domingo, 28 de julho de 2013


 
Sexo nos Espíritos: o pensamento de Kardec

Discute-se, em nosso movimento espírita, a respeito da sexualidade dos Espíritos desencarnados. Se eles mantêm a forma humana, então conservam o gênero masculino ou feminino? 
Há entre eles relação sexual?  E se existe esse tipo de relação, podem reproduzir-se, no além?
Allan Kardec ocupou-se dessa temática e teve oportunidade de apresentar suas ideias de forma didática e esclarecedora. Sem desconsiderar opiniões de outros autores (encarnados ou desencarnados) valemo-nos, neste estudo, das ideias do mestre Kardec, Codificador da Doutrina Espírita.
Na resposta ao item 822-a de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores grafaram o seguinte: Os sexos só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferenças entre eles a esse respeito.
Anteriormente, nos itens 200 a 202 da obra citada eles haviam dito que os sexos dependem da constituição orgânica (item 200), que o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher em uma nova existência, pois são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres (item 201) e que quando somos Espíritos preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher dependendo das provas que tivermos de sofrer (item 202).
Pelo dito, fica claro que os Espíritos não possuem polaridade sexual, gênero masculino/feminino, sendo, nesse particular, assexuados. Tal constatação, todavia, pode levantar o seguinte questionamento: como então, nas obras mediúnicas, ou nas sessões de intercâmbio com os desencarnados eles se apresentam com a forma masculina e feminina, até mesmo enamorados uns dos outros ou eventualmente vivendo juntos na condição de esposos?
A excelente explicação vem pelo codificador, em ensaio publicado na Revista Espírita, janeiro de 1866, página 4: Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências impostas pelo mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos.
Importa considerar que as descrições do Mundo dos Espíritos que recebemos via mediúnica referem-se a regiões muito próximas da crosta terrestre, habitadas por Espíritos ainda muito materializados, segundo refere Kardec, no texto acima. Quase nenhuma referência possuímos da vida dos Espíritos em esferas superiores. (Uma referência breve vamos identificar em Nosso Lar, no capitulo “O sonho”, quando André Luiz, em corpo mental, visita sua mãe em uma esfera acima daquela onde se encontra a colônia citada descrita no livro.) Nas esferas próximas da crosta há absoluta prevalência de Espíritos de evolução primária, que, em sua maioria, nem se dão conta da desencarnação, nutrindo apetites e ansiando vivências similares às da Terra.
No Livro dos Médiuns, item 74, Kardec escreveu: Nos Espíritos inferiores (seu perispírito) aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade.
Isso poderia explicar os relatos mediúnicos sobre Espíritos atormentados pelas emoções sexuais, verdadeiros vampiros da sexualidade de encarnados imprevidentes. Impossibilitados de saciarem sua libido, se acoplam magneticamente a casais com os quais sintonizam, todos eles igualmente com a sexualidade destrambelhada, absorvendo as emanações psíquicas liberadas durante a relação sexual.
É curioso observarmos que Kardec, no ensaio citado anteriormente (Revista Espírita, janeiro de 1866) admite a hipótese de uma inversão da libido desencadeada pela reencarnação em um corpo físico que não corresponde à psicologia do Espírito, que vinha vivenciando muitas existências em apenas uma polaridade sexual (masculina ou feminina). Tal ocorrência poderia explicar alguns casos da homossexualidade. Confira o texto original: Se essa influencia se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres.
Mas afinal, os Espíritos desencarnados fazem sexo, ou seja, existem relações sexuais entre eles? As descrições do modo de vida na erraticidade se reportam a Espíritos dormindo, se alimentando, namorando... mas intercurso sexual ocorre ou não?
A resposta é não, segundo o pensamento de Allan Kardec.
Em duas oportunidades, ambas registradas na Revista Espírita, Kardec expõe suas ideias de maneira indiscutível.
Na Revista Espírita de junho de 1862, após dialogo instrutivo com uma entidade que pertencera à Sociedade Parisiense, Kardec escreve: Os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil.
Ainda na Revista Espírita, janeiro de 1866, Kardec volta ao tema com o mesmo posicionamento: As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que os unem nada têm de carnal e, por isso mesmo, são mais duráveis, porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da matéria. Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Admite o codificador que há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos (O Livro dos Espíritos, item 200).
E, finalmente, examinando o sofrimento advindo das paixões inferiores, Kardec reproduz em O Livro dos Espíritos o seguinte pensamento dos Benfeitores: Embora as paixões não existam materialmente, ainda persistem no pensamento dos Espíritos atrasados (item 972). Referindo-se à impossibilidade do intercurso sexual entre eles, comenta que esse tipo de paixão causa suplício no espírito devasso que vê as orgias de que não pode participar (item 972-a).
O tema é complexo e está aberto a novas contribuições. Esperamos ter colaborado para o debate, ao apresentar a linha de pensamento de Kardec.


Discute-se, em nosso movimento espírita, a respeito da sexualidade dos Espíritos desencarnados. Se eles mantêm a forma humana, então conservam o gênero masculino ou feminino? Há entre eles relação sexual?  E se existe esse tipo de relação, podem reproduzir-se, no além?
Allan Kardec ocupou-se dessa temática e teve oportunidade de apresentar suas ideias de forma didática e esclarecedora. Sem desconsiderar opiniões de outros autores (encarnados ou desencarnados) valemo-nos, neste estudo, das ideias do mestre Kardec, Codificador da Doutrina Espírita.
Na resposta ao item 822-a de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores grafaram o seguinte: Os sexos só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferenças entre eles a esse respeito.
Anteriormente, nos itens 200 a 202 da obra citada eles haviam dito que os sexos dependem da constituição orgânica (item 200), que o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher em uma nova existência, pois são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres (item 201) e que quando somos Espíritos preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher dependendo das provas que tivermos de sofrer (item 202).
Pelo dito, fica claro que os Espíritos não possuem polaridade sexual, gênero masculino/feminino, sendo, nesse particular, assexuados. Tal constatação, todavia, pode levantar o seguinte questionamento: como então, nas obras mediúnicas, ou nas sessões de intercâmbio com os desencarnados eles se apresentam com a forma masculina e feminina, até mesmo enamorados uns dos outros ou eventualmente vivendo juntos na condição de esposos?
A excelente explicação vem pelo codificador, em ensaio publicado na Revista Espírita, janeiro de 1866, página 4: Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências impostas pelo mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos.
Importa considerar que as descrições do Mundo dos Espíritos que recebemos via mediúnica referem-se a regiões muito próximas da crosta terrestre, habitadas por Espíritos ainda muito materializados, segundo refere Kardec, no texto acima. Quase nenhuma referência possuímos da vida dos Espíritos em esferas superiores. (Uma referência breve vamos identificar em Nosso Lar, no capitulo “O sonho”, quando André Luiz, em corpo mental, visita sua mãe em uma esfera acima daquela onde se encontra a colônia citada descrita no livro.) Nas esferas próximas da crosta há absoluta prevalência de Espíritos de evolução primária, que, em sua maioria, nem se dão conta da desencarnação, nutrindo apetites e ansiando vivências similares às da Terra.
No Livro dos Médiuns, item 74, Kardec escreveu: Nos Espíritos inferiores (seu perispírito) aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade.
Isso poderia explicar os relatos mediúnicos sobre Espíritos atormentados pelas emoções sexuais, verdadeiros vampiros da sexualidade de encarnados imprevidentes. Impossibilitados de saciarem sua libido, se acoplam magneticamente a casais com os quais sintonizam, todos eles igualmente com a sexualidade destrambelhada, absorvendo as emanações psíquicas liberadas durante a relação sexual.
É curioso observarmos que Kardec, no ensaio citado anteriormente (Revista Espírita, janeiro de 1866) admite a hipótese de uma inversão da libido desencadeada pela reencarnação em um corpo físico que não corresponde à psicologia do Espírito, que vinha vivenciando muitas existências em apenas uma polaridade sexual (masculina ou feminina). Tal ocorrência poderia explicar alguns casos da homossexualidade. Confira o texto original: Se essa influencia se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres.
Mas afinal, os Espíritos desencarnados fazem sexo, ou seja, existem relações sexuais entre eles? As descrições do modo de vida na erraticidade se reportam a Espíritos dormindo, se alimentando, namorando... mas intercurso sexual ocorre ou não?
A resposta é não, segundo o pensamento de Allan Kardec.
Em duas oportunidades, ambas registradas na Revista Espírita, Kardec expõe suas ideias de maneira indiscutível.
Na Revista Espírita de junho de 1862, após dialogo instrutivo com uma entidade que pertencera à Sociedade Parisiense, Kardec escreve: Os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil.
Ainda na Revista Espírita, janeiro de 1866, Kardec volta ao tema com o mesmo posicionamento: As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que os unem nada têm de carnal e, por isso mesmo, são mais duráveis, porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da matéria. Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Admite o codificador que há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos (O Livro dos Espíritos, item 200).
E, finalmente, examinando o sofrimento advindo das paixões inferiores, Kardec reproduz em O Livro dos Espíritos o seguinte pensamento dos Benfeitores: Embora as paixões não existam materialmente, ainda persistem no pensamento dos Espíritos atrasados (item 972). Referindo-se à impossibilidade do intercurso sexual entre eles, comenta que esse tipo de paixão causa suplício no espírito devasso que vê as orgias de que não pode participar (item 972-a).
O tema é complexo e está aberto a novas contribuições. Esperamos ter colaborado para o debate, ao apresentar a linha de pensamento de Kardec.

Ricardo Baesso de Oliveira - O Consolador