sexta-feira, 20 de abril de 2012


A HOMOSSEXUALIDADE NA VISÃO ESPÍRITA.
(Parte 1)
 

Allan Kardec elucida a questão na Revista Espírita.
 Emmanuel esclarece sobre o tema em Vida e Sexo e Chico Xavier opina sobre o assunto
 
Vamos começar o desenvolvimento desse tema com a pergunta formulada por Allan Kardec, Codificador do Espiritismo, na questão 200 de O Livro dos Espíritos, se os Espíritos têm sexo?

Os Benfeitores Espirituais responderam: "Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos”.

Os Espíritos deram essa resposta a Kardec, em razão do conceito que o homem tem de estar o sexo ligado à organização física. O homem distingue o masculino e o feminino como manifestação da forma e segundo o papel exercido na função reprodutora. Porém, não estende o seu pensamento sobre a verdadeira fonte das energias sexuais. Para ele, de modo geral, o sexo é apenas instrumento de prazer. Alguns há, no entanto, que buscam o sexo para a reprodução, por motivos diversos, mas sempre associados à busca do prazer dos sentidos.

É verdade que o uso do sexo é uma lei natural na esfera material, como observa o Espírito Alexandre, no capítulo 13 da obra Missionários da Luz, em que trata da reencarnação: "não há criação sem fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no seio da Divindade”.
O tema na Revista Espírita
O Codificador do Espiritismo, na Revista Espírita de janeiro de 1866, no artigo publicado “As Mulheres Têm Alma?”, no final do 13º parágrafo, diz:

“(...) Aos homens e mulheres, são assim assinados deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro. Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e às exigências impostas pelo mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos. Os que se nos apresentam como homens ou como mulheres, é para nos lembrar a existência em que os conhecemos. Se essa influência se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Se for avançado, será um homem avançado; se for atrasado, será um homem atrasado. Mudando de sexo, poderá então, em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres. Assim, não existe diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, que se aniquila com a morte do corpo. Mas quanto ao Espírito, à alma, o ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas. Assim quis Deus, em sua justiça, para todas as criaturas. Dando a todas um mesmo princípio, fundou a verdadeira igualdade. A desigualdade só existe temporariamente no grau de adiantamento; mas todos têm direito ao mesmo destino, ao qual cada um chega por seu trabalho, porque Deus não favoreceu ninguém à custa dos outros” (...).
Emmanuel em Vida e Sexo
Por meio da psicografia de Chico Xavier, o benfeitor espiritual Emmanuel, no capítulo 21 do livro Vida e Sexo, tece comentários em torno da homossexualidade, iniciando com a pergunta 202 de O Livro dos Espíritos:

“— Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?”

A resposta dos Benfeitores Espirituais a essa indagação foi a seguinte:

“— Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”

Depois de destacar inicialmente essa questão de O Livro dos Espíritos, o Espírito Emmanuel considera:

“A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação”.

Observada a ocorrência, mais com preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais.

A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinquência.
Fenômeno da bissexualidade
“A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fieira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.

O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acen¬tuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.

À face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice-versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese o corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias.

Obviamente compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no renascimento, entre os homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não apenas atendendo-se ao imperativo de encargos particulares em determinado setor de ação, como também no que concerne a obrigações regenerativas.”
Consequência dos abusos
“O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição, no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos fins.

E, ainda, em muitos outros casos, Espíritos cultos e sensíveis, aspirando a realizar tarefas específicas na elevação de agrupamentos humanos e, consequentemente, na elevação de si próprios, rogam dos Instrutores da Vida Maior que os assistem a própria internação no campo físico, em vestimenta carnal oposta à estrutura psicológica pela qual transitoriamente se definem.

Escolhem com isso viver temporariamente ocultos na armadura carnal, com o que se garantem contra arrastamentos irreversíveis, no mundo afetivo, de maneira a perseverarem, sem maiores dificuldades, nos objetivos que aí traçaram.”
Amparo educativo
“Observadas as tendências homossexuais dos companheiros reencarnados nessa faixa de prova ou de experiência, é forçoso se lhes dê o amparo educativo adequado, tanto quanto se administra instrução à maioria heterossexual. E para que isso se verifique em linhas de justiça e compreensão, caminha o mundo de hoje para mais alto entendimento dos problemas do amor e do sexo, porquanto, à frente da vida eterna, os erros e acertos dos irmãos de qualquer procedência, nos domínios do sexo e do amor, são analisados pelo mesmo elevado gabarito de Justiça e Misericórdia. Isso porque todos os assuntos nessa área da evolução e da vida se especificam na intimidade da consciência de cada um.”
Chico Xavier responde
No livro A Terra e o Semeador, o médium mineiro, ao lhe ser perguntado: “Como nossos Amigos Espirituais conceituam o problema homossexual?”, respondeu o seguinte:

“O problema da homossexualidade sempre existiu em todas as nações, no entanto, com a extensão demográfica no Planeta, o assunto adquiriu características de grande intensidade, ou de mais intensidade, porque, nos últimos 50 anos, a ciência psicológica tem-se preocupado detidamente e com razão, no que se refere aos ingredientes mais íntimos da nossa natureza pessoal.

“Estamos efetuando a descoberta de nós mesmos, para além dos padrões psicológicos conhecidos ou milimetrados pelos conhecimentos que possuímos, dentro dos preceitos respeitáveis, que nos regem o comportamento social e humano. No caso, é justo observar que os impositivos da disciplina e da educação devem oferecer-nos barreiras construtivas para que o abuso não destrua quaisquer benefícios estabelecidos em leis.”

CAUSAS E TENDÊNCIAS
“Cremos que tendências à homossexualidade surgem na criatura após muitas existências dessa mesma criatura nas condições de feminilidade ou vice-versa. Pensamos assim, na base da reencarnação, porquanto, além dos sinais morfológicos, a individualidade é a própria individualidade em si, com todas as suas experiências das existências anteriores. Em vista disso, a homossexualidade pode ser examinada hoje proporcionando ao homem vasto campo de estudos, quanto à natureza bissexual do Espírito.

“O tema é, porém, objeto para simpósios de cientistas, e instrutores da Humanidade, até que possamos encontrar a fórmula exata para decidir do ponto de vista legal, quanto ao destino dos nossos companheiros num sexo ou noutro, que trazem a inversão por clima de trabalho a ser laboriosamente valorizado pela pessoa que se faz portadora de semelhante condição para determinadas tarefas.

“Sabemos que grandes civilizações, como por exemplo, a civilização greco-romana, depois de alcançarem avanço espetacular no campo da inteligência, ao perquirirem a natureza complexa do homem, encontraram problemas de sexo muito profundos, que os legisladores de então não quiseram ou não puderam reconhecer. Esses problemas, no entanto, explodindo sem a cobertura de preceitos legais, em plenitude de intemperança nas manifestações afetivas, cooperaram na decadência de ambas as civilizações, grega e romana, que se perderam no tempo, sob o ponto de vista de respeitabilidade e domínio.

“Esperemos que os Mensageiros da Vida Maior inspirem os nossos dignos representantes da Ciência e da Justiça na Terra para que a solução do problema apareça oportunamente, favorecendo a paz e a concórdia nos vários campos de evolução da Humanidade.“

(O presente artigo será concluído na próxima edição.)

domingo, 15 de abril de 2012


A LEI DE ANENCÉFALO

Acabou de ser noticiado que foi aprovado a lei que permite a mulher interromper a gravidez se comprovada á ausência de cérebro no feto. Infelizmente só o Ministro Ricardo Lewandowiski se posicionou contra. Parabéns ao Ministro que levou até as últimas consequências seus princípios e a sua formação Cristã.
De acordo com a Filosofia Espírita, mas especificamente o Livro dos Espíritos* de Alan Kardec livro com 1019 perguntas e respectivas respostas para as mais diversas indagações da vida, fui conferir e separei abaixo as seguintes perguntas do capítulo VII, muito relacionadas às questões em destaque no momento, com suas respectivas respostas;

334- A união da alma com este ou aquele corpo é predestinada, ou a escolha se faz apenas no último momento?
– O Espírito é sempre designado antes. Ao escolher a prova por que deseja passar, pede para encarnar; portanto, Deus, que tudo sabe e tudo vê, sabe e vê antecipadamente que alma se unirá a qual corpo

.335- O Espírito faz a escolha do corpo em que deve encarnar, ou apenas do gênero de vida que lhe deve servir de prova?
– Pode escolher o corpo, já que as imperfeições desse corpo são para ele provas que ajudam no seu adiantamento, se vencer os obstáculos que aí encontra. Embora possa pedir a escolha nem sempre depende dele

.344- Em que momento a alma se une ao corpo?
– A união começa na concepção, mas só se completa no instante do nascimento. No momento da concepção o Espírito designado para habitar determinado corpo se liga a ele por um laço fluídico e vai aumentando essa ligação cada vez mais, até o instante do nascimento da criança. O grito que sai da criança anuncia que ela se encontra entre os vivos e servidores de Deus.

347- Que utilidade pode ter para um Espírito sua encarnação num corpo que morre poucos dias após seu nascimento?
– O ser não tem a consciência inteiramente desenvolvida de sua existência e a importância da morte é para ele quase nula. É muitas vezes, como já dissemos uma prova para os pais

.355- Há, como indica a ciência, crianças que, desde o ventre materno, não têm possibilidades de viver? Qual o objetivo disso?
– Isso acontece freqüentemente; a Providência o permite como prova para seus pais ou para o Espírito que está para reencarnar

.358- O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção?
– Há sempre crime quando se transgride a Lei de Deus. A mãe, ou qualquer outra pessoa, cometerá sempre um crime ao tirar a vida de uma criança antes do seu nascimento, porque é impedir a alma de suportar as provas das quais o corpo devia ser o instrumento.
                                                                     
   XX
Lendo e estudando essas questões de explicações claríssimas e coerentes não posso ficar alheia ao assunto e ainda saliento que uma vez aprovada essa lei foi aberta uma brecha onde poderão profissionais de má fé construírem laudos falsos e promoverem abortos indiscriminadamente sob a desculpa de má formação.
È cômodo pensar que cada um responde por si e vai colher o que plantar, mas “ai daquele por quem o escândalo venha” já disse Jesus. Uma vez aprovada a lei, todos os que concordarem com ela estarão compactuando com a ação consequente.
Eu até concordaria de que só vai fazer o aborto quem quiser e não será forçada a fazê-lo só porque existe uma lei. Aquela mulher que tiver respeito à vida, a respeitará sob qualquer circunstancia, porém todos sabem que as facilidades favorecem aqueles que se propõe a induzir pessoas de vontade fraca, e isso tem muito por ai.
Daí só nos resta parabenizar o Ministro Ricardo Lewandowisk e lamentar por todos os outros que se tornaram cúmplices de todos os crimes que se efetuarão alicerçados nas suas assinaturas.
*Acesso ao Livro dos Espíritos

quinta-feira, 12 de abril de 2012


         Viagem Espírita em 1862,

      cento e cinquenta anos depois

O livro acima e A Obsessão, ambos traduzidos por Wallace



Leal V. Rodrigues, trazem subsídios valiosos para o fortalecimento dos grupos espíritas


É um grande prazer apreciar os prefácios elaborados por Wallace Leal V. Rodrigues – que foi redator chefe da Casa Editora O Clarim, de Matão-SP, por bom tempo, nas décadas de 60 a 80 –, especialmente quando se referem a obras de Kardec, que ele mesmo traduziu diretamente dos originais franceses.
É o caso de Viagem Espírita em 1862 e A Obsessão, ambas traduzidas, prefaciadas e editadas no final da década de 60 por aquela editora.


A primeira – que está comemorando 150 anos desde o seu lançamento – traz os pronunciamentos do próprio Allan Kardec a grupos espíritas que ele visitou em viagens de divulgação doutrinária realizadas, como o próprio nome diz, no ano de 1862. A segunda apresenta inúmeros casos de obsessão acompanhados pelo Codificador, com seus comentários, análises e, óbvio, muitos ensinamentos na ampliação do assunto.


Selecionamos para os nossos leitores alguns trechos de dois prefácios do tradutor, seja pela expressão do texto, seja pela oportunidade de sempre lembrar Kardec.


Em A Obsessão, Wallace comenta:


‘(...) No livro que iremos ler, Kardec reúne casos de obsessões manifestadas não apenas em indivíduos, mas também em grupos, tal o de Morzines. Trata-se, pois, de um comportamento social, isto é, de uma delicada textura tal as maneiras como seres humanos – os Espíritos são seres humanos! – se ajustam ou não se ajustam ao meio social, neste caso provocando toda a gama de desequilíbrios que Kardec com tão grande felicidade cataloga ao vivo. (...)


Ocorrência importante a ser enfatizada, principalmente no meio espírita, onde se tem por lema que “o verdadeiro espírita reconhece-se por sua reforma íntima”, é que não estamos completamente cônscios da maioria das nossas “atitudes” nem da extensa influência que elas têm sobre o nosso comportamento social. Mas, através da tão citada “vigilância”, numa análise detalhada, podemos localizar o funcionamento de certas “atitudes” em nós mesmos. E não esqueçamos de que já agora, ou amanhã, na qualidade de Espíritos, poderemos, conforme nossa “atitude”, ser classificados como “obsessores”.


À primeira vista a mudança de “atitudes” poderá parecer uma questão simples, e este é o erro
Através de relampejos introspectivos das “atitudes” que funcionam em nós, tornamo-nos sensíveis às “atitudes” de outras mentes, vestidas de carne ou não. Mas sucede que num ou noutro caso nem sempre as pessoas revelam abertamente suas “atitudes”! De fato, elas aprendem, através de experiências com outros, a manter algumas de suas “atitudes” escondidas dos conhecimentos casuais ou mesmo dos amigos mais íntimos. Em virtude desse fato vamos usar o termo “tendência de reação”, em lugar de “reação”, apenas para o terceiro componente das “atitudes”, a fim de indicar que estas não se encontram necessariamente expressas no comportamento ostensivo. E porque isso se dá, o êxito da interação social redunda, frequentemente, no talento para inferir ou reduzir a natureza dos pensamentos, sentimentos e tendências reativas dos outros, a partir de indícios muito sutis de comportamento. Na realidade é uma característica comum do pensamento humano fazer inferências sobre as “atitudes” dos outros e regular nossas próprias ações em conformidade. Com base em limitadas e diminutas amostras do comportamento dos outros, poderemos concluir se, digamos, tratamos com pessoa liberal, compreensiva, destituída de preconceitos, e reagirmos, então, de maneira que considerarmos mais apropriada. Mas, embora todos nós façamos deduções, as pessoas diferem na capacidade de fazê-las corretamente. (...)
À primeira vista a mudança de “atitudes” poderá parecer uma questão simples, e este é o erro em que costuma incidir a maioria dos doutrinadores de sessões de desobsessão. Pensamos que, uma vez que as “atitudes” são aprendidas, deveria ser bastante fácil modificar a intensidade delas ou substituir uma “atitude indesejável” mediante a aprendizagem de outra. O fato complicado porém é que as “atitudes” não são modificadas ou substituídas com a mesma facilidade com que são aprendidas. (...)
O individuo crédulo caracteriza-se por uma acentuada dependência de outras pessoas e uma incapacidade notória para apreciar de modo crítico as proposições alheias. Essa combinação de características torna-o especialmente inclinado a adotar as crenças dos outros ou quaisquer proposições apresentadas com autoridade.


O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns tinham-se constituído desde logo em êxitos de livraria


No outro extremo situa-se o indivíduo altamente resistente à persuasão, a quem falta, frequentemente, a capacidade de compreender o material comunicado. É habitualmente negativo à autoridade, rígido e obtuso em seu pensamento e voluntariamente desatento a novas ideias, de onde a necessidade, por parte das Divinas Leis que nos regem, do imperativo da Dor como derradeiro recurso de persuasão para o Bem. (...)


Por tudo isto Jesus propõe tão seriamente o “orai e vigiai”. (...)’


Já em Viagem Espírita em 1862, lemos:


‘(...) é o próprio Codificador, lúcido e desperto, que se encarrega de iniciar a divulgação das verdades espíritas através das tribunas. Em seguida a ele, em perfeita coordenação, surgirá Léon Denis.


Em um como em outro, e tal como sucede ainda em nossos dias, a preocupação se converge para uma ética que, em sendo, até certo ponto, patrimônio das mais antigas culturas, era, praticamente, apenas “letra que mata”; agora vai ser “espírito que vivifica”, subversiva no sentido de arremeter do exterior para o interior, da teoria para a ação. Seu caráter renovador torna-a evangelicamente desmistificada e autenticamente apostolar, o que nos leva a estabelecer a comparação com o livro dos “Atos”, essa crônica de viagem, durante a qual os inúmeros personagens têm, o tempo todo, os lábios entreabertos, como que preparados para traduzir em palavras o pensamento da Boa Nova, em especulações sobre ações passadas e presentes, que se acumulam em seus espíritos com a força do rio comprimido contra as paredes de uma barragem.


Esta “Viagem Espírita de 1862” é qualquer coisa de semelhante e assim Allan Kardec nela se comporta. (...)


“O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns” tinham-se constituído, desde os seus lançamentos, em êxitos de livraria, e o seu autor se fez, de imediato, notado. Dilacerada por uma acabrunhante tristeza, a Humanidade disputava pensamentos capazes de oferecer uma nova e veraz interpretação para tudo quanto pudesse ser julgado de real importância. As religiões apresentavam os sinais de uma incurável senilidade e deixavam de ser o “freio” esterilizante; mas a ética que tresandava do ensino comunicado pelos Espíritos Superiores podia ser considerada não como “uma religião”, mas a própria “Religião”, surgindo de uma tenebrosa noite sufocada pelo fumo acre que tresandava a carne humana assada nas fogueiras.


Em Lyon ocorreu o primeiro encontro de dirigentes espíritas: de um lado, Dijou; de outro, Kardec


O seu símbolo não era o “freio”, porém a “chave”, e nisso estava implícito ao mesmo tempo uma esperança e uma ameaça. Havia algo de esgotante e doentio naquele decisivo século XIX, em que o homem alcançara o superlativo de uma técnica elaborada em um suceder inimaginável de gerações: a de amar tão bem, amando tão pouco. (...)


Noite! 19 de setembro de 1860. Kardec é recebido no Centro Espírita de Broteaux, o único existente em Lyon. À porta esperam-no Dijou, operário, chefe de oficinas, e sua esposa.


Este é, na História, o primeiro encontro de dirigentes espíritas. Dijou encontra-se à testa do grupo lionês; Kardec desempenha as funções maiores na “Societé” parisiense. A mão do emérito pensador aperta vigorosamente os dedos calosos e ásperos do companheiro, a quem chama “irmão”. No olhar grave que trocam vê-se que mutuamente se entendem: embora em planos diferentes, suas responsabilidades se equivalem.


Transpostos os portais, o coração de Kardec se rejubila. O “milagre” a que tantas vezes já fizera menção, sempre com arrebatamento e orgulho, o grande feito que compete à doutrina espírita realizar, consubstancia-se ali, ante seus olhos; e é um mentor espiritual, Erasto, em sublime epístola dirigida à comunidade lionesa, quem vai encontrar palavras para vestir a emoção do Codificador: "Não podeis imaginar quanto nos é doce e agradável presidir ao vosso banquete, onde o rico e o operário se abraçam, bebendo à fraternidade!”.


Kardec dirige-se à tribuna singela e o Centro Espírita de Broteaux, pelo futuro em fora, será lembrado como o local da pira. Ali é aceso o fogo sagrado que empunharão, através dos séculos, todos aqueles que se compromissaram, mesmo ao preço de injúrias, suor e lágrimas, a divulgar as glórias do Espiritismo pela bênção da palavra. (...)


No outono de 1862 deixa Paris para sua terceira viagem de propaganda espírita. Esta será a mais extensa a ser feita em toda a sua vida e se alongará até Bordeaux. Precisa constatar o processo de fermentação. O mundo do homem encarnado era um mundo enfermo que se tentava analisar dentro dos quadros da psicologia ou da filosofia. Mas tudo aquilo era susceptível de mais de uma explicação.


Os conceitos contidos em Viagem Espírita em 1862 continuam atuais e fundamentais à conduta dos espíritas


Kardec preparou, com zelo habitual, o material de sua oratória e, de fato, o seu tema de eleição está, melhor do que nunca, expresso no legado dessa viagem.


Tudo quanto vai dizer é fruto de uma experiência pessoal. Essa experiência caminha para nós e a voz que a expressa, apesar dos anos, nada tem de debilidade. Entre o homem e sua felicidade, ergue-se a Sombra, a terrível paixão: o Egoísmo. Isto é uma espécie de grito que precisa ser mil vezes repetido, até que o grande obstáculo, a Sombra, seja reconhecida como o pior dos inimigos. Enquanto isso não se faça todos estaremos excluídos da felicidade que desejamos partilhar. (...)


André Moreil, o mais recente biógrafo de Kardec, comenta a “Viagem Espírita em 1862” nos seguintes termos: “Essa grande viagem foi, mais tarde, publicada em obra especial, que se tornou auxiliar indispensável aos grupos espíritas, tanto no que concerne à doutrina, quanto no que diz respeito à organização e administração das sociedades espíritas”.


Cremos que este livro não foi, até o momento, editado em língua portuguesa. Lançamo-lo não apenas por sua alta qualidade doutrinária, mas ainda como uma adesão da “Casa de Cairbar Schutel” às comemorações do 1º Centenário de Desencarne de Allan Kardec, ocorrido em 1869.


Os conceitos nele contidos são tão atuais e frescos, tão fundamentais à boa conduta das entidades espíritas, que poderiam ter sido escritos em 1962. O leitor arguto e atento fará aqui mil descobertas de transcendental valor. Cem anos transcorridos, as instruções de Kardec são ainda perfeitamente aplicáveis e uma garantia para a pureza doutrinária. Caracterizam-se pela firmeza, lucidez e responsabilidade. Finalmente, o seu curioso modelo de Regulamento, o antepassado dos atuais estatutos das sociedades espíritas, é um exemplo de ponderação, de repulsa ao misticismo e uma revelação de alto espírito universalista.


A “Viagem Espírita em 1862” é obra em que, de singular maneira, o “homem” Allan Kardec se nos revela com sua consciência histórica e, em súbitos clarões, permite que o vejamos bem próximo de nós, o ser que já realizou o que intentamos, isto é, a substancial reforma interior que, só ela, possibilita a mágica interação: a criatura vivendo no Espiritismo, o Espiritismo vivendo na criatura

segunda-feira, 9 de abril de 2012


Terra: mãe generosa ou planeta hostil?

Os últimos desastres geológicos envolvendo particularmente o Haiti e o Chile levam-nos ao pensamento do escritor norte-americano BillBryson, no livroBreve História de quase tudoao escrever que vivemos num mundo que parece não nos querer aqui.
A afirmativa de Bryson é resultado de longa reflexão em torno de dados históricos e científicos impressionantes. Por mais de oito vezes a Terra teve quase todas as formas de vida dramaticamente destruídas. Quando se fala em episódios catastróficos se pensa logo nos dinossauros e lembra-se que o seu desaparecimento há cerca de 60/70 milhões de anos está ligado ao choque de um grande asteroide. Isso dá a falsa impressão de que desastres com causas externas seria o principal risco para a nossa biosfera. O caso dos dinossauros, no entanto, é uma exceção em meio a um grande número de episódios nos quais processos conduzidos pelos próprios seres vivos acarretaram reduções dramáticas na biomassa (o volume total de seres vivos).
Há cerca de 250 milhões de anos, pereceram 90% das espécies marinhas e 70% do total da vida na Terra em decorrência do crescimento exagerado de bactérias produtoras de gás sulfídrico, um gás altamente mortífero para plantas e animais. Esse crescimento bacteriano se deu em virtude do aquecimento do planeta em decorrência de um efeito estufa produzido por gigantescos volumes de magma lançado por vulcões nos mares e na terra por milhares de anos.
Pelo menos duas dúzias de culpados potenciais foram identificados como causas das destruições em massa: aquecimento global, resfriamento global, mudança dos níveis dos oceanos, esgotamento do oxigênio nos mares, epidemias, vazamentos gigantescos de gás metano no fundo do oceano, impactos de meteoros e cometas, furações, vulcões, explosões solares etc. Lembra o autor citado que na maior parte da história recente a Terra esteve longe de ser o local estável e tranquilo que nós sonhamos. Não é, segundo ele, um local ameno para um organismo viver.  
Uma teoria conhecida, a famosa hipótese Gaia, propõe
 que a mãe natureza cuidará de nós eternamente
se voltarmos ao seu seio
 
As porções da Terra onde temos preparo ou capacidade para viver são bem modestas: apenas 12% da área terrestre total, e somente 4% da superfície total se incluirmos aí os oceanos. O restante é frio demais ou quente demais, alto demais, seco ou úmido demais etc.
Soma-se a tudo isso a ação irresponsável do mais recente predador do planeta, o homem, que, segundo o jornalista André Trigueiro, no livro Espiritismo e Ecologia, tem participação direta na mudança climática, na escassez de recursos hídricos, na produção monumental de lixo, na destruição sistemática e veloz da biodiversidade, no crescimento caótico e desordenado das cidades, dentre outros.
Mas o que pensarmos, então, da esperançosa ideia de que nosso planeta é “mãe acolhedora e generosa”, de mãos sempre abertas para seus filhos, nós, Espíritos encarnados?
Uma bela discussão filosófica pode ser feita.
Uma das teorias mais difundidas nos últimos quarenta anos, a famosa hipótese Gaia, propõe que a mãe natureza cuidará de nós eternamente se voltarmos ao seu seio. Gaia é uma referência à deusa Terra na mitologia grega, cujo nome também pode ser traduzido como “boa mãe”. Segundo essa hipótese, aventada pelo cientista inglês James Lovelock, a natureza teria compromisso com a manutenção da vida sobre a Terra, tendendo à harmonia. Segundo a teoria citada, os seres vivos colaboram entre si para manter as condições ambientais dentro de parâmetros compatíveis com a manutenção da vida, podendo até mesmo melhorar a química da atmosfera e dos oceanos.
Segundo o paleontólogo americano Petyer Ward, da NASA e da Universidade de Washington, essa teoria está totalmente errada, pois os seres vivos interagem com o ambiente de tal maneira, que, a longo prazo, a vida tende a desaparecer. A natureza se comporta como Medeia, a mãe impiedosa que, na mitologia grega, mata os próprios filhos. 
O nosso descaso diante do cuidado com a sustentabilidade do planeta tem sido responsável por problemas crescentes 
A Doutrina Espírita nos apresenta o planeta Terra como o ninho do Espírito imortal necessitado de oportunidades para desenvolvimento de seus talentos. Se o planeta nos fosse oferecido perfeito e em absoluta harmonia, onde encontraríamos os elementos necessários ao nosso aprimoramento? Na medida em que o Espírito desenvolve a inteligência e o sentimento, o planeta que o acolhe vai sendo naturalmente burilado, tendo as suas condições de habitabilidade melhoradas.
O notável progresso tecnológico alcançado por nós, nos dois últimos séculos, atesta que o homem tem feito bastante em prol das melhores condições de vida na Terra. A expectativa de vida que era no Homem de Cro-magnun (há cerca de 100 mil anos) de 30 anos, e que subira apenas para 35 anos no século XIX, chega hoje, em países desenvolvidos, próxima dos 80 anos.
As comodidades que a tecnologia oferece a cada indivíduo com eletrodomésticos, automóveis e coisas equivalentes correspondem, segundo estudos de especialistas, ao trabalho de 33 escravos do mundo greco-romano.
No entanto há muito a ser feito, e atitudes equivocadas a serem revistas.
Gastam-se 18 bilhões de dólares por ano no mundo com perfumes e cosméticos. Isso bastaria para eliminar a fome de 800 milhões de pessoas. Gastam-se 12 bilhões de dólares por ano com sorvetes na Europa. Isso seria suficiente para prover com água de boa qualidade mais de 1 bilhão de pessoas que não a têm.
No capítulo VI de O Livro dos Espíritos, que versa sobre a Lei de Destruição, há o reconhecimento de que muitos flagelos resultam da imprevidência do homem.
O nosso descaso diante do cuidado com a sustentabilidade do planeta tem sido responsável por problemas graves e crescentes.
No livro Eco-Economia, Lester Brown comenta que ocorreram três vezes mais catástrofes naturais durante os anos de 1990 do que nos anos 1960. Perdas econômicas aumentaram oito vezes. Grande parte desse aumento parece ser devido a catástrofes, incluindo tempestades, secas e incêndios florestais. 
O item 132 d´O Livro dos Espíritos diz que compete ao Espírito encarnado cumprir sua parte na obra da criação
Relatórios recentes de técnicos e pesquisadores da área informam que eventos extremos como furacões, enchentes e tempestades já ocorrem com mais intensidade e com intervalos de tempo mais curto. O degelo das calotas e dos cumes elevados, a elevação do nível do mar, a mudança da configuração de importantes ecossistemas como a Amazônia ou as imensas redes de corais submarinos são alguns dos efeitos da monumental descarga de gases de efeito estufa de origem humana, especialmente a queima progressiva de petróleo, carvão e gás, os desflorestamentos e o manejo inadequado do solo e lixo.
Lembra o jornalista André Trigueiro que mais importante do que cuidar do planeta para nossos filhos e netos é cuidar melhor dos nossos filhos e netos para o planeta. Em resumo: é o papel da educação, também para a questão ambiental.
Domenico de Masi, sociólogo italiano, autor do livro O Ócio Criativo, apresenta oito grandes obstáculos ao bem-estar da criatura humana, que nos compete superar: a morte, a dor, a miséria, o cansaço, a feiura, a ignorância, o autoritarismo e a tradição.
Quando Kardec estabelece as finalidades da encarnação em O Livro dos Espíritos, item 132, escreve que compete ao Espírito encarnado cumprir sua parte na obra da criação. Ou seja, atuar de forma positiva e dinâmica em prol do planeta e de todos os seres viventes.
Joanna de Ângelis, na obra Atitudes Renovadas, coloca que os compromissos terrenos, aqueles que fomentam o progresso da sociedade, também fazem parte integrante das altas responsabilidades morais do Espírito imortal. E acrescenta: A tua é a missão de construir a Terra melhor e mais feliz, iniciando o labor em teu mundo intimo e ampliando-o além das fronteiras que te limitam.
A Terra (seja Gaia ou Medeia) é aquilo que precisa ser para fazermos o que precisa ser feito em prol de nosso desenvolvimento espiritual.
O benfeitor Humberto de Campos, pela psicografia de Chico, assim se expressou: Não aspire a um mundo que você ainda não merece; trabalhe muito para melhorar o mundo que é o seu. 
 


quinta-feira, 5 de abril de 2012



Os mortos são os vivos do céu
O Espiritismo rompe os mistérios da morte e estabelece a conexão entre o mundo corporal e o mundo espiritual
  “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém guardar a
minha palavra, nunca verá a morte. Eu sou a ressurreição e a
Vida; quem crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá; e
todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá.
 Crês tu isto?” - Jesus (João, 8:51 e 11:25 e 26.)
 
Popularmente se diz que jamais alguém voltou para dizer o que é a morte. Ledo engano.  Sem mencionarmos a Codificação Espírita, toda ela fruto da elaboração dos “mortos”, inclusive com testemunhos explícitos na segunda parte do livro “O Céu e o Inferno”, isso não é segredo para mais ninguém, uma vez que a mídia já propagou em som e imagem inúmeros casos de criaturas que retornaram da “morte” e narraram com requintes de detalhes como se deu tal experiência...  
O Espiritismo desvendou esse enigma há décadas e as recentes “descobertas” só vêm ratificar os seus postulados, isto é, “chover no molhado”. Portanto, a Doutrina Espírita, cuja precípua função é melhorar as criaturas, revela, também, o que realmente é a morte, oferecendo a irrefutável conexão do mundo corporal com o mundo espiritual. 
O Espiritismo provou que a morte, como sinônimo de cessação da vida, não existe; ela é tão-somente uma mudança de estado de Espírito, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução. Para além da campa, abre-se uma nova fase da existência, mais exuberante até. E não podia ser de outra forma, pois foi Jesus quem afirmou que Ele veio nos dar vida, e vida abundante. 
Por toda a parte está a vida. A natureza inteira está a mostrar-nos, no seu maravilhoso panorama, a renovação constante de tudo.  Nenhum ente pode perecer no seu princípio de vida, na sua unidade consciente. 
A vida do homem é como o Sol das regiões polares durante o estio: desce devagar, baixa, vai enfraquecendo, parece desaparecer um instante por baixo do horizonte; é o fim, na aparência; mas, logo depois, torna a elevar-se, para novamente descrever a sua órbita imensa no Céu. A morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução das nossas existências; mas basta esse instante para revelar-nos o sentido profundo da vida. 
Da separação da alma do corpo somático 
Acabando o fluido vital, o Espírito se desprende do corpo num processo lento de separação dos laços fluídicos. Seria uma espécie de desatar dos “colchetes” que mantinham o Espírito preso ao corpo. Esta separação começa antes da cessação completa da vida do corpo e nem sempre termina no instante da morte. Durante o desligamento, o Espírito entra num estado de perturbação que o impossibilita de discernir o que está se passando. Esse processo pode durar horas, meses ou até anos, dependendo do grau de evolução e do desprendimento material do Espírito. Ao completar a separação, o Espírito se vê livre da escravidão material e a partir daí começa (novamente) a verdadeira vida, onde reencontramos nossos amigos e as pessoas que amamos, e eles nos felicitam se o exílio material foi proveitoso para elevar-nos na hierarquia espiritual. 
O Espírito percebe tudo quanto percebemos: a luz, os sons, odores etc.; contudo, enquanto encarnados, sentimo-los por meio dos órgãos. No Espírito as sensações o sensibilizam de maneira geral, pois não existem órgãos limitadores. Além disso, o Espírito tem a capacidade de sentir quando quer, pode suspender a visão ou a audição quando lhe convier; esta faculdade está na razão direta de sua superioridade espiritual. As sensações inerentes à matéria, ao corpo, não se verificam no Espírito. Não sente fome, dor, doenças, nenhuma sensação causada por necessidade material. Mas, devido à inferioridade moral, certos Espíritos têm todas as paixões e todos os desejos que tinham em vida e seu castigo é não poder satisfazê-los. 
A vida após o decesso corporal 
Seria infantilidade achar que a vida espiritual é uma ociosidade. Os Espíritos têm funções que variam de acordo com seu grau de evolução; podem dirigir a marcha dos acontecimentos que concorrem para o progresso do mundo, quando de alto grau evolutivo, como podem servir de protetores das criaturas, aconselhando e guiando-as na estrada do bem. Os trabalhos não se restringem aos Espíritos mais evoluídos. Os inferiores têm também sua função de acordo com sua capacitação. Vemos, assim, como estão longe da verdade os ensinos e o cerimonial que representam a morte de forma lúgubre, que mais traduz um sentimento de terror nas pessoas. As doutrinas materialistas, por sua vez, não eram próprias a reagir contra essa impressão. 
A noite é apenas a véspera da aurora. Quando acaba o verão e ao deslumbramento da Natureza vai suceder o inverno taciturno, consolamo-nos com o pensamento das florescências futuras. Por que existe, pois, o medo da morte, a ansiedade pungente, com relação a um ato que não é o fim de coisa alguma? É quase sempre porque a morte nos parece a perda, a privação súbita de tudo o que fazia a nossa alegria. O espírita sabe que não é assim. A morte é para ele a entrada num modo de vida mais rico de impressões e sensações, e nem sequer nos priva das coisas deste mundo, visto que continuaremos a ver aqueles a quem amamos.  
Do seio dos Espaços seguiremos os progressos da Terra; veremos as mudanças que ocorrem na sua superfície; assistiremos às novas descobertas, ao desenvolvimento social, político e religioso das nações e, até a hora do nosso regresso à carne, em tudo isso havemos de cooperar fluidicamente, auxiliando, influenciando, na medida do nosso poder e do nosso adiantamento, aqueles que trabalham em proveito de todos. 
A situação do Espírito depois da morte é a consequência direta das suas inclinações, seja para a matéria, seja para os bens da inteligência e do sentimento. Se as propensões sensuais o dominam, o ser forçosamente se imobiliza nos planos inferiores que são os mais densos, os mais grosseiros. Se alimenta pensamentos belos e puros, eleva-se a esferas em relação com a própria natureza dos seus pensamentos. Swedenborg disse com razão: “O Céu está onde o homem pôs o seu coração”.     
Se o olhar humano não pode passar bruscamente da escuridão à luz viva, sucede o mesmo com a Alma. A morte faz-nos entrar num estado transitório, espécie de prolongamento da vida física e prelúdio da vida espiritual. Nessa ocasião o estado de perturbação será mais ou menos prolongado segundo a natureza espessa ou etérea do perispírito do “morto”.  
Livre do fardo material que a oprimia, a Alma acha-se ainda envolvida na rede dos pensamentos e das imagens – sensações, paixões, emoções, por ela geradas no decurso das suas vidas terrestres. Terá de familiarizar-se com sua nova situação, entrar no conhecimento do seu estado, antes de ser levada para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade. 
A princípio, para o maior número, tudo é motivo de admiração nesse outro mundo onde as coisas diferem essencialmente do meio terrestre. As leis de gravidade são mais brandas; as paredes não são obstáculos; a Alma pode atravessá-las e elevar-se aos ares. Não obstante, continua retida por certos estorvos que não pode definir. Tudo a intimida e enche de hesitação, mas os seus amigos de lá a vigiam e guiam-lhe os primeiros voos. 
Os Espíritos adiantados depressa se libertam de todas as influências terrestres e recuperam a consciência de si mesmos. O véu material rasga-se ao impulso dos seus pensamentos e abrem-se para eles perspectivas imensas. Compreendem quase logo a sua situação e com facilidade a ela se adaptam. Seu corpo espiritual, instrumento volitivo, organismo da Alma de que ela nunca se separa e que é a obra de todo o seu passado, flutua algum tempo na atmosfera terrestre; depois, segundo o seu estado de sutileza, de poder, corresponde às atrações longínquas, sente-se naturalmente elevado para associações similares, para agrupamentos de Espíritos da mesma ordem, Espíritos luminosos ou velados, que rodeiam o recém-chegado com solicitude para o iniciarem nas condições do seu novo modo de existência. 
Os Espíritos inferiores conservam por muito tempo as impressões da vida material. Julgam que ainda vivem fisicamente e continuam, às vezes durante anos, o simulacro das suas ocupações habituais. Para os materialistas, o fenômeno da morte continua a ser incompreensível. Por falta de conhecimentos prévios confundem o corpo fluídico com o corpo físico e conservam as ilusões da vida terrestre. Os seus gostos e até as suas necessidades imaginárias como que os amarram à Terra; depois, devagar, com o auxílio de Espíritos benfazejos, sua consciência desperta, sua inteligência abre-se à compreensão do seu novo estado; mas, desde que procuram elevar-se, sua densidade fá-los recair imediatamente na Terra. As atrações planetárias e as correntes fluídicas do Espaço os reconduzem para as nossas regiões, como folhas secas varridas pelo vendaval. 
Os crentes ortodoxos vagueiam na incerteza e procuram a realização das promessas de seus líderes religiosos, o gozo das beatitudes prometidas. Por vezes é grande a sua surpresa; precisam de longo aprendizado para se iniciar nas verdadeiras leis do Espaço. Em vez de anjos ou demônios, encontram Espíritos dos homens que, como eles, viveram na Terra e os precederam. Viva é a sua decepção ao verem suas esperanças malogradas, transformadas suas convicções por fatos para os quais de nenhum modo os preparara a educação que haviam recebido; mas, se sua vida foi boa, submissa ao dever, não podem essas Almas ser infelizes por terem sobre o destino mais influências os atos que as crenças. 
Os Espíritos cépticos e, com eles, todos aqueles que se recusam a crer na possibilidade de uma Vida independente do corpo julgam-se mergulhados em um sonho. Esse sonho só se dissipa quando acaba o erro em que esses Espíritos laboram. 
As impressões variam infinitamente, com o valor das Almas. Aquelas que, desde a vida terrena, conheceram a verdade e serviram à sua causa, recolhem, logo que desencarnam, o benefício de suas investigações e trabalhos. 
A maneira correta de encarar a morte 
Bem longe de afugentar a ideia da morte, como em geral o fazemos, saibamos, pois, olhá-la face a face, pelo que ela é na realidade. Esforcemo-nos por desembaraçá-la das sombras e das quimeras com que a envolvem e averiguemos como convém nos prepararmos para esse incidente natural e necessário no curso da vida. 
O Universo não pode falhar: seu fim é a beleza! Seus meios de justiça são o amor!    Fortaleçamo-nos com o pensamento no ilimitado porvir... A confiança na outra vida estimulará os nossos esforços, torná-los-á mais fecundos. Nenhuma obra de vulto e que exija paciência pode ser levada a bom termo sem a certeza do dia seguinte. De cada vez que, à roda de nós, distribui os seus golpes, a morte, no seu esplendor austero, torna-se um ensinamento, uma lição soberana, um incentivo para trabalharmos melhor, para procedermos melhor, para aumentarmos constantemente o valor de nossa Alma... 
O conhecimento que nos tiver sido possível adquirir das condições da vida futura exerce grande influência em nossos últimos momentos; dá-nos mais segurança; abrevia a separação da Alma. Para nos prepararmos com proveito para a vida do Além é preciso não somente estar convencidos da realidade dessa vida, mas também lhe compreender as leis, ver com o pensamento as vantagens e as consequências dos nossos esforços para o ideal do bem. Os nossos estudos psíquicos, as relações estabelecidas durante a vida com o mundo invisível, as nossas aspirações, as formas de existência mais elevadas desenvolvem as nossas faculdades latentes e, quando chega a hora definitiva, como se encontra já em parte efetuada a separação do corpo, a perturbação pouco dura. O Espírito reconhece-se quase logo. Tudo o que vê lhe é familiar; adapta-se sem esforço e sem emoção às condições do novo meio. 
Certas instituições religiosas ensinam que as condições boas ou más da vida futura são definitivas, irrevogavelmente determinadas por ocasião da morte e essa afirmação perturba a existência de muitos crentes; outros temem o insulamento, o abandono no seio dos Espaços. 
A Doutrina Espírita, que é a Revelação Terceira, feita pelos próprios Espíritos que já habitam o mundo do lado de lá, vem colocar um “basta” a todas essas apreensões, uma vez que nos trazem sobre a vida de além-túmulo (de onde os materialistas proclamam: “Nec plus ultra”) as indicações exatas, dissipa a incerteza cruel, o temor do desconhecido que nos apavora. Com o Espiritismo, passamos a compreender que a morte em nada muda a nossa natureza espiritual, os nossos caracteres, as nossas virtudes (e infelizmente os nossos defeitos), enfim, o que constitui o nosso verdadeiro “eu”; apenas nos torna mais livres, dota-nos de uma liberdade, cuja extensão se mede pelo nosso grau de adiantamento.  
Aqui e acolá, esperam-nos amigos, protetores, arrimos... Enquanto neste mundo choramos a partida de um dos nossos, como se ele fosse perder-se no Nada, por cima de nós, seres etéreos glorificam a sua chegada à Luz, da mesma forma que nós nos regozijamos com a chegada de uma criancinha, cuja Alma vem, de novo, desabrochar para a vida terrestre. 
A Doutrina dos Espíritos, entre tantas virtudes, tem mais esta: provar-nos, de modo insofismável e explícito, que os “mortos” são os vivos do Céu.                                                             

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Vícios: instrumentos das trevas
 
“Nunca te permitas a assimilação do vício, na suposição de que dele te libertarás quando queiras, pois que se os viciados pudessem querer não estariam sob essa violenta dominação.” 1
 
Vício: “s.m. deformidade, imperfeição, defeito físico ou moral.” (Caldas Aulete). Já o Aurélio, o define também como “(...) inclinação para o mal (Nesta acepção, opõe-se a virtude)”.
Os vícios podem ser físicos ou morais. Entre os primeiros estão: fumar, beber, usar drogas, a gula, o jogo, o sexo. Entre os segundos, egoísmo, orgulho, vaidade, inveja, ciúme, avareza, ódio, personalismo, maledicência, intolerância, impaciência, negligência, ociosidade.
Muitos, tidos por virtudes, são tolerados e estimulados pela sociedade, tal o atraso moral em que nos encontramos. No livro “Cartas e Crônicas” (capítulo 18), o Espírito Irmão X, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, fala-nos da bebida como VENENO LIVRE. A cobra é perseguida por todos os meios, mas o álcool...2
Aos domingos e feriados, ou em certas horas da noite, não conseguimos adquirir leite ou medicamentos, por não encontrarmos padarias e farmácias abertas, mas um bar... sempre o achamos rapidamente.
Estes fatos corriqueiros dizem da miséria moral de nossa sociedade dita “civilizada”.
Outro exemplo gritante: para o carnaval há recursos imensos (até governamentais, das três esferas), enquanto que para habitações, escolas e hospitais escasseiam as verbas...
Muitos passam fome, por não encontrarem quem lhes dê trabalho ou alimentos. Mas, para que outros tantos saciem suas paixões pelos vícios, há sempre quem lhes favoreça a aquisição da bebida, do fumo, do tóxico. Para o mal, há conivente condescendência. E quem não aceita o trago, o cigarro, é malvisto e ironizado, como se anormais fossem os abstêmios, os que cultivam hábitos saudáveis, numa incrível inversão de valores. 
O papel do materialismo nos vícios 
Daí a superlotação nas penitenciárias, nos sanatórios, nos hospitais... Além da agressão ao próprio corpo, ensejam os acidentes no trabalho, no trânsito; as enfermidades crônicas; os maus exemplos; as humilhações e sofrimentos atrozes; a desonra; o embrutecimento; as privações próprias e de familiares; a desestruturação dos lares; o abandono do lar, dos filhos; a perda do emprego, se empregado; a dificuldade em obter outro trabalho; as sequelas para os descendentes (sobretudo no caso das mães); o elevado custo para a sociedade; os roubos e os assassinatos...
É um rosário interminável de angústias. Sem falar no crime organizado, nas quadrilhas que se entredevoram e nos negócios escusos que movimentam bilhões pelo mundo afora, pois o mal é universal e o homem é o mesmo em toda a parte.
A dolorosa enumeração contém razões suficientes para que se eduque o homem, para libertá-lo de todos os vícios que o escravizam à dor, à penúria material e moral. E ninguém o fará por nós. É tarefa da sociedade como um todo. Mas aos pais e aos educadores cabe a parcela maior, pois a eles compete moldar-lhes o caráter.
O materialismo favorece a disseminação dos vícios, quer pela ignorância das responsabilidades pessoais e coletivas que geram, quer pelo atraso moral das criaturas. As consequências daí advindas recaem sobre a sociedade como um todo, por muitas gerações, cobrando elevados custos, sejam financeiros, sejam de dores morais inenarráveis, não só para as vítimas, mas para familiares e amigos.
Muitos deles levam à prisão, à sarjeta, à morte prematura, à perda da dignidade, às tragédias. Mas todos, sem exceção, conduzem suas vítimas à infelicidade, à doença, ao sofrimento, à angústia, à amargura. E, quase sempre, aos familiares, eis que alguns seguem os maus exemplos observados. Há, no caso, um processo de deseducação, ainda que inconsciente. O egoísmo de quem busca saciar suas paixões não o deixa perceber os danos que causa aos circunstantes. 
Quando o exemplo vem dos pais 
Há pais que dão bebidas aos filhos, muitos deles alcoólatras em outras vidas e que retornaram ao campo físico em busca de regeneração... e são empurrados para a queda, ainda na infância, e, o que é mais grave, pelas mãos daqueles que se propuseram recebê-los no lar, para reeducá-los. E há pais que os põem a acender cigarros, viciando-os pouco a pouco. Além do mau exemplo, o incentivo ao erro.
Os obsessores, que os querem perder, para mantê-los sob o domínio do mal, contam, nesses casos, com a colaboração de pais ignorantes ou invigilantes.
Os pais, nesses casos, assumem responsabilidades gravíssimas e pagarão imensa cota de dores por essas falhas clamorosas. Para outros, a escravização ao vício supera o amor aos próprios filhos: sabemos de pais que os privam de alimentos, para comprar o cigarro ou a aguardente. E há outros que vendem os alimentos que lhes são doados por instituições beneficentes, para obterem o recurso que lhes satisfaçam os desejos malsãos.
Soubemos de um caso em que os rebentos dormiam no chão úmido, porque a cama fora alienada, para saciar a torpeza dos pais. Quantos móveis ganhassem, quantos vendiam, para o mesmo fim. E as crianças, no chão molhado, sujeitas às enfermidades e ao ataque de vermes e de outros insetos.
Os Espíritos nos advertem e orientam em muitas obras, nas quais se narra o trabalho de socorro que desenvolvem em favor dos sofredores. Algumas passagens: 
HEREDITARIEDADE:  
“O dipsômano não adquire o hábito desregrado dos pais, mas sim, quase sempre, ele mesmo já se confiava ao vício do álcool, antes de renascer. E há beberrões desencarnados que se aderem àqueles que se fazem instrumentos deles próprios.” 3 
RECUPERAÇÃO
Na questão 909 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec propõe aos Espíritos: “Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações? – Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!” (Grifamos).
E na questão 913: “(...) Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade.” 4
André Luiz informa-nos que “(...) o álcool (...) embriaga e aniquila os centros da vida física.5 E acrescenta que a Natureza esvaziará o cálice das ilusões das criaturas, pois há mil processos de reajuste para todos: a aflição, o desencanto, o cansaço, o tédio, o sofrimento, o cárcere e outros.
Quando não surtem efeitos, há “a prisão regeneradora”: “Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem (...)” 6 
VÍCIOS E OBSESSÃO
Desencarnados, escravos dos mais variados tóxicos, saciam seus desejos através dos encarnados, vampirizando-os, quando estes acham que estão a beber, a fumar, ou a usar drogas só para si. Fazem-no para multidões invisíveis aos nossos olhos: “Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Alguns sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar (...) Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes.” 6 
FUGA:  
Falando de Espíritos desencarnados perturbadores que vampirizam as criaturas invigilantes que se entregam às mais extravagantes paixões e viciações, André Luiz registra o que diz o mentor Calderaro: “Quanto a estes infortunados, que fazer senão recomendá-los ao Divino Poder? Tentam igualmente a fuga impossível de si mesmos. Alucinados, apenas adiam o terrível minuto de autorreconhecimento, que chega sempre, quando menos esperam, através dos mil processos da dor, esgotados os recursos do amor divino, que o Supremo Pai nos oferece a todos. A mente deles também está apegada aos instintos primitivos, e, frágeis e hesitantes, receiam a responsabilidade do trabalho da regeneração.” 7
“Diante dos próprios conflitos, não tente beber ou dopar-se, buscando fugir da própria mente, porque de toda ausência indébita você voltará aos estragos ou necessidades que haja criado no mundo íntimo, a fim de saná-los.” 8 (Destacamos.) 
A oração e sua importância  
O consumo de drogas assume proporções gigantescas, nos dias atuais. O vício grassa tanto em países ricos quanto nos pobres; no meio das mais diversas camadas sociais. Parece não haver fronteiras para o mal, que mobiliza recursos vultosos, em todo o mundo. A insensatez e a ousadia de traficantes não têm limites. Diariamente jornais e noticiários da televisão focalizam suas ações e as da polícia. E a essa tragédia humana, veio somar-se a Aids.
Só a conscientização, sobretudo dos jovens, pode libertá-los desse flagelo, mal aparentemente indomável.
A oração é outro meio eficaz, embora lento – na avaliação de nosso imediatismo – para a cura de todos os vícios. Não só beneficia as vítimas, como fortalece as famílias, seja concedendo-lhes paciência, seja inspirando-as nos caminhos a seguir, no dia-a-dia, para que se tornem arrimo dos caídos, a elas vinculados.
No livro “Vozes do Grande Além”, no capítulo intitulado Alcoólatra, um Espírito compara o alcoolismo a um incêndio devastador e dá seu depoimento das tragédias que vivenciou, dos sofrimentos que experimenta na própria recuperação, e fala das preces, recursos extraordinários que lhe permitiram despertar para a vida:
“(...) até que mãos fraternas me trouxeram à bênção da oração (...) (...) pelos talentos da prece, aplacaram-me a sede, ofertando-me água pura (...)”.
E diz ainda:
“(...) ofereço-vos o triste exemplo de meu caso particular para escarmento daqueles que começam de copinho a copinho, no aperitivo inocente, na hora de recreio ou na noite festiva, descendo desprevenidos para o desequilíbrio e para a morte (...)” 9 
O Evangelho no Lar é outro recurso valioso 
O estudo do Evangelho no Lar é recurso importante nessa campanha em favor da liberdade espiritual, pelos reconhecidos benefícios que dele resultam para Espíritos dos dois planos da vida. A ele se deve somar outras ações que objetivem recuperar os caídos.
A ação educativa e moralizadora que a Doutrina Espírita pode exercer sobre as famílias, máxime sobre a juventude, é instrumento libertador que está nas mãos do Movimento Espírita. E o Centro Espírita, como célula viva desse movimento, detém a parcela maior dessas responsabilidades. E a nós, que muito temos sido beneficiados por essa Doutrina de Amor, cabe-nos atitude vigilante de esclarecimento permanente à comunidade, sobretudo da mocidade, além de apoiar as famílias que já sofram os efeitos maléficos de todas as drogas.
Essa tragédia que ora envolve parcela elevada dos Espíritos vinculados à Terra é fruto da poluição invisível aos olhos desatentos, provocada por mentes enfermas de encarnados e desencarnados, a prender em seus horríveis tentáculos criaturas invigilantes, inconscientes dos efeitos perversos de suas ações, sobretudo do elevado preço a pagar, no longo caminho da volta ao reequilíbrio, que um dia, cedo ou tarde, a custo de muitas lágrimas, terão todos que percorrer. 

Referências bibliográficas:  
1. Repositório de Sabedoria, do livro Após a Tempestade, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco, 57, 1ª ed. Livraria Espírita Alvorada, Salvador, 1980.
2. Cartas e Crônicas, Irmão X/Francisco C. Xavier, 7ª ed. FEB, Rio, 1988.
3. Entre a Terra e o Céu, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 78, 6ª ed. FEB, Rio, 1978.
4. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 50ª ed. FEB, Rio, 1980;
5. Missionários da Luz, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 102, 12 ed. FEB, Rio, 1979.
6. Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz/Francisco C. Xavier, págs. 139/40 e 138, 9ª ed., FEB, Rio, 1979.
7. No Mundo Maior, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 195, 8ª ed. FEB, Rio, 1979.
8. Coragem, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 52, 19ª ed. CEC, Uberaba, 1990.
9. Vozes do Grande Além, Diversos Espíritos/Francisco C.Xavier, pág. 125, 2ª ed. FEB, Rio, 1974.