sexta-feira, 31 de maio de 2013


                      SEGURANDO UM AO OUTRO


A sobrecarregada enfermeira viu o jovem entrar no quarto e, inclinando-se, disse alto ao idoso paciente, - Seu filho está aqui.

Com grande esforço, ele abriu os olhos e, a seguir, fechou-os outra vez.
O jovem apertou a envelhecida mão e sentou-se ao lado da cama.
Por toda a noite, ficou sentado ali, segurando a mão e sussurrando palavras de conforto ao velho homem.

À luz da manhã, o paciente tinha morrido. Em instantes, a equipe de funcionários do hospital encheu o quarto para desligar as máquinas e remover as agulhas. A enfermeira aproximou-se do jovem e começou a oferecer-lhe condolências, mas ele a interrompeu.
- Quem era esse homem? Perguntou.

Assustada, a enfermeira respondeu,
- Eu achei que era seu pai!
- Não. Não era meu pai, - respondeu o jovem - Eu nunca o vi antes em minha vida.
- Então, porque você não falou nada quando lhe anunciei para ele?
- Eu percebi que ele precisava do filho e o filho não estava aqui. -
O jovem explicou - E como ele estava por demais doente para
reconhecer que eu não era seu filho, eu vi que ele precisava de mim.

Madre Teresa costumava nos lembrar que ninguém tem que morrer sozinho. Do mesmo modo, ninguém deve se afligir sozinho ou chorar sozinho. Ou rir sozinho ou celebrar sozinho.

Nós fomos feitos para viajar de mãos dadas através da jornada da vida. Há alguém pronto para segurar a sua mão hoje. E há alguém esperando que você segure a dele.


Mensagem Espírita

terça-feira, 28 de maio de 2013

                                       COMPANHEIROS

Há muitos companheiros realmente assim...

Declaram-se espiritas.

Proclamam-se convencidos, quanto à sobrevivência.

Relacionam casos maravilhosos.

Exibem apontamentos inatacáveis.

Referem-se, freqüentemente, aos sábios que pesquisaram as forças psíquicas.

Andam de experiência em experiência.

Fitam médiuns como se vissem animais raros.

Não alimentam dúvidas quanto aos fatos inabituais no seio da própria família, mas desconfiam das observações nascidas no lar de outrem.

Conversadores primorosos.

Anedotistas notáveis.

Mas não mostram mudança alguma.

São na convicção o que eram na negação.

Nobres expoentes de cultura intelectual, não estendem migalha de conhecimento superior a quem quer que seja.

Detentores de vantagens humanas, não se dignam ajudar a ninguém.

*

Felizmente, contudo, temos os companheiros da luta incessante.

Afirmam-se também espiritas.

Mas compreendem que o fenômeno, diante da verdade, pode ser considerado à feição de casca no fruto.

Têm os médiuns como pessoas comuns, necessitadas de entendimento e de auxílio.

Sabem que a existência na Terra é como estágio na escola.

E, por isso, não perdem tempo.

Moram no trabalho constante.

Indulgentes para com todos e severos para consigo mesmos.

Aceitam a justiça perfeita, através da reencarnação, e acolhem no sofrimento o curso preciso ao burillamento da própria alma.

Verificam que o erro dos outros podia ser deles próprios e, em razão disso, não perdem a paciência.

Reconhecendo-se imperfeitos, perdoam, sem vacilar, as imperfeições alheias.

E vivem a caridade como simples dever, aprendendo e servindo sempre.

São esses que Allan Kardec, em sua palavra esclarecida, define como sendo "os espiritas verdadeiros ou, melhor, os espíritas-cristãos".

Seara dos Médiuns

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Amor e vigília 

Perguntaram-me o segredo de um relacionamento feliz escondido na pergunta: o amor existe?

Ora, o amor não é coisa que se possa capturar e qualquer conceito termina por confiná-lo, e sem compreendê-lo.
Penso apenas que o relacionamento feliz se torna possível para o ser humano de coração transformado, que entrou em contato com a paixão e foi além do fogo e das cinzas, mantido aí, pelo diálogo contínuo e por uma abertura para escutar, na luz intata, o amor que insiste vivo.
Ainda, ser o que somos no amor para permitir reciprocamente estar em uma atitude que é capaz de acolher e possibilitar o cultivo da troca comum e das sadias diferenças. Cabem, aqui, a flexibilidade e o perdão, evitando a inteligência bloqueada pelo que sabe, pois o relacionamento está sempre em construção, enraizado na novidade e no contexto maleável do vir-a-ser.
Com efeito, não é fácil viver o amor. Ele não se entrega à primeira vista, não inventa histórias, desconcerta os jogos e os cansativos exercícios do controle, pois desabrocha no interior do eu, na imagem estruturante que apela à qualidade de consciência, porque é o melhor de nós mesmos...
Casais felizes encontram em suas raízes um ímpeto em direção ao céu, pois o encontro, guiado pela sintonia amorosa, tem necessidade de ar, de luz...
Por isso, simplesmente se empenham em cuidar da partilha comum, estendida nas curtas e longas conversas, no beijo, no toque, mas também nas coisas simples, como a divisão das tarefas, o cuidado com os filhos, a composição entre receios e conquistas, o mútuo autoaprimoramento, as metas, os sonhos, porque tudo isso compõe a intimidade.
Aquele que se propõe, por amor, a partilhar com o outro a sua condição de existente é sempre um grande vigilante, disposto a prestar atenção, disponível ao diálogo e à escuta, porquanto é dessa concentração que será extraído o viver juntos.
Isso não se trata de esperança, porque o amor nasce de um encontro. Seu cultivo, contudo, depende da renúncia ao poder e à intolerância, ou seja, necessita estar inserido na carência aceita de nossa condição de seres humanos em devir, o fundamento da esperança e da liberdade. Desse modo, se fará possível um relacionamento conservado no Aberto e não-reduzido a apetites de prazer, disputas ou olhar endurecido – efeitos do egoísmo e do apego.
É fato: esse amor exige coragem, pressupõe vontade, alegria, o sabor de estar com alguém que, além da partilha cotidiana, faz evocar o estado da aletheia (= não-sonolência). Sim, pois é este estado de vigília que gera para o casal crescimento e felicidade, dando profundidade à vida.
                
 Eugenia Pickina - O consolador 154



quarta-feira, 22 de maio de 2013

                           
“ Saulo, Não Te Detenhas No Passado! Quem Haverá, No Mundo, Isento De Erros?! 

Só Jesus Foi Puro!...”

“PAULO E ESTÊVÃO”. 

Fala de um encontro do Apóstolo, durante o sono, com Abigail e Estêvão, este que fora morto por apedrejamento, por ordem do próprio Paulo. 

Estêvão profere tais palavras abraçando-o efusivamente, como se o fizesse a um irmão amado, beijando-lhe a fronte com ternura. Como precisamos todos nós, errantes, de um abraço efusivo, verdadeiro, de um beijo de ternura em nossa fronte contraída, seja pelas acusações do mundo e dos homens, seja pelos gritos de reprovação da nossa própria consciência. 

E tão poucos são os que se dispõem a afagar as almas dos caídos do espírito! 
Paulo, como todos que despertam para a verdadeira e única razão de 
ser da vida humana na Terra, freqüentou desertos interiores onde vendavais açoitavam sua alma com as lembranças dos erros do passado. 

Essas tormentas interiores, sempre que nos ocorrem, costumam lembrar-nos do que poderíamos ter feito de diferente em nossas vidas, caso tivéssemos, então, as experiências e os 
conhecimentos que só mais tarde percebemos. 

Questionado por Sadoc (que, com ele,perseguira cristãos) sobre a mudança tão brusca, Paulo não se cansava de repetir que vira Jesus de Nazaré e prosseguia: “Considero que a todo tempo, devemos e podemos reparar os erros do passado e é com esse ardor de fé que me proponho a regenerar minhas próprias estradas” (pg.219). 

Regenerar estradas! É muito mais do que a simples aceitação de nossos desvios de ontem, por mais humildade que tal reconhecimento possa exigir.

 Regenerar estradas é dar um novo começo à nossa caminhada com base nas experiências das trilhas desconexas que escolhemos no passado. 
Toda experiência nos associa a alguns valores. Úteis e vigorosos, uns. De pouca serventia e frágeis, outros.

 Mas todos nos serão úteis na seleção de novos caminhos, de estradas que se farão novas pelas ferramentas aprimoradas com que a reconstruiremos ou a regeneraremos. 

Tantas almas deram direção nova às suas vidas a partir de Jesus e de seus seguidores... 

O Perdão de Jesus pacificava as almas. Mas após o perdão, iniciava-se o trabalho individual.

 É a hora da transformação. 

Precisamos entender o convite à Mudança. 

sábado, 18 de maio de 2013

       
               PORQUE ODIAMOS O SOM DE NOSSA VOZ

Quando você escuta uma gravação com a sua voz, tenho certeza que não gosta. Ninguém gosta.
E porque será que a nossa voz gravada soa tão estranha para nós?
O som pode entrar em nossos ouvidos em uma de duas maneiras: conduzido pelo ar ou pelo osso.
Som conduzido pelo ar – ouvir uma gravação de si mesmo falando, por exemplo – é transmitido através dos tímpanos, vibra em três ossículos (martelo, bigorna e estribo) do ouvido e termina na cóclea. A cóclea, uma estrutura espiral cheia de fluido, converte essas vibrações em impulsos nervosos que serão interpretados no cérebro.
O que ouvimos quando falamos, no entanto, é ao mesmo som conduzido pelo ar e pelo osso. Nos sons conduzidos pelo osso, as vibrações de nossas cordas vocais atingem diretamente a cóclea. Nossos cérebros nos enganam diminuindo a frequência destas vibrações ao longo do caminho, e é por isso que muitas vezes percebemos nossa voz como mais aguda quando ouvimos uma gravação.
“Quando alguém ouve uma gravação de sua própria voz falando, o som pela via óssea que considera parte de sua voz ‘normal’ é eliminado, e esse alguém ouve apenas o componente vindo do ar, que é o que todo mundo realmente ouve”, explica o Dr. Chris Chang, otorrinolaringologista americano.
Isso explica por que nós percebemos as nossas vozes de forma diferente, mas por que não gostamos do que ouvimos?
Pelo mesmo motivo que gostamos do que vemos no espelho, mas não do que vemos nas fotografias.

Com o tempo, nós nos acostumamos a todas as nossas assimetrias que se refletem no espelho: nosso cabelo repartido para um lado, uma pinta no rosto, etc. Quando vemos uma foto de nós mesmos, no entanto, todas essas pequenas diferenças não correspondem com o que o nosso cérebro espera ver, por isso não gostamos delas.
Da mesma forma, nós passamos a vida toda ouvindo e aperfeiçoando o som conduzido pelo osso, mas não o som da nossa voz conduzida pelo ar.
“Nós nunca realmente ouvimos a nossa voz como as outras pessoas a ouvem, daí a nossa surpresa ao ouvir uma gravação”, conclui Pascal Belin, professor de psicologia na Universidade de Glasgow (Escócia), cuja pesquisa concentra-se na percepção vocal.[NBC]

segunda-feira, 13 de maio de 2013



                                     A INGRATIDÃO

Todas as vezes que testemunho ou sofro alguma ingratidão, lembro-me da passagem do Evangelho – aquela em que Jesus curou os dez leprosos e só um voltou para agradecer. E ele perguntou: onde estão os outros nove? Essa história nos indica que a ingratidão é algo comum, majoritário, no comportamento humano. Estatisticamente, 90% daqueles que Jesus curou, não mostraram gratidão.
Observando esse fenômeno, proponho-me aqui a examinar as motivações psicológicas da ingratidão.
Quando alguém está precisando de ajuda – seja porque está doente, com dificuldades financeiras, solitário, deprimido, em qualquer situação de crise ou mesmo que essa crise seja um status permanente, desde a infância – é um momento, uma fase, ou até uma existência inteira, até então, de fragilidade e de carência. Para o orgulho humano, precisar do outro, tem algo de humilhante – ainda que aquele que ajude (como o caso incontestável de Jesus) esteja ajudando com total desprendimento e sem nenhum desejo de recompensa. Obviamente que este estado de desprendimento e desapego dos resultados é algo bastante raro no mundo, tão raro quanto a gratidão.
Ora, quando a pessoa que recebeu a ajuda, seja em forma de dinheiro, apoio, solidariedade, incentivo, colo… – se vê numa situação melhor, de maior segurança, de retomada de sua autonomia, até de euforia, porque conquistou posições e patamares antes impensáveis (muitas vezes com o próprio esforço sim, mas a partir da ajuda recebida) – então, a pessoa não quer mais se lembrar daquele instante de fragilidade, quer negar para si mesma que precisou um dia de apoio, quer atribuir todas as suas conquistas apenas a si mesma, aos próprios méritos. Não quer dividir o sabor da vitória, relembrando um momento em que estava “por baixo”. Então, nega o benfeitor, esquece-o, até pode agredi-lo e eliminá-lo simbolicamente, porque é humilhante para o seu status atual, fazer referências a um estado anterior de carência. Então, faz aquilo que o ditado popular tão pitorescamente expressa: “cospe no prato que comeu”.
A coisa se agrava mais quando existe uma forte relação afetiva entre aquele que ajudou e aquele que foi ajudado – seja este um filho, um irmão, um amigo íntimo, um parente distante ou próximo. Porque então, a ajuda pode ter sido carregada de forte dose de afetividade, preocupação com o outro, desejo profundo de felicidade e superação das dificuldades do ser amado. Nesse caso, o ingrato precisa esquecer duplamente do benfeitor – o benefício prestado e a afetividade entregue. E é então que a ingratidão pode doer mais profundamente, porque se tratou não apenas de um benefício, mas de uma entrega de si. Episódios assim também se encontram na vida de Jesus, como a traição de Judas, a negação de Pedro e o abandono dos mais próximos, no momento da crucificação. No caso dos leprosos, Jesus não tinha uma intimidade com eles. Com os discípulos, eram amigos queridos. Nessa configuração, a pessoa não quer apenas esquecer do benfeitor, para não lembrar de um momento de fragilidade, ela quer se desobrigar de qualquer retribuição concreta ou afetiva com a pessoa que foi determinante para suas realizações, superações e conquistas – sejam elas de ordem material, intelectual ou moral. Quer se sentir livre de compromissos com quem ficou para trás, porque tais compromissos, que implicariam muito mais do que simplesmente reconhecer o benefício, mas também num cuidado com o outro (como o caso de pais, irmãos, amigos), são uma quebra na fruição de suas conquistas. Por exemplo, o indivíduo recebeu toda a formação dos pais, todo o empenho pelas suas realizações, todo o carinho doado (claro, com os limites e defeitos possíveis de todas as relações humanas) e quando ele se vê numa situação de bem-estar, conquista e euforia, não deseja ver o estorvo da fragilidade alheia – agora no caso, dos pais –que estarão por sua vez num momento de carência. Voltar atrás e olhar para os benfeitores, amá-los, cuidar deles, ter compromissos, é turvar o momento de segurança presente, é abrir brechas para o afeto fluir, no meio da vaidade das conquistas.
Assim, podemos concluir que o que atrapalha a gratidão em todos os casos é o orgulho – de não se admitir que se esteve já em situação difícil – e o egoísmo – de não querer interromper o gosto da conquista, com a preocupação, o cuidado e a dedicação ao outro.
Agora, analisemos toda a questão do ponto de vista daquele que ajuda. Que motivações podem levar a pessoa a fazer um bem a quem esteja em situação de carência ou precisão? São motivações sempre nobres, puras e elevadas? Até que ponto podem também estar contaminadas de orgulho e egoísmo? E pode essa possível contaminação na atitude do benfeitor provocar ou reforçar a ingratidão?
O ideal de um ato moral – como também aponta o Evangelho e a interpretação espírita da ética cristã – é o desinteresse. Esse desinteresse deve ser financeiro, pessoal, afetivo. Ou seja, é preciso fazer o bem, sem nada querer, esperar ou desejar de volta. A coisa porém não é tão simples. Primeiro, porque ao fazer o bem, experimenta-se naturalmente um bem-estar interno (hoje comprovado até através de pesquisas que mostram que dar, doar, ajudar libera sensações agradáveis para quem faz). Então, ao fazermos o bem, queremos nos sentir bem? Sem dúvida que sim! E isso eu chamaria – repetindo uma definição que ouvi do meu terapeuta – de um egoísmo saudável. Afinal, Jesus disse que deveríamos amar ao próximo como a nós mesmos. Ou seja, todos os seres humanos buscam prazer, felicidade, bem-estar e isso é natural. Ora, muito melhor que esse bem-estar seja provocado por um fazer bem do que por um fazer mal ou por qualquer tipo de vício autodestrutivo.
Apesar disso, considero que num nível mais elevado de doação, o indivíduo dá apenas e somente pelo bem do outro, sem pensar na própria felicidade. É certamente o caso de Jesus, ao morrer na cruz, como oferecimento de um exemplo para a humanidade.
Mas a questão não fica nesse ponto. Quando nos encontramos diante de alguém que está em situação de necessidade, os nossos sentimentos de empatia e compaixão podem ser ativados e nos lançamos a uma ação benéfica para o outro. Até aí, ótimo.  Mas podem surgir também sentimentos (às vezes inconscientes) de superioridade e de prazer por estarmos numa posição de generosidade, de vaidade por “sermos tão bons”! Então, o ato de ajuda carrega algo de humilhante para o outro, sim. Porque podemos nos situar num patamar de cima, onde o outro que recebe, se sente de fato esmagado pela nossa oferta. Se a pessoa não tiver alternativa nesse momento, isso poderá depois gerar uma forte repulsa pelo benfeitor. E tudo isso está muito bem descrito no Evangelho. O problema é que bons impulsos podem ser manchados por esses sentimentos negativos – então há de fato um bem praticado, houve um momento de solidariedade sincera, mas depois o orgulho apareceu para estragar as coisas.
Outra forma de contaminar o gesto de ajuda está na cobrança de retorno, que pode ser uma cobrança sutil ou explícita, pode aparecer na forma de expectativa silenciosa ou de um “jogar na cara” ofensivo. A forma não explícita gera mal-estar no beneficiário e a explícita provoca justa revolta. Há inclusive pais e mães que praticam fartamente essa forma explícita, humilhando filhos, por terem cumprido o que pais e mães devem fazer – doarem-se inteiramente. Então, o ato do bem ou o amor doado estão claramente aprisionados nas garras do egoísmo.
Essas manchas no ato de doar não eximem aquele que recebe do sentimento de gratidão, sobretudo se há um vínculo amoroso envolvido no processo; assim como a ingratidão não exime o benfeitor de continuar fazendo o bem; porque é preciso compreender que estamos em processo de aprendizagem evolutiva e ainda quando queremos praticar o certo e queremos elevar nossos sentimentos, eles ainda se deixam macular por nossos atavismos milenares. Há que se ter maturidade e compreensão mútua para entendermos as nossas fraquezas e as do outro. Há também que se considerar que nossos papéis de benfeitores e beneficiados se alternam no decorrer da vida. Todos temos fases, momentos de fragilidade (basta lembrar de como chegamos e como partimos no mundo). Todos temos oportunidade de ajudar alguém em outros momentos. Ora somos necessariamente carentes, ora podemos ser generosos. Refletindo sobre tudo isso, haverá mais oportunidades de superação e de caminharmos para formas superiores de sentir e fazer.
Há porém algo mais sutil ainda, quando se trata de um benefício e uma ingratidão entre dois seres que se amam intensamente – e não posso deixar de imaginar que foi o que Jesus sentiu ao perguntar pelos outros nove leprosos que não voltaram, que embora não tivessem intimidade com Jesus, o Mestre não lhes era alheio em seu amor por todas as criaturas. A sua pergunta revela que ele não ficou indiferente ao fato. É que quando se pratica um bem ou muitos bens a um ser amado e a pessoa incorpora esse bem em sua vida e depois rejeita asperamente o irmão, a mãe, o amigo que lhe foi alicerce de ascensão e realização, o que se pode experimentar é uma profunda dor pelo outro. Jesus lamenta a ingratidão dos leprosos, como se entristece pela fraqueza de Judas e de Pedro. Mesmo se o nosso eu estiver já desprendido de toda mágoa e suscetibilidade – o que requer obviamente um trabalho bastante cuidadoso – podemos nos entristecer porque o ser amado está agindo de maneira tão acintosa e ingrata, por ele mesmo. Esse sentimento será entremeado de compaixão, sem falsa superioridade. Pode-se entretanto ainda misturar tais impulsos, enquanto estamos a caminho: mágoa com compaixão, tristeza pelo outro, com esperança de recompensa…
Enfim, tudo isso são aprendizados que nos competem assumir em nossa jornada evolutiva. E, tinha Kardec razão ao dizer que as duas únicas e maiores chagas da humanidade são o orgulho e o egoísmo. Estejamos atentos a isso!

Dora Incontri

sexta-feira, 10 de maio de 2013


                       QUANDO DEUS CRIOU AS MÃES

Diz uma lenda que o dia em que o bom Deus criou as mães, um mensageiro se acercou Dele e Lhe perguntou o porquê de tanto zelo com aquela criação

Em quê, afinal de contas, ela era tão especial?

O bondoso e paciente Pai de todos nós lhe explicou que aquela mulher teria o papel de mãe, pelo que merecia especial cuidado.

Ela deveria ter um beijo que tivesse o dom de curar qualquer coisa, desde leves machucados até namoro terminado.

Deveria ser dotada de mãos hábeis e ligeiras que agissem depressa preparando o lanche do filho, enquanto mexesse nas panelas para que o almoço não queimasse.

Que tivesse noções básicas de enfermagem e fosse catedrática em medicina da alma. Que aplicasse curativos nos ferimentos do corpo e colocasse bálsamo nas chagas da alma ferida e magoada.

Mãos que soubessem acarinhar, mas que fossem firmes para transmitir segurança ao filho de passos vacilantes. Mãos que soubessem transformar um pedaço de tecido, quase insignificante, numa roupa especial para a festinha da escola.

Por ser mãe deveria ser dotada de muitos pares de olhos. Um par para ver através de portas fechadas, para aqueles momentos em que se perguntasse o que é que as crianças estão tramando no quarto fechado.

Outro para ver o que não deveria, mas precisa saber e, naturalmente, olhos normais para fitar com doçura uma criança em apuros e lhe dizer: Eu te compreendo. Não tenhas medo. Eu te amo, mesmo sem dizer nenhuma palavra.

O modelo de mãe deveria ser dotado ainda da capacidade de convencer uma criança de nove anos a tomar banho, uma de cinco a escovar os dentes e dormir, quando está na hora.

Um modelo delicado, com certeza, mas resistente, capaz de resistir ao vendaval da adversidade e proteger os filhos.

De superar a própria enfermidade em benefício dos seus amados e de alimentar uma família com o pão do amor.

Uma mulher com capacidade de pensar e fazer acordos com as mais diversas faixas de idade.

Uma mulher com capacidade de derramar lágrimas de saudade e de dor mas, ainda assim, insistir para que o filho parta em busca do que lhe constitua a felicidade ou signifique seu progresso maior.

Uma mulher com lágrimas especiais para os dias da alegria e os da tristeza, para as horas de desapontamento e de solidão.

Uma mulher de lábios ternos, que soubesse cantar canções de ninar para os bebês e tivesse sempre as palavras certas para o filho arrependido pelas tolices feitas.

Lábios que . falar de Deus, do Universo e do amor. Que cantassem poemas de exaltação à beleza da paisagem e aos encantos da vida.

Uma mulher. Uma mãe.

Ser mãe é missão de graves responsabilidades e de subida honra. É gozar do privilégio de receber nos braços Espíritos do Senhor e conduzi-los ao bem.

Enquanto haja mães na Terra, Deus estará abençoando o homem com a oportunidade de alcançar a meta da perfeição que lhe cabe, porque a mãe é a mão que conduz, o anjo que vela, a mulher que ora, na esperança de que os seus filhos alcancem felicidade e paz.


Momento Espírita - v. 5

terça-feira, 7 de maio de 2013



Violência, até quando?



1 -  Por que há tanta violência no mundo?

A violência atual é própria de um mundo de provas e expiações, onde estão reencarnados milhões de Espíritos em estágios primitivos de evolução. Esses Espíritos ainda se deixam dominar por seus instintos e, quando impulsionados pela necessidade material, cometem crimes porque não tem consciência do bem e do mal. Além disso, o desconhecimento da vida espiritual, o materialismo e a indiferença pelos sentimentos dos outros também colaboram para o desgoverno emocional e moral de muitos que se deixam envolver pelo mal.

2 - Por que a mídia exibe tanta violência?

Por que um grande número de pessoas lêem, ouvem, assistem, gostam, comentam. Um programa, um estilo de reportagem ou de notícia só é destaque porque tem audiência significativa, caso contrário não há patrocinadores. A banalização da violência na mídia reforça condutas agressivas, levando a um aumento do número de crimes, além de incentivar a vingança. As cenas violentas na televisão, as notícias criminais no rádio e os jogos violentos (de lutas, tiros e brigas) transmitem mensagens ao subconsciente de que a violência, a crueldade e a vingança são atos “normais”. Para quem sente prazer em ver e comentar tragédias, assistir filmes violentos, salientar o mal, torcer por uma briga, o bem é apenas uma convenção social que não faz parte, ainda, de seus valores. Afinal, quando o “mocinho” bate e mata mais e melhor, ele não se iguala ao bandido?

3 - E quanto à violência doméstica?

No lar, a violência física (bater, ferir) é a forma mais visível deste tipo de violência, mas ela também se manifesta entre os familiares através de palavras de ódio, gritos, castigos, tapas “para educar”, palavrões e situações de imposição da vontade utilizando a força física. As novelas estão cheias de exemplos negativos: brigas, lutas, planos de vingança, discussões. É preciso estar atento para identificar os programas que incentivam a indiferença, banalizando a violência através da repetição de situações, e que acabam por envolver a família em uma vibração prejudicial. Se a audiência dos programas violentos ou que não incentivam bons valores diminuir significativamente, eles terão que ser modificados ou sairão do ar por falta de público.

4 - O que fazer para tornar o mundo menos violento?

Com auto-educação e disciplina interior é possível deixar de sintonizar e comentar o mal, escolhendo melhor o que entra nos lares através da televisão, do rádio, das leituras, bem como por meio dos pensamentos, palavras e atitudes de cada um. Também é essencial investir em educação, moral e intelectual, oportunizando condições de vida digna para todos, sem achar que isso é tarefa apenas do Governo. Utilizando o livre-arbítrio, a solidariedade e o trabalho em favor do próximo, é possível colaborar para a formação de um mundo menos violento, mas todos devem se envolver, sentindo-se responsáveis e agindo em favor do bem comum. Lembremos que quem assiste, comenta ou comete violência fornece energia para que mais violência se materialize. Cada Espírito escolhe o que deseja ver, ouvir, comentar, pensar e fazer, e somente quando o egoísmo e o orgulho não forem mais os agentes determinantes das atitudes dos Espíritos reencarnados na Terra é que haverá paz entre os seres humanos.

Claudia Schimdi - o  cosolador

sexta-feira, 3 de maio de 2013




Sai mais barato perdoar

Geraldinho suplicava que o pai lhe perdoasse, sabia que errara ao bater o carro do “velho” por conta de sua pouca habilidade ao volante, mas não compreendia a razão de sua extrema irritação. Afinal, em sua visão, o carro poderia ser consertado e, convenhamos, acidentes acontecem.

Não tinha intenção de causar qualquer dano ao pai. Todavia, Godofredo, o pai, fazia ouvidos moucos aos pedidos de Geraldinho e vociferava desequilibrado:

 - Isso não tem perdão, Geraldinho, não tem.  E o prejuízo? Quem pagará o conserto do automóvel? Com certeza eu; eu terei de arcar com o prejuízo de sua barbeiragem.

 - Calma, papai, mantenha a calma, perdoe-me... Eu pagarei; ganho pouco, mas posso pagar-lhe se me dividir em algumas prestações.

Furioso com as explicações do filho, Godofredo desferiu potente chute na parede.

O resultado: fratura no pé esquerdo e mais de 6 meses afastado da atividade profissional.

No outro dia, após a cirurgia do pai, Geraldinho entrou no quarto do hospital segurando flores para presenteá-lo, e, sorrindo, disse:
- Sai mais barato perdoar, papai, sai mais barato perdoar...

O perdão é um dos temperos da vida. Deve ser utilizado na medida exata.

Tem gente que perdoa muito. Transita pela vida a perdoar os outros. Por qualquer contrariedade ou até mesmo advertência que recebam, sentenciam bondosos: “Eu perdoo!”. Pessoas assim dão claro sinal de que se ofendem por qualquer coisa. Isso não é bom.
Tem gente, entretanto, que está no oposto. Não perdoa nada nem ninguém. Pessoas assim estão enfermas: dureza no coração.

Mahatma Gandhi afirmava não perdoar seus adversários, afinal, só perdoa quem se sente ofendido, e ele, em sua grandeza espiritual, pairava acima das querelas do ser humano, logo, não se ofendia.

Contudo, Gandhi é uma exceção em meio às regras do mundo.

Profundo conhecedor da natureza humana, Jesus recomendava o perdão sem limites e, em Mateus, V:7, o mestre ensina: 
Bem-aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia. 

Já que na Terra de vez em quando, ou melhor, de vez em sempre, damos nossas escorregadelas e ofendemos ou nos sentimos ofendidos, é necessário perdoar e pedir perdão, enfim, sermos misericordiosos para termos uma vida mais serena.

Se não exercitarmos a dinâmica do perdão em duas vias - conceder e pedir -, é sinal de que, como Godofredo, cedo ou tarde desferiremos potente pontapé na parede, representado na forma da ofensa, da palavra áspera e da ironia ferina, ou, bem pior:

adoeceremos do coração de modo que gastaremos muito, seja para reparar fraturas provindas de nosso desequilíbrio ou nos livrarmos de alguma outra enfermidade oriunda de nossa inflexibilidade.

Aliás, até mesmo Geraldinho aconselhou: “Sai mais barato perdoar!”. 

Wellington Balbo - O consolador