Caridade
com meias sujas
Aconteceu numa casa espírita do Estado do Rio de Janeiro. Um frequentador chegou com uma sacola de roupas infantis para serem doadas.
Entre as roupas, e
em evidência, um par de meias sujas. Tão em evidência que foram notadas pelo
voluntário da casa espírita assim que a sacola passou para a mão dele.
De início, a vontade desse colaborador foi chorar. De
tristeza. Afinal, o bom senso recomenda que não se deve fazer caridade com
meias sujas. Por falar nisso, o que é caridade?
Não há (e nem sei se houve um dia), no currículo
escolar brasileiro, uma disciplina chamada etimologia. E o que é etimologia? É
a ciência que estuda de onde vêm as palavras, mostrando como são formadas e o
que significam.
Caridade não deixa de ser sinônimo de amor. Os
teólogos cristãos empregam, de forma distinta, duas palavras para o amor. Eros
(deus grego do amor) é o amor carnal; ágape (banquete fraterno do início da era
cristã), o amor espiritual.
Pois bem, o amor ágape, que é o amor da reunião, do
estar junto de forma fraterna, dividindo tudo com prazer, é traduzido na língua
portuguesa por caridade, palavra derivada do latim, caritas, que
significa grande amor.
O apóstolo Paulo, em Coríntios, cap. 13, versículos 1
a 3, diz:
- Ainda que eu falasse as línguas dos homens e
dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como o
sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios,
e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até o ponto de transportar
montes, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuísse todos os meus
bens em o sustento dos pobres, e se entregasse o meu corpo para ser queimado,
se todavia não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.
Em suma, se eu não tiver o amor em forma de movimento,
amor fraterno que compartilha tudo de forma prazerosa, nada serei.
Eis por que Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”,
nomeia a última Lei Moral como Lei de Justiça, Amor e Caridade.
Amor é a força
que rege o universo, que vitaliza. Justiça é o amor que corrige, educa e leva ao
amadurecimento.
Caridade é o amor dinamizado, é a prática pela qual deixamos
fluir o amor, seja na forma de bondade, compaixão... Basta consultar a questão
886 da obra citada.
Está lá: “Caridade, segundo Jesus, não se restringe somente
à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, sejam eles
nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores”.
Por que tantas definições e explicações?
Para dizer
que doar meias sujas a pessoas carentes não é fazer caridade. Se a caridade
abrange todas as relações com os nossos semelhantes, devemos dar a quem precisa
roupas e objetos que façam o necessitado se sentir valorizado, nunca
inferiorizado ou humilhado.
Amigos meus de outras religiões já me contaram da
quantidade de quinquilharias que recebem de doação para encaminhamento aos
socialmente carentes: móveis quebrados, roupas sujas e rasgadas, remédios e
mantimentos fora do prazo de validade, livros despencados... No meio espírita
acontece a mesma coisa. Infelizmente, muitas pessoas não conhecem nem praticam
o real significado da palavra caridade. Se conhecessem, não tirariam do armário
as tralhas para serem doadas.
Caridade nunca será sinônimo de dar qualquer coisa aos
pobres. São pobres, não é mesmo? Então, qualquer bugiganga serve?
Nada disso!
Caridade
é doar com prazer tudo que estiver em bom estado, na certeza de que o
necessitado que receber a doação fará bom uso dela, igualando, dessa forma, na
mesma vibração de amor, quem a doou e quem a recebeu.
Bibliografia:
1 - MOLLO, Elio. Amor e Caridade. É Bom
Saber Quem é Quem.
Marcelo Teixeira – O Consolador