A arte
de ser feliz
O que é a felicidade?
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, pode ser:
"1) [...] estado de uma consciência plenamente
satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar;
2) boa fortuna, sorte;
3) bom
êxito; acerto, sucesso".
De acordo com Lisa Fields (SELEÇÕES, 2014, p. 36), uma
pesquisa realizada pela Universidade de Minnesota, nos EUA, aponta quatro áreas
que influem em nossa felicidade: a família, a comunidade, o trabalho e a fé.
Para a maioria, a harmonia em família é a principal causa da felicidade. Em
seguida vêm: a fé, o trabalho e, por último, o relacionamento comunitário.
James Roberts, professor de Marketings da Universidade
Baylor, no Texas, diz que "o amor às coisas materiais pode prejudicar o
modo como nos sentimos a nosso respeito e nos custar relacionamentos pessoais
e, em última análise, a felicidade".
O professor explica que "O
segredo é ter consciência do 'tsunamiconsumista' que nos inunda e fazer
escolhas que nos levem a passar mais tempo reforçando os relacionamentos
sociais".
Conclui Roberts que uma boa escolha é a do "trabalho
voluntário, que, como já comprovaram numerosos estudos, aumenta a felicidade
pessoal" (SELEÇÕES, 2014, p. 80).
Na conquista da felicidade, os pensamentos positivos e
a prática da gratidão também são propostos pelo Dr. Paterson, da universidade
de Indiana, segundo Young (op. cit., p. 83).
O jornalista Preston (op. cit., p. 65) comenta
que em sua visita aos EUA, o Dalai Lama, "alegre e cheio de
entusiasmo", certo dia, foi abordado por uma garçonete, que lhe perguntou
qual é o sentido da vida. Sua resposta foi de que o sentido da vida é a felicidade,
mas o difícil é saber o que traz felicidade:
"Dinheiro?
Casa
grande?
Amigos? Ou...
– Ele fez uma pausa. –..... Compaixão e bom coração?".
A pergunta ao Dalai Lama, mais que a resposta, por
sinal corretíssima, fez-nos refletir sobre o significado da palavra
"sentido", que aqui, segundo o dicionárioHouaiss representa
"aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação;
alvo, fim,
propósito". Ou seja,
"para que ou para qual finalidade" serve a
vida?
Embora sejam sinônimas, nos dicionários, as palavras
objetivo e finalidade, na pedagogia têm significados diferentes.
Segundo Araújo
(Apud VEIGA; CASTANHO, 2000, p. 96-99), a finalidade tem
origem na palavra grega telos,ou no vocábulo latino finis,
que significa "fronteira, limite, término".
Finalidade é, pois, meta.
Já os objetivos são direcionados ao que é passível de operacionalização,
embora impliquem mediações.
Exemplo: “estimular a criação cultural e o
desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo" são
objetivos educacionais, segundo Araújo (op. cit.). Entretanto, a
"finalidade tripartite" da educação é o "desenvolvimento pleno
do educando", o seu "preparo para o exercício da cidadania" e a
sua "qualificação para o trabalho". (id., ibid.).
É a resposta
ao "para que", citado antes.
Com base no exposto, deduzimos que a vida humana tem
por objetivo alcançar a perfeição (operacionalização) e por finalidade (meta) a
felicidade.
Mas só é plenamente feliz o Espírito perfeito, e foi por isso mesmo
que Jesus nos recomendou:
"Sede perfeitos como o vosso Pai que está nos
Céus" (Mateus, 5:48)
e também nos disse:
"Eu e o Pai somos um"
(João, 10:30); embora igualmente tenha afirmado:
"bom mesmo só Deus o
é" (Marcos, 10:18). Assim, em nosso objetivo de perfeição relativa, quanto
mais nos livrarmos das paixões grosseiras e nos devotarmos ao bem, mais seremos felizes.
Desse modo, podemos entender algumas questões
propostas n'O livro dos Espíritos (LE), como esta:
"132.
Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?"
Resposta: "Deus lhes
impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição [...] Visa ainda
outro fim [entenda-se objetivo, acréscimo nosso] a encarnação: o de pôr o
Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação
[...]".
Na questão 153 a), dessa obra, somos informados de que
os Espíritos puros gozam da "felicidade eterna".
Isso significa que
atingiram a finalidade da vida, mas permanecem desempenhando sua missão como
auxiliares de Deus na obra da criação.
Concluímos do exposto que o Espírito
purificado alcança sua meta ou finalidade, que é a da "felicidade
eterna", mas seus objetivos continuam a ser "operacionalizados".
Essa condição de perpetuidade da vida feliz,
entretanto, é relativa nos mundos ainda imperfeitos, como a Terra, tanto na
carne como fora dela, como se observa na resposta à questão 231 do LE:
"São felizes ou desgraçados os Espíritos errantes?"
Por errantes,
entenda-se os Espíritos que ainda estão no plano espiritual sujeitos à reencarnação,
nos mais diversos graus evolutivos, mas ainda longe da perfeição.
Resposta à pergunta:
Mais ou menos, conforme seus méritos. Sofrem por
efeito das paixões cuja essência conservam, ou são felizes, de conformidade com
o grau de desmaterialização a que hajam chegado.
Na erraticidade, o Espírito
percebe o que lhe falta para ser mais feliz e, desde então, procura os meios de
alcançá-lo. Nem sempre, porém, lhe é permitido reencarnar como fora de seu
agrado, representando isso, para ele, uma punição.
Na quarta parte do LE, intitulada "Das penas e
gozos terrestres", sob o subtítulo "Felicidade e infelicidade
relativas", com quatorze questões, lemos o seguinte, na questão 920:
"Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?" Resposta:
"Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele,
porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na
Terra".
Logo abaixo, respondendo à pergunta 921 sobre a
possibilidade da felicidade relativa do homem, enquanto a humanidade não
"estiver transformada", somos informados de que "O homem é quase
sempre o obreiro de sua própria infelicidade.
Praticando a Lei de Deus, a
muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto
o comporte a sua existência grosseira".
Passemos à questão 967 do LE. Nela, Kardec deseja
saber "em que consiste a felicidade dos bons Espíritos". Vale a pena
refletir sobre esta resposta:
Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio,
nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a
desgraça dos homens.
O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade.
Não
experimentam as necessidades nem os sofrimentos, nem as angústias da vida
material. São felizes pelo bem que fazem.
Contudo, a felicidade dos Espíritos é
proporcional à elevação de cada um [...].
Os gozos materiais, lemos na resposta à questão
seguinte, são próprios dos Espíritos animalizados.
"Quando não podes
satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura."
E não é assim
mesmo que acontece?
Quantos jovens ficam tão desesperados diante de uma recusa
amorosa que chegam a cometer crimes contra o ser objeto de seus sonhos não
realizados?
Quantas pessoas penam nas cadeias por se apropriarem do que não
lhes pertencia?
Quantos há que, sem pensarem nas consequências terríveis deste
gesto, suicidam-se por não suportarem suas provas que, com o auxílio da fé, da
perseverança e do trabalho no bem seriam suavizadas?
Como reflexão final, transcrevemos as duas estrofes
finais do soneto parnasiano do poeta Vicente de Carvalho, intitulado Velho
Tema I:
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
"Tudo na natureza, desde o grão de areia, canta,
isto é, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus", afirmam-nos os
Espíritos superiores que responderam a Allan Kardec as 1019 questões formuladas
por ele nesta obra básica da Doutrina Espírita,
O Livro dos Espíritos,
que deu origem a mais outras quatro:
O Livro dos Médiuns,
O Evangelho
segundo o Espiritismo,
A Gênese e
O Céu e o Inferno,
códigos maravilhosos
sobre a ciência do Espírito, que aconselhamos o leitor e a leitora a lerem,
relerem, refletirem, meditarem e trilharem, incessantemente, pois nelas se
encontra o roteiro de nossa felicidade, meta ou finalidade eterna de todos nós. Feliz
Ano-Novo!
Referências:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. 1. imp. (Edição histórica). Brasília: FEB,
2013.
SELEÇÕES Reader's Digest, jul. 2014.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro; CASTANHO, Maria Eugênia
L. M. Orgs.Pedagogia universitária: a aula em foco. Campinas, SP:
Papirus, 2000 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
JORGE
LEITE DE OLIVEIRA