terça-feira, 9 de abril de 2013

 Quem não se comunica...

Há 152 anos a Doutrina Espírita vem consolidando a sua credibilidade no mundo, sobretudo porque as descobertas científicas têm caminhado, passo a passo, com muitas das verdades já há tanto propagadas por Kardec. 

Avançamos. Se ontem as pessoas corriam dos espíritas, hoje correm para nós, atrás de respostas que só “O Consolador” pode dar.

Mais que nunca, é preciso divulgar o Espiritismo. Mas divulgar não é empurrar material doutrinário goela abaixo. 

É antes de tudo comunicar-se, estabelecer empatia imediata com o receptor, despertar interesse inicial, contínuo e gradativo pelo material apresentado, é fazer-se entender e sentir.

 Assim, há que se ter uma abordagem minimamente adequada, para que se consiga tocar a alma e chegar à razão.

Neste ponto, faz-se urgente uma reflexão. Conseguiremos nós, espíritas, alcançar corações e mentes, em pleno século XXI, sem atualizar nossas formas de comunicação?

A pretexto de fidelidade doutrinária, campeia entre nós um linguajar monótono e obsoleto. Incrivelmente, ainda há quem acredite que ser fiel à codificação se resume à manutenção da linguagem utilizada pelo codificador no século retrasado ou, quando muito, à continuidade das mesmas formas de expressão utilizadas nas décadas de 40 a 60 – apogeu da produção mediúnica de Chico Xavier – causando a incômoda impressão de que estamos parados no tempo.

Outro dia, lendo o editorial de um periódico federativo, dei de cara com a palavra “efemérides” - entre outras expressões arcaicas que recheavam o texto - e fiquei a pensar que se a mim, que já passei dos cinquenta, soa estranho, imagine ao pessoal da nova geração!... 

Tendo que dar tratos à bola para decifrar o que significa tal “palavrão”, já praticamente extinto nos dias de hoje. Essas situações comprometem, de pronto, a continuidade da leitura, pois a chamada leva a pressupor – e com razão – um texto maçante.

Quem vai se interessar por matérias cujos termos remetem ao tempo dos nossos bisavós, o que – com todo o respeito que devemos aos nossos ascendentes – nada tem a ver com os anseios do momento presente?

Como podemos querer o aval da comunidade científico-tecnológica, se em plena era virtual ainda insistimos em chamar planeta de “orbe”, só porque Emmanuel, na década de 50 – quando esse termo ainda estava em uso – assim o fez? 

Se, rebuscadamente, nos referimos à sociedade “hodierna” – citada por Joanna de Ângelis – quando poderíamos simplesmente utilizar o termo “moderna”, de muito mais fácil compreensão? Passa da hora de aposentarmos os ósculos, amplexos, destras e outras expressões “jurássicas”. 


 Ou a gente acompanha os novos tempos ou vai ficando para trás, sob a pecha da alienação.

Não pretendemos aqui fazer a apologia das gírias, do modernismo inconsequente. 

Mesmo porque a palavra escrita ou falada na norma culta, dentro de uma relativa formalidade, é passaporte certo para a credibilidade.

 Mas precisamos repensar o nosso linguajar enquanto palestrantes e redatores espíritas, para que não nos escondamos numa espécie de dialeto esquisito que só leva à estagnação e ao isolamento. Se não devemos vulgarizar a palavra a pretexto de atingir a massa, tampouco devemos permanecer como se o tempo não tivesse passado para nós.

Se tudo o que mais almejamos é universalizar o conhecimento espírita, por que não utilizar uma linguagem mais coloquial e interessante? 

Desde que se tenha o zelo necessário para que não haja distorções no conteúdo doutrinário, por que não adaptar textos antigos para uma linguagem moderna, facilitando assim o seu entendimento às novas gerações e àqueles que têm maior limitação intelectual?

Alguns companheiros são resistentes às adaptações, por entender que a manutenção de termos difíceis provoca um enriquecimento da linguagem.

 Mas, imaginemos alguém, ainda engatinhando no conhecimento espírita, que, buscando consolo num momento de dor, se depara com uma linda e consoladora mensagem, porém, cheia de termos rebuscados, que exijam o uso do dicionário.

 Esta interrupção certamente esvaziará o impacto emocional do conteúdo, esfriando o coração do leitor ante a necessidade de parar e buscar tantos sinônimos. Emoção cortada, alma frustrada, objetivo perdido.

O nosso compromisso é com a formação espiritual e não acadêmica. Embora tenhamos o dever de nos expressar elegantemente e estimular doutrinariamente o aprimoramento do saber, contribuindo assim – e muito – também para a intelectualização do ser, o que precisamos entender é que, definitivamente, trabalhar aquisição de vocabulário e erudição não é a nossa prioridade. 

Nossa prioridade é esclarecer e consolar, com vistas ao progresso moral dos seres, e ninguém esclarece ou consola sem usar de clareza e simplicidade. Portanto, didaticamente, simplifiquemos a nossa fala, a nossa escrita, façamos o nosso papel de facilitadores das verdades espirituais e deixemos às escolas do mundo o papel que lhes cabe.

Sob pena de perdermos o trem da história, há uma contradição que precisa ser vencida pelo movimento espírita. Uma doutrina evolucionista por princípio não pode e não deve ficar parada no tempo. 

Termos novos são criados a todo o momento para coisas novas. Termos antigos são substituídos a todo instante por outras nomenclaturas. Caminhamos, hoje, para uma democratização do conhecimento.

 O que antes era privilégio de uma casta intelectual, agora é direito de todos. Isto significa distribuição mais justa da informação e oportunidades igualitárias, correspondendo aos ideais de justiça e igualdade defendidos pelo Espiritismo. Então, não faz sentido uma elitização que só retarda a colheita dos frutos semeados.

O mundo gira, o progresso está aí, e a lei é de evolução em todos os sentidos. Descomplicar é a palavra de ordem para quem quer “colocar a candeia sobre o alqueire”. Não há mais espaço para termos antiquados, que soam até mesmo de forma ridícula a quem os lê.

 É inadiável escolher. Ou continuamos a bater na tecla de uma erudição exibicionista a fim de, aqui mesmo, receber o galardão, ou optamos pela pedagogia simples de Jesus, cujas parábolas demonstram estratégia impar para alcançar o interesse e o entendimento daquela população ainda tão rudimentar, quanto às verdades espirituais que veio trazer.

Nesse momento difícil de transição, em que milhares de irmãos nossos precisam, desesperadamente, estabelecer um link emocional e cognitivo imediato com as verdades consoladoras do Espiritismo, não há mais lugar para comportamentos arraigados a tradições pueris.

Deixemos fluir a simplicidade culta que nos fará fiéis articuladores da verdadeira divulgação, aquela que de fato acontece, que dá resultados palpáveis, pois fala simultaneamente ao cérebro e à sensibilidade. 

Só assim estaremos cumprindo efetivamente o papel de colaboradores do mundo invisível, junto ao aprimoramento moral contínuo da sociedade na qual estamos inseridos, aqui e agora. 

Coloquemos em prática, na íntegra, as recomendações contidas no cap. XII, item 10, do ESE, à página “O Homem no Mundo”, que nos chama à realidade temporal em que vivemos na Terra, ao conclamar: 

“Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens”.

E – há que se admitir – numa vida de inter-relação, respeito e comunicação fazem toda a diferença.

O consolador: Joanna Abranches