Sexo
nos Espíritos: o pensamento de Kardec
Discute-se, em nosso movimento espírita, a respeito da sexualidade dos Espíritos desencarnados. Se eles mantêm a forma humana, então conservam o gênero masculino ou feminino?
Há entre eles relação sexual? E se
existe esse tipo de relação, podem reproduzir-se, no além?
Allan Kardec ocupou-se
dessa temática e teve oportunidade de apresentar suas ideias de forma didática
e esclarecedora. Sem desconsiderar opiniões de outros autores (encarnados ou
desencarnados) valemo-nos, neste estudo, das ideias do mestre Kardec,
Codificador da Doutrina Espírita.
Na resposta ao item
822-a de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores grafaram o seguinte: Os sexos só existem na organização física,
pois os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferenças entre eles a
esse respeito.
Anteriormente, nos
itens 200 a 202 da obra citada eles haviam dito que os sexos dependem da constituição orgânica (item
200), que o Espírito que animou o corpo
de um homem pode animar o de uma mulher em uma nova existência, pois são os
mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres (item 201) e que quando somos Espíritos preferimos
encarnar num corpo de homem ou de mulher dependendo das provas que tivermos de
sofrer (item 202).
Pelo dito, fica claro
que os Espíritos não possuem polaridade sexual, gênero masculino/feminino,
sendo, nesse particular, assexuados. Tal constatação, todavia, pode levantar o
seguinte questionamento: como então, nas obras mediúnicas, ou nas sessões de
intercâmbio com os desencarnados eles se apresentam com a forma masculina e
feminina, até mesmo enamorados uns dos outros ou eventualmente vivendo juntos
na condição de esposos?
A excelente explicação
vem pelo codificador, em ensaio publicado na Revista Espírita, janeiro de 1866,
página 4: Sofrendo o Espírito
encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as
circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências impostas pelo mesmo
organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do
invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos
terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de
existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar,
no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou
impressa. Somente quando chegado a certo grau de adiantamento e de
desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos.
Importa considerar que
as descrições do Mundo dos Espíritos que recebemos via mediúnica referem-se a
regiões muito próximas da crosta terrestre, habitadas por Espíritos ainda muito
materializados, segundo refere Kardec, no texto acima. Quase nenhuma referência
possuímos da vida dos Espíritos em esferas superiores. (Uma referência breve
vamos identificar em Nosso Lar, no capitulo “O sonho”, quando André Luiz, em
corpo mental, visita sua mãe em uma esfera acima daquela onde se encontra a
colônia citada descrita no livro.) Nas esferas próximas da crosta há absoluta prevalência
de Espíritos de evolução primária, que, em sua maioria, nem se dão conta da
desencarnação, nutrindo apetites e ansiando vivências similares às da Terra.
No Livro dos Médiuns,
item 74, Kardec escreveu: Nos
Espíritos inferiores (seu perispírito) aproxima-se da matéria e é isso que
determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa
categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os
mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade.
Isso poderia explicar
os relatos mediúnicos sobre Espíritos atormentados pelas emoções sexuais,
verdadeiros vampiros da sexualidade de encarnados imprevidentes.
Impossibilitados de saciarem sua libido, se acoplam magneticamente a casais com
os quais sintonizam, todos eles igualmente com a sexualidade destrambelhada,
absorvendo as emanações psíquicas liberadas durante a relação sexual.
É curioso observarmos
que Kardec, no ensaio citado anteriormente (Revista Espírita, janeiro de 1866)
admite a hipótese de uma inversão da libido desencadeada pela reencarnação em
um corpo físico que não corresponde à psicologia do Espírito, que vinha
vivenciando muitas existências em apenas uma polaridade sexual (masculina ou
feminina). Tal ocorrência poderia explicar alguns casos da homossexualidade.
Confira o texto original: Se essa
influencia se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá
quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova
encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de
sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os
gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim
se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e
de certas mulheres.
Mas afinal, os
Espíritos desencarnados fazem sexo, ou seja, existem relações sexuais entre
eles? As descrições do modo de vida na erraticidade se reportam a Espíritos
dormindo, se alimentando, namorando... mas intercurso sexual ocorre ou
não?
A resposta é não,
segundo o pensamento de Allan Kardec.
Em duas oportunidades,
ambas registradas na Revista Espírita, Kardec expõe suas ideias de maneira
indiscutível.
Na Revista Espírita de
junho de 1862, após dialogo instrutivo com uma entidade que pertencera à
Sociedade Parisiense, Kardec escreve: Os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os
Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil.
Ainda na Revista
Espírita, janeiro de 1866, Kardec volta ao tema com o mesmo posicionamento: As almas ou Espíritos não têm sexo. As
afeições que os unem nada têm de carnal e, por isso mesmo, são mais duráveis,
porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da
matéria. Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos
seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns
pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Admite o codificador
que há entre eles amor e simpatia,
mas baseados na afinidade de sentimentos (O Livro dos Espíritos, item
200).
E, finalmente,
examinando o sofrimento advindo das paixões inferiores, Kardec reproduz em O
Livro dos Espíritos o seguinte pensamento dos Benfeitores: Embora as paixões não existam materialmente, ainda
persistem no pensamento dos Espíritos atrasados (item 972).
Referindo-se à impossibilidade do intercurso sexual entre eles, comenta que
esse tipo de paixão causa suplício
no espírito devasso que vê as orgias de que não pode participar (item
972-a).
O tema é complexo e
está aberto a novas contribuições. Esperamos ter colaborado para o debate, ao
apresentar a linha de pensamento de Kardec.
Discute-se, em nosso movimento espírita, a respeito da sexualidade dos Espíritos desencarnados. Se eles mantêm a forma humana, então conservam o gênero masculino ou feminino? Há entre eles relação sexual? E se existe esse tipo de relação, podem reproduzir-se, no além?
Allan Kardec ocupou-se
dessa temática e teve oportunidade de apresentar suas ideias de forma didática
e esclarecedora. Sem desconsiderar opiniões de outros autores (encarnados ou
desencarnados) valemo-nos, neste estudo, das ideias do mestre Kardec,
Codificador da Doutrina Espírita.
Na resposta ao item
822-a de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores grafaram o seguinte: Os sexos só existem na organização física,
pois os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferenças entre eles a
esse respeito.
Anteriormente, nos
itens 200 a 202 da obra citada eles haviam dito que os sexos dependem da constituição orgânica (item
200), que o Espírito que animou o corpo
de um homem pode animar o de uma mulher em uma nova existência, pois são os
mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres (item 201) e que quando somos Espíritos preferimos
encarnar num corpo de homem ou de mulher dependendo das provas que tivermos de
sofrer (item 202).
Pelo dito, fica claro
que os Espíritos não possuem polaridade sexual, gênero masculino/feminino,
sendo, nesse particular, assexuados. Tal constatação, todavia, pode levantar o
seguinte questionamento: como então, nas obras mediúnicas, ou nas sessões de intercâmbio
com os desencarnados eles se apresentam com a forma masculina e feminina, até
mesmo enamorados uns dos outros ou eventualmente vivendo juntos na condição de
esposos?
A excelente explicação
vem pelo codificador, em ensaio publicado na Revista Espírita, janeiro de 1866,
página 4: Sofrendo o Espírito
encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as
circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências impostas pelo mesmo
organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do
invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos
terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de
existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar,
no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou
impressa. Somente quando chegado a certo grau de adiantamento e de
desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com
ela, o caráter dos sexos.
Importa considerar que
as descrições do Mundo dos Espíritos que recebemos via mediúnica referem-se a
regiões muito próximas da crosta terrestre, habitadas por Espíritos ainda muito
materializados, segundo refere Kardec, no texto acima. Quase nenhuma referência
possuímos da vida dos Espíritos em esferas superiores. (Uma referência breve
vamos identificar em Nosso Lar, no capitulo “O sonho”, quando André Luiz, em
corpo mental, visita sua mãe em uma esfera acima daquela onde se encontra a
colônia citada descrita no livro.) Nas esferas próximas da crosta há absoluta
prevalência de Espíritos de evolução primária, que, em sua maioria, nem se dão
conta da desencarnação, nutrindo apetites e ansiando vivências similares às da
Terra.
No Livro dos Médiuns,
item 74, Kardec escreveu: Nos
Espíritos inferiores (seu perispírito) aproxima-se da matéria e é isso que
determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa
categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os
mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade.
Isso poderia explicar
os relatos mediúnicos sobre Espíritos atormentados pelas emoções sexuais,
verdadeiros vampiros da sexualidade de encarnados imprevidentes.
Impossibilitados de saciarem sua libido, se acoplam magneticamente a casais com
os quais sintonizam, todos eles igualmente com a sexualidade destrambelhada,
absorvendo as emanações psíquicas liberadas durante a relação sexual.
É curioso observarmos
que Kardec, no ensaio citado anteriormente (Revista Espírita, janeiro de 1866)
admite a hipótese de uma inversão da libido desencadeada pela reencarnação em
um corpo físico que não corresponde à psicologia do Espírito, que vinha
vivenciando muitas existências em apenas uma polaridade sexual (masculina ou
feminina). Tal ocorrência poderia explicar alguns casos da homossexualidade.
Confira o texto original: Se essa
influencia se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá
quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova
encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de
sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os
gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim
se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e
de certas mulheres.
Mas afinal, os
Espíritos desencarnados fazem sexo, ou seja, existem relações sexuais entre
eles? As descrições do modo de vida na erraticidade se reportam a Espíritos
dormindo, se alimentando, namorando... mas intercurso sexual ocorre ou
não?
A resposta é não,
segundo o pensamento de Allan Kardec.
Em duas oportunidades,
ambas registradas na Revista Espírita, Kardec expõe suas ideias de maneira
indiscutível.
Na Revista Espírita de
junho de 1862, após dialogo instrutivo com uma entidade que pertencera à
Sociedade Parisiense, Kardec escreve: Os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os
Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil.
Ainda na Revista
Espírita, janeiro de 1866, Kardec volta ao tema com o mesmo posicionamento: As almas ou Espíritos não têm sexo. As
afeições que os unem nada têm de carnal e, por isso mesmo, são mais duráveis,
porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da
matéria. Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos
seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns
pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Admite o codificador
que há entre eles amor e simpatia,
mas baseados na afinidade de sentimentos (O Livro dos Espíritos, item
200).
E, finalmente,
examinando o sofrimento advindo das paixões inferiores, Kardec reproduz em O
Livro dos Espíritos o seguinte pensamento dos Benfeitores: Embora as paixões não existam materialmente,
ainda persistem no pensamento dos Espíritos atrasados (item 972).
Referindo-se à impossibilidade do intercurso sexual entre eles, comenta que
esse tipo de paixão causa suplício
no espírito devasso que vê as orgias de que não pode participar (item
972-a).
O tema é complexo e
está aberto a novas contribuições. Esperamos ter colaborado para o debate, ao
apresentar a linha de pensamento de Kardec.
Ricardo Baesso de Oliveira - O Consolador
Ricardo Baesso de Oliveira - O Consolador