segunda-feira, 9 de abril de 2012


Terra: mãe generosa ou planeta hostil?

Os últimos desastres geológicos envolvendo particularmente o Haiti e o Chile levam-nos ao pensamento do escritor norte-americano BillBryson, no livroBreve História de quase tudoao escrever que vivemos num mundo que parece não nos querer aqui.
A afirmativa de Bryson é resultado de longa reflexão em torno de dados históricos e científicos impressionantes. Por mais de oito vezes a Terra teve quase todas as formas de vida dramaticamente destruídas. Quando se fala em episódios catastróficos se pensa logo nos dinossauros e lembra-se que o seu desaparecimento há cerca de 60/70 milhões de anos está ligado ao choque de um grande asteroide. Isso dá a falsa impressão de que desastres com causas externas seria o principal risco para a nossa biosfera. O caso dos dinossauros, no entanto, é uma exceção em meio a um grande número de episódios nos quais processos conduzidos pelos próprios seres vivos acarretaram reduções dramáticas na biomassa (o volume total de seres vivos).
Há cerca de 250 milhões de anos, pereceram 90% das espécies marinhas e 70% do total da vida na Terra em decorrência do crescimento exagerado de bactérias produtoras de gás sulfídrico, um gás altamente mortífero para plantas e animais. Esse crescimento bacteriano se deu em virtude do aquecimento do planeta em decorrência de um efeito estufa produzido por gigantescos volumes de magma lançado por vulcões nos mares e na terra por milhares de anos.
Pelo menos duas dúzias de culpados potenciais foram identificados como causas das destruições em massa: aquecimento global, resfriamento global, mudança dos níveis dos oceanos, esgotamento do oxigênio nos mares, epidemias, vazamentos gigantescos de gás metano no fundo do oceano, impactos de meteoros e cometas, furações, vulcões, explosões solares etc. Lembra o autor citado que na maior parte da história recente a Terra esteve longe de ser o local estável e tranquilo que nós sonhamos. Não é, segundo ele, um local ameno para um organismo viver.  
Uma teoria conhecida, a famosa hipótese Gaia, propõe
 que a mãe natureza cuidará de nós eternamente
se voltarmos ao seu seio
 
As porções da Terra onde temos preparo ou capacidade para viver são bem modestas: apenas 12% da área terrestre total, e somente 4% da superfície total se incluirmos aí os oceanos. O restante é frio demais ou quente demais, alto demais, seco ou úmido demais etc.
Soma-se a tudo isso a ação irresponsável do mais recente predador do planeta, o homem, que, segundo o jornalista André Trigueiro, no livro Espiritismo e Ecologia, tem participação direta na mudança climática, na escassez de recursos hídricos, na produção monumental de lixo, na destruição sistemática e veloz da biodiversidade, no crescimento caótico e desordenado das cidades, dentre outros.
Mas o que pensarmos, então, da esperançosa ideia de que nosso planeta é “mãe acolhedora e generosa”, de mãos sempre abertas para seus filhos, nós, Espíritos encarnados?
Uma bela discussão filosófica pode ser feita.
Uma das teorias mais difundidas nos últimos quarenta anos, a famosa hipótese Gaia, propõe que a mãe natureza cuidará de nós eternamente se voltarmos ao seu seio. Gaia é uma referência à deusa Terra na mitologia grega, cujo nome também pode ser traduzido como “boa mãe”. Segundo essa hipótese, aventada pelo cientista inglês James Lovelock, a natureza teria compromisso com a manutenção da vida sobre a Terra, tendendo à harmonia. Segundo a teoria citada, os seres vivos colaboram entre si para manter as condições ambientais dentro de parâmetros compatíveis com a manutenção da vida, podendo até mesmo melhorar a química da atmosfera e dos oceanos.
Segundo o paleontólogo americano Petyer Ward, da NASA e da Universidade de Washington, essa teoria está totalmente errada, pois os seres vivos interagem com o ambiente de tal maneira, que, a longo prazo, a vida tende a desaparecer. A natureza se comporta como Medeia, a mãe impiedosa que, na mitologia grega, mata os próprios filhos. 
O nosso descaso diante do cuidado com a sustentabilidade do planeta tem sido responsável por problemas crescentes 
A Doutrina Espírita nos apresenta o planeta Terra como o ninho do Espírito imortal necessitado de oportunidades para desenvolvimento de seus talentos. Se o planeta nos fosse oferecido perfeito e em absoluta harmonia, onde encontraríamos os elementos necessários ao nosso aprimoramento? Na medida em que o Espírito desenvolve a inteligência e o sentimento, o planeta que o acolhe vai sendo naturalmente burilado, tendo as suas condições de habitabilidade melhoradas.
O notável progresso tecnológico alcançado por nós, nos dois últimos séculos, atesta que o homem tem feito bastante em prol das melhores condições de vida na Terra. A expectativa de vida que era no Homem de Cro-magnun (há cerca de 100 mil anos) de 30 anos, e que subira apenas para 35 anos no século XIX, chega hoje, em países desenvolvidos, próxima dos 80 anos.
As comodidades que a tecnologia oferece a cada indivíduo com eletrodomésticos, automóveis e coisas equivalentes correspondem, segundo estudos de especialistas, ao trabalho de 33 escravos do mundo greco-romano.
No entanto há muito a ser feito, e atitudes equivocadas a serem revistas.
Gastam-se 18 bilhões de dólares por ano no mundo com perfumes e cosméticos. Isso bastaria para eliminar a fome de 800 milhões de pessoas. Gastam-se 12 bilhões de dólares por ano com sorvetes na Europa. Isso seria suficiente para prover com água de boa qualidade mais de 1 bilhão de pessoas que não a têm.
No capítulo VI de O Livro dos Espíritos, que versa sobre a Lei de Destruição, há o reconhecimento de que muitos flagelos resultam da imprevidência do homem.
O nosso descaso diante do cuidado com a sustentabilidade do planeta tem sido responsável por problemas graves e crescentes.
No livro Eco-Economia, Lester Brown comenta que ocorreram três vezes mais catástrofes naturais durante os anos de 1990 do que nos anos 1960. Perdas econômicas aumentaram oito vezes. Grande parte desse aumento parece ser devido a catástrofes, incluindo tempestades, secas e incêndios florestais. 
O item 132 d´O Livro dos Espíritos diz que compete ao Espírito encarnado cumprir sua parte na obra da criação
Relatórios recentes de técnicos e pesquisadores da área informam que eventos extremos como furacões, enchentes e tempestades já ocorrem com mais intensidade e com intervalos de tempo mais curto. O degelo das calotas e dos cumes elevados, a elevação do nível do mar, a mudança da configuração de importantes ecossistemas como a Amazônia ou as imensas redes de corais submarinos são alguns dos efeitos da monumental descarga de gases de efeito estufa de origem humana, especialmente a queima progressiva de petróleo, carvão e gás, os desflorestamentos e o manejo inadequado do solo e lixo.
Lembra o jornalista André Trigueiro que mais importante do que cuidar do planeta para nossos filhos e netos é cuidar melhor dos nossos filhos e netos para o planeta. Em resumo: é o papel da educação, também para a questão ambiental.
Domenico de Masi, sociólogo italiano, autor do livro O Ócio Criativo, apresenta oito grandes obstáculos ao bem-estar da criatura humana, que nos compete superar: a morte, a dor, a miséria, o cansaço, a feiura, a ignorância, o autoritarismo e a tradição.
Quando Kardec estabelece as finalidades da encarnação em O Livro dos Espíritos, item 132, escreve que compete ao Espírito encarnado cumprir sua parte na obra da criação. Ou seja, atuar de forma positiva e dinâmica em prol do planeta e de todos os seres viventes.
Joanna de Ângelis, na obra Atitudes Renovadas, coloca que os compromissos terrenos, aqueles que fomentam o progresso da sociedade, também fazem parte integrante das altas responsabilidades morais do Espírito imortal. E acrescenta: A tua é a missão de construir a Terra melhor e mais feliz, iniciando o labor em teu mundo intimo e ampliando-o além das fronteiras que te limitam.
A Terra (seja Gaia ou Medeia) é aquilo que precisa ser para fazermos o que precisa ser feito em prol de nosso desenvolvimento espiritual.
O benfeitor Humberto de Campos, pela psicografia de Chico, assim se expressou: Não aspire a um mundo que você ainda não merece; trabalhe muito para melhorar o mundo que é o seu. 
 


quinta-feira, 5 de abril de 2012



Os mortos são os vivos do céu
O Espiritismo rompe os mistérios da morte e estabelece a conexão entre o mundo corporal e o mundo espiritual
  “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém guardar a
minha palavra, nunca verá a morte. Eu sou a ressurreição e a
Vida; quem crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá; e
todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá.
 Crês tu isto?” - Jesus (João, 8:51 e 11:25 e 26.)
 
Popularmente se diz que jamais alguém voltou para dizer o que é a morte. Ledo engano.  Sem mencionarmos a Codificação Espírita, toda ela fruto da elaboração dos “mortos”, inclusive com testemunhos explícitos na segunda parte do livro “O Céu e o Inferno”, isso não é segredo para mais ninguém, uma vez que a mídia já propagou em som e imagem inúmeros casos de criaturas que retornaram da “morte” e narraram com requintes de detalhes como se deu tal experiência...  
O Espiritismo desvendou esse enigma há décadas e as recentes “descobertas” só vêm ratificar os seus postulados, isto é, “chover no molhado”. Portanto, a Doutrina Espírita, cuja precípua função é melhorar as criaturas, revela, também, o que realmente é a morte, oferecendo a irrefutável conexão do mundo corporal com o mundo espiritual. 
O Espiritismo provou que a morte, como sinônimo de cessação da vida, não existe; ela é tão-somente uma mudança de estado de Espírito, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução. Para além da campa, abre-se uma nova fase da existência, mais exuberante até. E não podia ser de outra forma, pois foi Jesus quem afirmou que Ele veio nos dar vida, e vida abundante. 
Por toda a parte está a vida. A natureza inteira está a mostrar-nos, no seu maravilhoso panorama, a renovação constante de tudo.  Nenhum ente pode perecer no seu princípio de vida, na sua unidade consciente. 
A vida do homem é como o Sol das regiões polares durante o estio: desce devagar, baixa, vai enfraquecendo, parece desaparecer um instante por baixo do horizonte; é o fim, na aparência; mas, logo depois, torna a elevar-se, para novamente descrever a sua órbita imensa no Céu. A morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução das nossas existências; mas basta esse instante para revelar-nos o sentido profundo da vida. 
Da separação da alma do corpo somático 
Acabando o fluido vital, o Espírito se desprende do corpo num processo lento de separação dos laços fluídicos. Seria uma espécie de desatar dos “colchetes” que mantinham o Espírito preso ao corpo. Esta separação começa antes da cessação completa da vida do corpo e nem sempre termina no instante da morte. Durante o desligamento, o Espírito entra num estado de perturbação que o impossibilita de discernir o que está se passando. Esse processo pode durar horas, meses ou até anos, dependendo do grau de evolução e do desprendimento material do Espírito. Ao completar a separação, o Espírito se vê livre da escravidão material e a partir daí começa (novamente) a verdadeira vida, onde reencontramos nossos amigos e as pessoas que amamos, e eles nos felicitam se o exílio material foi proveitoso para elevar-nos na hierarquia espiritual. 
O Espírito percebe tudo quanto percebemos: a luz, os sons, odores etc.; contudo, enquanto encarnados, sentimo-los por meio dos órgãos. No Espírito as sensações o sensibilizam de maneira geral, pois não existem órgãos limitadores. Além disso, o Espírito tem a capacidade de sentir quando quer, pode suspender a visão ou a audição quando lhe convier; esta faculdade está na razão direta de sua superioridade espiritual. As sensações inerentes à matéria, ao corpo, não se verificam no Espírito. Não sente fome, dor, doenças, nenhuma sensação causada por necessidade material. Mas, devido à inferioridade moral, certos Espíritos têm todas as paixões e todos os desejos que tinham em vida e seu castigo é não poder satisfazê-los. 
A vida após o decesso corporal 
Seria infantilidade achar que a vida espiritual é uma ociosidade. Os Espíritos têm funções que variam de acordo com seu grau de evolução; podem dirigir a marcha dos acontecimentos que concorrem para o progresso do mundo, quando de alto grau evolutivo, como podem servir de protetores das criaturas, aconselhando e guiando-as na estrada do bem. Os trabalhos não se restringem aos Espíritos mais evoluídos. Os inferiores têm também sua função de acordo com sua capacitação. Vemos, assim, como estão longe da verdade os ensinos e o cerimonial que representam a morte de forma lúgubre, que mais traduz um sentimento de terror nas pessoas. As doutrinas materialistas, por sua vez, não eram próprias a reagir contra essa impressão. 
A noite é apenas a véspera da aurora. Quando acaba o verão e ao deslumbramento da Natureza vai suceder o inverno taciturno, consolamo-nos com o pensamento das florescências futuras. Por que existe, pois, o medo da morte, a ansiedade pungente, com relação a um ato que não é o fim de coisa alguma? É quase sempre porque a morte nos parece a perda, a privação súbita de tudo o que fazia a nossa alegria. O espírita sabe que não é assim. A morte é para ele a entrada num modo de vida mais rico de impressões e sensações, e nem sequer nos priva das coisas deste mundo, visto que continuaremos a ver aqueles a quem amamos.  
Do seio dos Espaços seguiremos os progressos da Terra; veremos as mudanças que ocorrem na sua superfície; assistiremos às novas descobertas, ao desenvolvimento social, político e religioso das nações e, até a hora do nosso regresso à carne, em tudo isso havemos de cooperar fluidicamente, auxiliando, influenciando, na medida do nosso poder e do nosso adiantamento, aqueles que trabalham em proveito de todos. 
A situação do Espírito depois da morte é a consequência direta das suas inclinações, seja para a matéria, seja para os bens da inteligência e do sentimento. Se as propensões sensuais o dominam, o ser forçosamente se imobiliza nos planos inferiores que são os mais densos, os mais grosseiros. Se alimenta pensamentos belos e puros, eleva-se a esferas em relação com a própria natureza dos seus pensamentos. Swedenborg disse com razão: “O Céu está onde o homem pôs o seu coração”.     
Se o olhar humano não pode passar bruscamente da escuridão à luz viva, sucede o mesmo com a Alma. A morte faz-nos entrar num estado transitório, espécie de prolongamento da vida física e prelúdio da vida espiritual. Nessa ocasião o estado de perturbação será mais ou menos prolongado segundo a natureza espessa ou etérea do perispírito do “morto”.  
Livre do fardo material que a oprimia, a Alma acha-se ainda envolvida na rede dos pensamentos e das imagens – sensações, paixões, emoções, por ela geradas no decurso das suas vidas terrestres. Terá de familiarizar-se com sua nova situação, entrar no conhecimento do seu estado, antes de ser levada para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade. 
A princípio, para o maior número, tudo é motivo de admiração nesse outro mundo onde as coisas diferem essencialmente do meio terrestre. As leis de gravidade são mais brandas; as paredes não são obstáculos; a Alma pode atravessá-las e elevar-se aos ares. Não obstante, continua retida por certos estorvos que não pode definir. Tudo a intimida e enche de hesitação, mas os seus amigos de lá a vigiam e guiam-lhe os primeiros voos. 
Os Espíritos adiantados depressa se libertam de todas as influências terrestres e recuperam a consciência de si mesmos. O véu material rasga-se ao impulso dos seus pensamentos e abrem-se para eles perspectivas imensas. Compreendem quase logo a sua situação e com facilidade a ela se adaptam. Seu corpo espiritual, instrumento volitivo, organismo da Alma de que ela nunca se separa e que é a obra de todo o seu passado, flutua algum tempo na atmosfera terrestre; depois, segundo o seu estado de sutileza, de poder, corresponde às atrações longínquas, sente-se naturalmente elevado para associações similares, para agrupamentos de Espíritos da mesma ordem, Espíritos luminosos ou velados, que rodeiam o recém-chegado com solicitude para o iniciarem nas condições do seu novo modo de existência. 
Os Espíritos inferiores conservam por muito tempo as impressões da vida material. Julgam que ainda vivem fisicamente e continuam, às vezes durante anos, o simulacro das suas ocupações habituais. Para os materialistas, o fenômeno da morte continua a ser incompreensível. Por falta de conhecimentos prévios confundem o corpo fluídico com o corpo físico e conservam as ilusões da vida terrestre. Os seus gostos e até as suas necessidades imaginárias como que os amarram à Terra; depois, devagar, com o auxílio de Espíritos benfazejos, sua consciência desperta, sua inteligência abre-se à compreensão do seu novo estado; mas, desde que procuram elevar-se, sua densidade fá-los recair imediatamente na Terra. As atrações planetárias e as correntes fluídicas do Espaço os reconduzem para as nossas regiões, como folhas secas varridas pelo vendaval. 
Os crentes ortodoxos vagueiam na incerteza e procuram a realização das promessas de seus líderes religiosos, o gozo das beatitudes prometidas. Por vezes é grande a sua surpresa; precisam de longo aprendizado para se iniciar nas verdadeiras leis do Espaço. Em vez de anjos ou demônios, encontram Espíritos dos homens que, como eles, viveram na Terra e os precederam. Viva é a sua decepção ao verem suas esperanças malogradas, transformadas suas convicções por fatos para os quais de nenhum modo os preparara a educação que haviam recebido; mas, se sua vida foi boa, submissa ao dever, não podem essas Almas ser infelizes por terem sobre o destino mais influências os atos que as crenças. 
Os Espíritos cépticos e, com eles, todos aqueles que se recusam a crer na possibilidade de uma Vida independente do corpo julgam-se mergulhados em um sonho. Esse sonho só se dissipa quando acaba o erro em que esses Espíritos laboram. 
As impressões variam infinitamente, com o valor das Almas. Aquelas que, desde a vida terrena, conheceram a verdade e serviram à sua causa, recolhem, logo que desencarnam, o benefício de suas investigações e trabalhos. 
A maneira correta de encarar a morte 
Bem longe de afugentar a ideia da morte, como em geral o fazemos, saibamos, pois, olhá-la face a face, pelo que ela é na realidade. Esforcemo-nos por desembaraçá-la das sombras e das quimeras com que a envolvem e averiguemos como convém nos prepararmos para esse incidente natural e necessário no curso da vida. 
O Universo não pode falhar: seu fim é a beleza! Seus meios de justiça são o amor!    Fortaleçamo-nos com o pensamento no ilimitado porvir... A confiança na outra vida estimulará os nossos esforços, torná-los-á mais fecundos. Nenhuma obra de vulto e que exija paciência pode ser levada a bom termo sem a certeza do dia seguinte. De cada vez que, à roda de nós, distribui os seus golpes, a morte, no seu esplendor austero, torna-se um ensinamento, uma lição soberana, um incentivo para trabalharmos melhor, para procedermos melhor, para aumentarmos constantemente o valor de nossa Alma... 
O conhecimento que nos tiver sido possível adquirir das condições da vida futura exerce grande influência em nossos últimos momentos; dá-nos mais segurança; abrevia a separação da Alma. Para nos prepararmos com proveito para a vida do Além é preciso não somente estar convencidos da realidade dessa vida, mas também lhe compreender as leis, ver com o pensamento as vantagens e as consequências dos nossos esforços para o ideal do bem. Os nossos estudos psíquicos, as relações estabelecidas durante a vida com o mundo invisível, as nossas aspirações, as formas de existência mais elevadas desenvolvem as nossas faculdades latentes e, quando chega a hora definitiva, como se encontra já em parte efetuada a separação do corpo, a perturbação pouco dura. O Espírito reconhece-se quase logo. Tudo o que vê lhe é familiar; adapta-se sem esforço e sem emoção às condições do novo meio. 
Certas instituições religiosas ensinam que as condições boas ou más da vida futura são definitivas, irrevogavelmente determinadas por ocasião da morte e essa afirmação perturba a existência de muitos crentes; outros temem o insulamento, o abandono no seio dos Espaços. 
A Doutrina Espírita, que é a Revelação Terceira, feita pelos próprios Espíritos que já habitam o mundo do lado de lá, vem colocar um “basta” a todas essas apreensões, uma vez que nos trazem sobre a vida de além-túmulo (de onde os materialistas proclamam: “Nec plus ultra”) as indicações exatas, dissipa a incerteza cruel, o temor do desconhecido que nos apavora. Com o Espiritismo, passamos a compreender que a morte em nada muda a nossa natureza espiritual, os nossos caracteres, as nossas virtudes (e infelizmente os nossos defeitos), enfim, o que constitui o nosso verdadeiro “eu”; apenas nos torna mais livres, dota-nos de uma liberdade, cuja extensão se mede pelo nosso grau de adiantamento.  
Aqui e acolá, esperam-nos amigos, protetores, arrimos... Enquanto neste mundo choramos a partida de um dos nossos, como se ele fosse perder-se no Nada, por cima de nós, seres etéreos glorificam a sua chegada à Luz, da mesma forma que nós nos regozijamos com a chegada de uma criancinha, cuja Alma vem, de novo, desabrochar para a vida terrestre. 
A Doutrina dos Espíritos, entre tantas virtudes, tem mais esta: provar-nos, de modo insofismável e explícito, que os “mortos” são os vivos do Céu.                                                             

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Vícios: instrumentos das trevas
 
“Nunca te permitas a assimilação do vício, na suposição de que dele te libertarás quando queiras, pois que se os viciados pudessem querer não estariam sob essa violenta dominação.” 1
 
Vício: “s.m. deformidade, imperfeição, defeito físico ou moral.” (Caldas Aulete). Já o Aurélio, o define também como “(...) inclinação para o mal (Nesta acepção, opõe-se a virtude)”.
Os vícios podem ser físicos ou morais. Entre os primeiros estão: fumar, beber, usar drogas, a gula, o jogo, o sexo. Entre os segundos, egoísmo, orgulho, vaidade, inveja, ciúme, avareza, ódio, personalismo, maledicência, intolerância, impaciência, negligência, ociosidade.
Muitos, tidos por virtudes, são tolerados e estimulados pela sociedade, tal o atraso moral em que nos encontramos. No livro “Cartas e Crônicas” (capítulo 18), o Espírito Irmão X, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, fala-nos da bebida como VENENO LIVRE. A cobra é perseguida por todos os meios, mas o álcool...2
Aos domingos e feriados, ou em certas horas da noite, não conseguimos adquirir leite ou medicamentos, por não encontrarmos padarias e farmácias abertas, mas um bar... sempre o achamos rapidamente.
Estes fatos corriqueiros dizem da miséria moral de nossa sociedade dita “civilizada”.
Outro exemplo gritante: para o carnaval há recursos imensos (até governamentais, das três esferas), enquanto que para habitações, escolas e hospitais escasseiam as verbas...
Muitos passam fome, por não encontrarem quem lhes dê trabalho ou alimentos. Mas, para que outros tantos saciem suas paixões pelos vícios, há sempre quem lhes favoreça a aquisição da bebida, do fumo, do tóxico. Para o mal, há conivente condescendência. E quem não aceita o trago, o cigarro, é malvisto e ironizado, como se anormais fossem os abstêmios, os que cultivam hábitos saudáveis, numa incrível inversão de valores. 
O papel do materialismo nos vícios 
Daí a superlotação nas penitenciárias, nos sanatórios, nos hospitais... Além da agressão ao próprio corpo, ensejam os acidentes no trabalho, no trânsito; as enfermidades crônicas; os maus exemplos; as humilhações e sofrimentos atrozes; a desonra; o embrutecimento; as privações próprias e de familiares; a desestruturação dos lares; o abandono do lar, dos filhos; a perda do emprego, se empregado; a dificuldade em obter outro trabalho; as sequelas para os descendentes (sobretudo no caso das mães); o elevado custo para a sociedade; os roubos e os assassinatos...
É um rosário interminável de angústias. Sem falar no crime organizado, nas quadrilhas que se entredevoram e nos negócios escusos que movimentam bilhões pelo mundo afora, pois o mal é universal e o homem é o mesmo em toda a parte.
A dolorosa enumeração contém razões suficientes para que se eduque o homem, para libertá-lo de todos os vícios que o escravizam à dor, à penúria material e moral. E ninguém o fará por nós. É tarefa da sociedade como um todo. Mas aos pais e aos educadores cabe a parcela maior, pois a eles compete moldar-lhes o caráter.
O materialismo favorece a disseminação dos vícios, quer pela ignorância das responsabilidades pessoais e coletivas que geram, quer pelo atraso moral das criaturas. As consequências daí advindas recaem sobre a sociedade como um todo, por muitas gerações, cobrando elevados custos, sejam financeiros, sejam de dores morais inenarráveis, não só para as vítimas, mas para familiares e amigos.
Muitos deles levam à prisão, à sarjeta, à morte prematura, à perda da dignidade, às tragédias. Mas todos, sem exceção, conduzem suas vítimas à infelicidade, à doença, ao sofrimento, à angústia, à amargura. E, quase sempre, aos familiares, eis que alguns seguem os maus exemplos observados. Há, no caso, um processo de deseducação, ainda que inconsciente. O egoísmo de quem busca saciar suas paixões não o deixa perceber os danos que causa aos circunstantes. 
Quando o exemplo vem dos pais 
Há pais que dão bebidas aos filhos, muitos deles alcoólatras em outras vidas e que retornaram ao campo físico em busca de regeneração... e são empurrados para a queda, ainda na infância, e, o que é mais grave, pelas mãos daqueles que se propuseram recebê-los no lar, para reeducá-los. E há pais que os põem a acender cigarros, viciando-os pouco a pouco. Além do mau exemplo, o incentivo ao erro.
Os obsessores, que os querem perder, para mantê-los sob o domínio do mal, contam, nesses casos, com a colaboração de pais ignorantes ou invigilantes.
Os pais, nesses casos, assumem responsabilidades gravíssimas e pagarão imensa cota de dores por essas falhas clamorosas. Para outros, a escravização ao vício supera o amor aos próprios filhos: sabemos de pais que os privam de alimentos, para comprar o cigarro ou a aguardente. E há outros que vendem os alimentos que lhes são doados por instituições beneficentes, para obterem o recurso que lhes satisfaçam os desejos malsãos.
Soubemos de um caso em que os rebentos dormiam no chão úmido, porque a cama fora alienada, para saciar a torpeza dos pais. Quantos móveis ganhassem, quantos vendiam, para o mesmo fim. E as crianças, no chão molhado, sujeitas às enfermidades e ao ataque de vermes e de outros insetos.
Os Espíritos nos advertem e orientam em muitas obras, nas quais se narra o trabalho de socorro que desenvolvem em favor dos sofredores. Algumas passagens: 
HEREDITARIEDADE:  
“O dipsômano não adquire o hábito desregrado dos pais, mas sim, quase sempre, ele mesmo já se confiava ao vício do álcool, antes de renascer. E há beberrões desencarnados que se aderem àqueles que se fazem instrumentos deles próprios.” 3 
RECUPERAÇÃO
Na questão 909 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec propõe aos Espíritos: “Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações? – Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!” (Grifamos).
E na questão 913: “(...) Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade.” 4
André Luiz informa-nos que “(...) o álcool (...) embriaga e aniquila os centros da vida física.5 E acrescenta que a Natureza esvaziará o cálice das ilusões das criaturas, pois há mil processos de reajuste para todos: a aflição, o desencanto, o cansaço, o tédio, o sofrimento, o cárcere e outros.
Quando não surtem efeitos, há “a prisão regeneradora”: “Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem (...)” 6 
VÍCIOS E OBSESSÃO
Desencarnados, escravos dos mais variados tóxicos, saciam seus desejos através dos encarnados, vampirizando-os, quando estes acham que estão a beber, a fumar, ou a usar drogas só para si. Fazem-no para multidões invisíveis aos nossos olhos: “Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Alguns sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar (...) Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes.” 6 
FUGA:  
Falando de Espíritos desencarnados perturbadores que vampirizam as criaturas invigilantes que se entregam às mais extravagantes paixões e viciações, André Luiz registra o que diz o mentor Calderaro: “Quanto a estes infortunados, que fazer senão recomendá-los ao Divino Poder? Tentam igualmente a fuga impossível de si mesmos. Alucinados, apenas adiam o terrível minuto de autorreconhecimento, que chega sempre, quando menos esperam, através dos mil processos da dor, esgotados os recursos do amor divino, que o Supremo Pai nos oferece a todos. A mente deles também está apegada aos instintos primitivos, e, frágeis e hesitantes, receiam a responsabilidade do trabalho da regeneração.” 7
“Diante dos próprios conflitos, não tente beber ou dopar-se, buscando fugir da própria mente, porque de toda ausência indébita você voltará aos estragos ou necessidades que haja criado no mundo íntimo, a fim de saná-los.” 8 (Destacamos.) 
A oração e sua importância  
O consumo de drogas assume proporções gigantescas, nos dias atuais. O vício grassa tanto em países ricos quanto nos pobres; no meio das mais diversas camadas sociais. Parece não haver fronteiras para o mal, que mobiliza recursos vultosos, em todo o mundo. A insensatez e a ousadia de traficantes não têm limites. Diariamente jornais e noticiários da televisão focalizam suas ações e as da polícia. E a essa tragédia humana, veio somar-se a Aids.
Só a conscientização, sobretudo dos jovens, pode libertá-los desse flagelo, mal aparentemente indomável.
A oração é outro meio eficaz, embora lento – na avaliação de nosso imediatismo – para a cura de todos os vícios. Não só beneficia as vítimas, como fortalece as famílias, seja concedendo-lhes paciência, seja inspirando-as nos caminhos a seguir, no dia-a-dia, para que se tornem arrimo dos caídos, a elas vinculados.
No livro “Vozes do Grande Além”, no capítulo intitulado Alcoólatra, um Espírito compara o alcoolismo a um incêndio devastador e dá seu depoimento das tragédias que vivenciou, dos sofrimentos que experimenta na própria recuperação, e fala das preces, recursos extraordinários que lhe permitiram despertar para a vida:
“(...) até que mãos fraternas me trouxeram à bênção da oração (...) (...) pelos talentos da prece, aplacaram-me a sede, ofertando-me água pura (...)”.
E diz ainda:
“(...) ofereço-vos o triste exemplo de meu caso particular para escarmento daqueles que começam de copinho a copinho, no aperitivo inocente, na hora de recreio ou na noite festiva, descendo desprevenidos para o desequilíbrio e para a morte (...)” 9 
O Evangelho no Lar é outro recurso valioso 
O estudo do Evangelho no Lar é recurso importante nessa campanha em favor da liberdade espiritual, pelos reconhecidos benefícios que dele resultam para Espíritos dos dois planos da vida. A ele se deve somar outras ações que objetivem recuperar os caídos.
A ação educativa e moralizadora que a Doutrina Espírita pode exercer sobre as famílias, máxime sobre a juventude, é instrumento libertador que está nas mãos do Movimento Espírita. E o Centro Espírita, como célula viva desse movimento, detém a parcela maior dessas responsabilidades. E a nós, que muito temos sido beneficiados por essa Doutrina de Amor, cabe-nos atitude vigilante de esclarecimento permanente à comunidade, sobretudo da mocidade, além de apoiar as famílias que já sofram os efeitos maléficos de todas as drogas.
Essa tragédia que ora envolve parcela elevada dos Espíritos vinculados à Terra é fruto da poluição invisível aos olhos desatentos, provocada por mentes enfermas de encarnados e desencarnados, a prender em seus horríveis tentáculos criaturas invigilantes, inconscientes dos efeitos perversos de suas ações, sobretudo do elevado preço a pagar, no longo caminho da volta ao reequilíbrio, que um dia, cedo ou tarde, a custo de muitas lágrimas, terão todos que percorrer. 

Referências bibliográficas:  
1. Repositório de Sabedoria, do livro Após a Tempestade, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco, 57, 1ª ed. Livraria Espírita Alvorada, Salvador, 1980.
2. Cartas e Crônicas, Irmão X/Francisco C. Xavier, 7ª ed. FEB, Rio, 1988.
3. Entre a Terra e o Céu, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 78, 6ª ed. FEB, Rio, 1978.
4. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 50ª ed. FEB, Rio, 1980;
5. Missionários da Luz, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 102, 12 ed. FEB, Rio, 1979.
6. Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz/Francisco C. Xavier, págs. 139/40 e 138, 9ª ed., FEB, Rio, 1979.
7. No Mundo Maior, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 195, 8ª ed. FEB, Rio, 1979.
8. Coragem, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 52, 19ª ed. CEC, Uberaba, 1990.
9. Vozes do Grande Além, Diversos Espíritos/Francisco C.Xavier, pág. 125, 2ª ed. FEB, Rio, 1974.
 

quarta-feira, 28 de março de 2012


Erraticidade
São errantes, isto é, estão na erraticidade,
todos os Espíritos que têm caminho a
percorrer nas lutas da evolução
Erraticidade é o nome que adotamos para indicar o tempo que o Espírito, terminada uma experiência encarnatória, aguarda para reencarnar-se de novo.  Significa período de tempo entre uma existência que terminou e outra que  se estará  iniciando. Não se refere a lugar, mas a tempo. Alguns metapsiquistas importantes, estudiosos da reencarnação, utilizam o termo intermissão, em vez de erraticidade. O Espírito, durante esse tempo, não está à toa. Ele está vivendo sua vida normal de espírito. Está estudando, preparando-se, aprendendo, convivendo com outros Espíritos enquanto a hora do novo mergulho na  carne não chega. Dizemos, portanto que todos os Espíritos sujeitos a novas encarnações –  reencarnações, portanto,  aguardam-nas na chamada erraticidade. Erraticidade é, portanto, tempo de espera. Seria a “fila da reencarnação”. E é uma senhora fila. Sobretudo hoje, quando os casais se recusam, insistentemente, a dar acolhida aos filhos que querem nascer. 
Na França, por exemplo, havia o risco de os franceses desaparecerem do mapa. Mulher francesa ter filhos?! Nem pensar! De repente, o governo de lá viu que devia fazer alguma coisa. E ofereceu incentivo às mães que resolvessem abrir a porta da fecundação. Era necessário que nascessem novos bebês, senão, do povo francês, não restaria nem  semente.
Na China, há muito tempo, sofre conseqüências sérias  o casal  que tenha mais de um filho.  Filhas, lá, tempos atrás, nem por decreto. Hoje estão os chineses com  um problema sério: não há mulheres suficientes para atender ao anseio de casamento dos rapazes. Falta mulher. Há mais homens que mulheres. 
Na Itália, na Alemanha, nos Estados Unidos, também, não é fácil nascer. Coisa de gente rica. Ou de economista. Ou até de ministro da saúde, ás vezes. Nasce muito é onde a pobreza é farta. Rico não quer trabalho, nem problema, nem muita gente por perto!  Quer é gozar a vida!
Pois bem: sobre esse tempo de espera já aprendemos algumas coisas. É sobre essas coisas que vamos conversar um pouco hoje. Por exemplo:
1 – Reencarna o Espírito, logo depois de se haver separado do corpo, isto é,   uma encarnação pode ocorrer imediatamente após o término de outra que a antecedeu? (Há pouco tempo uma novela da Rede Globo de Televisão - Alma Gêmea - apresentou uma cena em que sugeria ter acontecido exatamente isso.)
Imediatamente, não. Há uma impossibilidade natural. No período de nove meses em que o bebê está se formando no seio da mãe, o Espírito que fornece a matriz do corpo que se forma, tem que estar presente, já em condições de participar do processo; livre, portanto, dos resíduos que ainda estaria carregando da experiência anterior. A literatura especializada registra casos que sugerem a ocorrência de períodos muito curtos de intermissão. Não são comuns, mas existem.
2 – De quanto tempo podem ser esses intervalos entre uma encarnação e outra?
Muito variados. Desde poucos meses até milhares de anos. Não há limite extremo estabelecido para esse estado de espera, que pode prolongar-se muitíssimo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito terá que volver a uma existência apropriada  a purificá-lo das máculas de existências precedentes. A duração é uma conseqüência do livre arbítrio. Não há pressa. É preciso que haja o convencimento do Espírito para que ele próprio se decida a  aceitar reencarnar-se. Excetuam-se os casos de reencarnação compulsória, também não muito comuns.
Hernani Guimarães Andrade, examinando diversos casos de reencarnação colhidos por pesquisadores de renome internacional, e baseando-se em informações de Emmanuel, registradas no livro Roteiro, psicografado por Francisco Cândido Xavier, deduz, matematicamente, que o tempo médio de intermissão para os casos pesquisados foi de 250 anos, indicando uma média de quatro encarnações  por milênio!. Mas sugere que, com o crescimento da população encarnada, esse tempo médio, evidentemente, se tornará menor.
3 – Há alguma conotação entre “estado de erraticidade” e “inferioridade espiritual”?
Não. Nenhuma. Dizemos que são errantes, isto é, estão na erraticidade, todos os  Espíritos que têm caminho a percorrer nas lutas da evolução. Somente os Espíritos puros, porque já chegaram lá, estão fora do grupo de Espíritos errantes. Até os Espíritos Superiores que, segundo Kardec, já atingiram a penúltima classe da escala analisada nas questões 100 e seguintes de O Livro dos Espíritos, até eles, estão na fila da reencarnação; são, pois, Espíritos errantes, também.

4 – Como se instruem os Espíritos que aguardam nova experiência            encarnatória?

Estudando em universidades ou escolas preparatórias que, à disposição deles, existem em profusão nas cidades espirituais a que estão vinculados pela residência ou pela ocupação. Também aprendem observando os lugares e as pessoas aonde vão; ouvem os discursos dos homens doutos e os conselhos dos Espíritos mais elevados, o que lhes permite adquirir conhecimentos que antes não tinham.
5 – Conservam os Espíritos algumas de suas paixões?
A morte não produz milagres. Os Espíritos são tais como eram quando na pele de pessoas encarnadas. Sujeitos a emoções, portadores de vícios e de virtudes. Os mais evoluídos se livram com facilidade dos pequenos que na matéria conduziam. Os inferiores, não: conservam esses vícios que muitas vezes os transformam em verdadeiras pedras de tropeço nos caminhos da invigilância.
6 – O Espírito progride na erraticidade?
Sim. Para isso é que estudam, trabalham e praticam. Mas a comprovação desse progresso só se faz na experiência física.
7 – São felizes ou infelizes os Espíritos errantes?
Depende da consciência de cada um. Há os felizes e há os em dificuldade. Como aqui.
8 – Afinal, como vivem?
Em colônias espirituais construídas por eles próprios. Tais como a colônia  Nosso Lar que serviu de tema para o primeiro livro de André Luiz e através do qual aprendemos tantas coisas da vida e da organização das comunidades que acolhem Espíritos errantes já equilibrados ou a caminho  de  sua  recuperação.  (Sobre  a colônia
Nosso Lar, leia o livro Cidade no Além, de Heigorina Cunha, prefaciado por André Luiz.)
Mas André Luiz não é o único repórter do mundo espiritual. Inúmeros outros Espíritos, aqui e no exterior, já nos deram seguros e universais esclarecimentos sobre a vida espiritual; seus sistemas de administração, educação, saúde, segurança, disciplina, remuneração. Lúcia Loureiro fez trabalho sério de pesquisa em diversas obras do gênero, publicadas no Brasil ou no exterior e nos oferece seus resultados no seu importante livro Colônias Espirituais, editado por Editora Mnêmio Túlio, de São Paulo.  

sexta-feira, 23 de março de 2012

O que faço comigo?

Desafios não são adversários;
são como continentes que nos
  compete desbravar e conquistar

 

Iniciaremos este estudo com a citação do evangelista Mateus, 5:24: “Reconcilia-te depressa com o teu adversário”. Então perguntamos: Quem são nossos adversários? O patrão, o vizinho, o lanterneiro, a cozinheira, o dirigente... E assim vai, por uma infinidade de pessoas e circunstâncias que dia a dia ombreiam conosco ao longo do caminho e podem nos perturbar a paz. Sabemos que não temos o direito nem a possibilidade de mudarmos quem quer que seja. Estamos todos, como diz Fritjof Capra (foto), “... na teia da vida, interagindo mutuamente, interdependentes e individuais ao mesmo tempo”. Neste bailar de acontecimentos não nos cabe imputar a ninguém os espinhos que porventura nos atingem. Os espinhos são, antes de qualquer coisa, companheiros adequados aos nossos momentos. Sabemos que nesta “Teia da Vida” estamos construindo e destituindo simultaneamente. Destituindo complexos emocionais perniciosos que, assomando do nosso inconsciente, perturbam o consciente obrigando-o, em muitos casos, a situações e comportamentos indesejados. Ao mesmo tempo estamos construindo o nosso futuro, a partir de posturas outras, ligando-nos a avanços intelecto-morais, de conformidade com o que nos aconselha Kardec quando diz: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pelo muito que faz para domar suas más inclinações”.
Ora, se não posso imputar no outro minhas agruras e se devo domar minhas más inclinações, devo, pois, reconciliar-me comigo mesmo, quem sabe, meu maior adversário. Para tal necessito conhecer-me melhor, a partir da minha constituição mental e dos arquivos que trago, que cultuo ou que incomodam. Estamos vindo de um passado gigantesco onde paulatinamente avançamos, num caminhar lento, progressivo e espetacular. Dormimos no mineral, como disse Léon Denis. A questão 540 de “O Livro dos Espíritos” cita que: “... É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo”. Virtuosamente viemos evoluindo, passando depois pelo reino vegetal, sonhando com algo que nos tornasse coesos e prontos a vivermos com consciência. Movimentamo-nos, a seguir, pelo reino animal, desde os primeiros instantes nos oceanos até a grandiosa marcha pelas montanhas, vales e reinos outros que nos capacitaram ao despertamento, quando chegamos ao homem. Imaginamos aí a gama de arquivos que construímos ao longo deste período a partir de um arquétipo primordial.  
O sentimento de culpa é sempre um colapso
da consciência 
André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos, encerrando o terceiro capítulo, nos diz, após uma análise do tempo de viagem da mônada divina pelos reinos atrás, que: “Contudo, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos”. Agora, no homem, estamos nos construindo para chegar à santidade – caminho natural. Assim sendo e com os apontamentos espíritas que nos remetem ao Evangelho de Jesus, necessitamos parar as correrias para fazer uma análise de nós próprios no tocante ao que já conseguimos de bom e ao que necessitamos realizar para que nossas vivências sejam proveitosas em termos de aprimoramento ético-moral de consequências religiosas. Ideal religião professada no íntimo de cada um de nós numa relação direta com o Pai.
Não raro encontramos nessas pesquisas pessoais os complexos das culpas e dos medos. Segundo Joanna de Ângelis, ínsito em seu livro “Conflitos Existenciais”, no capítulo seis: “A culpa é o resultado da raiva que alguém sente contra si mesmo, voltada para dentro, em forma de sensação de algo que foi feito erradamente”. Ainda a própria mentora e no mesmo livro, capítulo três, diz: “A raiva é um sentimento que se exterioriza toda vez que o ego sente-se ferido, liberando esse abominável adversário que destrói a paz no indivíduo”. Aproveitando o ensejo, citamos André Luiz que, no livro Entre a Terra e o Céu – cap. 23, anotou: “O sentimento de culpa é sempre um colapso da consciência e, através dele, sombrias forças se insinuam”.
Raiva, culpa e ego. Sabemos que o ego representa um conjunto de ideias, vontades e pensamentos que movem a pessoa e desenvolvem a sua perspectiva diante da sua própria vida. O ego provoca aceitação e admiração própria. Isto, dentro das informações correntes em vários compêndios principalmente da psicologia analítica. Joanna de Ângelis informa que o ego é o “Responsável pela diferenciação que o indivíduo é capaz de realizar entre seus próprios processos internos e a realidade”. Então, a culpa por algum comportamento infeliz vai gerar raiva e afetará sobremodo o ego, gerando reações no campo individual de relações consigo mesmo ou com outrem. Em contrapartida e, por excelência, existe a perspectiva de despertar o Self; ou seja: o Deus em si, o Eu interno.  
Errar é do homem, persistir no erro é atitude infantil 
Continuando nossas análises, não fica difícil concluir que os medos gerados pela culpa e pela raiva podem nos tornar seres violentos e agressivos, tanto fisicamente quanto verbalmente, motivados por inseguranças. Inseguranças geram desproteções próprias e naqueles que estão à nossa volta. Passamos assim a viver de forma incompleta, sempre observando as reações dos outros a nosso respeito e nos defendendo, acuados, de adversários visíveis e invisíveis, pessoas ou circunstâncias. Daí assomam as personas (máscaras) nas quais nos escondemos temerosos de enfrentar os adversários criados e nem sempre reais que vão surgindo à medida que não os combatemos. É sabido que nos é cobrado segundo nossas possibilidades. Errar é do homem, persistir no erro é atitude infantil.
Enquanto estamos aprendendo, experimentando, aprimorando, o Espírito vai-se ajustando para viver dentro das Leis Naturais instituídas por Deus. Quando passamos a repetir os erros dentro das lições já aprendidas e consolidadas em nosso cognitivo, passamos a nos culpar por aquelas ações. Exemplos disso são os destemperos da sexualidade, dos vícios da ingestão de drogas alucinógenas, do álcool, do tabaco, de alimentos em demasia, falácias infelizes, julgamentos de outrem e uma infinidade de atitudes incoerentes com o homem espiritual que precisa despertar em si o Self.
Não raro passamos a ser manipulados por pessoas e situações que nos constrangem e constrangem a quem nos quer bem. Chegados a este ponto, necessitamos repensar os efeitos danosos de todo esse envolvimento psicológico infeliz que nos trazem aborrecimentos, dificultando-nos uma marcha saudável e eficaz. Daí surge a questão dos enfrentamentos.
Muito interessante quando lemos no livro: “Triunfo Pessoal” da citada mentora, capítulo cinco: “A maturidade psicológica induz o ser humano aos enfrentamentos sucessivos do seu processo de individuação”.  Segundo Jung, “A individuação é um processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência”. Importante quando nos colocamos como observadores do nosso processo de libertação das ideias e posturas antigas, transformando-as em hélices em movimento, autoaspirando-se para melhor nos conduzir no processo da evolução.  
É bom que aprimoremos o caráter,
sublimando os sentimentos 
Antes, renascíamos, crescíamos, trabalhávamos e desencarnávamos em sucessivas ocasiões, sem o conhecimento exato do que aqueles eventos nos proporcionavam. Dessa forma andávamos, ríamos, trabalhávamos em algo e exaltávamos nossas personas e nos comprazíamos com suas empedradas formações e consolidações. A individuação, contudo, ficava fora do contexto ou, quando muito, era realizada de maneira lenta nem sempre consciente. Agora, com as aberturas que “O Livro dos Espíritos” nos oferece, vamos observar que a dinâmica da vida nos exige participação consciente. Na questão 23 do referido livro, somos informados de que “O espírito é o princípio inteligente do universo”. Quando pensamos em universo, algo superior aflora em nossas mentes e logo vem a reflexão: o que é o universo, para que serve em nossas vidas? Por que os monges orientais se ligam tanto a ele? E um campo imenso de pesquisas se apresenta a nós dentro do nosso processo de crescimento pela individuação.
Para entendermos tudo isto que se nos oferece por novos desafios é bom que enfrentemos todas as nossas imperfeições morais. É bom que aprimoremos o caráter, sublimando os sentimentos. “Os enfrentamentos são campos de luta, nos quais o ser cresce e desenvolve os inestimáveis recursos adormecidos no Self, que se encontram à sua espera para oferecerem a contribuição da paz do Nirvana” – apontamentos de Joanna de Ângelis no livro “Triunfo Pessoal”. Vemos, às vezes, pessoas estáticas perante suas culpas. O medo de enfrentá-las faz com que o tempo passe e elas nunca saiam dos estados infelizes nos quais estão projetadas. Vivem iludindo-se. Vivem perambulando em torno de si mesmas, buscando ali e acolá o próximo momento satisfatório que as farão rir e se divertir das suas risadas, para logo em seguida retornarem ao estado quase, se não completo, de depressão pela imersão dos sentidos no vale escuro de cavernas mentais. Ei-las, pois, amedrontadas. Segundo Victor Hugo, no livro Párias em Redenção: “O medo é verdugo impiedoso dos que lhe caem nas mãos. Produz vibrações especiais que geram sintonia com outras faixas na mesma dimensão de onda, produzindo o intercâmbio infeliz de forças deprimentes, congestionantes”. Daí, muitas vezes a pessoa agride para se defender ou foge para não lutar. Sabemos que o Espírito não tem fim, conforme consta na questão 83 de “O Livro dos Espíritos”. Viveremos infinitamente neste cômputo de inseguranças? Seria um destronar do Projeto Divino que nos criou para vivermos com Deus, na glória eterna da Luz. 
O temor não é boa companhia de jornada 
Se ainda não fez, é hora de enfrentar seus adversários, que não estão lá fora e sim dentro de cada um. É hora de reconciliar-se com eles, como nos aconselha Jesus. O temor não é boa companhia de jornada. Os cuidados sim. Estes o são. Desta forma devemos nos preparar para enfrentarmos com galhardia e bom senso nossas culpas, medos e inseguranças. De acordo com Joanna de Ângelis: “Faz-se necessária uma vinculação profunda com o Self, que adquirirá maior conscientização dos relacionamentos indispensáveis com o seu núcleo na psique”. Bom pesquisarmos nossas companhias, aquelas para as quais abrimos sorridentes as portas das nossas casas ou as visitamos contentes, trocando presentes e informações, brindando em festas convulsas isto ou aquilo. A elas estamos também abrindo as portas dos nossos corações e mentes, arquivando fatos que irão gerar reações. Que bom preservarmos nossos lares!
Lembramo-nos de que conhecemos uma pessoa que dizia existir em sua cidade natal um menino que falava com Deus, na intimidade do seu quarto. Todos riam de tal afirmativa. Um dia paramos para pensar na validade daquela história. Ora, se Deus está dentro de nós, se Seu Reino é semente plantada, necessitando rega, como nos disse Jesus na Parábola do Semeador, então podemos, dentro das nossas particularidades espirituais, conversar sim com o Pai. Ele nos responderá de acordo com nossos entendimentos e, desta forma, estaremos nos vinculando ao Self que nos dirá a melhor forma de proceder para sairmos vencedores em nossas lutas, vencendo os vícios e entronizando as virtudes. Fazendo silêncios para que eles possam nos aconselhar.
O conteúdo religioso é de vital importância na psicoterapia do enfrentamento. Conhecer a Verdade para, através dela, libertar-se. Lutar contra as paixões primitivas, transformando impulsos inferiores em emoções de harmonia. Não fugir, ocultar-se dos demais ampliando a mágoa contra a sociedade e contra si próprio.” Além destas sábias orientações, Joanna de Ângelis ainda nos informa: “À medida que o ego se faz consciente dos valores ínsitos no Self torna-se factível uma programação saudável para o comportamento, trabalhando cada dificuldade, todo desafio, mediante a reconciliação com sua realidade eterna”.
Agora podemos nos perguntar: O que faço comigo? Vergasto-me ante adversários ou os transformo em continentes que devo desbravar e conquistar? É bom que nos amemos, nos respeitemos. Que nos tornemos unos com a Criação, pois somos partes integrantes de um todo de luz, portanto, somos luzes. É bom que enfrentemos com sensatez nossos limites, estendendo-os com prazer, sendo vitoriosos e, por isso, virtuosos. Nada de carregar o mundo nas costas e sim caminharmos nele de olhos fixos nos céus das nossas consciências superiores.

Guaraci L. Silveira

revista: O CONSOLADOR