A palmadinha, ontem e hoje
Eu devia ter mais ou menos uns sete anos, criança de tudo.
Falador, turbulento,
não parava quieto por cinco minutos.
Hoje, as crianças não param quietas por cinco segundos!
Hoje, as crianças não param quietas por cinco segundos!
Gozava as férias em casa de uma avó.
Num dia x, alguns tios se reuniram com amigos.
Falavam de música, e havia alguns instrumentos por perto.
Eu, que já mexera em vários deles, com meus dedinhos insolentes, e fora repreendido em todas as ocasiões, agarrei um pandeiro e, idiotizado, sentei-lhe a mão descontrolada, como se estivesse tentando “tocar” algo.
Falavam de música, e havia alguns instrumentos por perto.
Eu, que já mexera em vários deles, com meus dedinhos insolentes, e fora repreendido em todas as ocasiões, agarrei um pandeiro e, idiotizado, sentei-lhe a mão descontrolada, como se estivesse tentando “tocar” algo.
Foi a conta. Um dos meus tios tomou o
instrumento da minha mão e, com a sua, deu-me uma palmada na região convexa
chamada glútea. Confesso, com toda a honestidade, não doeu nada.
Mas, só então,
com aquele impacto, percebi (me toquei) que estava sendo inconveniente,
mal-educado, e confesso, também com toda a sinceridade, senti vergonha, apesar
da pouca idade, por estar atrapalhando a atividade dos meus tios, que já faziam
bastante em me aceitar numa reunião de adultos.
Passados cinco minutos, eu, emburrado
num canto, recebi do meu tio “agressor” um sorriso brincalhão e um abraço
conciliador.
Aquela palmada, naquele instante, sem
violência alguma, sem agressão (não me senti violentado, nem agredido),
resolveu prontamente uma situação que estava saindo de controle.
E, de minha
parte, fiquei com a lição compulsória que me cabia e que lembro, nitidamente,
até hoje, passados cinquenta e dois anos.
E asseguro que se passou exatamente
como conto agora.
Esta situação foi bem diferente de
outra que vivi, também muito novo, talvez com os mesmos sete anos de idade.
É preciso dizer que dava muito trabalho aos meus pais, pela minha rebeldia.
É preciso dizer que dava muito trabalho aos meus pais, pela minha rebeldia.
Após um dia todo causando
perturbação, fui alvo da indignação de minha mãe que, no limite, descarregou
todo o seu cansaço sobre a minha cabeça, em forma de croques continuados e
doloridíssimos.
Em seguida, botou-me nu, exposto num canto da varanda, onde cheguei a ser visto e ridicularizado por um vizinho.
Em seguida, botou-me nu, exposto num canto da varanda, onde cheguei a ser visto e ridicularizado por um vizinho.
Creio que dá para perceber a
diferença entre um episódio e outro.
O mundo não está como está, hoje, por
causa da palmada, senão educativa, pelo menos corretiva (do primeiro episódio);
mas as relações humanas podem sofrer influência danosa por causa da agressividade e tortura moral do segundo.
mas as relações humanas podem sofrer influência danosa por causa da agressividade e tortura moral do segundo.
Diante disso, fica evidente que a
violência (do segundo episódio) é contrária não só à atitude cristã, como
também aos mais básicos princípios da civilidade, que estamos buscando a duras
penas.
Se pretendemos ajudar na implantação da vida melhor na Terra, baseados nas orientações morais de Jesus, uma das coisas a fazer, e fundamental, é educar os Espíritos que recebemos como filhos, de modo a aproximá-los de Deus (ESE, XIV, 9).
Se pretendemos ajudar na implantação da vida melhor na Terra, baseados nas orientações morais de Jesus, uma das coisas a fazer, e fundamental, é educar os Espíritos que recebemos como filhos, de modo a aproximá-los de Deus (ESE, XIV, 9).
Enquanto buscamos a melhor maneira de
como bem educar nossas crianças, principalmente na primeira infância, onde as
más inclinações brotam nelas, reveladas junto com a inteligência que admiramos
tanto, deixemos a palmadinha – já que os tempos são outros –, para aqueles que
quiserem usá-la, assumindo com isso, legalmente (1), a
responsabilidade por seus atos.
Moralmente, Deus saberá julgá-los, pela
intenção, com total justiça.
Quanto aos croques e torturas morais,
eliminemo-los quanto antes.
E já será um grande avanço.
E já será um grande avanço.
(1) Foi aprovado na Câmara dos
Deputados e seguiu para o Senado projeto de lei que penaliza pais e educadores
– inclusive com a possibilidade de cadeia (?) – que forem surpreendidos ou
denunciados, infligindo quaisquer castigos físicos aos filhos.
A lei ficou conhecida
como “lei da palmada”.
Claudio Bueno da Silva - O consolador