Divergências & convergências nas
sociedades espíritas
Os antagonismos são corolários do orgulho superexcitado
“(...) Devemos assistir com prazer à
multiplicação dos grupos espíritas e, se alguma concorrência haja de entre
eles existir, outra não deverá ser senão a de fazer cada um maior soma de bem.” Allan
Kardec[1]
Allan Kardec, Santo Agostinho, São Luís, Fénelon e São
Vicente de Paulo oferecem-nos lúcidas e oportunas reflexões que passaremos a
alinhar, a fim de que nos beneficiemos desses ensinamentos que nos fornecem
valiosos subsídios para o trato e vivência junto aos demais companheiros e suas
respectivas Instituições Espíritas.
Esclarece-nos o ínclito Mestre Lionês[2]: “(...) no interesse dos estudos
e por bem da causa mesma, as reuniões espíritas devem tender antes à
multiplicação de pequenos grupos, do que à constituição de grandes
aglomerações.
Esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se,
permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família
espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá todos os homens por
um único sentimento:
o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã.
“(...) Cada agrupamento espírita tem a sua missão. Nem
uns, nem outros se achariam possuídos do verdadeiro espírito do Espiritismo,
desde que não se olhassem com bons olhos; e aquele que atirasse pedras em outro
provaria, por este simples fato, a má influência que o domina.
Todos devem
concorrer, ainda que por vias diferentes, para o objetivo comum, que é a
pesquisa e a propaganda da Verdade.
Os antagonismos, que não são mais do que
efeito do orgulho superexcitado, só poderão prejudicar a causa, que uns e outros
pretendem defender”.
Jesus já nos alertava[3]: “todo o reino dividido contra si
mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá”.
Continua o singular discípulo de Pestalozzi2: “estas
reflexões se aplicam igualmente a todos os grupos que porventura divirjam sobre
alguns pontos da Doutrina.
É arrematada puerilidade constituírem bando à parte
alguns, por não pensarem todos do mesmo modo e, pior ainda do que isso, seria o
se tornarem ciosos uns dos outros os diferentes grupos ou associações da mesma
cidade.
Compreende-se o ciúme entre pessoas que fazem concorrência umas às
outras e podem ocasionar recíprocos prejuízos materiais. Não havendo, porém,
especulação, o ciúme só traduz mesquinha rivalidade de amor-próprio.
Como, em definitivo, não há sociedade que possa reunir
em seu seio todos os adeptos, as que se achem animadas do desejo sincero de
propagar a verdade, que se proponham a um fim unicamente moral, devem assistir
com prazer à multiplicação dos grupos e, se alguma concorrência haja de entre
eles existir, outra não deverá ser senão a de fazer cada um maior soma de
bem.
As que pretendam estar exclusivamente com a verdade terão que o
provar, tomando por divisa: Amor e Caridade, que é a de todo verdadeiro
espírita.
Quererão prevalecer-se da superioridade dos Espíritos que as
assistam? Provem-no, pela superioridade dos ensinos que recebam e pela
aplicação que façam deles a si mesmas. Esse o critério infalível para se
distinguirem as que estejam no melhor caminho”.
Afirma Santo Agostinho[4]: “observamos com prazer os vossos
trabalhos e vos ajudamos, porém, sob a condição de que também, de vosso lado,
nos secundeis e vos mostreis à altura da missão que fostes chamados a
desempenhar.
Formai, portanto, um feixe e sereis fortes e os maus
Espíritos não prevalecerão contra vós. Deus ama os simples de espírito, o que
não quer dizer os tolos, mas os que se renunciam a si mesmos e que, sem
orgulho, para ele se encaminham.
Podeis tornar-vos um foco de luz para a
humanidade. Sabei, logo, distinguir o joio do trigo; semeai unicamente o
bom grão e preservai-vos de espalhar o joio, por isso que este impedirá que
aquele germine e sereis responsáveis por todo o mal que daí resulte; de igual
modo, sereis responsáveis pelas doutrinas más que porventura propagueis.
Lembrai-vos de que um dia pode vir em que o mundo tenha
posto sobre vós os olhos. Fazei, conseguintemente, que nada empane o
brilho das boas coisas que saírem do vosso seio.
Por isso é que vos
recomendamos pedirdes a Deus que vos assista”.
S. Luís aduz[5]: “(...) jamais terei por
demasiado concitar-vos a que façais do vosso um centro sério.
Que alhures se
façam demonstrações físicas, que alhures se observe, que alhures se ouça: entre
vós, compreenda-se e ame-se. (...) Que o espírito de caridade vos reúna, tanto
da caridade que dá, como da que ama.
Mostrai-vos pacientes ante as injúrias dos
vossos detratores; sede firmes no bem e, sobretudo, humildes diante de Deus.
Somente a humildade eleva. Essa a grandeza única que Deus reconhece. Só então
os bons Espíritos virão a vós; do contrário o do mal se apossaria de vossa
alma.
Sede benditos em nome do Criador e crescereis aos olhos dos homens, ao
mesmo tempo que aos olhos de Deus”.
Fénelon completa[6]: “(...) estais convencidos de que
o Espiritismo acarretará uma reforma moral.
Seja, pois, o vosso grupo o
primeiro a dar exemplo das virtudes cristãs, visto que, nesta época de egoísmo,
é nas Sociedades espíritas que a verdadeira caridade há de encontrar refúgio.
(...) Perguntastes se a multiplicidade dos grupos, em
uma mesma localidade, não seria de molde a gerar rivalidades prejudiciais à
Doutrina.
Responderei que os que se acham imbuídos dos verdadeiros
princípios desta Doutrina veem unicamente irmãos em todos os espíritas, e não
rivais. Os que se mostrassem ciosos de outros grupos provariam
existir-lhes no íntimo uma segunda intenção, ou o sentimento do amor-próprio, e
que não os guia o amor da verdade.
Afirmo que, se essas pessoas se achassem
entre vós, logo semeariam no vosso grupo a discórdia e a desunião.
O verdadeiro Espiritismo tem por divisa benevolência e
caridade. Não admite qualquer rivalidade, a não ser a do bem que todos podem
fazer.
Todos os grupos que inscreverem essa divisa em suas bandeiras
estenderão uns aos outros as mãos, como bons vizinhos, que não são menos amigos
pelo fato de não habitarem a mesma casa.
Os que pretendam que os seus guias são Espíritos melhores
que os dos outros deverão prová-lo, mostrando melhores sentimentos.
Haja, pois,
luta entre eles, mas luta de grandeza d`alma, de abnegação, de bondade e de
humildade.
O que atirar pedra a outro provará, por esse simples fato, que
se acha influenciado por maus Espíritos”.
São Vicente de Paulo aconselha[7]: “o Espiritismo deve ser uma
égide contra o espírito de discórdia e de dissensão; mas, esse espírito, desde todos
os tempos, vem brandindo o seu facho sobre os humanos, porque cioso ele é da
ventura que a paz e a união proporcionam.
Espíritas! bem pode ele, portanto, penetrar nas vossas
assembleias e, não duvideis, procurará semear entre vós a desafeição. Impotente,
porém, será contra os que tenham a animá-los o sentimento da verdadeira
caridade.
Estai, pois, em guarda e vigiai incessantemente à porta do vosso
coração, como à das vossas reuniões, para que o inimigo não a
penetre.
Mostrem-se, por conseguinte, mais pacientes, mais
dignos e mais conciliadores aqueles que no mais alto grau se achem penetrados
dos sentimentos dos deveres que lhes impõe a urbanidade, tanto quanto o vero
Espiritismo.
Pode dar-se que, às vezes, os bons Espíritos permitam essas
lutas, para facultarem, assim aos bons, como aos maus sentimentos, ensejo de se
revelarem, a fim de separar-se o trigo do joio.
Eles, porém, estarão sempre do
lado onde houver mais humildade e verdadeira caridade”.
Allan Kardec, enfeixando todos esses pensamentos,
conclui[8]: “(...) para o objetivo providencial,
portanto, é que devem tender todas as Sociedades espíritas sérias, grupando
todos os que se achem animados dos mesmos sentimentos.
Então, haverá união
entre elas, simpatia, fraternidade, em vez de vão e pueril antagonismo, nascido
do amor-próprio, mais de palavras do que de fatos; então, elas serão fortes e
poderosas, porque assentarão em inabalável alicerce: o bem para todos; então,
serão respeitadas e imporão silêncio à zombaria tola, porque falarão em nome da
moral evangélica, que todos respeitam.
Essa a estrada pela qual temos procurado com esforço
fazer que o Espiritismo enverede.
A bandeira que desfraldamos bem alto é a do
Espiritismo cristão e humanitário, em torno da qual já temos a ventura de ver,
em todas as partes do globo, congregados tantos homens, por compreenderem que
aí é que está a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de
uma era nova para a humanidade”.
[1] - KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 71. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª. Parte –
capítulo XXIX, item 349, § 2º
[2] - Idem, ibidem – 2ª. Parte –
capítulo XXIX, itens 334, 348 e 349.
[4] - KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 71. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, – 2ª. Parte –
capítulo XXXI, tomo XVI.
[5] - Idem, ibidem – 2ª. Parte –
capítulo XXXI, tomos XVIII e XIX.
[6] - Idem, ibidem – 2ª. Parte –
capítulo XXXI, tomos XXI e XXII.
[7] - KARDEC, Allan. O Livro
dos Médiuns. 71. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª. Parte – Capítulo
XXXI, tomo XXVI
[8] - Idem, ibidem – 2ª. Parte –
capítulo XXIX, item 350.
ROGÉRIO COELHO – O CONSOLADOR