quarta-feira, 22 de janeiro de 2014




                                      A questão das esmolas

Sempre que caminhamos pelas ruas em busca dos nossos afazeres, um quadro se apresenta:

a mendicância. São irmãos que ali se encontram em grande desterro espiritual suplicando caridade.

É comum levarmos as mãos aos bolsos ou bolsas, tirarmos uma cédula ou moeda de pequeno valor e depositarmos naquelas mãos um mínimo que, quem sabe, pode ajudá-los em mais um momento de suas existências.

Assim, os dias se sucedem e, comumente, aqueles irmãos e irmãs são encontrados nas mesmas ruas, esquinas, praças...

Muitas vezes crianças maltrapilhas, mal cuidadas e expostas a todos os tipos de perigos. 

 E isto vale reflexões.

Inicialmente devemos olhá-los como se olha para irmãos em processo evolutivo, temporariamente vivendo aquele tipo de experiência.

Certa feita um amigo me disse que decidiu sair à noite e ofertar aos moradores de rua fatias de pães e bolos acompanhados de chocolate ou suco.

Numa das abordagens a um senhor que tentava conciliar o sono, foi recebido de forma calorosa. Aquele homem somente aceitaria a ajuda se antes dessem as mãos e fizessem juntos uma prece de agradecimento.

Foi um momento sublime, disse meu amigo.

A história daquele senhor o emocionou.

Foi abandonado pelos filhos, despojado dos seus bens e tido como pessoa não grata ao convívio familiar no qual vivia.

Evidente que não cabe aqui um estudo sobre aquele caso em particular e sim uma olhada mais demorada em todos os casos que existem em cada pessoa que encontramos de mãos estendidas quando passamos pelas vias urbanas.

Contudo, podemos ainda pensar nas opções que aqueles irmãos tiveram ou sustentam.

E perguntamos:

 não seria melhor que eles procurassem ocupações que garantissem suas sobrevivências, melhorando seus status sociais?

Esta é a questão mais emblemática que se apresenta para os sociólogos e pessoas ligadas a este tipo de assunto e assistência.

Comumente as prefeituras buscam criar órgãos de apoio e encaminhamento aos moradores de rua.

O problema é que nem sempre eles aceitam e costumam fugir dos abrigos alegando não suportarem as regras que ali são expostas.

Os agentes municipais encarregados deste trabalho sentem-se impotentes e, intimamente, querem uma solução, pois veem naqueles irmãos uma carência muito mais afetiva que mesmo física.

E eles são Espíritos reencarnados com todo o potencial de chegarem à perfeição como asseverou Jesus. São luzes que necessitam brilhar para indicar-lhes caminhos novos.

 Então ficamos sem saber se devemos ou não dar-lhes esmolas, migalhas que pouco vão ajudar ou até mesmo sustentar suas vivências naquele estado de coisa. 

O que fazer então?

Allan Kardec, na questão 888 de “O Livro dos Espíritos” pergunta: “O que pensar da esmola”? A resposta é “O homem reduzido a pedir esmolas degrada-se moral e fisicamente:ele se embrutece. 

Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco, sem que ele seja humilhado. 

A sociedade deve garantir a existência dos que não podem trabalhar, sem deixar sua vida à mercê da sorte e da boa vontade de alguns”.

Concluímos assim que é dever da sociedade ajudar àquelas pessoas para que suas vidas se tornem menos penosas.

 Ora, segundo Joanna de Ângelis, faz tempo que estamos no degrau humano.

Aproximadamente quinhentos mil anos. Então aquelas pessoas que caminham à margem da sociedade também estão inclusas nesse tempo e cheias de arquivos mnemônicos adquiridos através de experiências transatas e nas quais, com certeza, não foram mendigos. 

Como também não são mendigos, estão mendigos.

Esta forma de pensar já nos aproxima um pouco mais daquelas almas, presentemente em desalinho.

Vi, certa vez, uma senhora com quatro filhos estender suas mãos súplices a uma jovem de aproximados treze anos, que voltava da aula para casa vestida regiamente, demonstrando não ter qualquer dificuldade financeira em seu núcleo familiar.

 Naquele momento, contudo, a jovenzinha não possuía nenhuma moeda. Havia gasto na escola com a merenda.

 Então aquela menina de olhos de luz, parou seu caminhar, olhou para aquela senhora e as crianças e deu um sorriso largo, pleno, enriquecedor.
Aquela pobre mãe entendeu o valor daquele sorriso e também sorriu e ambas pintaram uma aquarela digna das galerias dos imortais. 

Concluí naquele instante que a moeda ali era o amor, a complacência, o querer bem. 
Não eram mendigos ou não mendigos do corpo, eram almas que, quem sabe, por um instante se reencontraram e se reconheceram.

Na questão 888a, Allan Kardec pergunta a São Vicente de Paulo se ele condenava a esmola.

A resposta daquele asceta foi que: “não é a esmola que é condenável, mas a maneira como quase sempre é praticada.

O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do infeliz, sem esperar que ele lhe estenda as mãos”.

Conheci uma senhora que toda manhã ia ao encontro dos infelizes que dormiam na praça e ofertava-lhes pão com manteiga e café com leite.

Aquelas criaturas sorriam agradecidas, muitas vezes sorrisos distorcidos por peles ressecadas, olhares turvos, dentes faltantes ou amarelecidos por falta de cuidados. Contudo, sorriam e falavam uma daquelas palavrinhas mágicas que ensinamos nossas crianças: muito obrigado!

“Portanto, sede caridosos, mas não somente praticando a caridade que vos leva a tirar do bolso a moedinha que lançais friamente a quem ousa pedir – ide ao encontro das misérias ocultas.

Sede indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de menosprezar a ignorância e o vício, instruí e moralizai.

Sede gentis e benevolentes para todos os que vos são inferiores, agindo da mesma forma em relação aos seres mais ínfimos da Criação – então tereis obedecido à lei de Deus”.

Este é o fecho da resposta de São Vicente de Paulo a Kardec na citada questão 888a de “O Livro dos Espíritos”.

Vivemos em sociedade. É necessário que seja assim.

Que sejamos, pois, solidários uns com os outros.

 Há mendigos do corpo e do espírito, porém, são eles irmãos a caminho conosco para a grande chegada, antecedida por uma estrada longa, pontilhada de aprendizados e propostas às práticas das virtudes; essenciais.

Guaraci Lima Silveira - O consolador






segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

                                                  PONHAM A MÃO

Conta-se que Jesus esteve, recentemente, na Terra.
Em suas andanças, entrou num hospital público brasileiro.
Passou por um paraplégico que aguardava a consulta, sentado em cadeira de rodas, e disse-lhe:

– Levanta-te e anda!

O homem ergueu-se e deixou o consultório, empurrando a cadeira de rodas.

Alguém lhe perguntou:

– Esse barbudo que falou com você é o novo médico?
– Sim.

– O que achou dele?

– Igual aos outros. Não pôs a mão em mim.

Podemos situar essa hilária história por exemplo de como as pessoas envolvem-se com a rotina e o imediatismo terrestre, sem se darem conta das dádivas que recebem.

Não fazemos a mínima idéia de como benfeitores espirituais nos socorrem e atendem, em múltiplas oportunidades.

Amenizam dores, curam males, ajudam-nos a solucionar problemas…
***
Há o outro lado:
Os médicos que, literalmente, “não põem a mão no paciente”.

Uma senhora procurou um desses profissionais apressados, rápidos no gatilho, que sacam o bloco para o receituário, mal o cliente põe os pés em seu gabinete.

Ao terminar a consulta, disse-lhe:

– O senhor devia ser engenheiro.
– Por quê? Acha que tenho jeito?
– Bem, engenheiro lida com barro, cimento, cal, tijolos…
 É mais fácil. Está mais de acordo com sua índole. 
O senhor é frio, distante!

– Ora, minha senhora. Há muita gente! Não posso dar atenção a todos.
– Pois deveria.
 Por mais gente atenda, considere que não está lidando com material de construção. As pessoas, meu caro doutor, precisam de atenção, principalmente quando fragilizadas pela doença.
Certamente, o médico não mudou de profissão, mas seria bom, para ele e seus clientes, se mudasse a maneira de ser.

***
Meu pai, que foi enfermeiro, falava de um médico humilde, de pouca cultura e precários conhecimentos, que atendia no posto de saúde onde trabalhava.

Não obstante suas limitações, era o mais solicitado e eficiente.
Calmo e gentil, tratava com carinho a clientela, consulta sem pressa, paciência de ouvir…

Tinha sempre uma palavra de encorajamento, exprimia-se de forma otimista quanto ao diagnóstico e ao prognóstico.
Os pacientes saíam animados.

Mais que simples receita, levavam um novo alento, a confiança de que seriam curados, algo decisivo em favor de sua recuperação.
***
Aprendemos com a Doutrina Espírita que várias profissões envolvem preparo do Espírito, antes de reencarnar, a fim de que possa ter um desempenho razoável, desenvolvendo experiências produtivas.

Freqüenta escolas no Além, recebe instruções, planeja a própria estrutura orgânica, adequando-a ao exercício da atividade escolhida.

Sem dúvida, a Medicina é das mais importantes. Deus quer que sejamos saudáveis, física e psiquicamente, para melhor aproveitamento das experiências humanas.

A doença pode ser um acidente de percurso, relacionado à falta de cuidado com o corpo, no presente ou no pretérito.
Daí a importância do médico, instrumento de Deus, em favor da saúde humana.

Certamente, dentre todas as orientações recebidas ao reencarnar, o médico aprende a lidar com os enfermos, sob orientação do Evangelho, o mais perfeito manual de relações humanas.

É preparado para “pôr a mão no paciente”, expressão que resume os cuidados básicos:

• Cultivar a gentileza.
• Examinar sem pressa.
• Ouvir com atenção.
• Exercitar o diálogo.
• Estimular o otimismo.
• Tranqüilizar o paciente.
• Receitar com cautela.
Esses, os valores fundamentais que estabelecerão a empatia entre ambos, com os mais salutares resultados, na erradicação da enfermidade.

***
Sou apaixonado pela Medicina.

Tenho certeza de que fui médico em existência anterior, provavelmente do tipo que fica melhor cuidando do material de construção. Por isso, talvez, carrego a frustração de não ser, desta feita, discípulo de Hipócrates.

Evocando minha condição do passado, peço licença aos colegas do presente, para dizer-lhes:

Cuidado, senhores doutores!

Não malbaratem as abençoadas oportunidades que receberam!
Não frustrem os instrutores que os prepararam!
Não negligenciem a orientação fundamental:
Por Deus! Ponham a mão nos pacientes!

Livro Para Rir e Refletir


domingo, 19 de janeiro de 2014

                                      ESTEREÓTIPOS

Naquele bar, um espelho mágico, destinado a testes femininos.
A mulher que mentisse diante dele sumiria, como num passe de mágica – “poof”!
Se falasse a verdade, seria premiada com a realização de um desejo.
Bela ruiva disse, a mirar-se:
– Pensando, cheguei a conclusão de que sou a mulher mais linda do mundo.
“Poof”!
Atraente morena, contemplando sua imagem, afirmou:
– Penso que sou a mulher mais sexy do mundo.
“Poof!”
Veio uma loira, muito bonita…
– Andei pensando…
“Poof!”

***
Pois é, leitor amigo, estamos diante de um estereótipo, ou lugar-comum, envolvendo uma idéia equivocada:
As loiras não estão acostumadas a pensar.
Atribui-se a Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão, um estereótipo mais contundente.
A mulher é esse ser de cabelos cumpridos e idéias curtas.
Maldade do filósofo.
Nem todas têm cabelos cumpridos…
Perdoe-me, prezada leitora.
Espero não perder sua amizade, por não perder a oportunidade da pilhéria.

***
Mudemos o enfoque.
Nota-se arraigada tendência em alguns religiosos:
Enxergam, invariavelmente, influências demoníacas, em pessoas com problemas psicológicos e fisiológicos.
É o diabo! – afirmam, convictos, como se fossem dotados de infalível radar para detectar a presença do tinhoso.
Trata-se de um estereótipo da pior espécie, infundado, inspirado na ignorância e no preconceito.
Na ânsia de atrair a atenção da multidão, promovem verdadeiros espetáculos, em rituais de exorcismo.
Não raro, esse “diabo” que pretendem exorcizar é um “pobre diabo”, um sofredor recém-desencarnado, sem a mínima noção do que lhe aconteceu.
Aproxima-se de familiares como um náufrago a pedir socorro e acaba por perturbá-los, imprimindo neles algo de suas angústias.
Precisa de ajuda, de orientação, de um tratamento carinhoso. Imagino sua perplexidade, diante de um exorcista a situá-lo como o tinhoso.
Para Espíritos de atilada inteligência, perfeitamente conscientes do que fazem e que nisso se comprazem, a prática exorcista é inócua. Desperta-lhes o riso.
Podem, eventualmente, afastar-se para satisfazer o ego dos exorcistas e baixar a guarda das vítimas, mas logo voltam ao ataque, com mais força.
Jesus evoca esse problema, quando situa o Espírito perturbador como alguém que deixa uma casa (a mente do obsidiado); depois, volta com sete companheiros, e o estado da vítima fica muito pior.

***
Nessa história de influências espirituais é preciso evitar estereótipos dessa natureza, partindo da idéia mais compatível com a lógica e o bom senso.
Os Espíritos são as almas dos mortos.
O mundo espiritual é uma projeção do mundo físico.
Aqui ficam aqueles que, libertando-se dos liames da matéria, permanecem presos aos interesses humanos.
Não raro aproximam-se dos encarnados para pedir socorro ou induzir ao erro, sempre de conformidade com suas próprias tendências.
Isso não deve nos assustar, nem nos ensejará problemas.
Basta orientar nossa existência por princípios de bondade e integridade, cultivando o estudo e o discernimento em relação ao assunto..
Teremos, então, condições para ajudar Espíritos perturbados ou perturbadores, sem sermos perturbados por eles.
Livro Para Rir e Refletir



sábado, 18 de janeiro de 2014

                                                        A CONVIVÊNCIA PERFEITA

Mário Vicente era vidrado na idéia das famílias espirituais, que se sobrepõem às precárias ligações sangüíneas.

– Pois é – dizia, entusiasmado, a um confrade espírita –, os Espíritos tendem a formar grupos afins nos caminhos da vida.
– Reencarnam juntos?

– Sim, sempre que possível, compondo lares ajustados e harmônicos, “um por todos, todos por um”.

– Você vive com sua família espiritual?

Mário Vicente esboçou um sorriso triste.

– Quem me dera! Lá em casa nosso relacionamento funciona mais na base de “cada um por si e Deus por todos”.


 Estamos longe de um entendimento razoável. É muita discussão, muita briga…

Somos velhos adversários amarrados pelo sangue, a fim de nos reconciliarmos.

– Recebeu alguma revelação?

– Não… nem seria preciso! Basta observar nossos conflitos.

– A barra é pesada?

– Bem… não é tanto assim. Gosto muito de minha mulher. Até pensei, durante os primeiros tempos, fosse uma alma gêmea.

Ela é dedicada ao lar, mãe prestimosa. 

Ocorre que é um tanto voluntariosa e, não raro, agressiva. Faz tempestade em copo d’água.

 Considero a Ernestina meu teste de paciência. Nossos “santos” estranham-se freqüentemente.

– E os filhos?

– Adoro todos eles, mas são Espíritos imaturos que me dão trabalho e, não raro, desgostos.

Pedro, o mais velho, envolveu-se com drogas! Júnior, o do meio, “aborrescente” típico, vive a me questionar; Jussara é delicada e sensível mas puxou o gênio da mãe. Se contrariada, sai de perto! Um horror!

– São seus credores. Cobram prejuízos que você lhes causou em vidas anteriores…


– Certamente! 

Estou consciente desse compromisso. 
Tento o fazer o melhor, sustentando a estabilidade do lar. No entanto, não é
Às vezes perco o controle. 

Envergonho-me das brigas em que me envolvo… Convenhamos, porém, que ninguém é de ferro!…

Mário Vicente suspirou, emocionado:

– Sinto falta de um relacionamento familiar sustentado por legítima afinidade. Todos olhando na mesma direção, empenhados em cultivar a paz, o trabalho do bem, a amizade, a compreensão…

 Seria o paraíso!

Vejo-me como um retardatário, preso a compromissos decorrentes de besteiras que andei cometendo, purgando meus débitos. Certamente aprontei muito!

– Espera alcançar a família espiritual?

– Claro! Quero cumprir minhas obrigações, fazendo o melhor…
 Hei de merecer um retorno ao convívio de meus queridos, em estágios mais altos…

Tenho convicção de que uma companheira muito amada espera por meu sucesso nas provações humanas, favorecendo abençoado reencontro.

***
Animado por seus sonhos, Mário Vicente esforçava-se por superar as dificuldades de relacionamento junto à esposa e filhos. Tolerava suas impertinências.

 Fazia de tudo para ajudá-los. Exercitava carinho e compreensão.

O cumprimento de seus deveres junto à família humana haveria de lhe proporcionar o sonhado reencontro com a família espiritual.
Passaram-se os anos.

Os filhos casaram, vieram netos, ampliou-se o grupo familiar, sucederam-se compromissos e problemas.
Nosso herói até que conseguiu sair-se relativamente bem, acumulando méritos.

Aos setenta e dois anos, retornou à Pátria Espiritual.


Espírita esclarecido, não teve dificuldade para reconhecer-se livre do escafandro de carne, amparado por generosos benfeitores.

Após os primeiros tempos, já adaptado à nova situação, procurou dedicado orientador da instituição socorrista que o abrigara.


Foi logo pedindo, inspirado pelo ideal que acalentava:

– Estimaria, se possível, receber notícias de minha família espiritual…

– Seus familiares estão bem, nas lutas de sempre, sofrendo e aprendendo, como todos os homens.

– Estão reencarnados? Pensei que os encontraria aqui!

– Você conviveu com eles… Não sabe que continuam na Terra?

– Não me refiro à família humana. Anseio abraçar os entes queridos de priscas eras, sobretudo a amada companheira perdida nas brumas do passado…

O mentor sorriu:

– Falou bonito, mas está equivocado, meu amigo. Sua família espiritual é aquela que lhe marcou a experiência na carne. Sua esposa é uma alma de eleição.

 Os filhos são antigos companheiros de jornada evolutiva. Desde remoto passado vocês vivem experiências em comum.

– Mas e os nossos problemas de relacionamento?

– Haveriam de experimentá-los mesmo que se transferissem para a esfera do Cristo. Como ensinava o Mestre, ainda há muita dureza no coração humano.

– Que devo fazer?

– Você julga-se um retardatário. Na verdade, não obstante suas limitações, está um pouco à frente do grupo familiar, ainda lento na aquisição de valores espirituais. Tem, portanto, o dever de ajudar.

 Foi essa a sua tarefa na última existência. Será esse o seu compromisso agora, exercitando a função de protetor espiritual junto aos seus.
E Mário Vicente, que tanto ansiara por sua família espiritual, constatou que estivera com ela durante décadas, sem se dar conta disso.

Muita água rolaria no rio do tempo, até que todos ganhassem asas, habilitando-se à convivência perfeita.


Livro "O Destino em Suas Mãos"
Editora CEAC - Bauru


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014


               Como morrer no Facebook


A revista Seleções READER´S DIGEST, do mês de dezembro de 2013, páginas 104 a 107, traz uma reportagem com o título deste artigo. Vejamos um pequeno trecho:

 “Antigamente, a notícia da morte de alguém passava de uma pessoa a outra.
O falecimento era lembrado num templo ou numa igreja, chorado no cemitério ou sofrido em silêncio. Hoje, torpedos e e-mails compartilham o acontecido.
E as redes sociais oferecem a muita gente a oportunidade de homenagear e chorar quem partiu.
No funeral, há hora e lugar específicos para chorar a morte de alguém, diz Jed Brubaker, estudioso de mídias sociais do campus da Universidade da Califórnia em Irvine.
No facebook, qualquer um pode participar desse processo a qualquer momento”.
Aproveitamos a ideia da tecnologia moderna para lembrarmos a figura da Dra. Elizabeth Kübler-Ross, a mulher pioneira em ouvir aqueles que se avizinhavam da partida através da morte física, ao ponto de considerá-los seus mestres no assunto.
Antes dela, a ideia que imperava era a de que nada se teria a dizer ou fazer para consolar o paciente terminal. Exatamente por isso, existia a imobilidade que impedia o consolo possível de chegar até esse paciente.
Doutora Elizabeth é suíça de nascimento, formada na conceituada Universidade de Zurique.
Seus pacientes morriam de preferência em suas próprias casas, com a assistência médica necessária, mas cercados do carinho dos familiares e visitados pelos amigos e não em um local frio e distante como uma UTI.
Já que todos iremos enfrentar infalivelmente o momento da morte, pensava ela, nada mais lógico do que nos prepararmos para isso. A grande lição dessa psiquiatra famosa em todo mundo está contida nas suas palavras:
 “Viva, de modo que você não tenha que olhar para trás e dizer: Meu Deus, como desperdicei minha vida!”.
Em seu mais impactante livro
– Sobre a morte e o morrer -, ela destaca o muito que os agonizantes têm a ensinar aos médicos, às enfermeiras, aos sacerdotes e às suas próprias famílias.
Destaquei a palavra “sacerdote” no sentido de generalizá-la a todos os representantes de qualquer religião que, supõe-se, devam levar o consolo ao paciente e aos familiares nesses momentos extremamente difíceis da existência.
É da autoria dela os cinco estágios hoje plenamente aceitos pela medicina sobre o posicionamento do paciente perante a possibilidade de morrer.
A primeira fase é a negação. A pessoa reage como se o diagnóstico estivesse errado.
Que aquilo não estaria se passando realmente com ela. Que se trata de um sonho ruim do qual irá despertar e ficar tudo bem.
 A segunda fase é a da raiva, a da revolta. A pessoa se revolta contra Deus ou, se descrente, contra a própria vida, avaliando-se como não merecedora de tal sorte.
A terceira parte, para aqueles que creem, é a negociação com Deus. Se a doença e todo sofrimento que a cerca não se confirmar, prometem modificar-se em algum ponto de sua vida em que vivia equivocada.
A quarta fase é a da depressão. É a entrega. É o abaixar de armas e desistir da luta, de entregar-se.
 E, finalmente, a última fase é a da aceitação. O desenvolvimento dessas fases, a doutora Elizabeth Kubler-Ross aprendeu em seus inúmeros contatos com doentes terminais.
O interessante é que a ilustre médica começou a aprender coisas diferentes com os pacientes terminais que descreviam as ocasiões em que se viam flutuando acima do corpo físico e a presença de parentes ou amigos já falecidos que vinham visitá-los.
Passou a divulgar para o mundo todas as suas descobertas com a finalidade de levar consolo aos doentes e seus familiares.
Não é preciso dizer que não foi bem aceita por uma parte de seus colegas que começaram a ver nela atitude mística, de ocultismo, orientalismo ou, talvez, até mesmo de uma certa debilidade mental.
Em uma determinada ocasião, voando num avião de pequeno porte (vinte lugares apenas) um repórter perguntou-lhe se ela não tinha medo de voar.
Respondeu a doutora de maneira enfática e objetiva: “Não tenho medo de morrer. Estou apenas à espera de ordens lá de cima”.
Ensina Joanna de Ângelis que a intuição da vida, o instinto de preservação da existência, as experiências psíquicas do passado e parapsicológicas do presente atestam que a morte é um veículo de transferência do ser energético pensante, de uma fase ou estágio vibratório para outro, sem expressiva alteração estrutural da sua psicologia. Assim, morre-se como se vive, com os mesmos conteúdos psicológicos que são os alicerces (inconsciência) do eu racional (consciência).
Você se chocaria se um dia seu nome estivesse, nas condições mencionadas pela reportagem da revista Seleções, em um facebook?
Ou seria melhor perguntar se você tem medo de voar?
Ou está apenas esperando ordens lá de cima?
Como diz a doutora Elizabeth, sendo o momento da morte infalível, nada melhor do que nos prepararmos para ele.
Para isso, temos que primeiro afastar a ideia de que somos imortais fisicamente falando.
 Afastar a ideia de que nossa morte está sempre em um horizonte muito longínquo esquecido no tempo.
 Em um segundo momento, vivermos de tal forma que não precisemos olhar para trás e dizer: Meus Deus, como desperdicei minha vida!
No dia em que conseguirmos tudo isso, com certeza não teremos mais
medo de voar.



Ricardo Orestes Forni – O consolador

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

                                           FILHOS PERFEITOS

Os Espíritos evoluem sempre.
Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem.

A rapidez do seu progresso, intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição.

Quando usamos a expressão perfeccionista, dependendo da entonação e circunstância, podemos estar exprimindo ácida crítica ou eloqüente elogio.

O homem diz:

– Minha mulher é uma perfeccionista.

Incapaz de dormir se no quarto há uma gaveta ligeiramente aberta. 

As crianças e as domésticas vêem-se em papos-de-aranha com ela.

Está sugerindo que se trata de uma neurótica de carteirinha que perturba todos na casa com sua mania de limpeza e de ordem.
A secretária diz:

– Meu chefe é um perfeccionista. 

Nunca está satisfeito com meu trabalho.

Obriga-me a alterar mil vezes o texto de uma correspondência, até deixar-me estressada.

Está anunciando que se subordina a um maníaco obcecado que quer levá-la à loucura.

Mas podemos também exprimir admiração por alguém, reconhecendo que procura dar o melhor de si.

– Aquele músico é um perfeccionista. 

Compõe poucas músicas, mas de harmonia irretocável.

– Aquele marceneiro é um perfeccionista. Enquanto outros fabricam vários móveis ele produz um apenas, mas será uma peça de arte, acabamento primoroso.

***

Bem, nem todos somos perfeccionistas, no bom ou mau sentido, mas, sem nenhuma exceção, somos todos perfectíveis, isto é, passíveis de aprimoramento contínuo.
Seres imortais, evoluímos incessantemente ao longo dos milênios.
Fomos:
• O princípio espiritual que animou vegetais…
• A consciência embrionária que agitou irracionais…
• O selvagem que disputava espaço com feras famintas…
• O homem medieval às voltas com guerras e disputas…
Somos o homem moderno, perplexo com as conquistas deste século, a enfrentar complexos desafios relacionados com o desenvolvimento tecnológico.
Assim iremos, de degrau em degrau, desenvolvendo potencialidades, aprimorando-nos moral e intelectualmente, crescendo em espiritualidade, rumo a glorioso porvir, transformando-nos em prepostos de Deus, partícipes da Criação.



Jesus é o guia maior.


Está aonde chegaremos um dia.
Esteve onde estagiamos hoje.
***
Aprendemos com a Doutrina Espírita que todo patrimônio intelectual, moral e espiritual que adquirimos é inalienável. Não o perderemos jamais. Será sempre o nosso passaporte para um futuro melhor.
Ninguém retrograda.
Mas, infelizmente, muitos se distraem, estacionam, atrasam-se…
Isso acontece quando as pessoas perdem o entusiasmo, quando deixam de olhar para dentro de si mesmas, quando desistem de aprender, de lutar contra suas imperfeições, quando se acomodam aos vícios e paixões.
Então marcam passo, vivendo na Terra como sonâmbulos.
Falam, ouvem, movimentam-se, mas têm a consciência adormecida.
Raros despertam por sua própria iniciativa.
Muitos só o fazem com o concurso da Dor.
E há os que insistem em permanecer adormecidos.
Competirá à morte, a grande ceifeira, a tarefa de renovar-lhes as disposições, despertando-os do sono voluntário.
Para não experimentarmos o constrangimento de constatar, quando chegar nossa hora, que fomos dorminhocos na Terra, seria interessante avaliássemos, diariamente, como anda nosso aprendizado.
Intelectualmente, quantos livros temos lido, que estudos temos feito, que experiências temos desenvolvido?
Moralmente, estamos melhores hoje do que ontem? Estamos contendo nossos impulsos inferiores? Cultivamos valores espirituais?
***
O Espiritismo deixa bem claro que não podemos perder tempo. É preciso caminhar, buscar novos horizontes, desenvolver potencialidades, ampliar conhecimentos, aprimorar sentimentos.
É importante, em nosso próprio benefício, que busquemos priorizar o desenvolvimento moral, procurando saber o que Deus espera de nós.
Como fazê-lo?
É simples:
A vontade de Deus está definida com perfeição, no Sermão da Montanha (Mateus, capítulo V):
Tendes ouvido o que foi ensinado aos antigos:
– Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo:
Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei os que vos amaldiçoam; orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, 
Ele que faz nascer seu Sol sobre bons e maus e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
Porque, se só amardes os que vos amam, que recompensa tereis?
Não fazem o mesmo os publicanos e os pecadores?
Se somente saudardes os vossos irmãos, que fazeis nisto de especial?
Não fazem o mesmo os gentios?
Sede, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai celestial.
Ao abordar o mesmo tema, no capítulo VI, de seu Evangelho, Lucas situa uma expressão complementar de Jesus:
Sede, pois, misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso.
Conciliando os dois textos, diríamos que Jesus situa a misericórdia como sinônimo de perfeição moral.
Ela se exprime na compaixão pelas misérias alheias, a capacidade de nos compadecermos do próximo, sem distinções ou discriminações, mesmo quando nos cause prejuízos.
Jesus foi o grande campeão neste particular, dedicando sua existência ao empenho por socorrer aos sofredores e necessitados de todos os matizes.
Compadeceu-se dos próprios algozes na cruz, pedindo a Deus:
Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (Lucas 23-34).
***
É interessante notar que estamos todos tão longe da misericórdia, que nos surpreendemos quando vemos alguém exercitá-la com desenvoltura.
É como se fosse um ET, um ser de outro mundo.
Ficamos pasmos diante de uma Madre Teresa de Calcutá, pequenina, frágil, saúde precária… Não obstante, exerceu poderosa e benéfica influência sobre centenas de seguidores e admiradores.
Como o conseguia?
Simplesmente sendo misericordiosa.
Madre Teresa fez de sua vida um exercício de misericórdia. Viveu para servir, devotando entranhado amor aos pobres, doentes e sofredores de todos os matizes.
***
O Mundo assistiu emocionado, há algum tempo, às cerimônias que envolveram o sepultamento da princesa Diana, que o cantor Elton John chamou, inspiradamente, Rosa da Inglaterra, vela que se apagou breve, mas gerou a luz de uma lenda imortal.
Por que toda essa mística em torno dela?
Por que tanta gente chorando?…
Afinal, foi uma jovem comum, que teve seus sonhos, seus anseios, suas decepções e dores, suas fraquezas e limitações…
A resposta está em centenas de representantes de instituições filantrópicas, que foram convidados a acompanhar o cortejo fúnebre. 
Atendem a órfãos, a enfermos, a velhos, a aidéticos, a mutilados de guerra, que ela visitou, apoiou e beneficiou.
As imagens mais duradouras, que falam mais de perto a todos nós, não são dos paparazzi, envolvendo sua privacidade, mas aquelas em que ela aparece abraçando aidéticos, beijando crianças, acariciando anciãos, com espontaneidade e carinho.
Essas imagens nos dizem que ela foi alguém especial, que exercitou a misericórdia, caminho perfeito de nossa realização como filhos de Deus.
Por isso será inesquecível, como Madre Teresa de Calcutá.
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Ouvi, certa feita, um pregador afirmar que somos todos criaturas de Deus.
Somente os que aceitam Jesus, segundo os princípios de sua crença, são filhos de Deus.
Pobre pregador!
Decorou o Evangelho mas não entendeu Jesus.
Todos somos filhos do Altíssimo, herdeiros da Criação.
Para entrarmos na posse de nossa herança e assumirmos nossa posição, falta-nos um único dom:
Que cultivemos a misericórdia!
Então seremos filhos perfeitos de Deus!

Livro Espiritismo, uma Nova Era para a Humanidade - richard Simonetti