quarta-feira, 6 de maio de 2015

    COMO MORRER NO FACE BOOK

A revista Seleções READER´S DIGEST, do mês de dezembro de 2013, páginas 104 a 107, traz uma reportagem com o título deste artigo. 

Vejamos um pequeno trecho: 

“Antigamente, a notícia da morte de alguém passava de uma pessoa a outra. 
O falecimento era lembrado num templo ou numa igreja, chorado no cemitério ou sofrido em silêncio.

 Hoje, torpedos e e-mails compartilham o acontecido. 

E as redes sociais oferecem a muita gente a oportunidade de homenagear e chorar quem partiu.

No funeral, há hora e lugar específicos para chorar a morte de alguém, diz Jed Brubaker, estudioso de mídias sociais do campus da Universidade da Califórnia em Irvine.

No facebook, qualquer um pode participar desse processo a qualquer momento”.

Aproveitamos a ideia da tecnologia moderna para lembrarmos a figura da Dra. Elizabeth Kübler-Ross, a mulher pioneira em ouvir aqueles que se avizinhavam da partida através da morte física, ao ponto de considerá-los seus mestres no assunto.

Antes dela, a ideia que imperava era a de que nada se teria a dizer ou fazer para consolar o paciente terminal. Exatamente por isso, existia a imobilidade que impedia o consolo possível de chegar até esse paciente.

Doutora Elizabeth é suíça de nascimento, formada na conceituada Universidade de Zurique. Seus pacientes morriam de preferência em suas próprias casas, com a assistência médica necessária, mas cercados do carinho dos familiares e visitados pelos amigos e não em um local frio e distante como uma UTI.

Já que todos iremos enfrentar infalivelmente o momento da morte, pensava ela, nada mais lógico do que nos prepararmos para isso. 

A grande lição dessa psiquiatra famosa em todo mundo está contida nas suas palavras:

 “Viva, de modo que você não tenha que olhar para trás e dizer: Meu Deus, como desperdicei minha vida!”.

Em seu mais impactante livro – Sobre a morte e o morrer -, ela destaca o muito que os agonizantes têm a ensinar aos médicos, às enfermeiras, aos sacerdotes e às suas próprias famílias.

 Destaquei a palavra “sacerdote” no sentido de generalizá-la a todos os representantes de qualquer religião que, supõe-se, devam levar o consolo ao paciente e aos familiares nesses momentos extremamente difíceis da existência.

É da autoria dela os cinco estágios hoje plenamente aceitos pela medicina sobre o posicionamento do paciente perante a possibilidade de morrer. 

A primeira fase é a negação. 

A pessoa reage como se o diagnóstico estivesse errado. Que aquilo não estaria se passando realmente com ela. 

Que se trata de um sonho ruim do qual irá despertar e ficar tudo bem. A segunda fase é a da raiva, a da revolta. 

A pessoa se revolta contra Deus ou, se descrente, contra a própria vida, avaliando-se como não merecedora de tal sorte. 

A terceira parte, para aqueles que creem, é a negociação com Deus. Se a doença e todo sofrimento que a cerca não se confirmar, prometem modificar-se em algum ponto de sua vida em que vivia equivocada. A quarta fase é a da depressão. 

É a entrega. 

É o abaixar de armas e desistir da luta, de entregar-se. E, finalmente, a última fase é a da aceitação. O desenvolvimento dessas fases, a doutora Elizabeth Kubler-Ross aprendeu em seus inúmeros contatos com doentes terminais.

O interessante é que a ilustre médica começou a aprender coisas diferentes com os pacientes terminais que descreviam as ocasiões em que se viam flutuando acima do corpo físico e a presença de parentes ou amigos já falecidos que vinham visitá-los.

Passou a divulgar para o mundo todo as suas descobertas com a finalidade de levar consolo aos doentes e seus familiares. 

Não é preciso dizer que não foi bem aceita por uma parte de seus colegas que começaram a ver nela atitude mística, de ocultismo, orientalismo ou, talvez, até mesmo de uma certa debilidade mental.

Em uma determinada ocasião, voando num avião de pequeno porte (vinte lugares apenas) um repórter perguntou-lhe se ela não tinha medo de voar. 
Respondeu a doutora de maneira enfática e objetiva: 

“Não tenho medo de morrer. 

Estou apenas à espera de ordens lá de cima”.

Ensina Joanna de Ângelis que a intuição da vida, o instinto de preservação da existência, as experiências psíquicas do passado e parapsicológicas do presente atestam que a morte é um veículo de transferência do ser energético pensante, de uma fase ou estágio vibratório para outro, sem expressiva alteração estrutural da sua psicologia. 

Assim, morre-se como se vive, com os mesmos conteúdos psicológicos que são os alicerces (inconsciência) do eu racional (consciência).

Você se chocaria se um dia seu nome estivesse, nas condições mencionadas pela reportagem da revista Seleções, em um facebook?

Ou seria melhor perguntar se você tem medo de voar? Ou está apenas esperando ordens lá de cima?

Como diz a doutora Elizabeth, sendo o momento da morte infalível, nada melhor do que nos prepararmos para ele.

 Para isso, temos que primeiro afastar a ideia de que somos imortais fisicamente falando. 

Afastar a ideia de que nossa morte está sempre em um horizonte muito longínquo esquecido no tempo. 

Em um segundo momento, vivermos de tal forma que não precisemos olhar para trás e dizer: 

Meus Deus, como desperdicei minha vida!

No dia em que conseguirmos tudo isso, com certeza não teremos mais medo de voar...
 

RICARDO ORESTES FORNI -  o CONSOLADOR