ESTUDAR NUNCA É DEMAIS
Em reunião de planejamento das atividades do Centro Espírita, debatia-se o que
fazer em data comemorativa, quando surgiu a ideia de realização de um evento
com interação entre os participantes, levantamento de dúvidas sobre determinado
tema, e um painel com expositores convidados para fazer os esclarecimentos
necessários, ou seja, seria um seminário dinâmico e enriquecedor.
Foi então que
o dirigente contrapôs: “Já estudamos tanto aqui em nossa casa, que, se é para
fazer um evento doutrinário, é melhor simplesmente dar continuidade à
programação de estudos”, e assim propôs a realização de um evento mais festivo,
o que foi, afinal, aceito.
Mas, perguntamos, será que estudamos tanto assim no
Centro Espírita?
E o estudo da doutrina espírita não é o mais importante?
Há vários anos estamos à frente de grupos de estudo da
doutrina espírita, o chamado estudo sistematizado, e, embora sempre
incentivando, motivando, dinamizando a prática de ensino, verificamos que
apenas uma pequena parcela dos espíritas realmente estuda, pois invariavelmente
apenas 10% a 15% confessam ter lido sobre o tema, ou o capítulo específico do
livro, durante a semana que antecede o estudo.
É por esse motivo que
continuamos a encontrar no centro espírita conceitos errôneos e práticas
divergentes do Espiritismo.
Quando se fala em leitura espírita é fácil constatar que a
maioria prefere os romances, principalmente os mediúnicos, de origem
espiritual.
Nada contra os romances, mas existe muita água com açúcar, além de
obras com flagrantes erros doutrinários, e que as pessoas simplesmente não
detectam.
Isso acontece porque não gostam de estudar, não querem estudar,
abdicando do uso da razão, do raciocínio, do pensar, que somente o estudo
sério, metódico e profundo pode propiciar.
Perder oportunidade de
aprofundamento com a realização de debate, seminário, pinga-fogo e outras
atividades semelhantes, com a desculpa de que já estudamos muito no centro
espírita, é tapar o sol com a peneira, é manter a cegueira generalizada.
Não somos contra eventos festivos e confraternativos, mas
estes não podem se sobrepor ao estudo doutrinário. E temos que tomar cuidado na
inserção de músicas e atividades que podem servir muito bem em outros
ambientes, mas que não são necessariamente adequados ao ambiente do centro
espírita, ao ponto de se desconsiderar a imensa gama de conteúdo da literatura
espírita, das informações espirituais que nos chamam a atenção sobre o que
fazemos da vida e da própria casa espírita.
Estudar o Espiritismo nunca é demais, entendendo que o
estudo doutrinário não é sinônimo de rostos fechados aparentando seriedade, nem
falta de conversação por imposição de silêncio.
A atmosfera do centro espírita
deve refletir alegria saudável, companheirismo espontâneo, afetividade sincera,
inclusive nos grupos de estudo, o que deve acontecer o tempo todo.
É natural que o centro espírita tenha as suas datas
comemorativas, mas centro espírita não é clube festivo, onde atividades
lúdicas, música e outras coisas do gênero sejam prioridade. Podem, e devem, ser
complementos com utilização adequada, mas não o principal.
Descuidar do estudo doutrinário e da educação espírita, ou
não aproveitar todas as ocasiões para trabalhar seu aprofundamento, é
comprometer o objetivo maior do Espiritismo, ou seja, a transformação moral da
humanidade, como tão bem elucidado por Allan Kardec a partir das informações
prestadas pelos Espíritos Superiores.
É assim que um todo deve ser formado
pelas reuniões públicas de palestra, pelos grupos de estudo, pelos eventos
outros doutrinários (seminários etc.) e pela educação espírita da criança e do
jovem, prioridades do centro espírita.
Equivoca-se quem pensa que basta ao centro espírita uma
reunião pública semanal, um estudo do evangelho e o restante das atividades
dedicadas a: mediunidade, tratamento espiritual e serviço assistencial.
Também
incide em engano quem mantém rifas, festas juninas, shows e outros eventos da
espécie dentro das dependências do centro espírita, a pretexto de angariar
recursos financeiros para manter as atividades.
Temos um centro espírita,
célula de regeneração espiritual do homem e da humanidade, ou um clube espírita
para passatempo de despreocupados com a doutrina e com a vida?
Sempre que nos apresentar ocasião, seremos doutrinários,
como nos apontam, com o entendimento e o compromisso sério de aprofundar o
conhecimento sobre o Espiritismo e sua aplicação às diversas ciências, no
objetivo maior de fazer com que o ser humano transcenda a si mesmo para
conquista, o mais rápido possível, de sua perfeição moral, intelectual e
espiritual.
Marcus De Mario é:
Educador, Escritor e Consultor Educacional e Empresarial.
Colabora no Centro Espírita Humildade e Amor, da cidade do Rio de Janeiro. É
programador e apresentador na Rádio Rio de Janeiro, a emissora da fraternidade.