terça-feira, 23 de abril de 2013

Viver sem drogas

A palavra ”droga” em sua origem etimológica significa “mentira, embuste”, ou seja, aquele que usa drogas mente a si mesmo, pois se engana crendo se libertar de situações ou problemas. 


Caro leitor, como a droga chega até alguém? Vejamos o seguinte relato de uma jovem de 14 anos. “Eu vivia até a alguns meses atrás em outra cidade do estado de São Paulo, quando minha mãe (é filha de pais separados) resolveu se mudar para Tupã em razão de problemas na ordem familiar local, com nossos parentes... 

Em aqui chegando, minha mãe não conseguiu trabalho... Necessitando ir trabalhar em outra região, deixando-nos, a mim e a um irmão de 11 anos, sob os cuidados de uma família amiga... 

 Passamos a nos ver somente uma vez por mês, e nos comunicarmos por telefone, todas as semanas. Após esses acontecimentos, passei a ficar muito triste, com ideias muito estranhas de solidão e morte. 

 Eu não me sinto à vontade para conversar com a família que cuida de nós. Por algumas vezes eu já me embebedei com cerveja e vinho em fins de semanas, e tenho tido vontade de experimentar coisas diferentes.” 

 Neste momento do seu relato lhe perguntamos do que é que ela pensa em experimentar de diferente, sendo a sua resposta: “eu queria experimentar ‘drogas mais fortes’ que me fizessem esquecer essa minha vida ruim e triste”.  

Bem, querido leitor, esta narrativa basta para que possamos analisar aquilo que denominamos uma 

“porta de entrada para as drogas”.  

Em primeiro lugar analisemos o “momento existencial” desta jovem. Ela passa por transformações e mudanças que lhe pedem adaptações, quais sejam, mudou-se de cidade; o pai está ausente devido à separação conjugal; ela está morando com uma “família de amigos“ (mas que na verdade lhe são estranhos como familiares); passou a ter um grau de responsabilidade muito grande, pois necessita cuidar da casa e do irmão mais novo, que não lhe obedece, responsabilidades estas que não possuía até bem pouco tempo atrás.

 Não bastasse tais fatos, se encontra em um momento muito importante e difícil de sua vida: sua adolescência.   

Neste ponto podemos questionar o que é a adolescência? Resumidamente poderíamos dizer que ser adolescente significa: estar em um período da existência onde a carga de tendências, dos instintos, gostos, desejos, ideais, sentimentos, vícios e virtudes que o ser carrega consigo lhe ocasionará profundas transformações crescentes da personalidade, com mudanças bruscas de comportamentos e atitudes em seu caráter. 

Nestes momentos sua personalidade revela uma expansão das emoções, instabilidade emocional (ora alegre, ora triste, ora entusiasmado, ora desalentado), períodos de revolta, introspecção, meditação, exaltação, um imenso vigor físico e vitalidade das forças físicas e psíquicas, muito idealismo, e nesta fase inicia-se o despertar da sexualidade, provocando uma alteração brusca na maneira de ver e conduzir a própria vida.  

Veja, querido leitor, o momento existencial desta jovem de nossa história (verdadeira), que vive o seu mais importante e delicado momento, o que é normal em todo jovem adolescente, mas que neste caso não conta com o apoio e a presença da mãe, figura importante nas relações familiares e, com a ausência do pai, que poderia estar exercendo o papel peculiar de um pai. 

Como se encontra em estado de angústia e insegurança, com toda a sua realidade do momento, está procurando uma solução para sua vida e, não se deparando com soluções razoáveis, nem com a presença dos pais, buscou, através do ato de embebedar-se, “saídas” para seu sofrimento atual.

 Esse vazio produzido há que ser preenchido de algum modo. Como não dispõe ainda de maturidade, apela para “o combustível” denominado “droga”, com o fim de mitigar as ansiedades e angústias, geradas pelas frustrações afetivas e familiares, além da peculiaridade da adolescência que vivencia.  

Essa é, caro (a) leitor(a), “uma porta de entrada” para as drogas na vida dos jovens. 

No dizer de Kardec, a “a educação é o conjunto de hábitos adquiridos”, e Santo Agostinho fala-nos sobre a missão dos pais: “a tarefa é difícil, mas não impossível; não exige o saber do mundo; o ignorante como o sábio pode cumpri-la e o Espiritismo veio facilitá-la, dando a conhecer a causa das imperfeições do coração humano”. 

 Perguntamos: Como esta jovem suportará sua vida, sem a presença de um lar estruturado, com um mínimo de amor e equilíbrio? 

“A luta contra a droga deve estar baseada numa concepção ideológica que respeite a VIDA sobre todas as coisas. A VIDA, assim, com maiúscula e grifada, num conceito que abranja não só os seres humanos como também a natureza em geral e o meio ambiente. Como é importante uma família e, acima de tudo, organizada!”. 
 

Valci Silva, de Tupã (SP), é psicólogo especialista em dependência química. o CONSOLADOR