confirmando que Darwin estava certo.
Hoje, em qualquer curso secundário a Teoria da Evolução é apresentada como lei natural demonstrada e comprovada.

E mais – há provas científicas hoje de que o Homem surgiu na Terra há pelo menos um milhão de anos, bem antes do que sugere a Bíblia.

***
O grande temor do pensamento religioso conservador é de que os avanços científicos acabem por eliminar a idéia de Deus, impondo uma concepção materialista.
O Espiritismo nos ensina que não devemos temer a Ciência. Não obstante seus desvios, ela é de inspiração divina.

Embora separadas no estágio atual, Ciência e Religião caminham em linhas paralelas que fatalmente se encontrarão, quando os religiosos forem mais racionais e os cientistas menos pretensiosos.

E há perguntas que a Ciência jamais conseguirá responder, enquanto não aceitar a existência de um Criador.
Admita-se que o Universo começou a partir de uma grande concentração de energia que deu origem ao big-bang.
E daí? Quem produziu essa energia? Quem instituiu as leis que regem a matéria?
A matéria, normalmente entrópica – tende à desordem –, organiza-se, favorecendo o aparecimento da vida, que se multiplica e se desenvolve, até produzir um ser capaz de exercitar a razão.

Quem a programou para isso?

Na criação da matéria, na sustentação das leis naturais e na perfectibilidade dos seres vivos, forçosamente há um idealizador, um planejador e executor.
O cientista, irracionalmente, fantasiará – acaso.
O religioso, inteligentemente, equacionará – Deus.

***
Pessoas há que, olhando as misérias humanas, as injustiças sociais, a confusão do Mundo, questionam:
– Se Deus existisse, justo e sábio como o exaltam, nada disso deveria acontecer.
É que na Terra enxergamos precariamente.
Observamos detalhes do programa divino, sem uma visão abrangente e objetiva.
Se abrirmos um ovo choco ficaremos nauseados com aquela massa disforme, sanguinolenta, e o odor fétido.

Mas, se esperarmos alguns dias e deixarmos a Natureza seguir seu curso, veremos um dos fenômenos mais belos da Vida:
A casca do ovo será rompida de dentro para fora e surgirá adorável pintainho.
O mesmo acontece com os homens, nesta incubadora divina que é a Terra.
Habitantes de Mundos mais evoluídos que nos visitem, ficarão horrorizados com os resquícios de animalidade que prevalecem em nosso comportamento, sustentando a confusão das coletividades e o sofrimento das pessoas.
Todavia, trata-se de mera contingência.

Criados para a angelitude, estamos “em gestação”, às voltas com os complexos mecanismos de nossa evolução.
Um dia, daqui a milhares de anos, quando a Humanidade houver completado sua formação espiritual, superando a animalidade, “nasceremos” finalmente, cumprindo gloriosa destinação, rumo à angelitude.

***
Se você, leitor amigo, situa-se entre as pessoas infelizes, doentes, deprimidas, desorientadas, que procuram alívio no Espiritismo, talvez possam parecer-lhe ociosas, distantes de seu interesse e de suas necessidades, essas informações relacionadas com o Universo e a Vida.

Gostaria, talvez, que tudo fosse mais simples e direto. Que pudesse conquistar a paz na Terra e as bem-aventuranças no Céu, efetuando contribuições para os serviços religiosos ou submetendo-se a ritos e rezas.

A Doutrina Espírita ensina diferente.

Males variados que nos afligem são decorrentes de nossas imperfeições e mazelas.
Por isso, para superá-los é preciso alargar os horizontes de nosso entendimento, definindo por que estamos usando um escafandro de carne, mergulhados na matéria densa.
Consideremos, nesse aprendizado, algo fundamental:
O nascer da Humanidade para as glórias da Criação poderá levar milênios, com a promoção de nosso planeta na sociedade dos Mundos.

Não obstante, individualmente, podemos nascer desde a presente encarnação, a partir de três iniciativas fundamentais:

O estudo, buscando uma visão objetiva do Universo e da Vida.
A reflexão, o empenho de fazer repercutir o conhecimento em nosso comportamento, procurando padrões mais nobres, mais espiritualizados.

A prática do Bem, em todos os momentos de nosso dia, na vivência do sagrado princípio evangélico, enunciado por Jesus, registrado por Mateus (capítulo V), que resume a Lei e os Profetas, segundo o Mestre, isto é, resume todo o conhecimento passível de nos realizar como filhos de Deus:

Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles.


Livro Espiritismo, uma Nova Era