segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


Nós nos movemos no tempo, mas é ele que se move
em Deus 

 

A Teoria da Relatividade de Einstein nos ensina que, embora nós sintamos o tempo como algo móvel, sua mobilidade, na realidade, é ilusória. 

De fato, as aparências nos enganam. Que o digam os especialistas em ilusão ótica.

Seria, então, o tempo um atributo divino, já que Deus, por ser imutável, é também imóvel?

A favor dessa hipótese ainda se diz muito: “o tempo não tem fronteiras”, seria o tempo, pois, também infinito, sem fim? 

O substantivo concreto tem limite visível, o abstrato nem invisível o tem. E o tempo é um substantivo abstrato mais importante do que um concreto.

Einstein afirma que um indivíduo em movimento chega ao futuro mais rápido do que quem está parado. 

Assim, um astronauta viajando muito tempo numa nave espacial, o tempo corre-lhe mais rápido. 

Para Einstein, nós é que passamos no tempo para o futuro. E com a nossa caminhada até determinado lugar, cria-se uma alteração de tempo em nós tal qual acontece com o espaço.

 O tempo não vem ao nosso encontro, nós é que vamos ao encontro dele, modificando-o.

Vimos que é como se o tempo se movimentasse, mas que isso é uma ilusão. Já com o espaço, a coisa é clara. Nós nos movemos nele, e essa é a nossa sensação.

 E o nosso deslocamento no espaço depende também do ritmo de velocidade do nosso movimento nele.

Espaço e tempo são correlativos e estão impregnados um do outro. 

Com o espaço podemos medir o tempo, e com o tempo podemos medir o espaço. Não é à-toa que se usa muito a expressão “no tempo e no espaço”. 

Até se diz que não há tempo sem espaço, nem espaço sem tempo. E tudo no Universo é relativo, menos Deus, que é absoluto.

Se Deus é a Causa não causada, a Causa Primeira de todas as coisas, segundo a Doutrina Espírita, e o único Ser incontingente de São Tomás de Aquino, Deus não depende do tempo e do espaço.

Nós sim, e tudo o mais que existe é que dependemos de Deus, do espaço e do tempo. Mas o tempo não vai, não vem, e nem fica. É como se ele nem existisse.

 Nós é que passamos pelo tempo. A nossa condição diante do tempo é oposta à de Deus, que é sempre a mesma coisa, já que Deus e os seus atributos são imutáveis.

Vimos que não existe movimento do tempo. Nós é que passamos pelo tempo. 

E nós passamos também pelo espaço, nos transformando constantemente. E nós nos transformamos também em nossa evolução espiritual, que é uma constância. 

Mas não sofreria o tempo, pelo menos em nós, uma espécie de ação relativa de ser movido, não por ele, mas por nós que nele nos movemos? 

Isso equivaleria a dizermos que o tempo não faz a ação de passar, mas sofre a ação de passar.

Observando-se essas elucubrações sobre o tempo sob o ponto de vista filosófico-teológico a respeito de Deus, essa questão se torna mais complexa ainda.

 Como diz o dito popular, toda regra tem exceção. E aqui temos um exemplo da verdade desse conhecido rifão. É que Deus, como vimos, é imutável, como o afirmam com mais frequência os orientais. 

E essa imutabilidade de Deus não permite que Ele passe pelo tempo e nem pelo espaço, mas o tempo, o espaço, nós e tudo o mais que existe é que passamos por Deus. 

E pela própria Teoria da Relatividade, sabemos que tudo no Universo é relativo, e nada é absoluto, exceto Deus, ou seja, a Causa Primeira de todas as coisas e o único Ser incontingente.

Dessas conjeturas todas, podemos inferir que o tempo é móvel, pelo menos para Deus, confirmando aquela máxima de que toda regra tem exceção. Aliás, Deus transcende toda regra e toda exceção! 


JOSÉ REIS CHAVES 
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

   SOMOS 7 BILHÕES DE REENCARNADOS
Estima-se que no século primeiro antes de Jesus a população mundial não passava de trezentas mil pessoas.
A partir de 1950 a população do mundo acelerou o processo e, em apenas sessenta e um anos, aumentou em quatro bilhões e quinhentos milhões de indivíduos, hoje divididos nos aproximados duzentos e cinquenta países distribuídos pelos cinco continentes.
 A espiritualidade nos informa que houve um libero nas esferas próximas ao plano físico para que milhares de irmãos e irmãs que lá se encontravam há muito tempo pudessem ter a oportunidade do renascimento e, através dela, tentarem um novo rumo em suas vidas espirituais.
Então, tudo está conforme, e somando-se a isto vemos que a taxa de natalidade em alguns países e a maior longevidade da população são fatores preponderantes neste acréscimo. Soma-se a isto que o índice de mortalidade infantil diminuiu e nossas crianças crescem, tornando-se adultas, cidadãs, compondo o cenário populacional do mundo. São filhos de Deus em busca de melhores perspectivas num planeta interconectado e cheio de opções tecnológicas.
Não é nossa intenção medir as possibilidades de cada país em relação ao crescimento sócio-educacional dos seus habitantes. Se ficarmos aqui enumerando os graves problemas sociais vigentes, nada faremos do que repetir frases, invalidando esta nossa reflexão.
 Cremos que estamos a caminho de um tempo melhor. Muitos dos que estão aqui reencarnados nunca tiveram oportunidade de frequentar uma escola em suas vidas espirituais e tampouco puderam compartilhar de uma sociedade justa onde os bens e serviços fossem igualmente distribuídos.
 Nossa história mundial nos mostra, afirmando o que estamos dizendo. Somos, em grande maioria, ainda guerreiros. Muitos ainda não desconstruíram em suas psiques a ideia do domínio territorial, da exacerbação do ego como processo de ser e estar.
É preciso entender que Deus nos quer a todos, que nenhum de nós irá se perder no caos de uma morte inexistente. Assim, todos merecemos as oportunidades de levantar e seguir.
Há quanto tempo estamos vivendo na Terra?
 O que realizamos até aqui e altamente produtivo para as sociedades?
Em quantas delas estivemos ao longo do tempo em nossas múltiplas vivências? Será que não devemos muito aos nossos irmãos que não conseguem ainda viver num clima de harmonia, equilíbrio e de paz?
O Espiritismo é consolo prometido para todos.
De acordo com as informações que recebemos a partir do cômputo doutrinário e das informações que recebemos dos mentores, todas as pessoas do mundo podem se beneficiar da terceira revelação de Jesus aos homens.
Às vezes vemos companheiros e companheiras assustados com o avanço populacional e com a escassez de recursos éticos e morais que as sociedades atuais demonstram.
Esquecemos, contudo, o quanto muitos Espíritos encarnados e desencarnados trabalham para que cada um, em particular, possa tomar rumos diferentes na vida. Muitos de nós olhamos apenas para os problemas.
Temos a infeliz e repetida mania de propagar o mal, enquanto o bem se faz a cada instante. Será que dos cento e cinquenta mil irmãos que desencarnam diariamente, de acordo com o Site do Relógio Mundial, uma grande porcentagem não conseguiu algum alvará para prosseguir crescendo, agora em níveis superiores da consciência?
Será que dos trezentos e sessenta e seis mil que renascem diariamente, a maior parcela já não seja de irmãos e irmãs comprometidos com o Evangelho de Jesus e que aqui retornam para mudar a face do planeta em cômputo cósmico? É preciso pensar seriamente nisto.
 É preciso entender que tudo é movimento no universo, nada se repete, o rio que corre hoje não será o mesmo amanhã, na feliz expressão de Heráclito de Éfeso.
O dia vinte e quatro de outubro é considerado o dia das Nações Unidas. Neste ano de 2011 o Secretário-Geral daquele órgão, Sr. Bam Ki-moon, em breves palavras concitou o mundo a se unir em torno de uma unidade de propósitos.
Disse ele que problemas globais exigem soluções globais levando todas as nações a se unirem para uma ajuda a todas as nações do mundo.
 Disse ainda: “... somos sete bilhões mais fortes em nome de um bem comum global”.
 Sabemos que o plano físico passa por enormes dificuldades nos quesitos do social e da economia, somando-se ainda as persistentes guerras que não levam a lugar nenhum.
Segundo Edward Wilson, biólogo, professor da universidade de Harvard, em artigo publicado pela BBC Brasil, em 26-10-2011: “não podemos esperar que os países em desenvolvimento criem programas de produção e consumo sustentáveis enquanto os países desenvolvidos não larguem na frente e mostrarem o caminho. No momento, os ricos têm padrões absurdos de consumo, e as diferenças entre os setores mais ricos e os mais pobres estão cada vez maiores mesmo nos países em desenvolvimento”.
 Os estudiosos temem pelo aumento da população, notadamente na questão da sustentabilidade planetária.
 Segundo a ONU, é preciso mais planejamento e investimento nas pessoas para lidar com a crescente população mundial e suas consequências – a necessidade por mais alimentos, água e energia e a maior produção de lixo e poluição. Segundo ainda aquele órgão, todo este procedimento visa:
“Permitir que as pessoas melhorem suas próprias vidas, podendo apoiar cidades sustentáveis, que sirvam como catalisadoras para o progresso, forças de trabalho produtivas que estimulem o crescimento econômico, populações jovens que contribuam para o bem-estar das economias e sociedades, e uma geração de pessoas idosas saudáveis, que estejam ativamente envolvidas nas questões sociais e econômicas de suas comunidades”.
Tudo isto nos leva a uma reflexão bem ampla sobre o papel dos espíritas neste processo.
A população tende a aumentar e deve chegar a dez bilhões de encarnados por volta dos anos dois mil e cinquenta, o máximo que o plano fisco comporta na expressão de Edward Wilson.
Entendemos ser necessário que se distribuam melhor as rendas, que os solos sejam preparados, que os plantios sigam o curso natural dos seus ciclos e que em todas as casas exista o necessário para viver.
Que os governos representem de fato a sociedade, que a educação seja o fator de primordial importância no complexo viver humano.
A saúde será sempre melhor na medida em que os seres se educarem mais, conhecendo melhor as regras da vida. É aí que o Espiritismo poderá atuar de forma decisiva. Seus postulados confirmam a imortalidade dos seres e suas transmutações nos vários pontos do universo, de acordo com suas necessidades. Coloca bem claro e em bom tom sobre as leis de causa e efeito.
 Ninguém fica impune. Ninguém fica injustiçado. A vida não termina com a morte.
Que a matéria é apenas uma transformação da onda assim como a morte é tão-somente uma transformação da matéria.
 Colocando em evidência estes pontuais as pessoas poderão se unir em prol de um mundo melhor, estabelecendo nele a fraternidade, cuidando do planeta, embelezando-o não apenas com os ícones da arquitetura, mas também com as benesses da evolução consciencial de pessoas e nações.
Vemos como avança a ciência e este avanço não terá como ser detido.
Contudo, a ciência precisa aliar-se à religião. Não aquela que a história registra e que nos mostra momentos de intensa castração.
Mas à religião que liberta o homem para as conquistas universais. Só conseguiremos penetrar nas correntes existencialistas do universo no momento em que soubermos respeitar suas regras e seus habitantes.
Aqueles que insistem por negar a Deus precisam aprofundar um pouco mais em seus próprios conceitos científicos, pois vezes sem conta nada fazem do que justificar o efeito pelo efeito, numa continuidade imprópria.
Deus é, sem dúvida, a causa primeira de todas as coisas. Em se falando ainda sobre a intercomunicação universal, noutro dia ouvi uma palestrante espírita alertar sobre os desenhos animados que tratam do assunto alienígena. Segundo ela, todos os desenhos mostram a Terra sendo atacada por eles enquanto os exércitos se colocam para defender os terráqueos, numa clara demonstração da força das armas, incutindo nas crianças o valor que elas representam para as sociedades.
Ora, é preciso saber que nenhum ser de outro mundo vai penetrar nosso espaço planetário sem o consentimento de Jesus. Os que aqui vêm, com certeza estão em missão de paz, de estudos e trazem progressos para a humanidade.
Assim, enquanto existirem mentes produzindo estes erros, correremos o risco de sermos atacados, não por alienígenas, mas por próprios humanos que insistem na postura das forças amadas, altamente rendosas financeiramente para muitos.
O Secretário-Geral da ONU disse ainda em seu recente pronunciamento que:
“todos temos algo a dar e a receber se trabalharmos juntos”. Colocou que todos devemos nos unir por um mundo melhor e não deixar ninguém para trás. Sábias e necessárias as suas colocações. Quanto a nós espíritas, como proceder para sermos um elo forte e produtivo nessa corrente?
André Luiz no livro “Opinião Espírita” diz que “O espírita deve ser verdadeiro, mas não agressivo, manejando a verdade a ponto de convertê-la em tacape na pele dos semelhantes. Bom, mas não displicente que chegue a favorecer a força do mal, sob o pretexto de cultivar a ternura.
Generoso, mas não perdulário que abrace a prodigalidade excessiva, sufocando as possibilidades de trabalho que despontam nos outros.
Doce, mas não tão doce que atinja a dúbia melifluidade, incapaz de assumir determinados compromissos na hora da decisão. Justo, mas não implacável, em nome da justiça, impedindo a recuperação dos que caem e sofrem.
Claro, mas não desabrido, dando a ideia de eleger-se em fiscal de consciências alheias. Franco, mas não insolente, ferindo os outros. Paciente, mas não irresponsável, adotando negligência em nome da gentileza”. Vemos aí um excelente compêndio de regras a seguir para que nossas participações na sociedade sejam de fato eficazes.
Outro ponto a ser considerado trata-se da nossa mudança definitiva de posturas. Antes íamos aos templos religiosos, em encarnações passadas, cumprir nossos papéis de religiosos. Ali, curvávamos perante a divindade e oferecíamos a ela nossas bonanças passageiras ou não.
Ali permanecíamos pelo tempo do culto e, após, de novo na rua, voltávamos a ser outras pessoas, convivendo com as coisas dos nossos interesses.
A religião era para ser praticada nos templos, fora dele, de novo estávamos liberados. Quando Jesus nos disse que devemos adorar a Deus em espírito e verdade, Ele estava propondo uma nova conduta. Disse-nos que devemos o tempo todo e onde estivermos estar conectados com o Pai, tal qual Ele está conosco, dentro de cada um.
 Numa grande sociedade de sete bilhões de indivíduos encarnados, ombreando conosco o tempo todo, quer pessoalmente, quer pelas interconectividades atuais e futuras, mudanças necessitam ser feitas.
Devemos ser espíritas, vivendo os conteúdos doutrinários onde quer que estejamos sem, com isso e necessariamente, sermos expositores doutrinários nas ruas ou demais espaços públicos.
 Sabemos que a palavra esclarece, mas o exemplo arrasta. Se quisermos contribuir efetivamente para um mundo melhor, nossos exemplos precisam ser dos melhores, tanto em nossas famílias, trabalhos, clubes sociais e nas questões da ecologia que devem ser de todos.
Nos momentos em que formos solicitados por alguém ou algum fato que requeiram nossos conhecimentos doutrinários, fazê-lo de forma sensata e sem ostentações.
Paulo de Tarso em sua carta aos Gálatas, no Cap. 5, Vv. 9, nos diz que: ”Um pouco de fermento leveda a massa toda”.
 E ele disse a uma comunidade que passava por graves crises ideológicas e religiosas. Assim devemos ser nós espíritas fermentos levedando massas.
Jesus caminhou por entre a multidão, curando-a e orientando-a, mostrando-nos que o dever do cristão é ir ao encontro das pessoas levando-lhes o conforto da palavra e do exemplo que curam.
 O problema, então, não é o número de pessoas encarnadas e sim como estamos atuando em meio a elas. Somente assim poderemos de fato cumprir, como o Espiritismo nos ensina, nossos deveres para com a sociedade.
É preciso ainda considerar que, se somos sete bilhões de encarnados, imaginem agora o número de desencarnados que convivem conosco em todos os lugares. Isto nos dá uma sensação enorme de compartilhamentos.
 Sim, estamos compartilhando sempre. Mas compartilhando o quê?
É preciso olhar para frente.
 É preciso deixar nossos casulos, cavernas, opiniões pessoais antigas, arquivadas em nossos inconscientes formando complexos.
 É preciso estudar mais, participar mais, sacudir o pó da estrada buscando novos caminhos e opções.
É preciso deixar de lado a preguiça, os copos de bebidas, os alimentos em excesso, os filmes de terror ou pornográficos, as conversações que se jogam fora nos encontros sociais. Jesus precisa da nossa ação decisiva no complexo sistema que permeia o evoluir da humanidade.
É preciso que nos valorizemos mais, que saibamos escolher melhor nossas roupas, protegendo nossos corpos, templos sagrados dos nossos Espíritos, moradas de Deus.
Acima de tudo, é preciso que abracemos de volta nossas famílias. Que não desprezemos tanto o lar, o matrimônio, os filhos. As incompatibilidades nos relacionamentos são frutos de um passado que devemos consertar.
 Se fugirmos, poderemos nos reencontrar em outros relacionamentos ainda piores. Em tudo deve prevalecer o bom senso, a oração, a reflexão, o pedido de ajuda aos amigos espirituais.
 Em tudo deve prevalecer a verdade de que somos filhos de Deus e não bestas ambulantes num mundo perdido, como ouço sempre falar aqueles destronados por si próprios.
 Hoje no mundo, a cada minuto, duas pessoas suicidam-se e noventa outras cometem abortos. Não podemos cruzar nossos braços. O espírita recebe muito e dele muito será pedido.
 Se quisermos de fato contribuir para um mundo mais equilibrado e feliz necessitamos arregaçar as mangas, tomar conscientemente nossas cruzes e seguirmos Jesus. Somente Ele pode nos guiar.
 Somente Nele encontraremos as soluções para nossos males, para as realizações dos nossos sonhos. Lembrando ainda do Sr. Bam Ki-moon quando disse que “problemas globais exigem soluções globais, levando todas as nações a se unirem para uma ajuda a todas as nações do mundo”, devemos colocar em mente que Jesus age de forma inteligente e amorosa, sem rodeios ou enxertos desnecessários.
Abracemos, pois, a campanha da ajuda humanitária proposta pelo Secretário-Geral da ONU, instruindo o homem sobre sua espiritualidade e principalmente sobre a luz do nosso Pai que brilha em seu peito.


Guaraci Lima da Silveira
  

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

                               DEVORAR O PRÓPRIO CORAÇÃO

Acredito que você, leitor amigo, nunca ouviu falar de Hipônoo, nome obscuro de um cidadão grego, filho de Eurímede e Glauco, também ilustres desconhecidos.

Mas certamente conhece Belerofante, o herói mitológico.
Ambos são a mesma pessoa.

Tendo matado Beleros, tirano de Corinto, Hipônoo ficou famoso como “o matador de Beleros” ou Belerofante.

Suas aventuras fabulosas apresentam lances dramáticos, ações indômitas, tragédias, mortes e horrores.

Montado no Pégaso, o célebre cavalo alado, realizou proezas memoráveis, como vencer as amazonas, as mulheres guerreiras.

A mais gloriosa foi matar a quimera, fabuloso ser com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão, que aterrorizava populações, expelindo chamas, destruindo rebanhos e matando gente.

Contando com a ligeireza de Pégaso, escapava dos jatos de fogo arremessados pelo monstro, até que, com fulminante golpe de espada, o liquidou.
Não obstante suas vitórias como guerreiro, Belerofante terminaria seus dias melancolicamente, obscuro Hipônoo.

Segundo Homero, em A Ilíada, os deuses voltaram-se contra ele e o condenaram a vagar sem rumo, coxo, cego e solitário, a devorar o próprio coração.

***
A saga de Belerofante, como sempre ocorre com a mitologia, tem pontos de contato com a realidade: os desafios existenciais, os temores e as dúvidas em torno de situações difíceis que imaginamos ou superestimamos.

Surgem como “monstros” ameaçadores que podemos vencer, desde que trabalhemos intensamente para isso.

O mais interessante está na expressão de Homero – devorar o próprio coração.

Representa, simbolicamente, o comportamento de pessoas que, em face das atribulações da existência, entregam-se a sentimentos negativos, resvalando para a angústia, a revolta, o desespero, a depressão…

Nutrem-se das próprias mágoas, como se cometessem um ato de antropofagia moral, atormentados Hipônoos, nos caminhos da Vida, esmagados ao peso da própria desdita.

***
É preciso resgatar o herói que há em nós; não a fantasiosa e contraditória figura mitológica, mas o filho de Deus, dotado de suas potencialidades criadoras, capaz de enfrentar as atribulações da existência, reduzindo-as às suas dimensões reais.

São quimeras que podemos derrotar com as asas do conhecimento espírita, que nos permite pairar acima das misérias humanas, desvendando os mistérios do destino.

• O ente amado que pranteamos não se consumiu nas cinzas da sepultura.

Continua a viver em outros planos do infinito, acompanhando-nos os passos, torcendo por nós, esperando pelo reencontro feliz, quando chegar nossa hora.

• A enfermidade que nos aflige não objetiva impor-nos perturbações e angústias.

Tratamento de beleza para a alma, conduz a valiosas disciplinas e convida-nos à oração e a reflexão em torno das jornada humana.

• As dificuldades que surgem em nosso caminho não são obstáculos intransponíveis, convites ao desalento.

São estímulos à mobilização de nossas potencialidades criadoras, tornando-nos mais fortes e capazes.

• A desilusão amorosa que nos angustia não implica em aniquilamento de nossas esperanças.

Apenas revela que estivemos iludidos e a experiência nos ensinará a erguer o edifício de nossas realizações afetivas sobre bases mais sólidas.

***
Se o leitor amigo, sente-se um Hipônoo, e anda a devorar o próprio coração, nos grotões do desânimo e da tristeza, lembre-se:
Há um Belerofante adormecido em você!

Desperte-o!

Tome o seu Pégaso, nas asas abençoadas do conhecimento espírita, paire acima das misérias humanas com a gloriosa visão do infinito e derrote as quimeras com a mais poderosa de todas as certezas:
Deus nos reserva o melhor, num glorioso porvir!

Do livro Luzes no Caminho



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

                                             Como você se atreve?!

Há algum tempo me solidarizei com algumas pessoas sobre as quais se abateram tragédias e fatalidades, cujas identidades aqui não vêm ao caso para não expô-las.  

Não quero me ater às tragédias em si, mas a algumas reações insólitas, às quais atribuo, sem nenhuma margem de dúvida, dentre outras coisas de peso, o estado caótico, desolador, no qual a humanidade se encontra.

Alguém virou para mim em determinado momento e disse: "Você vai é se meter em confusão com esse negócio de se envolver com os problemas das pessoas!".

Confesso: me encrespei. 
Respondi na mesma hora, inconformada:

 "E por quê?! 
Qual a confusão viável por simplesmente me importar?!

 Por oferecer solidariedade?! 

Calor humano na hora do sofrimento?!

 Porque, a meu ver, confusão tem a ver com problema de consciência; ora, se a intenção e as minhas ações são justamente de molde a abonar a minha consciência, qual a confusão possível?!

E prossegui no desabafo durante alguns instantes com essa pessoa de minhas relações, cuja essência lhes transmito neste texto; é que meus artigos são assim mesmo.

 Este é o meu estilo: terapêutico. Gosto de dividir vivências com meus leitores de molde a despertar comentários, reflexões, debates... Há crescimento – e muito! – a partir disso!

A meu ver, é justo desse calor humano, do se importar, dessas demonstrações sinceras de solidariedade, do se estender as mãos para o próximo, que a humanidade mergulhada nas expressões do ódio e do desamor se ressente! 

Ninguém se importa nem quer se importar com nada; ninguém se compromete; há o temor de que num simples gesto ou palavra de solidariedade se vá perder alguma coisa. 

Mas perder o quê?! 

Tempo? O mesmo tempo gasto nos fins de semana com jogos de futebol, churrascadas regadas a cervejas e outras frivolidades?

 Então, a convivência com o ser humano se resume a isto: só se dá de si quando tudo vai bem! 

Na hora das festas, do entretenimento, do convívio no mais das vezes forçoso da vida profissional durante a semana, estaremos presentes, integrados.
 Nos momentos de dor, contudo – Nem pensar! Eu, hein, me meter nisso, me comprometer? 

Arranjar dor de cabeça, tomar a cruz dos outros quando a minha já não é fácil? Estou fora!

E segue assim a humanidade egoísta, em decorrência mesmo do que se vê: o mundo como nunca soterrado na maior crise de solidão e de desamor de toda a História!

 Porque se deu prioridade aos progressos tecnológicos, às comodidades, às incompletudes dos avanços científicos... E, ainda assim, estranhamente, padece o ser humano das mesmas misérias íntimas de milênios atrás, das eras da barbárie. 

Efetivamente, continua o seu modus vivendiegoísta, e nem por isso é mais feliz!

Observem que não quero aqui significar que se deva, como dito, tomar sobre si a cruz alheia! 

Isso, de fato, a ninguém seria de ajuda, de vez que para tirar alguém de dentro de uma vala não auxiliará se, em estendendo a mão, ao invés de içá-la, nos despenquemos para dentro, para a mesma situação crítica!

Não é a isso que me refiro, à assimilação da negatividade transitória do próximo, resultado das fatalidades que vez por outra o atingem! 

Falo de outra coisa, vital, imprescindível..., para que a humanidade continue digna de tal designação; para que a desesperança no ser humano não reverta absoluta: falo de amor

Falo de solidariedade na sua mais impoluta acepção e não apenas extensa aos nossos círculos consanguíneos, mas também para todo aquele a quem possamos ofertar com sinceridade e compreensão tal sentimento e tal atitude..., para além dos portais estreitos do nosso recinto familiar!

O curioso, todavia, é que o posicionar-se assim, pura e simplesmente, diante de determinadas personalidades, reveste-se quase que de arrogância. Lê-se com clareza nos olhares: Como você se atreve?! 

Quem pensa que é para sair por aí dando uma de boazinha, de salvadora da pátria? Quem você pensa que é? Por que não se mete com seus próprios problemas? Não é pretensão demais, não, achar que pode fazer alguma coisa, aliviar dores, reconfortar, principalmente, pessoas estranhas?!

Volto a confessar minha perplexidade! 

Mais de uma vez já vivenciei coisas que confirmaram aquele pensamento famoso e recorrente: é justamente fora de casa que encontramos maior solidariedade! Santo de casa não faz milagre! 

Um estranho, em variadas ocasiões, é o irmão compreensivo, o pai ou a mãe que não nos oferece o reconforto do qual necessitamos em situações extremas!

 Fora de casa, pois, é que encontramos o irmão de espírito, oportuno, carinhoso, de cujo apoio tanto necessitávamos na hora de se resolver situações difíceis, dolorosas!

Já vivi, já ouvi, já vi exemplos múltiplos que confirmam esta verdade! E, no entanto, persiste essa coisa de ser olhada e taxada, tácita ou explicitamente, de pretensiosa e arrogante justamente por amor de atitudes que tanto bem, comprovadamente, proporcionam ao próximo em suas angústias e agruras!

"Eu te compreendo! Já vivi, já senti na pele! Apegue-se a Deus, não desista! Já vivi algo assim, ou parecido!"

Palavras e gestos semelhantes tanto bem proporcionam aos irmãos de jornada neste mundo, meus amigos! 

Quem não aprecia? 

Quem pode dizer que não necessitou ou nalgum dia não vá necessitar de ser assim reconfortado por tais amigos oportunos, que parecem "cair do céu" quando deles mais precisávamos?

 Que mal há, por fim, em se apostar na força reabilitadora do calor humano, da fraternidade na sua expressão mais espontânea, peculiar, simples, de nós mesmos? 

No anonimato ou mais manifestamente, não importa, por intermédio da publicação de um texto, ou de um diálogo carinhoso, o se buscar o outro, com o devido senso de oportunidade, para lhe mitigar ao menos um pouco a dor, para estar presente nela, para, enfim, e ainda que em silêncio, fazer calar fundo nalguma alma martirizada que estamos todos no mesmo barco...

Como você se atreve?! – os olhares e comentários sugerem, da maneira mais insólita...

Querem saber de uma coisa? 

Chico Xavier se atreveu. Gandhi se atreveu. Jesus. Mahavira. Osho, Chico Mendes, Madre Teresa de Calcutá... Francisco de Assis!
Estou em boa companhia. E vou continuar me atrevendo!

Cristina Nunes - O consolador


 


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014




                                      A questão das esmolas

Sempre que caminhamos pelas ruas em busca dos nossos afazeres, um quadro se apresenta:

a mendicância. São irmãos que ali se encontram em grande desterro espiritual suplicando caridade.

É comum levarmos as mãos aos bolsos ou bolsas, tirarmos uma cédula ou moeda de pequeno valor e depositarmos naquelas mãos um mínimo que, quem sabe, pode ajudá-los em mais um momento de suas existências.

Assim, os dias se sucedem e, comumente, aqueles irmãos e irmãs são encontrados nas mesmas ruas, esquinas, praças...

Muitas vezes crianças maltrapilhas, mal cuidadas e expostas a todos os tipos de perigos. 

 E isto vale reflexões.

Inicialmente devemos olhá-los como se olha para irmãos em processo evolutivo, temporariamente vivendo aquele tipo de experiência.

Certa feita um amigo me disse que decidiu sair à noite e ofertar aos moradores de rua fatias de pães e bolos acompanhados de chocolate ou suco.

Numa das abordagens a um senhor que tentava conciliar o sono, foi recebido de forma calorosa. Aquele homem somente aceitaria a ajuda se antes dessem as mãos e fizessem juntos uma prece de agradecimento.

Foi um momento sublime, disse meu amigo.

A história daquele senhor o emocionou.

Foi abandonado pelos filhos, despojado dos seus bens e tido como pessoa não grata ao convívio familiar no qual vivia.

Evidente que não cabe aqui um estudo sobre aquele caso em particular e sim uma olhada mais demorada em todos os casos que existem em cada pessoa que encontramos de mãos estendidas quando passamos pelas vias urbanas.

Contudo, podemos ainda pensar nas opções que aqueles irmãos tiveram ou sustentam.

E perguntamos:

 não seria melhor que eles procurassem ocupações que garantissem suas sobrevivências, melhorando seus status sociais?

Esta é a questão mais emblemática que se apresenta para os sociólogos e pessoas ligadas a este tipo de assunto e assistência.

Comumente as prefeituras buscam criar órgãos de apoio e encaminhamento aos moradores de rua.

O problema é que nem sempre eles aceitam e costumam fugir dos abrigos alegando não suportarem as regras que ali são expostas.

Os agentes municipais encarregados deste trabalho sentem-se impotentes e, intimamente, querem uma solução, pois veem naqueles irmãos uma carência muito mais afetiva que mesmo física.

E eles são Espíritos reencarnados com todo o potencial de chegarem à perfeição como asseverou Jesus. São luzes que necessitam brilhar para indicar-lhes caminhos novos.

 Então ficamos sem saber se devemos ou não dar-lhes esmolas, migalhas que pouco vão ajudar ou até mesmo sustentar suas vivências naquele estado de coisa. 

O que fazer então?

Allan Kardec, na questão 888 de “O Livro dos Espíritos” pergunta: “O que pensar da esmola”? A resposta é “O homem reduzido a pedir esmolas degrada-se moral e fisicamente:ele se embrutece. 

Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco, sem que ele seja humilhado. 

A sociedade deve garantir a existência dos que não podem trabalhar, sem deixar sua vida à mercê da sorte e da boa vontade de alguns”.

Concluímos assim que é dever da sociedade ajudar àquelas pessoas para que suas vidas se tornem menos penosas.

 Ora, segundo Joanna de Ângelis, faz tempo que estamos no degrau humano.

Aproximadamente quinhentos mil anos. Então aquelas pessoas que caminham à margem da sociedade também estão inclusas nesse tempo e cheias de arquivos mnemônicos adquiridos através de experiências transatas e nas quais, com certeza, não foram mendigos. 

Como também não são mendigos, estão mendigos.

Esta forma de pensar já nos aproxima um pouco mais daquelas almas, presentemente em desalinho.

Vi, certa vez, uma senhora com quatro filhos estender suas mãos súplices a uma jovem de aproximados treze anos, que voltava da aula para casa vestida regiamente, demonstrando não ter qualquer dificuldade financeira em seu núcleo familiar.

 Naquele momento, contudo, a jovenzinha não possuía nenhuma moeda. Havia gasto na escola com a merenda.

 Então aquela menina de olhos de luz, parou seu caminhar, olhou para aquela senhora e as crianças e deu um sorriso largo, pleno, enriquecedor.
Aquela pobre mãe entendeu o valor daquele sorriso e também sorriu e ambas pintaram uma aquarela digna das galerias dos imortais. 

Concluí naquele instante que a moeda ali era o amor, a complacência, o querer bem. 
Não eram mendigos ou não mendigos do corpo, eram almas que, quem sabe, por um instante se reencontraram e se reconheceram.

Na questão 888a, Allan Kardec pergunta a São Vicente de Paulo se ele condenava a esmola.

A resposta daquele asceta foi que: “não é a esmola que é condenável, mas a maneira como quase sempre é praticada.

O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do infeliz, sem esperar que ele lhe estenda as mãos”.

Conheci uma senhora que toda manhã ia ao encontro dos infelizes que dormiam na praça e ofertava-lhes pão com manteiga e café com leite.

Aquelas criaturas sorriam agradecidas, muitas vezes sorrisos distorcidos por peles ressecadas, olhares turvos, dentes faltantes ou amarelecidos por falta de cuidados. Contudo, sorriam e falavam uma daquelas palavrinhas mágicas que ensinamos nossas crianças: muito obrigado!

“Portanto, sede caridosos, mas não somente praticando a caridade que vos leva a tirar do bolso a moedinha que lançais friamente a quem ousa pedir – ide ao encontro das misérias ocultas.

Sede indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de menosprezar a ignorância e o vício, instruí e moralizai.

Sede gentis e benevolentes para todos os que vos são inferiores, agindo da mesma forma em relação aos seres mais ínfimos da Criação – então tereis obedecido à lei de Deus”.

Este é o fecho da resposta de São Vicente de Paulo a Kardec na citada questão 888a de “O Livro dos Espíritos”.

Vivemos em sociedade. É necessário que seja assim.

Que sejamos, pois, solidários uns com os outros.

 Há mendigos do corpo e do espírito, porém, são eles irmãos a caminho conosco para a grande chegada, antecedida por uma estrada longa, pontilhada de aprendizados e propostas às práticas das virtudes; essenciais.

Guaraci Lima Silveira - O consolador