quinta-feira, 2 de julho de 2015

O tamanho das coisas

Por vezes, gastamos horas amuados, jururus, macambúzios e sorumbáticos, consumindo a nossa mente e as nossas horas em problemas corriqueiros, em coisas que não saíram como imaginávamos, em sonhos frustrados parcialmente.

 Iludidos ficamos, focados no ponto preto em meio a um grande quadro branco.

Nesse sentido, o poeta mato-grossense Manoel de Barros trata, em um de seus poemas, do tamanho das coisas, como no trecho a seguir:

“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. 

A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor.

 Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade”.

A beleza da poesia pantaneira nos serve de inspiração para refletirmos sobre de que forma lidamos com os problemas habituais em nossa vida... Probleminhas, quando é do outro.

 Problemões, quando são os nossos... 

Maximizamos os nossos obstáculos, pela sua “intimidade”, e minimizamos os problemas alheios, pelo nosso egoísmo.

Seguimos assim, nos lamuriando de nossas cruzes, sem enxergar os martirizados à nossa volta.

 Se o gramado do vizinho é mais verde, a nossa cruz certamente será mais pesada...

Os Espíritos não se cansam de nos avisar desta realidade, onde destacamos a historieta intitulada “Aflitíssima”, no Livro “Bem-aventurados os simples” (Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira), na qual a mulher se vê aflita com seus problemas, com questões comezinhas e busca o amparo de um dirigente espírita, que a consolava, ainda que não possuísse braços.


Na fieira das encarnações, avançamos diante de desafios inúmeros e a autocomiseração e o melindre não devem diminuir o nosso ritmo no enfrentamento dos problemas – chaves para a nossa evolução. 

O trabalho no bem, como terapia de múltiplas utilidades, também nos leva a conhecer outras realidades, de modo a mensurarmos, de forma mais realista, o “tamanho das coisas”, e percebermos que nossos fardos são leves, pelo acréscimo de misericórdia divina.

Falta-nos um sentido amplo da palavra otimismo, em um contexto no qual a doutrina espírita pode nos ajudar sobremaneira, a partir do momento que esta nos mostra uma visão ampla da existência, uma percepção concreta da eternidade, na qual tudo passa.

 E nos lembraremos desses fatos dolorosos apenas como uma lembrança alegre.

Necessitamos não só ampliar a visão em relação ao outro, mas também no que concerne à temporalidade.

 Para o Espiritismo a eternidade não é um dormir, em uma pseudoexistência, e sim uma sucedânea de vidas nas quais crescemos, aprendemos e superamos desafios e percebemos que a pequena luta de hoje se torna menor ainda amanhã.
Cabe registrar o dito n’O Evangelho segundo o Espiritismo, no seu Capítulo segundo: “Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem, uma breve permanência num país ingrato. 

As vicissitudes e as tribulações da vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz“.

O otimismo não se confunde com a inatividade de uma vida repousada apenas na vida espiritual ou na depressão de problemas insolúveis no plano terreno.

 Na visão espírita, o otimismo nos aponta uma lógica de oportunidades, de superação pelo perdão, pelo amor, pela reparação, atuando sobre os problemas que julgamos enormes, mas que são ínfimos nos portfólios de almas que lutam pela evolução na crosta terrestre.

Assim, pelo prisma da vida espiritual, diante de nossos problemas, analisemos sua dimensão frente aos nossos irmãos, em outros espaços, e a nossa própria existência, na multiplicidade das vidas sucessivas, e veremos que tudo é pequeno, mas não insignificante, indigno de nossa tristeza e merecedor de nossa atenção.

O ponto de vista espírita nos enche de otimismo, afastando a tristeza que nos invade o coração, mostrando o real tamanho das causas de nossas aflições e a medida certa que deve ser nossa atitude: 

tristes pela nossa humanidade, ativos pela nossa espiritualidade.

As coisas têm o tamanho que a ela atribuímos!

 Sem sermos desleixados pelo nosso egoísmo, sem sermos melindrados pelo nosso orgulho, devemos sopesar cada problema, lembrando a nossa condição de Espíritos imortais em evolução com outros irmãos de jornada.

Assim, com o olhar renovado, nivelamos a vida em alto astral, na lição de que o tempo despendido em lamentações tem melhor uso se convertido em trabalho.


Marcos Vinicius de Azevedo Braga....O Consolador.


sexta-feira, 26 de junho de 2015

                                            A PARTE QUE NOS TOCA

                    Dependemos uns dos outros no dia a dia

Nossa vinda para esse planeta é o resultado da imensa misericórdia divina. 

Tantos mundos para pisar; mas era aqui mesmo nosso destino nesse início. Início difícil, é verdade.

 Não conhecíamos o planeta e ele não nos conhecia. 

Entretanto, nossa destinação era certa: progredir em conhecimento e moralidade, em direção ao Pai, para sermos plenamente felizes.

É fácil e cômodo imaginar que aqui chegamos prontos e estamos hoje.

 Todavia, mesmo tomando a nós próprios como parâmetro, podemos perceber a imensa distância que existe ente mim e o outro, entre nós e os outros. 

Ainda que semelhantes - nunca iguais - fisicamente na constituição orgânica, guardamos na nossa história evolutiva, no caminho que percorremos para até aqui chegar, uma tão grande diferença que assustaria a mais brilhante inteligência que pretendesse nos nivelar.

O quando, o como e o porquê de estarmos sobre esse chão não poderemos saber, por ora, pois pertencem aos desígnios do Pai Celeste; mais precisamente ao resultado da aplicação de Suas sábias, justas e amorosas leis.

Cada ser humano é, em essência, um mundo particular. E esse mundo, na maioria das vezes, ignoramos, seja por incapacidade de entendê-lo, seja por medo do que encontrar se mergulharmos nele. 

Nos dois casos, queiramos ou não, esse encontro acontecerá, mais cedo ou mais tarde. É da nossa destinação. 

É a chave que nos abrirá a porta da liberdade, do autoconhecimento, como na Parábola do Filho Pródigo, tão necessários ao crescimento evolutivo e à conquista da plena felicidade.

No Templo de Delfos, na Grécia, o célebre filósofo Sócrates encontrou grafada a seguinte frase cunhada por seu sapientíssimo confrade Sólon:

 “conhece-te a ti mesmo”

Este conceito é tema recorrente das ciências humanas modernas na busca do bem-viver. 

Que longo caminho foi percorrido!... 

E ainda hoje não compreendemos ou não desejamos compreender o que verdadeiramente isso significa.


Somos análogos na estrutura orgânica, é verdade, mas muito longe da igualdade moral. 

Uns caminham mais rápidos, porque se fizeram mais fortes, determinados e corajosos, apesar das dificuldades que enfrentaram.

 Outros, a maioria, permanecem dormindo, aguardando o dia em que serão despertados e se verão felizes sem esforços e sem méritos.

 Ledo engano!...

O planeta que a todos acolhe também se modifica fisicamente. 

A humanidade que o habita mal se dá conta disso e continua depauperando-o. 

Junto com ele, essa população se renova todos os dias, trazendo novas gerações que, essencialmente, estarão mais despertas, mais conscientes da sua destinação, mais preparadas física, intelectual e moralmente para enfrentarem as novas dificuldades.

Assim como para nós as dificuldades eram grandes e os recursos poucos, as novas gerações enfrentarão outros desafios que nós, hoje, não conseguimos sequer perceber que existem. 

Mas, terá outro mundo, outras fontes de saber, outra ética.

Mais próximos do ama teu próximo como a ti mesmo, perceberão que toda Natureza – e o homem está incluído nela – é teu próximo.

Nosso dever, neste momento, é dar o máximo que pudermos, dentro das nossas limitações, as mínimas condições para que essa nova gente, que continua chegando, encontre, pelo menos, um planeta com menos lixo de toda ordem, de todos os quilates.

Não dá para fazer tudo de uma vez.

 Mas, jogar seu lixo na lixeira, ceder seu lugar no transporte público a quem necessite ou tenha direito preservado em lei, dirigir com respeito às normas de trânsito, guardar a ideia de que não é mais possível misturar o que é público com o privado, procurando lembrar que dependemos uns dos outros no dia a dia, e que é nessa troca que vamos nos fortalecendo para enfrentar com mais coragem os embates da vida, isso, sim, dá para fazer e pouco custa.

O outro, ainda que diferente, é nosso igual, pois irmanados em humanidade e filhos do mesmo Pai Criador.

 Estamos todos juntos nessa jornada de crescimento, aprendendo e ensinando, ajudando e sendo ajudados, pedindo e agradecendo a Deus, diariamente, a bendita oportunidade da vida. 

 

Leda Maria Flaborea – O Consolador

domingo, 14 de junho de 2015

      A VIDA NÃO CESSA E PROSSEGUE ALÉM-TÚMULO


Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei. Assim afirmam os que conhecem a vida e sabem como ela verdadeiramente é.

Pela porta do nascimento, o lar enche-se de alegria, pois é mais uma vida que está chegando para juntar-se aos outros da casa. 

Quando se acrescenta, não há tristeza. 

A expectativa explode em risos, festas e presentes, quando o primeiro choro é ouvido. 

É uma presença que ainda não era contada entre os vivos da Terra.

Entretanto, quando esse portal se abre para dar passagem aos caminhos da morte, o lar se enche de dor, de angústia, de incertezas. 

É a partida de um ser que estava integrado à família; é a ausência de alguém que não será mais visto entre nós, de alguém que nos ouvia, nos ensinava, participava conosco os momentos de cada dia ou conosco dividia alegrias e tristezas.

Mas, afinal, o que é a morte?

Seria ela o fim de uma existência ou o fim de uma pessoa? Como compreender esse doloroso instante da vida?

Será que podemos chorar os nossos mortos e dirigir a eles nossas fervorosas orações, buscando reduzir o vazio, o precipício, o impacto desastroso que causa a partida para o outro lado da vida de alguém que amamos? 

Será que nossas rogativas serão ouvidas? Será que nesse outro plano, invisível para nós, nossas preces alcançam o destino?

A vida não cessa! 

A morte, embora separe os corpos, não separa os corações nem interrompe o sentimento, o amor, e não extingue o Espírito, que é eviterno e foi criado para a eternidade.

Loucura é pensar que a figura sinistra da morte, além de provocar a separação das pessoas, pusesse um ponto final na existência do Espírito.

Fosse assim, Jesus, o Mestre Divino, não viveria mais, como não viveriam também outros personagens que vez por outra conclamamos e reverenciamos em nossas orações, pedindo proteção e ajuda para nós, para os que estão ao nosso lado e para os que se acham em estado de necessidade.

Crer que a vida cessa com a morte é não crer que Jesus seja O Caminho, A Verdade e A Vida.

Os que partiram também se alegram, nos veem, nos acompanham e igualmente se entristecem e sofrem quando lamentamos e não compreendemos com resignação essa prova dolorosa!      

Pelo fato de não enxergarmos esse outro lado da vida, não significa que deixaram de existir. 

Não estão conosco fisicamente, é uma verdade, mas continuam “vivos” nesta outra margem. Como disse o Mestre, “Deus é dos vivos e não dos mortos; não há deus dos mortos”.

Ergamos nossas mãos ao Céu em oração e deixemos nos envolver por esse sentimento de amor profundo, cujos laços não se perdem no infinito.

Orar é banhar-se de luz; orar é inundar-se de forças poderosas do mundo invisível para atuar com segurança no mundo de formas visíveis, que é o nosso, guardando no coração a certeza da vida eterna.

A imortalidade é a luz da vida, como este refulgente Sol é a luz da natureza.  

Creia em Deus!     Creia em Jesus!   Creia na Vida Eterna!

Vladimir Polizio


quarta-feira, 10 de junho de 2015

O PINTOR

Certo pintor foi contratado para pintar o barco de um homem rico, que morava na mesma cidade que ele.

 Durante seu trabalho, percebeu um furo no casco, que poderia provocar o afundamento da embarcação e pôr em risco seus ocupantes. 

Reparou o problema e concluiu seu trabalho, deixando o barco como novo.
 
Dias depois, o dono do barco o procurou para pagar pelo serviço feito. 

Ao receber o cheque, o pintor notou que o valor era muito superior ao combinado. Estende-o de volta, informa o emitente sobre o erro e o valor correto. E o homem rico se explica:

― O cheque é seu e você merece o valor que registrei aí. Depois que recebi o barco de volta, pintado, e deixei que meus filhos saíssem nele, é que me lembrei do furo no casco, que queria ter-lhe pedido que reparasse antes da pintura. 

Corri, desesperado, até à beira do lago, imaginando que o barco teria afundado e meus filhos morrido. Encontrando-os de volta à terra firme, tomei conhecimento de que você havia feito o conserto sem que eu lhe pedisse. 

Além do serviço perfeito, você não me cobrou por ele. Aliás, sequer o mencionou. Você tem ideia do que fez? 

Foi além do demandado e salvou a vida dos meus filhos. Receba o cheque – você merece cada centavo.

O pintor ouviu com atenção e retrucou:

― Por favor, pegue seu cheque de volta e me faça outro, no valor que havíamos combinado pela pintura.

 Não me tire a oportunidade e o prazer de ter sido útil sem ganho financeiro. 

A alegria que sinto, sabendo que fui útil, ainda mais acrescido com a possibilidade de ter salvado as vidas de seus filhos, é pagamento mais do que suficiente pelo que fiz. 

Além disso, creio que a vida deles vale muito mais do que isso. 

Mesmo que eu aceitasse seu dinheiro, não creio que você consideraria que foi o suficiente.

Essa parábola, cuja origem desconhecemos, nos leva a refletir nas nossas motivações. 

De tudo o que fazemos num dia de trabalho, o que é motivado pela remuneração pretendida, e o que é pelo espírito de servir além do pagamento? 

Quanto somos levados a agir em troca de algo, e quanto apenas pelo prazer de fazer um bem, mesmo que pequeno? Que fração de nós é mercantil, e que fração é benemérita?

 Já aprendemos a agir de forma totalmente desinteressada, pelo menos em algumas oportunidades, ou só nos movimentamos tendo em vista alguma compensação?

Trabalhar por um salário é justo e necessário, afinal de contas precisamos sobreviver.

 Mas trabalhar só pelo salário é muito empobrecedor.

 Qualquer um que só vise o ganho, financeiro ou não, sempre recebe mais do que vale.

O espírito de servir vai muito além do simples trabalhar. 

Implica uma doação de algo que flui da alma e só pode fazê-lo quem tem o que doar. 

Mercenários que somos na maior parte do tempo, sempre pensamos em termos de reciprocidade. 

Num mundo mesmerizado pelo consumismo exacerbado, pensamos o tempo todo em termos de troca – o que ganho, se lhe dou isso? Qual a paga pelo meu esforço extra? Quanto vale cada gesto que faço?

Nessa pauta, perdemos um dos prazeres mais puros e, talvez, o que mais dignifica o homem – o prazer de servir por servir, de fazer o bem pelo bem. 

Essa incapacidade é que nos leva a cobrar a gratidão do outro – “Não precisa me pagar; basta-me um ‘muito obrigado’!” 

Na própria expressão de agradecimento está o aprisionamento moral do beneficiado, que passa a estar obrigado a uma contrapartida. 

E recusamos novos préstimos, se o outro não é agradecido o suficiente.

Doadores não cogitam retorno.

Conta-se que alguém, observando o trabalho abnegado de Madre Teresa de Calcutá, disse-lhe: ― “Irmã, por dinheiro nenhum do mundo eu faria o que a senhora faz!”. 

E ela respondeu: ― “Nem eu, meu filho, nem eu.” Poucos entendem essa postura, e muitos a reprocham.

O ato de bondade desinteressado é alimento para nossas almas. Se anônimo, então, é néctar divino, ambrosia que só os moradores do Olimpo do espírito podem apreciar.

Apesar de tudo, esse tipo de realização não é difícil.

O indivíduo que dedique um pouco de atenção para descobrir em todo trabalho que execute a oportunidade de servir, encontrará inúmeras possibilidades. 

É um motorista? 

Dirija com cuidado extra, zelando algo mais pela segurança de seus passageiros e do trânsito em volta. É um atendente de balcão ou telefone? 

Seja cortês além do que lhe exige o treinamento recebido e a etiqueta da função. É um artesão? 

Faça seu produto como quem executa uma obra de arte, não como um mero objeto de consumo. É um gestor?

 Gerencie com espírito de líder, que se sabe responsável pela felicidade de seus liderados. É um médico? 

Veja seu paciente como uma vida demandando sua cooperação para prosseguir sua caminhada, em vez de apenas mais um nome na lista do convênio.

Tudo na vida é trabalho, e em todo trabalho há oportunidade de servir, embora nem sempre nos preocupemos com isso. E, se “o trabalho-ação transforma o ambiente, o trabalho-serviço transforma o homem” (Emmanuel).

Estamos servindo, para construir um mundo melhor, ou apenas trabalhando para manter o que aí está?
 
José Lourenço de Souza Neto – O Consolador
 





quinta-feira, 4 de junho de 2015


SOLIDARIEDADE
“Quando se pensa em todos os abusos de poder, em todas as injustiças que se cometiam com desprezo dos mais sagrados direitos, quem pode estar certo de não haver participado mais ou menos de tudo isso e admirar-se de assistir a grandes e terríveis expiações coletivas?”

“... O Espiritismo lhes ensinará que, se as faltas coletivamente cometidas são expiadas solidariamente, os progressos realizados em comum são igualmente solidários, princípio em virtude do qual desaparecerão as dissensões de raças, de famílias e de indivíduos, e a Humanidade, livre das faixas da infância, avançará, célere e virilmente, para a conquista de seus verdadeiros destinos.” (Obras Póstumas – As expiações coletivas.)

Há pouco tempo os meios jornalísticos diariamente falaram sobre o terremoto seguido de maremoto que fez milhares de vítimas no Sul da Ásia.

 A última informação divulgada computava 178 mil mortos! – um desastre coletivo, um sofrimento mundial de grandes consequências, que fez as lágrimas aflorarem nos olhos de muitos.

Diz o grande Léon Denis que a dor tem função de equilíbrio e educação. 

O sofrimento, diz ele, não é, muitas vezes, mais que a repercussão das violações da ordem eterna cometidas. Diz ainda ele que é muito difícil fazer entender aos homens que o sofrimento é bom. 

“Suprimi a dor e suprimireis, ao mesmo tempo, o que é mais digno de admiração neste mundo, isto é, a coragem de suportá-la”, afirmou Léon Denis. 

“A dor é como uma asa dada à alma escravizada pela carne para ajudá-la a desprender-se e a se elevar mais alto.”

Nos momentos em que nossos corações choraram ao verem a dores coletivas que assolaram a Terra, quadros que, aliás, sempre ocorreram, mas que, pelas facilidades da mídia, estão hoje mais próximos, nossos olhos marejaram muito mais ao ver com emoção a grande corrente de solidariedade que isso provocou.

A dor tem essa função: despertar as almas para os sofrimentos e incentivá-las pela comoção a sentirem piedade, compaixão, e se moverem na ação do amor.

Várias revistas que se reportaram ao assunto dos tsunamis falaram da Humanidade se unindo para socorrer, na guerra mundial pela vida, como estampou em sua capa a revista Veja de 12 de janeiro: “Tsunami de solidariedade”.

Isso é emocionante. É belo e grandioso o mundo unindo-se numa grande causa comum: minorar o sofrimento de milhares.

É o que vemos no último parágrafo do texto por nós transcrito de Obras Póstumas e colocado no preâmbulo deste artigo – a união de todos.

Não cabe a nós ficar inquirindo qual foi a causa comum que levou tantas pessoas a semelhante processo de desencarnação coletiva. 

Estavam reunidos ali os Espíritos que passariam esse momento, num resgate difícil, sem falar nas expiações coletivas para os que ficaram na dor e nos tormentos da saudade e da incerteza.

O que vemos de solidariedade nos dá alegria à alma. Apesar das guerras, dos dissabores e da violência, o mundo está melhorando, sim.

 Há milhares de pessoas que deixam de si para socorrerem outros, heróis anônimos, Espíritos já sensibilizados pelo amor e que agem no bem.

Há milhares assim; no entanto, milhares de desastres particulares, ocultos, estão ao nosso redor, precisando de auxílio, amparo, proteção.

As ondas enormes ajudaram a sensibilizar, e quem sabe aqueles que acompanharam as notícias olharão com melhores olhos e com mais amor os que estão sofrendo, seja onde for?

Ficamos felizes com o que a formosa modelo Gisele Bündchen disse em entrevista à Globo: “A moda agora é a solidariedade. Seja solidário”.

O mundo está melhorando. A maturidade está chegando. 

Haverá uma horilelaa em que todos se entenderão como irmãos, e desaparecerão países, raças, restando um todo harmônico, equilibrado e amoroso: a Humanidade!

Estaremos então maduros, o egoísmo se minimizará, e as dores gradualmente desaparecerão. O mundo deixará de ter tantas provas e será mais feliz.

Um sonho?

 Por enquanto... 

Mas chegaremos lá. 

Para chegarmos, façamos do sonho uma ação diária e amemo-nos uns aos outros.


Sejamos solidários sempre.

 Em casa, na rua, na nossa cidade, no nosso país e também fora dele. 

Simplesmente, amemos!

Jane Martins Vilela  -  O Consolador

quarta-feira, 27 de maio de 2015

                                LEI MENINO BERNARDO
                POR UMA SOCIEDADE MELHOR E DE PAZ

“A forma como fomos tratados quando criança é a mesma como mais tarde tratamos a nossa vida” – Alice Miller.


Sabemos que não é tarefa do direito nos transformar em cidadãos morais ou afetivos, porém ele impõe certos comportamentos, principalmente em razão do temor da sanção (reprimenda, multa e/ou castigo). 

Logicamente o ideal seria que nossa sociedade, em relação à criança e ao adolescente, já tivesse transcendido qualquer alusão a “medidas educativas” regidas pela pedagogia negra, fundada no princípio tosco (embora persuasivo), que impõe a necessidade de fazer o educando passar por castigos físicos (ou tratamentos cruéis) a fim de alcançar, no futuro, o status de “pessoa boa e civilizada”. 

Ignoram esses pais (“cuidadores”) que a criança, principalmente no primeiro setênio, aprende atitudes e comportamentos pela imitação das ações e exemplos repetidos no ambiente físico ao qual ela pertence. Logo, é responsabilidade de quem cuida do menor não ser um modelo de tirania e repressão, mas sim um exemplo de empatia, cooperação e atitudes democráticas. 

A Lei Menino Bernardo (1) tem o condão de estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante. A proposição, de forma clara, aborda a realização de direitos que são inerentes a crianças e adolescentes e indispensáveis a sua dignidade e pleno desenvolvimento. 

Como um Projeto de Lei que visa alterar, e para aperfeiçoar, o Estatuto da Criança e do Adolescente, como finalidade essencial, não busca penalizar os pais, mas sim, quando for o caso, orientá-los a cumprirem determinados procedimentos, como cursos ou orientação psicológica nas hipóteses de castigo físico, por exemplo. A depender da gravidade da situação, o Conselho Tutelar poderá até mesmo acionar a polícia. Entretanto, tudo isso está estabelecido no intuito de proteger o menor em situação de “natureza disciplinar ou punitiva, com o uso da força física que resulte em sofrimento físico ou lesão à criança ou adolescente” (trecho da Lei que define castigo) (2). 

Por resistência ou ignorância dos pais, muitas vezes, o que chamamos de mau comportamento é apenas a única forma que a criança conhece para expressar que suas necessidades básicas não estão sendo atendidas. 

É mau e injusto punir uma criança porque ela responde de uma maneira natural à sensação de uma necessidade importante que é negligenciada pelo adulto. Por esta razão, a punição não só é inadequada a longo prazo, mas é certamente nociva. Além disso, como as crianças aprendem através dos modelos que seus pais representam, o castigo corporal transmite a mensagem de que bater é uma maneira adequada de exprimir seus sentimentos e de resolver os problemas. 

Se uma criança não tem a oportunidade de ver seus pais resolverem os problemas de maneira firme, mas sem o uso da violência, reconhecendo quem ainda se põe indefeso perante a casa e a rua, dificilmente conseguirá ela aprender a fazer deste modo. Como efeito, quando adulta, poderá reproduzir este tipo de paternidade/maternidade incompetente e violenta com as gerações seguintes. 

É fato: muitos ainda querem educar uma criança de forma rude, intolerante, intercalada por “castigo e adulação”. Desprezam que a criança, um ser dependente, irá reprimir-se para acomodar-se às necessidades dos (maus) pais e se conduzirá ao desenvolvimento de um falso Eu – pois o verdadeiro Eu não tem na infância, principalmente, oportunidade de se desenvolver e se diferenciar, porquanto não encontra solo seguro, porém amoroso, para experienciar/manifestar necessidades e apelos infantis. 

Uma educação ética, mas sustentada por um forte alicerce de amor, atenção e respeito, é a única e verdadeira maneira de obter um comportamento recomendável, baseado em poderosos sentimentos e valores, em vez de um “aparente filho (a) obediente e bonzinho (a)”, mas encapsulado unicamente no medo (e no ressentimento). 

Por fim, ainda que prosperem as críticas e os ecos dos resistentes ao avanço do bom senso, se buscamos uma sociedade melhor, se exigimos paz, solidariedade, precisamos formar as novas gerações com novos princípios e valores, cujos projetos pessoais saibam também priorizar, entre outras coisas, o respeito e a tolerância. No fundo, nosso aprendizado coletivo e doméstico está ainda muito implicado com a capacidade de suportar melhor uns aos outros, sem o uso das formas vis da violência…


Notas:

(1) O Projeto de Lei da Câmara 58/2014 foi (re)batizado de Lei Menino Bernardo em homenagem ao garoto gaúcho Bernardo Boldrini, de onze anos, cujo corpo foi encontrado no mês de abril, enterrado às margens de uma estrada em Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul. O pai e a madrasta são suspeitos de terem participação na morte da criança. E esta Lei foi aprovada pelo Senado em junho e está à espera da sanção presidencial.

(2) A Lei Menino Bernardo define tratamento cruel ou degradante como “conduta ou forma cruel de tratamento que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou adolescente”. Logo, a proposição legal estabelece, portanto, que pais e responsáveis que maltratarem seus filhos, criança e adolescente, sejam advertidos e chamados a participarem do Programa de Proteção à Família, que oferece cursos e tratamento psicológico e psiquiátrico. A vítima do castigo, por sua vez, receberá tratamento especializado.

*Quem aplica as medidas? As medidas são aplicadas pelo conselho tutelar da região onde o menor reside.

**O profissional de saúde, de educação ou assistência social que não notificar o conselho tutelar sobre casos suspeitos ou confirmados de castigos físicos poderá pagar multa de três a vinte salários mínimos, valor que é dobrado na reincidência.



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domingo, 24 de maio de 2015

AQUELES OUTROS DELINQUENTES

Os frutos da delinquência são a loucura de largo porte 
e o sofrimento sem conforto
 


"Há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus..." -
         Joseph Brê[1] 


Conclamando-nos à indulgência, José, Espírito protetor, diz[2]"lembrai-vos d`Aquele que julga em última instância, que vê os movimentos íntimos de cada coração e, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censurais, ou condena a que relevais, porque conhece o móvel de todos os atos..."

Não resta dúvida quanto ao apoucamento generalizado que o Espírito sofre ao prender-se ao corpo físico. Daí a nítida certeza de que quaisquer julgamentos tornam-se parciais e arbitrários, porque impossível se torna abarcar todas as premissas, isto é, a gênese profundamente arraigada nos tecidos da Alma, donde resultam os inditosos fastos que podemos observar à nossa volta. 

Podemos ilustrar tal situação utilizando-nos da figura do "iceberg": a parte observada acima da linha d’água é insignificante em relação à que está submersa. Assim é como se nos oferecem à visão e compreensão as questões nas quais pretendemos arbitrar. Impossível sermos justos!... Só Deus pode julgar com absoluta precisão e justiça.

Joseph Brê, ao desencarnar, encravou-se em angustiosa situação; inobstante ter sido aparentemente honesto aos olhos dos homens, não o foi perante Deus.

Diz ele - mediunicamente - 

em dorido testemunho feito à sua neta: "aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos.

 Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita. 

Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago a sua dívida à Humanidade! Erro!... Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as Leis Divinas.

Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e ao próximo.

Confesso, sem corar, que faltei a muitos desses deveres; que não tive a atividade necessária; que o esquecimento de Deus impeliu-me a outras faltas, as quais, por não serem passíveis às leis humanas, nem por isso deixam de ser atentatórias à lei Divina”.

Em estreita conexão com tal depoimento, Joanna de Ângelis nos dá a conhecer a ignorada dimensão onde estão alocados - sem se darem conta - os delinquentes que não se consideram tais. 

Diz a lúcida Mentora[3]: "delinquem os que exploram a ingenuidade dos jovens, arrojando-os nos antros da perdição; os que usurpam as parcas moedas do povo, no comércio escorchante de mercadorias de primeira necessidade; os profissionais liberais, que anestesiam a dignidade, falseando o juramento que fizeram de prometer servir e honrar o sacerdócio que abraçam, indiferentes, porém, aos problemas dos clientes, protelando suas soluções à custa de largas somas com que constroem sólidas fortunas, apesar de transitórias; os que espalham ondas de inquietação, urdindo tramas que aliciam outros partidários de emoção afetada; os que traem afetos que lhes dedicam confiança e respeito; os maus administradores, que malversam os valores públicos e deles se utilizam a benefício próprio, dos seus êmulos e pares; os que conspiram, à socapa, contra as obras de benemerência e amor; e muitos, muitos outros que são arrolados como dignos de bom conceito e que, certamente, não cairão incursos nas legislações humanas, porque disfarçados de homens probos, bem aceitos e acatados...

Não lograrão fugir de si mesmos, nem se libertarão dos conflitos que se lhes instalam n’alma.

Resguarda-te do contágio da delinquência, preservando os teus valores morais, mesmo que sejam de pequena monta; a tua posição social, embora não tenha realce público; a tua situação econômica, apesar de caracterizada pela pobreza; as tuas aspirações, mesmo que de pequeno porte, ligando-te, em pensamento, ao compromisso do bem, que se irradia do Cristo, que programou para o homem e a Terra, em nome do Pai, a felicidade e a harmonia, através de métodos de dignificação, únicos, aliás, que compensam em profundidade e perenemente.

Os frutos da delinquência são a loucura de largo porte, o sofrimento sem conforto, o suicídio, a morte violenta, nefasta...

Vive, desse modo, as diretrizes do Evangelho e nunca te esqueças que, ao defrontar um delinquente, seja em qual circunstância for, será muito melhor ser-lhe a vítima do que seu algoz, conforme o próprio Mestre nos ensinou com o exemplo da Cruz".  

 Rogério Coelho   -  Revista o Consolador

[1] - KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. III-2, 2ª. parte.
[2] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. X, item 16.

[3] - FRANCO, Divaldo. Luz viva. Salvador: LEAL, 1985, cap. XX.