sábado, 23 de maio de 2015


UMA PROVA DO CÉU

O meu ponto preferido em um shopping é a livraria; bem..., conforme o horário, é a praça da alimentação.

É, precisamos alimentar a mente, o espírito e, claro, o corpo. Ambos me dão muito prazer.

Com a COMIDAhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png precisamos cuidar da qualidade e da quantidade para que o excesso de prazer não nos leve ao desprazer.

O alimento intelectual, também, precisa ser bem escolhido para não ser intoxicado com temas e ideias que levam ao pessimismo, à tristeza, ao desânimo...

 COMIDAShttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png intelectuais que nos fazem bem, há comidas intelectuais que nos enfermam intelectual ou espiritualmente.

A vitrine estava bem sortida. Livros para todos os gostos.

Fui circulando pelos corredores espiando as capas, vendo os lançamentos.

Súbito deparei com a capa de um livro: 

Uma Prova do Céu

Um tema que me interessa. 

Em seguida, li o subtítulo: 

A jornada de um neurocirurgião à vida após a morte. (1)

Interessante o título e muito sugestivo o subtítulo. Li o nome do autor:

Dr. Eben Alexander III.

Pensei: “quem é esse Dr. Eben?”.

 Girei o livro e li na contracapa: 

“Cético, defensor da lógica científica e neurocirurgião há mais de 25 anos, o Dr. Eben Alexander viu sua vida virar no avesso quando passou por uma experiência que ele mesmo considerava impossível.

Vítima de meningite bacteriana grave, ficou em coma por sete dias. 

Enquanto os médicos tentavam controlar a doença, algo extraordinário aconteceu.

Eben embarcou numa jornada por um mundo completamente estranho. 

Sem consciência da própria identidade, foi mergulhando cada vez mais fundo nessa realidade difusa, onde conheceu seres celestiais e fez descobertas transformadoras sobre a existência da vida após a morte e a profunda relação que todos nós temos com Deus.

Aquela experiência o levou a questionar tudo em que acreditava até então. 

Afinal, como neurocirurgião, ele sabia que o que vivenciou não poderia ter sido uma mera fantasia produzida por seu cérebro, que estava praticamente destruído.

“Analisando as evidências à luz dos conhecimentos científicos, o Dr. Eben decidiu compartilhar essa incrível história para mostrar que ciência e espiritualidade podem – e devem – andar juntas“.

Li as linhas atento e admirado. 

Girei nas mãos, novamente, o livro.

 Li, na capa:“Primeiro lugar na lista de mais vendido do The New York Times”.

Logo abaixo: 

A experiência de quase morte do Dr. Eben Alexander é a mais impressionante que já ouvi nas mais de quatro décadas de estudo sobre esse fenômeno” – Dr. Raymond A. Moody Jr.

Tenho por hábito, quando pego um livro para ver, abro-o em uma página, ao acaso, e leio pequeno trecho. 

Foi o que fiz: 

“Cada um de nós está mais acostumado com o próprio pensamento do que com qualquer outra coisa e, no entanto, entendemos muito mais do Universo do que do mecanismo da nossa consciência” (pág. 151, § 1º).

Fechei o livro e pensei: 

vou acompanhar o Dr. Eden em sua experiência de quase morte e senti-lo no retorno à vida.

E ele quase ao final de seu relato afirma: “– Ainda sou cientista, ainda sou médico e, como tal, tenho duas obrigações essenciais: honrar a verdade e ajudar a curar.

 Isso significa contar a minha história” (pág. 165, § 4º).

É uma história comovente que vale a pena conhecer.

 Ressalta a importância da imortalidade da alma e, ainda, como a compreensão dessa verdade altera a vida da pessoa, tornando-a mais justa, humilde, amorosa e solidária.

Referência
Alexander, Eben, Uma Prova do Céu, 1ª Ed. Editora Sextante. Rio de Janeiro.


Ailton Paiva – Revista O Consolador

quarta-feira, 20 de maio de 2015


Os adultecentes

Não me enganei ao digitar a palavra adolescente.

Você já vai entender de onde vem a palavra que dá título a este capítulo.

Como bom leitor, estou sempre com um livro à mão, seja ele espírita ou não. 

Digo isso porque conheço espírita que se vangloria de só ler livro espírita. 

E também se vangloria de só ir ao cinema ou teatro quando a temática é espírita. 

E também só assiste a programas de TV (novelas, jornalísticos...) se o tema for espírita.

 A eles, meus pêsames. 

Estão perdendo a oportunidade de travar conhecimento com ideias riquíssimas que marcam nosso tempo. 

Não entenderam que a Doutrina Espírita existe para libertar consciências, para conectar o homem com a atualidade, a fim de que ela seja enxergada sob a ótica da imortalidade da alma, e não para criar um bando de chatos sectários.

Um livro que muito me impactou e cuja leitura recomendo chama-seConsumido 

– Como o Mercado Corrompe Crianças, Infantiliza Adultos e Engole Cidadãos, do cientista político norte-americano Benjamin Barber.

Que vivemos numa sociedade de consumo, todos sabem.

 E que precisamos consumir para tocar nossas vidas, gerar riqueza e fazer a roda da economia girar, todos sabem também. 

Mas o autor, em plena consonância com os postulados espíritas, condena o consumismo, ou seja, o exagero, e mostra como essa sanha por 


e ter bens para ser alguém transformou crianças em adultos consumidores precoces e infantilizou adultos. 

Complicado? 

Explico: 
o mercado quer que as crianças cresçam logo para que se tornem adultos infantilizados que irão consumir com o próprio dinheiro toda sorte de produtos: 
tênis, camisetas, bonés, pizzas, refrigerantes... 

Daí o termo adultecente (o adulto que se porta como eterno adolescente) em português; kidult em inglês.

Um dos capítulos fala sobre como essa infantilização vem fazendo as pessoas preferirem o fácil em vez do difícil. 

Como assim?

 Não é melhor optar por um método mais fácil de executar uma tarefa? 

Claro que é. 

Quanto mais meios encontrarmos para facilitar nossa vida, melhor.

 Mas não é disso que Benjamin Barber trata.

 Nas palavras do autor,

 “Fácil versus difícil atua como um padrão para grande parte do que distingue o infantil do adulto (...).

 Fácil no reino da felicidade supõe que os prazeres simples triunfam sobre os complexos, enquanto os líderes espirituais e morais em geral dizem o contrário”.

Quem estuda a Doutrina Espírita sabe que não é fácil deixarmos de lado vícios morais e comportamentais e abraçar novos hábitos, adquirir virtudes. 

Tanto não é fácil que não dá para fazer isso em uma só encarnação. 

Por isso, voltamos várias vezes. 

Mas, por imaturidade, por infantilidade, muita gente opta por religiões que oferecem o céu num simples estalar de dedos. 

Afinal, é mais fácil arrepender-se dos pecados e garantir desde já um lugar ao lado de Jesus do que reencarnar várias vezes, burilar o caráter, perdoar inimigos, disciplinar a vontade... 

É complicado e leva tempo. E isso eu é que estou dizendo. 

Trouxe o raciocínio dele para dentro do pensamento espírita.

Para termos ideia de como os adultos andam infantilizados, adultecentes mesmo, vejamos o que o Benjamin Barber observa mais sobre o assunto:

“A nossa sociedade recompensa o fácil e penaliza o difícil. Promete lucros na vida àqueles que cortam caminho e simplificam o complexo a cada oportunidade. Perca peso sem fazer exercícios, case sem se comprometer, aprenda a pintar ou tocar piano com um manual, sem prática ou disciplina, adquira ‘diplomas de faculdade’ pela internet sem curso de aprendizagem ou trabalho, faça sucesso como atleta usando esteroides e chamando a atenção para as suas jogadas. (...) Como é mais fácil bater recordes nos esportes e conquistar a fama como atleta com esteroides do que sem eles! (...) Como é mais fácil mentir sobre o uso de drogas quando interrogado do que confessar a verdade! (...) Estudantes também acham fácil e totalmente justificável colar em provas e plagiar trabalhos escolares. (...) O fato de metade dos casamentos terminar em divórcio tem pelo menos alguma coisa a ver com as atitudes narcisicamente pueris e irresponsáveis que as pessoas levam para o casamento e para o divórcio e, é claro, para os filhos que seus casamentos produzem. (...) mais fácil assistir à TV, onde a imaginação é mais passiva, do que ler livros, onde a imaginação é mais ativa; mais fácil masturbar-se do que estabelecer relacionamentos dentro dos quais a sexualidade recíproca e a sensualidade interpessoal são componentes saudáveis; mais fácil manter um relacionamento sexual arbitrário e inconstante do que um relacionamento envolvendo compromissos. Em suma, é mais fácil ser uma criança do que um adulto, mais fácil brincar do que trabalhar, mais fácil deixar de lado do que assumir uma responsabilidade”.

Vou tomar a liberdade de acrescentar que é mais fácil estacionar o carro em local proibido (portas de garagem, faixas de pedestres, calçadas, vagas para deficientes etc.) do que procurar uma vaga. 

 E também é mais fácil jogar lixo no chão do que numa lixeira, nem sempre por perto. 

Muito mais fácil comer comida rápida e gordurosa (hambúrguer e batata frita, por exemplo), do que preparar algo mais saudável. 

É mais fácil discutir e esbravejar do que conversar de forma adulta. 

É mais fácil enriquecer sendo corrupto do que sendo perseverante e por aí vai.

O mundo está cheio de adultecentes.

Basta prestarmos atenção em muitos artistas e atletas que frequentam o mundo das celebridades. 

Casamentos que acabam com a mesma rapidez com que aconteceram, brigas e escândalos que terminam em delegacias, pessoas que se julgam as mais felizes do mundo simplesmente porque estão enchendo a cara, atores que precisam prestar depoimento numa delegacia e aparecem com um boné na cabeça, mas ao contrário... 

Se não quisermos nos dar ao trabalho de observar os famosos, basta prestarmos atenção em algumas pessoas que conhecemos. 

Familiares, colegas de trabalho, amigos de infância... E até em nós mesmos. 

Ou então, basta ter “olhos de ver” que os grandes sucessos cinematográficos dos últimos tempos são voltados ao “mercado adolescente esticado de pessoas de 13 a 30 anos”, como diz Barber.

E se trouxermos ainda mais o assunto para baixo da luz da imortalidade da alma? É mais fácil odiar do que buscar a reconciliação e perdoar. 

É mais fácil repetir os erros de vidas passadas do que se esforçar para melhorar. 

É mais fácil culpar os outros (supostos Espíritos obsessores incluídos) do que assumirmos nossa responsabilidade nos atos. 

É mais fácil fazer planos diabólicos para obter poder, fama e amor do que optar pelo caminho do trabalho, da renúncia e da abnegação... Enfim, a lista é longa e atesta como o ser humano ainda é imediatista, pueril, inconsequente...

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, pergunta:

792. Por que não efetua a civilização, 
imediatamente, todo o bem que poderia produzir?

“Porque os homens ainda não estão aptos nem dispostos a alcançá-lo.”

Falta de disposição em alcançar o progresso tem a ver com indolência, preguiça moral, infantilidade. 

Quando avançarmos o suficiente para nos desprendermos do consumismo infantilizante, veremos o quanto podemos fazer por nós mesmos e pelo mundo que nos cerca. 

Enquanto isso, oremos e vigiemos, a fim de não tombarmos nos desvãos da adultecência estupidificante que anda por aí.

Quer saber mais sobre o assunto? Leia o livro. Eu recomendo. É muito bom.


Bibliografia:

1 -   BARBER, Benjamin R. Consumido – Como o Mercado Corrompe Crianças, Infantiliza Adultos e Engole Cidadãos.  Ed. Record, 1ª Ed., 2009, Rio de Janeiro, RJ.
 
2 -     KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Federação Espírita Brasileira (FEB), 60ª Ed., 1984, Brasília, DF.

 

 MARCELO TEIXEIRA O Consolador

quinta-feira, 14 de maio de 2015

                                           DOIS CÃES

Um homem que era dono de dois cães ensinou um a caçar e fez do outro seu cão de guarda.

 E, então, cada vez que o cão de caça saía a caçar e trazia alguma presa, o dono atirava um pedaço dela também para o outro. 

Indignado, o cão caçador passou a censurar o cão de guarda, pois, enquanto ele próprio vivia saindo e se estafando, o outro nada fazia e se deliciava com os frutos do esforço alheio. Então o cão de guarda lhe retrucou:

 “Mas não faça críticas a mim, e sim ao meu dono! 

Foi ele que me ensinou não a trabalhar, mas a desfrutar do trabalho alheio”. (Os cães. – Esopo)

Podemos nos apropriar dos dois cães metafóricos de Esopo e ver neles duas instâncias de nossa alma. A que busca e a que retém. Embora lados da mesma moeda, não se confundem em suas ações e motivações intrínsecas.

A parte de nós que caça é aquela que se aventura pelo mundo. Procura conhecê-lo e identificar oportunidades. Fareja coisas e situações que lhe sejam úteis. 

Interage com o ambiente, com as pessoas, objetos e circunstâncias, e procura obter para si o que julga necessário à sua subsistência.

O exercício da caça é perigoso e requer técnica. Não é o simples ver e colher, mas implica em, identificando a presa, preparar a tocaia, o bote e consumação do ato. 

Nessa atividade, inteligência e força são requeridas.

 A estratégia deve ser bem traçada previamente, e opções consideradas, caso falhe o primeiro plano.

 Em várias situações o caçador pode ferir-se seriamente, comprometendo a própria vida – especialmente quando o alvo é cobiçado por concorrentes tão ou mais preparados.

Caçar é uma atividade para fora, para buscar e capturar. É dinâmica e plena de energia. Mente e corpo em atuação harmônica, para que a presa não escape.

A contraparte que guarda, volta-se para dentro e se preocupa com a manutenção e o zelo. 

Está interessada em reter, sem cuidar de buscar mais. Não está atrás de oportunidades fora, mas procura riscos de vazamento e perda. Cuida de possíveis ladrões, sem olhos para presas furtivas.

 Não interage – reage às ameaças. 

Não se estica no espaço para o bote, mas encolhe-se na proteção e no resguardo. Tocaia, armando ratoeiras. Corre sua dose de risco, mas de uma natureza muito diferente da do caçador.

O primeiro cão é ativo; o segundo é passivo.

O equilíbrio das coisas exige as duas performances. 

Parafraseando Eclesiastes, há um tempo para caça, e outro para preservar o que se caçou. 

Perdemos a harmonia quando privilegiamos qualquer um desses aspectos de nossa conduta além da conta justa. Se caçamos demais, roubamos o meio em que vivemos.

Açambarcamos o que não devemos com o discurso equivocado do merecimento –“fiz por onde!” 

Se o que nos move é apenas o prazer da atividade física e o sangue da presa, passamos a predadores nocivos ao meio. Nossa fome nunca é saciada, porque uma presa abatida é estímulo para buscar outra, e mais outra... 

Queremos sempre mais e nunca preenchemos esse oco na boca do estômago, porque buscamos fora o que só podemos encontrar dentro.

Mas esse mal traz consigo seu próprio remédio. Como diz a música popular, 

“quem mata o que não se come, não perde por esperar”. 

Mais cedo ou mais tarde nosso tempo se esgota e vamos nos dar conta de que tanta ação resultou em nada de efetivo para nosso crescimento espiritual.

Por outro lado, se guardamos demais, transformamo-nos em sovinas da vida. Somos como o tolo do Evangelho, que armazenou para as traças e os ladrões, sem perceber a morte iminente, que pode nos acometer em qualquer instante e lugar. 

Ficamos obesos, preguiçosos e lentos, pela excessiva permanência nas torres de vigília. Tememos tudo e todos, como ladrões potenciais das riquezas que julgamos possuir. O menor gesto do nosso vizinho é uma ameaça à nossa tranquilidade.

Olhamos o mundo com os olhos esgazeados da desconfiança e do medo. O afã de reter e proteger nos consome. Nossa vida perde toda a graça e tudo se resume ao zelo com as posses. 

E, assim, não percebemos quando passamos de possuidores a possuídos – nossos bens nos escravizam.

Quando nos dirigimos para nosso trabalho, na busca da sobrevivência, que cão late mais forte dentro de nós? 

O caçador voraz, que de tudo quer se apropriar, ou o vigilante paranoico, que vê ameaça nas menores sombras?

Qualquer um deles que prevalecer tem a capacidade de tornar nossa vida um inferno. Deveríamos escolher o caminho do meio, como já preconizavam os antigos sábios. 

Caçar na justa medida da nossa fome; guardar o que vale a pena ser guardado. O conselho de Paulo, apóstolo, é de grande sabedoria:

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma” (I Cor, 6:12).

Buscar o que necessitamos no mundo é da lei de sobrevivência. Buscar o excesso corre por nossa conta e risco.

Guardar o que realmente nos aproveita é medida de precaução e bom senso – previdência. Armazenar em excesso engorda e entorpece o espírito.

Tanto uma postura quanto outra é muito difícil. Mas quem disse que crescer é fácil? 

Nossa sociedade predispõe e estimula ferozmente o consumismo (caça) desenfreado. 

Ao mesmo tempo, o clima de insegurança que nos envolve, até por consequência do muito ter, torna-nos demasiadamente apegados a coisas e valores passageiros.

 Mas os dois cães habitam em nós – somos nós. Qual dos dois alimentamos mais?

José Lourenço de Souza Neto – O Consolador



quarta-feira, 6 de maio de 2015

    COMO MORRER NO FACE BOOK

A revista Seleções READER´S DIGEST, do mês de dezembro de 2013, páginas 104 a 107, traz uma reportagem com o título deste artigo. 

Vejamos um pequeno trecho: 

“Antigamente, a notícia da morte de alguém passava de uma pessoa a outra. 
O falecimento era lembrado num templo ou numa igreja, chorado no cemitério ou sofrido em silêncio.

 Hoje, torpedos e e-mails compartilham o acontecido. 

E as redes sociais oferecem a muita gente a oportunidade de homenagear e chorar quem partiu.

No funeral, há hora e lugar específicos para chorar a morte de alguém, diz Jed Brubaker, estudioso de mídias sociais do campus da Universidade da Califórnia em Irvine.

No facebook, qualquer um pode participar desse processo a qualquer momento”.

Aproveitamos a ideia da tecnologia moderna para lembrarmos a figura da Dra. Elizabeth Kübler-Ross, a mulher pioneira em ouvir aqueles que se avizinhavam da partida através da morte física, ao ponto de considerá-los seus mestres no assunto.

Antes dela, a ideia que imperava era a de que nada se teria a dizer ou fazer para consolar o paciente terminal. Exatamente por isso, existia a imobilidade que impedia o consolo possível de chegar até esse paciente.

Doutora Elizabeth é suíça de nascimento, formada na conceituada Universidade de Zurique. Seus pacientes morriam de preferência em suas próprias casas, com a assistência médica necessária, mas cercados do carinho dos familiares e visitados pelos amigos e não em um local frio e distante como uma UTI.

Já que todos iremos enfrentar infalivelmente o momento da morte, pensava ela, nada mais lógico do que nos prepararmos para isso. 

A grande lição dessa psiquiatra famosa em todo mundo está contida nas suas palavras:

 “Viva, de modo que você não tenha que olhar para trás e dizer: Meu Deus, como desperdicei minha vida!”.

Em seu mais impactante livro – Sobre a morte e o morrer -, ela destaca o muito que os agonizantes têm a ensinar aos médicos, às enfermeiras, aos sacerdotes e às suas próprias famílias.

 Destaquei a palavra “sacerdote” no sentido de generalizá-la a todos os representantes de qualquer religião que, supõe-se, devam levar o consolo ao paciente e aos familiares nesses momentos extremamente difíceis da existência.

É da autoria dela os cinco estágios hoje plenamente aceitos pela medicina sobre o posicionamento do paciente perante a possibilidade de morrer. 

A primeira fase é a negação. 

A pessoa reage como se o diagnóstico estivesse errado. Que aquilo não estaria se passando realmente com ela. 

Que se trata de um sonho ruim do qual irá despertar e ficar tudo bem. A segunda fase é a da raiva, a da revolta. 

A pessoa se revolta contra Deus ou, se descrente, contra a própria vida, avaliando-se como não merecedora de tal sorte. 

A terceira parte, para aqueles que creem, é a negociação com Deus. Se a doença e todo sofrimento que a cerca não se confirmar, prometem modificar-se em algum ponto de sua vida em que vivia equivocada. A quarta fase é a da depressão. 

É a entrega. 

É o abaixar de armas e desistir da luta, de entregar-se. E, finalmente, a última fase é a da aceitação. O desenvolvimento dessas fases, a doutora Elizabeth Kubler-Ross aprendeu em seus inúmeros contatos com doentes terminais.

O interessante é que a ilustre médica começou a aprender coisas diferentes com os pacientes terminais que descreviam as ocasiões em que se viam flutuando acima do corpo físico e a presença de parentes ou amigos já falecidos que vinham visitá-los.

Passou a divulgar para o mundo todo as suas descobertas com a finalidade de levar consolo aos doentes e seus familiares. 

Não é preciso dizer que não foi bem aceita por uma parte de seus colegas que começaram a ver nela atitude mística, de ocultismo, orientalismo ou, talvez, até mesmo de uma certa debilidade mental.

Em uma determinada ocasião, voando num avião de pequeno porte (vinte lugares apenas) um repórter perguntou-lhe se ela não tinha medo de voar. 
Respondeu a doutora de maneira enfática e objetiva: 

“Não tenho medo de morrer. 

Estou apenas à espera de ordens lá de cima”.

Ensina Joanna de Ângelis que a intuição da vida, o instinto de preservação da existência, as experiências psíquicas do passado e parapsicológicas do presente atestam que a morte é um veículo de transferência do ser energético pensante, de uma fase ou estágio vibratório para outro, sem expressiva alteração estrutural da sua psicologia. 

Assim, morre-se como se vive, com os mesmos conteúdos psicológicos que são os alicerces (inconsciência) do eu racional (consciência).

Você se chocaria se um dia seu nome estivesse, nas condições mencionadas pela reportagem da revista Seleções, em um facebook?

Ou seria melhor perguntar se você tem medo de voar? Ou está apenas esperando ordens lá de cima?

Como diz a doutora Elizabeth, sendo o momento da morte infalível, nada melhor do que nos prepararmos para ele.

 Para isso, temos que primeiro afastar a ideia de que somos imortais fisicamente falando. 

Afastar a ideia de que nossa morte está sempre em um horizonte muito longínquo esquecido no tempo. 

Em um segundo momento, vivermos de tal forma que não precisemos olhar para trás e dizer: 

Meus Deus, como desperdicei minha vida!

No dia em que conseguirmos tudo isso, com certeza não teremos mais medo de voar...
 

RICARDO ORESTES FORNI -  o CONSOLADOR

sábado, 2 de maio de 2015


RISO E PRANTO


“A felicidade é sempre um misto de riso e pranto, até a nossa união integral na Vida Maior.”


Com essa frase procedente de Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, podemos compreender que, de fato, a Terra não é aquela estação de aperfeiçoamento capaz de nos oferecer riso e alegria, durante o período integral em que estivermos compromissados com a missão abraçada por imposição da Grande Lei de Causa e Efeito.

Se o curso da existência for demasiado longo, maior será esse misto de forças opostas se contrapondo durante todo o período; ora de um lado, ora de outro, como a frase bem a define: 

de um momento a alegria, que cada qual a usufrui ao seu jeito; de outro, a tristeza, que às vezes mergulha fundo na alma, transtornando a vida e perturbando o Espírito.

As trevas, que chegamos mesmo a compreender que se acham distantes em certos dias, vemo-las com seus tentáculos a nos envolver com a espessa cortina da indiferença, resultando numa momentânea perda de equilíbrio em nossos pensamentos e atos. 

E é justamente nesse campo que atuam as forças invisíveis e contrárias à nossa felicidade, pois com essa presença indesejada vemos contrariar e, às vezes, naufragar os nossos planos, preparados e construídos ao longo do tempo e organizados com muito sacrifício.

Reconhecidamente, na condição de espíritas, temos o entendimento natural para esses quadros dolorosos. 

É aí que a Grande Lei executa os planos traçados para a existência individual ou coletiva.

Por isso mesmo é que a espiritualidade também afirma que a felicidade não é deste mundo. Para nós, que temos a visão limitada, sabemos o que é felicidade, mas sabemos da felicidade que se pode alcançar na Terra, nada mais além desse alcance singular. Não é possível achar falta de algo que não se conhece, podemos, isso sim, imaginar situações diferentes e que consideramos especiais, como por exemplo, uma vida, quando feliz, não poderia nunca ser simplesmente desfeita.

 A morte, outra situação, além de subtrair um ente amado no seio da família, deixa eterna cicatriz no espírito e no coração e que assim permanecerá enquanto encontrar-se no chão terreno, aguardando pelo seu momento derradeiro.

E foi nesse dia, quando um amigo, que aqui identifico como Antônio Monteiro, chamado de ‘Toninho’ pelos que lhe são próximos, ao ser convidado para o fechamento da reunião mediúnica a que estávamos participando, abordou o assunto referente à frase que inicia este texto e que estava estampada na tela onde são projetadas mensagens sobre a Doutrina.

Tomando a palavra, disse que nossa vida na Terra é razoável, em face da presença do bem e do mal que caminham simultaneamente ao lado de cada um.

 Lembrou que a dificuldade atual de comparecer para uma visita a familiares ou mesmo a pessoa doente limita-se a contatos pelas vias disponíveis.

Através do computador, hoje, se felicita alguém, transmite-lhe um abraço, um beijo etc... 

Enfim, esse é o momento que estamos vivenciando. 

Tudo ou quase tudo é feito pela máquina que, pela sua fria condição mecânica, eletrônica ou digital, não oferece nada mais, além de executar uma possibilidade virtual na intenção.

 E pergunta:

 “O aparelho tem sentimento? Tem amor? Você poderá, por esse equipamento, fazer com que chegue à pessoa amada, por exemplo, o seu abraço? Poderá dar-lhe um beijo? 

Fazer com que seu sentimento seja registrado, de fato? Claro que não. Isso ainda não é possível.

E é uma verdade.

É por isso que, a cada dia, mais distantes nos tornamos do nosso próximo. O tempo, que sempre julgamos escasso, sempre será o repositório da culpa que lançamos mão para justificar um comportamento ausente e falho. Também assim agimos em relação à oração.

 Como sempre o tempo está curto e a pressa é presença constante e a cada dia que passa nos damos conta de que estamos na condição de devedor, também neste campo.

Sendo assim, para que o riso ou o bem-estar faça parte da vida e o pranto ou o arrependimento, por consequência, sejam mantidos afastados, mudemos ou aperfeiçoemos nossos atos e atitudes frente às necessidades verdadeiras da vida que se relacionam com os nossos próximos e menos próximos, e igualmente as que estão vinculadas com nosso Criador, Senhor da Vida e dos Mundos, a quem devemos tudo o que somos e que temos”.



Wladimir Polízio – O Consolador