sábado, 4 de abril de 2015

                         AH, UM JARDIM
        


Minha avó avisava que quando uma mulher se sentisse triste a melhor coisa que podia fazer era atravessar um bosque habitado por velhas árvores, e para lhes transmitir, durante o trajeto, esse estado emocional sombrio. 

Ademais, dizia, durante a noite, enquanto as pessoas repousam, essa matéria escura, que foi de maneira gentil pelas árvores absorvidas, adentrará finalmente a terra para lhe servir de generoso adubo.

Mas no caso de ausência de bosque, deveria ter cuidado a mulher para que a tristeza não se apossasse de sua cabeça, porque iria impregnar sem piedade as suas ideias ou mesmo escorregar para a boca, intoxicar suas palavras, tornando feio ou denso o seu discurso cotidiano.

Mas pior ainda se a tristeza migrasse para suas mãos, pois sem-vergonha atingiria a comida, deixando-a pobre ou, por descuido, insossa e indigesta. 

Grave também seria se a tristeza, perante uma mulher desprevenida, permitisse que tempo suficiente lhe fosse arranjado para se alojar no campo fecundo do coração, furtando-lhe para sempre o sal de cada dia. 

Melhor seria, ela dizia, na hipótese de uma tristeza densa, se a mulher pudesse cultivar um jardim:

Quando você ficar reiteradamente triste, decida-se por cultivar com muito cuidado e atenção o seu jardim. 

Diariamente, por uns instantes, caminhe entre as plantas, observe-as com delicadeza, sinta o cheiro das benditas flores. 

Respire sem pressa, contemple a matéria invisível do vento, pois ele, por si só, sem modéstia, arrastará para longe essa descabida tristeza, cuja natureza fria, que destoa do destino de um jardim, faz o coração estalante e seco, a vida insincera e vazia“.

Hoje em dia, quando percebo mulheres tristes, mulheres que vivem nas grandes cidades, o mistério tão esquecido, distantes dos bosques e das velhas árvores, pressinto que elas podem se apoiar em árvores crescidas nas ruas, nas praças, ou, na falta disso, modestamente escolher cultivar, com amor e coragem, flores na varanda do apartamento.

Tenho uma amiga que mora em São Paulo. Contou-me que nos últimos tempos se sentia invadida por uma tristeza resiliente, que a fitava, o indiferente olhar de um moribundo, e começou a intuir uma casa com cheiro de mato. 

Não teve dúvidas, correu atrás e se decidiu por um mini jardim vertical, cheio de liberdade para ervas e temperos. 

Ao terminar sozinha o projeto, queria ainda a todo custo uma árvore que tanto amava desde a infância: socorreu-se em uma miniatura e hoje, o vaso com romãzeira, dá uma flor linda, revigorando de encanto e alegria, bem no fundo, os habitantes da casa.

EUGÊNIA PICKINA - O Consolador