terça-feira, 15 de julho de 2014


               A nossa tarefa regada com as luzes da
                      Parábola do Semeador

Após limparmos o nosso terreno, ou seja, o nosso Espírito, que se encontra cheio de espaços vagos pela retirada dos miasmas e mesmo muito sensível, as etapas seguintes visam à observação cuidadosa dos elementos que escolheremos para completar tais espaços e beneficiar o nosso solo, bem como a busca de auxílio de outros lavradores, pois sozinho não se consegue uma colheita saudável.

Os buracos resultantes da retirada das ervas daninhas, pedras, sujeiras etc. serão completados e compensados com os elementos que agregarão mais saúde ao solo e eles terão a função de manter a sua fertilidade.

O adubo representa a Fé. A função do adubo é agregar compostos que são necessários à complementação de nosso solo.

A Fé é a capacidade de concentrar a vontade que o indivíduo possui em si, pois, assim como o adubo, ela manterá unidas as partículas dos elementos constituintes deste terreno e os ativará para que cada um exerça o seu trabalho no cultivo; tal ação visa à preservação do campo psicoemocional do Espírito, pois a união, a concentração e o foco são estados para onde precisamos caminhar para que não sejamos influenciados pelas ervas daninhas que procurarão um vão, uma falha em nosso terreno para novamente enraizarem-se.

Assim, a Fé preserva o nosso foco no caminho que devemos trilhar. Ela tranquilizar-nos-á quando nos depararmos com um eu que não conhecíamos, pois, de acordo com cada situação, somos levados a nos observarmos a partir de outros pontos de vista que não somente o do egocentrismo.

 Portanto, tal como existe a constante necessidade do lavrador sempre observar o desenvolvimento de seu solo e posteriormente de suas plantas, devemos sempre nos atentar para o conhecimento que precisamos adquirir e, acima de tudo, analisar cada atitude tomada em cada situação e, a partir daí, lapidarmos o diamante.

Apesar dos abalos ocasionados pelo contato com nosso eu que acabam gerando dúvidas e inseguranças e muitas vezes sensação de incapacidade em continuar na tarefa de lavradores de nós mesmos, a Fé, como aquela que une, nos erguerá para retornar ao nosso objetivo de luz.

A Fé transporta montanhas. A nossa categoria na estrutura de homo sapiensjustifica-se na necessidade de sermos constantemente lembrados de nossa condição de pequenos, mas belos aprendizes, apesar de ainda confundirmos humildade com rebaixamento de nossas capacidades divinas. É por isso que transformamos as ervas daninhas em uma Floresta Amazônica impenetrável.

Qual farol em meio ao mar bravio a orientar a pequena embarcação para a praia mais próxima e segura, a Fé, quando confiada na tarefa de nossa guardiã, sempre nos apontará o lugar em que repousaremos o nosso corpo cansado e que oferecerá o alimento e a água para reposição de nossas forças e finalmente retornarmos à navegação.

Carecemos em acreditar que a movimentação de nossas lembranças, a partir da vontade de mudança, o perdão e o autoperdão, auxilia-nos a nos tornarmos seres mais leves e com a bagagem mais espaçosa para novas experiências. 

Quando entupimos nossas malas com objetos desnecessários à viagem, não resta lugar para dispormos novos utensílios e, se para a próxima parada é necessário que tenhamos instrumentos específicos os quais não possuímos por conta da ausência de espaço, os choferes não permitirão que desembarquemos e teremos que retornar para o ponto onde embarcamos.

 Ou seja, se eu não faço a minha parte de autolimpeza, se eu me coloco na situação de depósito de tralhas (emoções e memórias negativas), quando eu for passar por uma experiência nova, eu não terei a capacidade de compreender o que ela me trará de conhecimento, interpretando-a de maneira equivocada em um processo cíclico de estagnação ocasionado por mim mesmo.

Compreende-se, então, que a limpeza do solo, mesmo quando já foram semeadas as sementes, é tarefa de suma importância, pois, se relegarmos o terreno à sua própria sorte, as ervas daninhas retornarão e abafarão os brotos e eles morrerão.
A nossa tarefa, regada com as luzes da Parábola do Semeador, é conduta eficaz do lavrador:
  • Proteger as sementes das aves e das intempéries.
  •  Não plantar em terreno pedregoso.[1] Os terrenos mais profundos possuem maior capacidade e durabilidade de produção.
  •  A necessidade de constante limpeza protege a produção que cresce com vitalidade.
A vida social, aqui simbolizada pela correção do terreno, normalmente utiliza-se cal para neutralizar o Ph do solo. Neutralizamos as nossas emoções através da convivência constante com outras pessoas, em diferentes ambientes, pois a sociedade possui uma série de regras que limitam as nossas manifestações instintivas, compreendidas no processo evolutivo em que trazemos conosco características de quando habitávamos os primeiros hominídeos.

 O determinismo não existe para o indivíduo e o estado de condição é imposto pelo próprio sujeito que não é senhor de si mesmo. 

Deus nos ofereceu as Ciências, as Artes e as Filosofias para que pudéssemos atuar nestes caminhos que, apesar de sua aparente diferença em níveis epistemológicos, são complementares como partes de um todo. Na natureza, a única manifestação una é Deus. Toda a sua criação é plural, assim como nós, Espíritos, possuímos inúmeras maneiras de nos manifestarmos na natureza.

 As aptidões são capacidades latentes em todo e qualquer indivíduo, independente de sua roupagem física, cultural, étnica ou social. É da necessidade que surge a ferramenta.

Corrigir o solo é permitir se envolver com os meios que Deus nos oferece para evoluirmos, do contrário, nós seríamos e viveríamos solitários, cada um em um planeta próprio. 

A vida social é intrínseca ao desenvolvimento do Espírito, a sua existência mostra que todo tempo deve ser utilizado em consciência e não ser desperdiçado em atividades (tem-se o pensamento como atividade) que atravanquem o seu progresso. 

Para tanto, a vida em comunidade permite que estejamos sempre ligados uns aos outros, que dependamos uns dos outros em todos os sentidos.

 Desta maneira, descobriremos que é amando uns aos outros, ou seja, que é valorizando a existência de cada indivíduo em nossa sociedade, cuidando uns dos outros, doando o nosso tempo em favor da evolução do outro, que garantiremos o nosso aprendizado, pois ele depende da conduta do outro. 

Mesmo que não tenhamos a consciência de que tal postura agregue insumos ao nosso terreno, Deus permite que assim o seja para que a ocorrência dos fatos transcorra.

É uma questão de permissão. Ora, como donos de nós mesmos, a única coisa que possuímos é o nosso Espírito, que somos nós, a única coisa que eu possuo é uma força da natureza mutável, que é eterno no universo e está sob meus cuidados:

 o eu

Nada mais.

 Portanto, eu tenho todo o direito de permitir ou não que eu realize certas tarefas e adote certas posturas. Permitir-me conhecer pessoas, estar em contato com pessoas, trabalhar com pessoas, viajar com pessoas, pensar as pessoas, enfim, viver as pessoas. Há quem acredite que o contrário é a alternativa, é se isolando que eu alcanço o nirvana.

 Ledo engano.

A contenção de algumas manifestações ou expressões mentais é necessária em nossa sociedade, é nítido que já atravessamos algumas eras em que nos assemelhávamos aos grandes símios.

Considera-se que o convívio com o outro tem como objetivo o de auxiliar em minha lavoura, pois é inviável que somente uma pessoa dê conta de uma plantação inteira.

 Em tamanho e em capacidades limitadas, precisamos de ajuda, pois é o outro quem possuirá o composto para equilibrar o nosso Ph.

[1] Todo terreno merece a sua devida valorização, pois tudo é uma questão de graus de evolução.

 Tais terrenos, apesar de serem pedregosos, possuem capacidades peculiares de cultivo, a paciência na sua transformação em um solo mais profundo e ferroso, bem como na oferta dos elementos vitais para seu desenvolvimento, são oferecidos por Deus e aguardados por Jesus para que um dia completem o seu ciclo de maturação.

Angélica dos Santos Simone é geógrafa e mestranda em Geografia Física pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.


domingo, 13 de julho de 2014

  
                        Lições da tristeza

A criatura humana, normalmente, combate e evita a tristeza, como se esse sentimento fosse algo proibido ou que nos situasse num nível evolutivo primário, inferior, bem como pelo medo que se tem da instalação da depressão.

Essa conceituação equivocada leva o indivíduo a dissimular, porque, em muitos momentos existenciais, estará enfrentando um problema grave e tenderá a esconder a tristeza interior, apresentando falsos sorrisos, o que lhe trará um desgaste físico e emocional, na medida em que conviverá com essa dualidade, a aparência exterior diversa da realidade íntima.

O espírito Joanna de Ângelis, na obra “Atitudes Renovadas” (Capítulo 5), através do médium Divaldo Pereira Franco, escreve uma bela mensagem sobre a tristeza, apresentando-nos seu real conceito e efeitos.

A referida benfeitora assevera-nos que a tristeza não é o inverso da alegria, mas a sua ausência momentânea. 

É um estado que conduz à reflexão e não ao desinteresse pela vida...

 A tristeza, porém, é um fenômeno natural que ocorre com todas as pessoas, mesmo aquelas que vivenciam os mais extraordinários momentos de alegria. Pode ser considerada como uma pausa para a compreensão da existência.

Dessa forma, mostra-se perfeitamente natural que nós, os cristãos (espíritas, católicos, evangélicos, protestantes...), diante de algumas situações da vida, vivenciemos a emoção da tristeza.

Haverá, basicamente, dois tipos de situações que nos propiciam a experimentar a tristeza.

A primeira situação decorre dos problemas existenciais, como, por exemplo, a traição do cônjuge ou de um amigo, um filho nas experiências da droga, o diagnóstico de uma doença grave, a perda de um emprego, a morte de um ente querido e outras.

Há algumas pessoas que diante dessas ocorrências buscam as fugas psicológicas através do álcool, das drogas ilícitas ou do sexo casual. 

Haverá outros que mantêm um estado de alegria permanente, sorrindo para tudo, o que representa um quadro patológico de alienação da realidade.

Em ambas as situações, haverá um agravamento do estado espiritual e emocional do indivíduo, que lhe trará comprometimentos morais e profunda infelicidade.

Por mais equilibrado que estejamos, é natural que a tristeza apareça quando enfrentamos as citadas situações externas e permaneça até a resolução parcial ou total do impasse.

A segunda situação, de âmbito interno, se desdobra a partir do momento em que identificamos que aquilo que estamos fazendo da nossa vida não é o correto ou o que se gostaria de realizar.

Normalmente isso ocorre quando se desperta para os valores do evangelho, para o verdadeiro sentido da vida, e percebe-se o tempo perdido e os equívocos, a nos trazer certa tristeza.

Também pode ocorrer quando se percebe a falha na escolha da atividade profissional, que nos faz infeliz, triste, e deseja-se mudar de área, o que, para muitos, constitui-se num desafio incomum.

Anote-se que nas duas hipóteses, externas e internas, a tristeza, para ser produtiva e eficiente, deve apresentar algumas características.

Deve ser transitória, isto é, não devemos nos acomodar na tristeza, porque, com o decorrer do tempo, essa emoção poderá intensificar-se e converter-se num estado depressivo, com danos existenciais mais graves, podendo culminar no suicídio direto ou indireto, ou no denominado suicídio moral, quando a pessoa se nega a viver e não se permite qualquer conquista na esfera do bem.

Assim sendo, ao experimentar a tristeza, devemos continuar a frequentar o templo religioso, mantendo nossa vinculação com Deus através da prece, da reflexão religiosa, do bem ao próximo, da fé no futuro, o que nos fortalecerá para o enfrentamento dos problemas.

É comum as pessoas se afastarem da religião quando se deparam com o sofrimento, abrindo campo para a ampliação da tristeza e para a maior dificuldade na resolução dos desafios pessoais.

À luz do Espiritismo, não podemos ignorar a interferência espiritual inferior, pois Espíritos ainda imperfeitos poderão criar sintonia conosco a partir da tristeza descontrolada, criando maiores embaraços em nossa vida.

Registre-se, ainda, que podemos nos socorrer dos médicos da mente, nos ramos da psicologia e da psiquiatria, que nos ajudarão no enfrentamento da situação desafiadora, prescrevendo remédios, se necessário. 
  
A terapia dos passes, do evangelho no lar, da água fluidificada também se constituirão em hábitos eficientes a nos fortalecer o ânimo e a resignação.

A tristeza transitória, enquanto dure, não pode ser o quadro emocional predominante, haveremos de buscar momentos de esperança, de confiança em Deus, de alegria por outras conquistas, de convivência social saudável, sob pena de descontrole da situação, porquanto a tristeza se intensificará de tal forma, que passará a ser um estado permanente.

Com o Espiritismo também aprendemos a manter a fé na vida futura, pois certos problemas não dependem apenas de nós para serem solucionados. Por exemplo, um filho na droga que insiste em manter essa escolha. 

Obviamente que isso trará certa tristeza, mas também haveremos de ter alegrias na vida, e agiremos como semeadores, amando esse filho sem cessar, confiando que nenhum investimento de amor é perdido, de forma que nesta ou em futuras reencarnações, essa alma querida despertará para a verdade e o bem.

Fica evidente que a visão da reencarnação minimiza nossa tristeza, ante a confiança no futuro.

Convém destacar, também, que a tristeza bem compreendida trará efeitos positivos e saudáveis.

Na destacada lição do livro “Atitudes Renovadas”, Joanna de Ângelis fala acerca das reflexões positivas da tristeza, que nos permitirão refazer experiências... , trabalhando o indivíduo para a renovação interior e a conquista de valores mais profundos e significativos do que os existentes e consumidores... Fenômeno psicológico transitório, deve ceder lugar à reflexão, ao despertamento e à valorização dos tesouros morais, culturais e espirituais. A tristeza sem lamentações, sem queixas, sem ressentimentos, é, pois, psicoterapêutica...

Com efeito, ao vivenciarmos essa tristeza nas lidas cotidianas, devemos fazer uma pausa acompanhada de silêncio interior, para que as reflexões terapêuticas possam fluir do íntimo, convidando-nos à renovação moral e comportamental.

É de bom alvitre enfatizar que não se deve cultivar a tristeza como necessária para o discernimento a cada instante ou em toda parte.

 Não estamos estimulando a tristeza, mas apenas compreendendo seu verdadeiro significado, até porque a mensagem do evangelho é de alegria.

Ademais, Joanna de Ângelis nos lembra que Jesus, em algumas ocasiões, chorou de tristeza ao contemplar a loucura humana e o seu desequilíbrio, massorriu, também, quando choraram aqueles que O foram ver no sepulcro.

A tristeza serena de Jesus revelava que Ele veio para auxiliar a criatura humana a encontrar o caminho do amor, da autoiluminação, ciente de que a terapia do tempo e da dor a todos corrigirá.

Finalizo o artigo com uma frase de Joanna para nossa reflexão:

 Não cultives a tristeza nem fujas dela, aceitando-a, quando se te apresentar e retirando o melhor resultado da oportunidade de reflexão que te proporcione. Com esse comportamento estarás experienciando atitudes renovadas.  

 
ALESSANDRO VIANA VIEIRA DE PAULA  - O Consolador

quarta-feira, 9 de julho de 2014




Álcool na infância


Semana passada foi noticiado por diversos órgãos de comunicação: o jovem de 13 anos que se embriagou numa escola bauruense. 

O caso ganhou notoriedade porque o garoto ficou inconsciente e teve que ser encaminhado ao hospital.

Todavia, não é nenhuma novidade crianças embriagarem-se. Eu, você, enfim, todos nós conhecemos infindáveis casos de pessoas que tomaram seu primeiro porre ainda nos verdes anos infantis.

A pergunta que fica é:

– Por que isto ocorre?

Sem querer realizar uma caça às bruxas, uma das razões principais para as bebidas fazerem a cabeça dos jovens é justamente a benevolência para com o álcool. Exatamente, caro leitor, o álcool conta com a aprovação de uma parcela enorme da população brasileira que o deixa circular livremente em seu lar.

 É, para nossos padrões, normal o sujeito tomar um pileque de vez em quando e chegar a casa trançando as pernas.

No entanto, poucos sabem que os primeiros goles dos adolescentes ocorrem em suas próprias casas aos 10 ou 12 anos, em bebericos dados nos copos de pais, irmãos ou primos.

Em nossa sociedade, infelizmente, o vício é propagado sem rodeios. Comerciais mostram pessoas famosas deliciando-se com a famosa “cervejinha” e aconselham com boa dose de generosidade e preocupação com o semelhante:

 “Se beber não dirija”. 

Entretanto, poucos sabem que em grande parte dos laudos cadavéricos em mortes violentas consta a presença do álcool. Pessoas agredidas, suicídios cometidos, faltas ao trabalho, prejuízo ao país e a decadência moral do indivíduo são alguns dos problemas enfrentados por quem abraça o álcool como fiel companheiro de sua existência.

 E pensar que tudo pode começar na infância com a conivência dos familiares...

Um dos fatos que mais me chamou a atenção no livro “Estrela Solitária”, biografia de Mané Garrincha, foi quando Ruy Castro – autor da obra – informou que era adicionada cachaça à mamadeira de Garrincha quando criança.

 Provavelmente o organismo do Mané gostou da tal cachaça e, quando em idade mais avançada, ele se reencontrou com ela, não mais se separou até o lamentável fim de seus dias na Terra. 

Quem lê a história desse herói do esporte nacional certamente fica impressionado com os prejuízos que o álcool pode causar. E pensar que tudo começou em sua infância...

O Espiritismo, neste caso do álcool, poderia ser utilizado como proposta pedagógica para a resolução do desafio. Não que as famílias irão deixar suas religiões de lado para abraçar a doutrina codificada por Kardec. 

Não, não precisa ser assim. 

Quando digo utilizar o Espiritismo como proposta pedagógica, refiro-me aos pais educarem seus filhos com base na imortalidade da alma, uma das questões abordadas pelos Espíritos.

Estudando Kardec, pedagogo por excelência, os pais encontrarão ferramentas para bem direcionarem seus esforços no quesito educação dos filhos. 

Basta apenas quebrar o preconceito e, neste caso, encarar o Espiritismo como um aliado para uma vida saudável.

 Como já dissemos, não necessita o indivíduo abandonar sua igreja, mas apenas mergulhar fundo no assunto imortalidade da alma, tantas vezes abordado pela Doutrina Espírita.

Ora, quando temos a ciência de que nossos filhos são Espíritos imortais que trazem bagagem existencial que desconhecemos, com tendências e vocações ignoradas por nós, obviamente que o bom senso pede que sejamos mais prudentes ao educá-los, evitando naturalmente colocá-los em contato com os vícios de todos os matizes.

Obviamente que as orientações corretas dos pais não são garantia de que o filho cresça saudável, livre dos vícios. Há casos e casos de pais conscientes que têm filhos desajustados. No entanto, não fechemos os olhos para os perigos que a conivência com o álcool em casa pode ocasionar não apenas para os filhos, mas toda a sociedade.

Dialogar com as crianças explicando os malefícios do álcool é, indubitavelmente, muito mais salutar do que deixar que os pequenos beberiquem e se esbaldem em nossos copos de cerveja. 

Afinal, não sabemos ao certo quais as predisposições de nossos filhos, já que, como ensinado, eles são Espíritos imortais, viveram antes e viverão depois.

E pensar que tudo pode começar na infância...

WELLINGTON BALBO - O Consolador

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A liberdade é filha da fraternidade e da igualdade. Os homens que vivam como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a justiça, não procurarão causar danos uns aos outros e nada, por conseguinte, terão que temer uns dos outros. A liberdade nenhum perigo oferecerá, porque ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes..." - Allan Kardec

Liberdade, Igualdade, Fraternidade: estas três palavras constituem, por si sós, o programa de toda uma ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da Humanidade, se os princípios que elas exprimem pudessem receber integral aplicação.

 Vejamos quais os obstáculos que, no estado atual da sociedade, se lhes opõem e, ao lado do mal, procuremos o remédio.

A fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres dos homens, uns para com os outros.

 Significa: 
devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência.

 Ë, por excelência, a caridade evangélica e a aplicação da máxima: "Proceder para com os outros, como quereríamos que os outros procedessem para conosco.

" O oposto do egoísmo.

A fraternidade diz:

 "Um por todos e todos por um." 

O egoísmo diz:

 "Cada um por si." 

Sendo estas duas qualidades a negação uma da outra, tão impossível é que um egoísta proceda fraternalmente para com os seus semelhantes, quanto a um avarento ser generoso, quanto a um indivíduo de pequena estatura atingir a de um outro alto.

 Ora, sendo o egoísmo a chaga dominante da sociedade, enquanto ele reinar soberanamente, impossível será o reinado da fraternidade verdadeira. 

Cada um a quererá em seu proveito; não quererá, porém, praticá-la em proveito dos outros, ou, se o fizer, será depois de se certificar de que não perderá coisa alguma.

Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base. 

Sem ela, não poderiam existir a igualdade, nem a liberdade séria. 

A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é conseqüência das duas outras.

Com efeito, suponhamos uma sociedade de homens bastante desinteressados, bastante bons e benévolos para viverem fraternalmente, sem haver entre eles nem privilégios, nem direitos excepcionais, pois de outro modo não haveria fraternidade. 

Tratar a alguém de irmão é tratá-lo de igual para igual; é querer quem assim o trate, para ele, o que para si próprio quereria. Num povo de irmãos, a igualdade será a consequência de seus sentimentos, da maneira de procederem, e se estabelecerá pela força mesma das coisas. 

Qual, porém, o inimigo da igualdade? 

O orgulho, que faz queira o homem ter em toda parte a primazia e o domínio, que vive de privilégios e exceções, poderá suportar a igualdade social, mas não a fundará nunca e na primeira ocasião a desmantelará. 

Ora, sendo também o orgulho uma das chagas da sociedade, enquanto não for banido, oporá obstáculo à verdadeira igualdade.

A liberdade, dissemo-lo, é filha da fraternidade e da igualdade. Falamos da liberdade legal e não da liberdade natural, que, de direito, é imprescritível para toda criatura humana, desde o selvagem até o civilizado. 

Os homens que vivam como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a justiça, não procurarão causar danos uns aos outros e nada, por conseguinte, terão que temer uns dos outros. 

A liberdade nenhum perigo oferecerá, porque ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes. Mas, como poderiam o egoísmo, que tudo quer para si, e o orgulho, que incessantemente quer dominar, dar a mão à liberdade que os destronaria? 

O egoísmo e o orgulho são, pois, os inimigos da liberdade, como o são da igualdade e da fraternidade.

A liberdade pressupõe confiança mútua. Ora, não pode haver confiança entre pessoas dominadas pelo sentimento exclusivista da personalidade. 

Não podendo cada uma satisfazer-se a si própria senão à custa de outrem, todas estarão constantemente em guarda umas contra as outras. 

Sempre receosas de perderem o a que chamam seus direitos, a dominação constitui a condição mesma da existência de todas, pelo que armarão continuamente ciladas à liberdade e a cercearão quanto puderem.

Aqueles três princípios são, pois, conforme acima dissemos, solidários entre si e se prestam mútuo apoio; sem a reunião deles o edifício social não estaria completo.

 O da fraternidade não pode ser praticado em toda a pureza, com exclusão dos dois outros, porquanto, sem a igualdade e a liberdade, não há verdadeira fraternidade. 

A liberdade sem a fraternidade é rédea solta a todas as más paixões, que desde então ficam sem freio; com a fraternidade, o homem nenhum mau uso faz da sua liberdade: é a ordem; sem a fraternidade, usa da liberdade para dar curso a todas as suas torpezas: é a anarquia, a licença. 

Por isso é que as nações mais livres se veem obrigadas a criar restrições à liberdade.
A igualdade, sem a fraternidade, conduz aos mesmos resultados, visto que a igualdade reclama a liberdade; sob o pretexto de igualdade, o pequeno rebaixa o grande, para lhe tomar o lugar, e se torna tirano por sua vez; tudo se reduz a um deslocamento de despotismo.

Seguir-se-á daí que, enquanto os homens não se acharem imbuídos do sentimento de fraternidade, será necessário tê-los em servidão? 

Dar-se-á sejam inaptas as instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? 

Semelhante opinião fora mais que errônea; seria absurda.
Ninguém espera que uma criança se ache com o seu crescimento completo para lhe ensinar a andar. Quem, ao demais, os tem sob tutela? 

Serão homens de ideias elevadas e generosas, guiados pelo amor do progresso? 

Serão homens que se aproveitem da submissão dos seus inferiores para lhes desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? 

Não; são, em sua maioria, homens ciosos do seu poder, a cuja ambição e cupidez outros homens servem de instrumentos mais inteligentes do que animais e que, então, em vez de emancipá-los, os conservam, por todo o tempo que for possível, subjugados e na ignorância.

Mas, esta ordem de coisas muda de si mesma, pelo poder irresistível do progresso. 

A reação é não raro violenta e tanto mais terrível, enquanto o sentimento da fraternidade, imprudentemente sufocado, não logra interpor o seu poder moderador; a luta se empenha entre os que querem tomar e os que querem reter; daí um conflito que se prolonga às vezes por séculos. 

Afinal, um equilíbrio fictício se estabelece; há qualquer coisa de melhor.
 Sente-se, porém, que as bases sociais não estão sólidas; a cada passo o solo treme, por isso que ainda não reinam a liberdade e a igualdade, sob a égide da fraternidade, porque o orgulho e o egoísmo continuam empenhados em fazer se malogrem os esforços dos homens de bem.

Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade trabalhai, antes de tudo, na construção da base do edifício, sem pensardes em lhe colocar a cúpula; ponde-lhe nas primeiras fiadas a fraternidade na sua mais pura acepção.


 Mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la numa bandeira; faz-se mister que ela esteja no coração dos homens e não se muda o coração dos homens por meio de ordenações.

Do mesmo modo que para fazer que um campo frutifique, é necessário se lhe arranquem os pedrouços e os tocos, aqui também é preciso trabalhar sem descanso por extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, pois que aí se encontra a causa de todo o mal, o obstáculo real ao reinado do bem. 

Eliminai das leis, das instituições, das religiões, da educação até os últimos vestígios dos tempos de barbárie e de privilégios, bem como todas as causas que alimentam e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, os quais, por assim dizer, bebemos com o leite e aspiramos por todos os poros na atmosfera social. Somente então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade e também se firmarão por si mesmos, sem abalos, nem perigos, os princípios complementares, os da igualdade e da liberdade.

Será possível a destruição do orgulho e do egoísmo? Responderemos alto e terminantemente:

 SIM. 

Do contrário, forçoso seria determinar um ponto de parada ao progresso da Humanidade. Que o homem cresce em inteligência, é fato incontestável; terá ele chegado ao ponto culminante, além do qual não possa ir? 

Quem ousaria sustentar tão absurda tese? 

Progride ele em moralidade? Para responder a esta questão, basta se comparem as épocas de um mesmo país. Por que teria ele atingido o limite do progresso moral e não o do progresso intelectual?

 Sua aspiração por uma melhor ordem de coisas é indício da possibilidade de alcançá-la. 

Aos que são progressistas cabe acelerar esse movimento por meio do estudo e da utilização dos meios mais eficientes.

Do livro "Obras Póstumas", 38, Allan Kardec

sábado, 28 de junho de 2014




A caridade mais urgente

Outro dia um amigo me confidenciou:


– Sabe, Wellington, habituamo-nos, eu, meus filhos e esposa, a praticar o Evangelho no Lar. 
Reunimo-nos todos os domingos e fazemos o estudo evangélico em nossa casa há mais ou menos uns 3 anos. 

Os benefícios foram grandes, não há o que discutir. Mas interessante é que meu filho caçula de 10 anos, de tanto escutar a palavra caridade em nossos estudos, resolveu propor:

– Papai, vamos colocar em prática aquilo que aqui estudamos. Vamos praticar a caridade. Gostaria muito de visitar os velhinhos. Pode ser na Vila Vicentina (Instituição na cidade de Bauru que cuida de idosos). Vamos começar a ir até lá, papai.
E prosseguiu o amigo a comentar:

– Fiquei envergonhado com a proposta de meu filho. 

Embora eu lhe ensinasse os princípios cristãos, estava longe, muito longe de praticá-los. 

Precisei ser alertado pelo garoto de que a caridade que eu tanto falava, para mim, restringia-se apenas a uma palavra solta, sem sentimentos, e proferida maquinalmente em nossos estudos domingueiros. 

Como você sabe, não irei aqui discorrer sobre os caracteres da caridade que são muito mais abrangentes do que uma visita aos domingos, mas, confesso que fiquei mesmo envergonhado. Foi então que começamos a visitar os velhinhos. 

Isto já faz 1 ano.

 Garanto a você: recebemos muito mais do que damos, pois nessas visitas aprendemos na prática que o tempo corre célere e a contagem na Terra é regressiva, meu amigo.

 Um dia partiremos daqui e poderemos enfrentar a enfermidade, dor, solidão, como tantos por aí. Constatei o quão bom tornou-se essa prática em família. 

Estamos mais unidos, juntos e, aprendendo, de fato, que se hoje gozamos de saúde amanhã poderá ser diferente. 

Meus três filhos, todos em idade adolescente, estão vivenciando isso e posso afirmar que mudanças significativas operaram-se no comportamento de todos eles depois desta simples prática de visitar alguém. 

Parece que a vida tomou um outro sentido, mais profundo, amplo. Atualmente, meu amigo, dedicamos o domingo literalmente ao seguinte trabalho: aula prática à tarde (visita aos velhinhos) e teórica à noite com o estudo evangélico.


Ao escutar todo o fato narrado pelo amigo, minhas reflexões fizeram-se mais agudas no tocante à caridade em sua forma primeira que é atender o próximo em suas necessidades mais urgentes.
Lembrei-me então de uma história que consta na obra O Semeador de Estrelas, de Suely Caldas Schubert.

E conta ela que certa vez o médium baiano Divaldo Franco encontrava-se desanimado, pois o ambiente era desolador. Estavam com 16 doentes em um local pequeno onde não mais cabia gente e o médium questionava-se: O que fazer, meu Deus?

Dr. Bezerra de Menezes veio em seu socorro e narrou interessante episódio:

Duas damas muito ricas da sociedade de Moscou foram ao Teatro Bolshoi. Assistiram a uma peça, uma ópera, que retratava a história de um rei cristão que termina louco.

As duas damas, vendo aquela cena choraram, comoveram-se, e todo o teatro também. 
Quando terminou, elas saíram e encontraram um homem, à porta, pedindo esmola.

 Uma delas, comovida, tirou o pesado casaco de peles para dar-lhe, pois ele estava sofrendo o frio da noite de Moscou. A outra, porém, impediu-lhe o gesto, explicando:

– Não faça isso! Quando chegarmos à casa mandaremos cobertores. 

Seu casaco é muito caro, ele não vai valorizá-lo.
Ela deteve o gesto bom e concluiu:

De fato; você tem razão. Vamos fazer como sugeriu.
Vestiu o casaco novamente, dizendo ao homem:
– Daqui a pouco eu lhe mandarei cobertores e agasalhos.
Entraram na carruagem e foram para o palácio.

 Ao chegarem, tomaram chá com biscoitos, deitaram-se e se esqueceram do necessitado. Pela manhã, a dama generosa lembrou-se do mendigo e, chamando um lacaio, recomendou-lhe que levasse os cobertores. 
Quando este chegou ao local o homem estava morto. Morrera congelado pela madrugada.
E explicou o médico dos pobres:

– Enquanto se discute a caridade, o sofredor morre ao abandono. A caridade tem que ser o socorro do momento, depois, discute-se o que fará.
Maravilha de lembrança do notável Dr. Bezerra.

Quanta gente necessita dessa caridade imediata, urgente, sem tempo a perder. De um ouvido amigo, da visita carinhosa, da palavra encorajadora, do abrigo que protege, do abraço que tranquiliza, do telefonema que apazigua as emoções, da sopa servida em tantas instituições, espíritas ou não, espalhadas pelo país.

 Quanta coisa pode ser feita para amainar corações dilacerados pela dor da enfermidade física ou mesmo moral. As oportunidades de praticar essa caridade urgente são imensas para não dizer infinitas.

Coloquei-me a pensar na família de meu amigo e na sugestão de seu filho:

 um gesto simples: visita aos idosos. Que beleza! Fico a imaginar os benefícios advindos de uma iniciativa primária, porém profunda como esta, e que une toda a família em torno de um objetivo nobre:

 Exercitar o amor!

Aquela família compreendeu que a teoria é importante – o estudo do Evangelho no Lar –, mas ela não prescinde da prática. 

Aliaram essas duas maravilhas de Deus – teoria e prática –, e hoje gozam, segundo comentário do próprio amigo, de uma inefável sensação de bem-estar.

Benditos aqueles que já compreenderam esta máxima e dedicam-se à prática do bem e da caridade!


WELLINGTON BALBO   -   O Consolador