domingo, 24 de agosto de 2014


Recado aos filhos

Honrar pai e mãe é lei divina a ser seguida rigorosamente

Filhos, amem a seus pais! Honrem seu pai e sua mãe, pois pior que tê-los longe fisicamente, é tê-los na ausência da morte ou do abandono.
Jovens, não vivam a vida de forma tão egoísta, pensando apenas em seus problemas, na satisfação dos seus desejos e caprichos. Olhem para eles! Estão envelhecendo e é chegada a sua hora de olhar por eles.
Quantas noites mal dormidas e, às vezes, nem dormidas!... Quantas aflições por suas doenças, por suas lágrimas!... Quantos sonhos abandonados para que os seus sonhos se tornassem realidade!...
Hoje, com menos vigor físico por males que o avanço da idade provoca, não conseguem mais acompanhá-los nos seus projetos. Sejam, pois, pacientes e agradecidos; estejam com eles na presença física do abraço e do beijo filial, dos pequenos mimos que tanto lhes aquecem o coração já cansado, do riso jovem e fácil que mostram a eles que o dever foi cumprido, do jeito que conheciam e podiam, e que a vida continua.
Não cobrem o que, hoje, não têm para dar. Já deram muito! É hora de retribuir.

Achaques, picuinhas, revides não são bem-vindos em criaturas que pretendem ser pais e formar uma família.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014


De cunho inter-religioso, realizou-se a 2ª edição do Movimento Você e a Paz em Tramandaí
O evento integra o calendário turístico da referida localidade gaúcha, conhecida também como a Capital das Praias
 
O evento denominado Movimento Você e a Paz, idealizado e divulgado pelo nobre espírita Divaldo Pereira Franco desde o ano de 1998, com o objetivo de congregar pessoas e instituições na construção e desenvolvimento da paz e da não violência, passou a ser inserido, por lei, no Calendário Turístico de Tramandaí (RS). O primeiro final de semana do mês de março foi reservado para a execução dessa formidável proposta, a construção da paz.
Este ano, contudo, em sua 2ª edição, o Movimento Você e a Paz foi realizado no dia 2 de março, no Centro Municipal de Cultura, local onde tradicionalmente é realizada anualmente a festa do peixe, fato que atrai inúmeros turistas para a Capital das Praias.
 
O ambiente no local do encontro transparecia harmonia, propiciando reflexões em torno do elevado tema.
De cunho inter-religioso, este ano participaram, com suas propostas de paz, representantes da Doutrina Espírita, da Maçonaria, da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros e do Instituto Francisco Lorenz.
Cada representante pautou sua mensagem na exaltação à construção da paz íntima, desenvolvendo a fraternidade, a religiosidade, a espiritualidade, a generosidade, o relacionamento interpessoal, a harmonia, a tolerância, o sentimento de humanidade, a gentileza, o cumprimento de deveres, o respeito, a liberdade, o cultivo de bons pensamentos, o perdão, a ternura e a não violência.
A abertura do evento foi realizada com uma breve reflexão proferida por Marcos Godói, condutor do cerimonial. A execução do hino nacional e do hino rio-grandense-do-sul, entoados por todos, ofereceu o toque oficial, iniciando o aguardado cometimento.
O evento teve o apoio da Prefeitura de Tramandaí – OMovimento Você e a Paz – 2ª edição – foi organizado e realizado pela União Intermunicipal Espírita-Osório, pela 10ª Região federativa da Federação Espírita do Rio Grande do Sul e pela Sociedade Espírita Fé, Amor e Caridade, com o apoio cultural da Prefeitura de Tramandaí. 
 
Os expositores foram Paulo Salerno, representando Divaldo Pereira Franco; João Alessandro Muller, Presidente da 10ª Região/FERGS; Luiz Genaro Ladereche Fígoli, Mestre Maçom da Loja Palmares do Sul nº 213; Clovis Alberto Oliveira de Souza, Conselheiro Geral do Conselho Estadual da Umbanda e dos Cultos 
Palestrantes e organizadores
Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul; Fernando Lorenz, Presidente do Instituto Professor Francisco Valdomiro Lorenz, e Georgina Valente, Psicopedagoga, representando os espíritas do Rio Grande do Sul.
Clovis Alberto apresentou dois integrantes de sua instituição, que em conjunto, tocaram e cantaram o hino da Umbanda. Marcos Godói, com seu dinamismo natural, apresentou resultados sobre o acompanhamento do evento através das redes sociais, denotando o interesse dos internautas. Motivador afável, Marcos também protagonizou momentos de relaxamento, animando os presentes.
Luiz Genaro propôs, ao final de sua exposição, que cada um cumprimentasse as pessoas que estavam próximas, gerando um clima de descontração e fraternidade. Todos muito animados, e envolvidos pelas judiciosas propostas de não violência, cantaram a canção de Nando Cordel, Paz pela Paz, ao tempo em que balões brancos caíam sobre o público. Em seguida, com uma grande salva de palmas, a 2ª edição do Movimento Você e a Paz de Tramandaí foi encerrada.

Nota do Autor:
 
As fotos que ilustram esta reportagem foram feitas por Jorge Moehlecke.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

                                           o ser humano

“O ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida, momento grandioso do processo evolutivo que, para atingir a sua culminância, atravessa diferentes fases que lhe permitem a estruturação psicológica, seu amadurecimento, sua individuação, conforme Jung.” – Joanna de Ângelis. 


Compare a afirmativa acima de Joanna, destacando o início do parágrafo – o ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida – com a reportagem contida na revista VEJA, edição de nº2378, de 18 de junho de 2014, páginas 72 e 73.


 Informa a reportagem:


 “Na rodoviária do centro de Tucson, no Estado americano do Arizona, cortinas negras cobrem um antigo armazém, separando esse espaço do local onde passageiros aguardam o ônibus. 


Atrás dos panos, mulheres e crianças, todos imigrantes ilegais, recebem doações de roupas, brinquedos e alimentos das mãos de voluntários.


 A uma hora de carro dali, na cidade de Nogales, na fronteira do México, um abrigo do governo aloja 1100 crianças que entraram nos Estados Unidos desacompanhadas.


 A média de idade é de 16 anos e a menor delas tem apenas 3. 


Aqueles que estiveram lá dentro (a imprensa não tem acesso ao lugar) contam que os banheiros são improvisados e que os pequenos não têm roupa limpa. 


 O cheiro, dizem, é insuportável

 As celas, onde estão acomodados, são frias e não há casacos nem mantas.
A comida trazida pelos guardas não é suficiente para todos.

 Nos últimos meses, o país recebeu um volume inédito de imigrantes com menos de 18 anos de idade e de mães com bebês, os quais colapsaram o sistema imigratório.


 A patrulha de fronteira apreende entre 200 e 250 crianças e adolescentes por dia ao longo da cerca que separa os Estados Unidos do México”


Na questão de número 383 de O Livro Dos Espíritos, nos é esclarecido que é exatamente no período da infância que o Espírito reencarnado está mais aberto às impressões necessárias ao seu adiantamento


 Se perdido esse período, tudo fica mais complicado. Daí a lamentável situação dessas crianças e adolescentes descrita na reportagem da referida revista.


Dona Benedita Fernandes, cognominada com justiça como a Dama da caridade, dedicava-se na sua última reencarnação na região noroeste do Estado de São Paulo, aos doentes mentais e às crianças desamparadas.


 Na edição de no 2.223 da revistaReformador do corrente ano, página 325, encontra-se estampada uma foto desse Espírito abençoado junto a um grupo de crianças. 


Caso vá apreciar a foto que vale a pena ser vista, repare em um detalhe:


até um animal, uma cachorra, encontra lugar para receber carinho das mãos da querida Benfeitora. 


É uma característica dos Espíritos evoluídos existir neles espaço para o amor pelos animais, porque quem ama verdadeiramente ao Criador não pode deixar de amar a todas as suas criaturas. 


Com essa foto com a estampada na reportagem da revistaVEJA e verá registrada a própria foto da presença do amor e da ausência dele.


No livro Sementes de vida eterna, editora LEAL, 1978, capítulos 20 e 21, páginas 85 a 92, encontramos as seguintes colocações:


“Os altos índices de atual delinquência infantojuvenil, cada dia mais afligentes, atestam o malogro da cultura, diante do problema-desafio, que se converte em látego, vigorosamente aplicado na criatura humana

 O menor carente, que assume um comportamento antissocial, é a pungente vítima dos desequilíbrios que sacodem as estruturas da comunidade terrestre.


Todos têm direito, na comunidade humana, ao mínimo que seja, para viver com decência e liberdade.


Negar tal concessão é conspirar contra a felicidade do próximo e a própria paz, agora ou depois.


 Façamos a nossa parte, por menor que pareça, iniciando esta cruzada de amor, que vem sendo postergada e que, não realizada, levar-nos-á aos roteiros do sofrimento e da soledade, por incúria e insensatez.


Hoje brilha a luz da famosa oportunidade que se transformará em abençoado sol do amanhã, a fim de que as trevas do mal se afastem, em definitivo, da Terra, havendo claridade de paz, nas mentes e nos corações”.


Dona Benedita Fernandes, que viveu sua última reencarnação de 1883 a 1947, já sabia disso.


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Quantos anos ou séculos mais necessitaremos para chegar ao entendimento de que o ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida?


  •  RICARDO ORESTES FORNI 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014



Sobre bodes e cabras

Antigo adágio popular assevera que: “prendo minhas cabras, porque os bodes estão soltos”, referindo-se à necessidade de supervisão da conduta afetiva das jovens do gênero feminino, a despeito da liberdade inerente atribuída ao gênero masculino. Como todo ditado, revela uma sabedoria do senso comum, presente na cultura das comunidades e no cotidiano das ações.
Quando vejo jovens moças acompanhando os pais e esses se orgulhando de dizer que a menina, quase na maioridade, ainda não namorou, estampando na face a tranquilidade da “zona de conforto”, pelo fato de estar protelando problemas e desafios dessa experiência, me preocupo muito. Causa espanto e apreensão essa negação da vivência afetiva, entendida como uma coisa positiva, como se o relacionamento afetivo fosse uma coisa sempre nefasta, que deve ser adiada o máximo possível.
Essa visão dos pais, de que a menina está bem por não ter interesse em relações afetivas, pode trazer prejuízos sérios à formação de sua personalidade, decorrentes da fuga dos conflitos e das experiências naturais da adolescência, por vezes encontrando até na religião um refúgio, como no caso do voto de clausura[1]. Preocupa-me muito mais a solidão juvenil.
O isolamento juvenil da vida amorosa diminui aparentemente os riscos e as incertezas da vida, pode prometer curar chagas de dores mal resolvidas e ainda, adiar a luta contra a timidez. Entretanto, ao mesmo tempo, nega a vivência saudável e produtiva de uma relação afetiva, onde se experimenta a dor da saudade, a força da paixão e a confusão do ciúme, tendo a adolescência também esse caráter de “escola dos sentimentos”, preparando para a vida.
A ausência de relacionamentos pode criar jovens amedrontadas, inseguras e frágeis para a vida que se segue, onde se incluirá a inevitável vivência de relacionamentos mais sérios e provavelmente o casamento. Não ver óbices e até exaltar a jovem de uma certa idade que não vivencia o namoro, por mais cômodo que seja para os pais, pode mascarar as frustrações de uma mente reprimida, que sofrerá mais à frente, quando a vida a empurrar do galho, tendo que, então, voar sozinha.
Da mesma forma, essa repressão polarizada no polo feminino pode romper o diálogo, criando um reino de mentira, de pessoas de duas caras, apresentando a família uma faceta e ao mundo masculino outra. O diálogo com a família permite repartir dúvidas e fortalecer a visão da jovem, às vezes ingênua diante das armadilhas da juventude, na divisão de impressões diante dos “cantos de sereia” típicos à idade.
O dito popular citado reforça essa normalidade da pseudopreservação feminina, que pode representar uma virtude aparente, ocultando um sufocamento do convívio social, privando-a de uma das coisas belas da vida, que é namorar. Essa visão sexista traz embutida uma percepção negativa da afetividade, da relação entre as pessoas, do amor romântico, proscrevendo estas potencialidades naturais do ser humano, sagradas e benditas, como já nos asseverava Chico Xavier no programa “pinga fogo” (1971), revelando que o problema não está na potencialidade e sim na imperfeição humana.
 O complexo, o desafio posto, é encontrar o ponto de equilíbrio entre o zelo pela criação da jovem e o medo da vida, associado às questões mal trabalhadas nos corações dos próprios pais. A juventude é um momento de cuidado, crítico para pais e jovens, em que todo o processo de educação, associado à bagagem do Espírito, se vê confrontado com o mundo, na formação da personalidade.
Por isso, adiar conflitos não conduz à solução dos mesmos, cabendo a orientação e o diálogo, como remédios em doses homeopáticas diante das dificuldades, inexoráveis, na existência do Espírito encarnado.
E para os jovens leitores e leitoras, bem como seus pais, concluo a reflexão com um trecho da poesia “Ter ou Não Ter Namorado? Eis a Questão!!!”, de Carlos Drummond de Andrade:

"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrimas, nuvem, quindim, brisa e filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado mesmo, é muito difícil. (...)”.

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
  

terça-feira, 29 de julho de 2014

                                        ONDE ESTA A FELICIDADE?


"Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho." (Paulo, Filipenses 4:11.)

Qualquer criatura vivenciando plena lucidez e total controle de raciocínio, por certo,  caminhará com avidez à procura da felicidade.

Terá consciência também, pelo estágio evolutivo em que vive, que no atual momento  poderá apenas obter uma felicidade relativa ou situações felizes, mas nunca a felicidade absoluta.

E essa felicidade relativa tem a dimensão e o peso dos nossos sonhos.

 Uns a encontram na aquisição de um carro de última geração, outros deparam com ela ao apenas possuir um carro. Existem os que a procuram na casa moderna e confortável, enquanto outros buscam por ela conseguindo uma casa.

Para o faminto a felicidade é poder encontrar um prato de comida capaz de sanar sua necessidade de alimentação. 

Para o desempregado a felicidade poderá chegar com a obtenção de um posto de trabalho que lhe garanta o sustento e a dignidade. 

Para o doente, encontrar novamente a saúde será, obviamente, um momento de felicidade.

Paulo de Tarso, em expressiva carta aos Filipenses asseverou que aprendeu a contentar-se com o que tinha, numa inequívoca demonstração de compreensão e resignação diante da vida, não se perturbando e nem estragando o dia ante pequenas contrariedades, tão próprias em nosso quotidiano.

Em realidade, quem não pode ter o que  quer, que queira o que pode, pois em inúmeras situações não conseguimos obter o objeto dos nossos desejos ou a  concretização dos sonhos que acalentamos; assim, imperioso se torna que saibamos estar contentes com aquilo que é possível.

 Certamente, nessa postura de equilíbrio e tirocínio, nos depararemos com a felicidade possível.

Certa feita uma senhora de boa posição econômica e social, passando pela rua, notou um senhor já de idade avançada, mal vestido e com semblante cansado, puxando um carrinho de tamanho razoável, repleto de material reciclável.

Condoída, imaginou o sofrimento e a luta daquele homem, tendo que fazer o trabalho de um animal irracional, ao puxar o carrinho.

Aproximando-se dele, exclamou:

– O senhor deve sofrer muito, se afligir demais, pois tem que se humilhar e fazer o trabalho de um animal, ao transportar essa carga.

– Não, minha senhora, eu sou feliz, pois mesmo com a minha idade ainda tenho forças e disposição para arrastar este carrinho cheio de material reciclável, que venderei logo adiante e, com os recursos obtidos, manterei meu sustento e dos netinhos que cuido. 

Ainda, passeio pelas ruas, vejo a movimentação de carros e gente e, vez por outra, ainda tenho o prazer de encontrar pessoas gentis como a senhora, que se preocupa com o próximo.

Sem dúvida, para o catador de reciclável a felicidade estava em poder realizar o seu trabalho.

Na verdade, a felicidade que podemos obter, por agora, não se trata de uma conquista externa, mas sim de uma postura interior. 

Muitas criaturas infelizes estão guerreando sozinhas enquanto outras felizes estão bem, mesmo em meio à guerra que gira ao seu redor.

Quando aprendermos a nos contentarmos com o que temos, estaremos de posse da felicidade que se pode ter aqui na Terra, pois a palavra divina há muito já nos informou  “que a verdadeira felicidade não é deste mundo”.

Onde procuramos a nossa felicidade? 

Pensemos nisso.


WALDENIR APARECIDO CUIN

sexta-feira, 25 de julho de 2014


                                         CAIR EM SÍ 

Inegavelmente, as parábolas de Jesus são um manancial de aprendizado e beleza, porquanto são narrativas simples, mas de conteúdos espiritual e moral inigualáveis, sendo que permitem ao leitor ou ao ouvinte a identificação espontânea com o sentido ético da lição.

Jesus raramente apontava os erros individuais, pois sabe que o ego possui mecanismos automáticos de defesa, dentre eles, a negação, de tal sorte que, com as parábolas, facultava à criatura humana, de acordo com seu nível de maturidade, o reconhecimento e a análise de seus desvios morais e equívocos existenciais.

Dentre as parábolas narradas no evangelho, destaco a do filho pródigo, porque representa a síntese da evolução espiritual, permitindo-nos uma profunda reflexão a respeito de como anda a nossa atual existência física.

A benfeitora Joanna de Ângelis, na obra “Em Busca da Verdade”, pela lavra mediúnica do confrade Divaldo Pereira Franco, escreve sobre a referida parábola, dando-nos diversos enfoques sobre a conduta de cada personagem, tornando a parábola ainda mais rica e bela de ensinamentos.

Fica registrada a sugestão para a leitura da obra mencionada.
A parábola expõe o momento em que o filho pródigo, imaturo e impulsivo, opta por sair da casa do genitor para viajar a um país longínquo, onde gasta sua parte da herança com leviandades e prazeres materiais.

 Após consumir-se nas paixões e gastar todo seu recurso econômico, vê-se diante de um período de fome que se instalara naquela região. Privado de tudo e passando necessidades, começa a trabalhar com porcos, vindo a disputar a comida com eles.

Porém, chega o momento em que o filho pródigo cai em si e retorna à casa do pai, onde é acolhido com imensa ternura e amor. 

 Essa parábola explica claramente o processo do deotropismo, isto é, fomos criados por Deus, portanto, saímos “das suas mãos”, mas, por imaturidade e ignorância, perdemo-nos na estrada da evolução e afastamo-nos dele, até o momento em que, extenuados pelo sofrimento e famintos de amor e conhecimento, caímos em nós e optamos por voltar à casa do Pai Celestial, que, generoso e confiante, sempre nos aguardava.

Cair em nós significa o exato momento em que ocorre o despertar da consciência.

A consciência desperta quando identificamos que somos Espíritos imortais a caminho da plenitude e que a vida no corpo tem um sentido ético, devendo abranger o crescimento intelecto-moral.

Obviamente que é o primeiro passo na direção de regresso a Deus, pois outros desafios evolutivos surgirão, tais como, libertar-se dos conflitos cultivados, harmonizar o eixo ego-self, eliminar os defeitos morais e converter o despertar da consciência em atitudes renovadas sob a égide do amor.

No capítulo quarto da citada obra, Joanna de Ângelis compara o despertar da consciência com o mito da expulsão do paraíso.

Enquanto vivemos, simbolicamente, no jardim do Éden, o ego (carga de egoísmo presente no inconsciente, fruto da evolução nos reinos inferiores da criação) toma todo o espaço do Self (ser espiritual que contém o germe divino para a plenitude), gerando uma vida materialista, de acomodação e deleite.

 Era a conduta do filho pródigo, cuja consciência ainda estava adormecida.

Notemos que Adão e Eva não trabalhavam, porque o necessário para as suas sobrevivências estava à disposição no Éden.

Todavia, após comerem o fruto da árvore proibida (mito), foram expulsos do paraíso, e Deus condenou Adão ao trabalho.

A partir dessa ocorrência, Adão passa a descobrir o valor do trabalho e do esforço, na medida em que tudo o que necessita passa a ser fruto do merecimento, portanto, há o despertar da consciência.

Assim ocorre conosco. Quando os ensinamentos de Jesus preenchem os vazios da alma, passamos a trabalhar em favor do nosso crescimento espiritual, na busca dos valores imperecíveis que dignificam a nossa vida. 

Na simbologia de Joanna de Ângelis, passamos a ser um novo Adão, isto é, um homem novo, com ideais bem definidos, procurando mais servir do que ser servido.
Caímos em nós e redefinimos o rumo de nossa vida como ser imortal destinado à plenitude, porque começamos a regressar à Casa do Pai, nesse processo de integração com o Arquétipo Primordial, razão pela qual Jesus disse que Ele e o Pai eram um só (perfeita integração).

Paulo de Tarso, ao cair em si, verbalizou “já não sou eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim”, porque se integrou com o pensamento de Jesus e, por conseqüência, de Deus.

Anote-se que ao cair em si é natural que surjam as culpas, que, do ponto de vista psicológico, é produtiva desde que bem direcionada.
Joanna de Ângelis fala do “Eu-Angélico” (recursos divinos em nossa intimidade), que estimula a culpa, pois a presença desta é sinal de instalação do despertar da consciência, que nos aponta o certo e o errado, o bem e o mal proceder.

Diante da presença da culpa, cabe-nos não repetir o erro e reparar o mal causado, se possível.

Caso não seja, basta fazer o bem em favor de alguém ou da vida, porquanto a ação fraterna é ponto positivo na contabilidade divina a anular ou amenizar o mal causado (o amor cobre a multidão de pecados – Simão Pedro).

À medida que vamos evoluindo, aproximamo-nos cada vez mais de Deus, tornamo-nos mais livres e felizes, uma vez que começamos a superar os impulsos inferiores e as tendências agressivas, bem como não permitiremos que o mal dos maus nos atinjam. 

Isto é ser livre.

Não permitir que os outros afetem a serenidade interior conquistada a partir do cair em si.

O Espírito de Joanna de Ângelis ainda nos apresenta Jesus como sendo o filho pródigo do amor, haja vista que se afastou das regiões celestes (Casa do Pai) e foi para o país longínquo da matéria densa, vivendo com a ralé (pigmeus morais – simbologia do porco na parábola). Ensinou a criatura humana a dissipar a sombra individual, mas foi incompreendido e crucificado, voltando, rico de bênçãos, à Casa do Pai.

Todavia, seus ensinos permanecem como lições vivas de esperança e júbilo, tendo suas parábolas contribuídas para esse cenário, auxiliando-nos no processo inevitável do cair em si, com o escopo de renovação moral.

Para os espíritas, cujo despertar da consciência foi mais intenso em virtude dos conhecimentos amealhados a partir do Espiritismo, percebemos que o cair em si se dará diante dos mínimos erros, porque a consciência, de imediato, apontará que não procedemos conforme deveríamos.
O Espírito de Bezerra de Menezes fala-nos sobre o ousar no bem, dar um passo além, de forma que o verdadeiro cristão, por ter caído em si, sabe que pode fazer mais em favor do amor e da paz, sobretudo, dulcificando a própria conduta.

Frise-se que o processo do cair em si não é um episódio único, mas inicia-se com o despertar da consciência, cuja extensão vai se ampliando na exata proporção do nosso esforço em favor da busca do conhecimento e da vivência do amor.

 “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” dos equívocos, da ignorância. Naturalmente, chegará um momento da evolução em que não mais precisaremos cair em nós, pois a consciência e a conduta estarão perfeitamente afinadas com as diretrizes do evangelho.

O tema e a parábola em questão são profundos, de forma que caberiam outros apontamentos, mas fica o convite para o auto encontro, cientes de que o Pai Generoso nos aguarda sempre, amoroso e gentil, cabendo a cada um de nós apressar esse retorno, sobretudo pelas escolhas acertadas e por uma vida pautada pela pureza de coração.

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.

Alessandro Viana Vieira de Paula -  O Consolador