terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MOCIDADE ESPIRITA E SUA IMPORTÂNCIA


                             


             “Quem se aplica a servir, desde os anos da juventude, muit antes da velhice e servido pela vitória da madureza.”
              (“Sol nas almas”, André Luiz, Waldo Vieira, Ed. CEC. lição 19-Mocidade”)

    O Espiritismo é o Consolador Prometido por Jesus, sendo que,  para cumprir sua missão na melhoria moral da Humanidade, os espíritas precisam trabalhar com um objetivo essencial – a educação das almas. A Seara espírita não poderá, em época alguma, desprezar seu próprio futuro, buscando orientar com carinho a criança e o jovem.
    Em meados da primeira metade deste século, os jovens espíritas, sentindo a necessidade de se unirem para estudar a Doutrina Espírita e trabalhar na sua divulgação (pois encontravam incompreensão entre os mais velhos para participarem das atividades doutrinárias), iniciaram nas décadas de 30  e 40, a criação das primeiras MOCIDADES ESPÍRITAS.
Um dos grandes incentivadores na criação dos grupos de jovens espíritas neste período foi a personalidade vigorosa, alegre e atuante de Leopoldo Machado, que residia em  Nova Iguaçu no Estado Rio de Janeiro, e que deu a eficiente colaboração à Federação Espírita Brasileira.
    Estava sendo dados os passos iniciais para os jovens participarem efetivamente do Movimento Espírita Brasileiro.
    Surgiu tanto entusiasmo de união que os moços  conseguiram promover com muita alegria espiritual o 1º CONGRESSO DE MOCIDADES ESPÍRITAS DO BRASIL, de 17 a 23 de abril de 1948.
    Desse memorável encontro em diante, os Grupos de Mocidades Espíritas multiplicaram-se em todos os estados brasileiros, promoveram confraternizações regionais e estaduais, participando ativa e fecundamente dos serviços do Espiritismo.
    O jovem é o sucessor dos mais velhos, podendo muito bem estudar, divulgar, trabalhar e servir junto dos mais experientes, para aprender melhor e produzir mais.
    O moço doa a sua parte de energia, entusiasmo e ideal e recebe dos mais amadurecidos o conhecimento, a prudência e a experiência.

    Jovens sinceros, responsáveis e operosos dentro das linhas da obediência, disciplina e respeito, fizeram aumentar a alegria, a simpatia e o dinamismo nos trabalhos e confraternizações.
Os espírito Superiores valorizam em muito a força espírita jovem que assim afirma no livro: “Caminho, Verdade e Vida” na lição nº 151 – o sábio Espírito Emanuel: “O moço poderá e fará muito, se o espírito envelhecido na experiência não o desamparar no trabalho”.
    Os trabalhadores espíritas mais amadurecidos através dos anos nas atividades doutrinárias não poderão , em circunstância alguma, esquecer-se de apoiar e conviver com os jovens – não para fiscalizar, impor ou proibir – mas, sim, para amar e estimular, ajudar e promover os corações iniciantes nos caminhos do Bem e da Verdade.
    A Juventude necessita muito de orientação doutrinária e direção moral, que deve nascer invariavelmente da convivência fraterna, da amizade espontânea e da simpatia contagiante por parte dos mais velhos.
    Mediante estes sentimentos de fraternais de profundo amor e indispensável entendimento, os jovens não se desviarão das diretrizes luminosas de Jesus e Kardec, conforme nos chama a atenção, na mesma lição do livro referido acima, o responsável mentor espiritual Emmanuel:
    “Não podemos esquecer que esta fase da existência terrestre, é a que apresenta o maior número de necessidades no capítulo da direção.”
O CENTRO ESPÍRITA, que tenha jovens entrosados na tarefa da assistência fraterna e divulgação da doutrina ( sem contudo sobrecarregarem suas responsabilidades com muitas atividades que nesta idade poderão ser prejudiciais ao invés de benéficas), demonstra ser uma equipe altamente produtiva, porque está aproveitando a vitalidade do jovem, para preencher vários setores de serviços que poderão ficar deficientes ou nem mesmo existir, como, por  exemplo, os comentários evangélicos, estudos doutrinários, a evangelização da criança, as campanhas do “quilo”, as visitas fraternas às vilas, favelas ou lares de caridade.
    Não estamos referindo-nos a cargos de direção que tragam muitas responsabilidades e nem tarefas específicas (assistência e doutrinária) de que deverão participar única e exclusivamente os jovens, poderá decretar o isolamento e a separação entre os mais velhos e os mais novos.
    O ideal é que os jovens se misturem com os mais experientes nas atividades da casa espíritas.
   Somente nas reuniões de Mocidade é que poderá predominar o sangue jovem, mesmo assim, indispensável haver por perto alguém por perto que ame muito os jovens, e que por sua vez, seja muito amado por eles, a fim de ser o ponto de ligação fraterna, amiga e boa entre a direção e a juventude.
    As reuniões específicas de Mocidade nos Centros Espíritas são um grande núcleo aglutinador da atenção, interesse e força jovem, constituindo-se num valioso estágio de estudo e aprendizado das Obras de Allan Kardec, esclarecendo a inteligência e iluminando o sentimento, afim de que, mais tarde,possa trabalhar a casa espírita, demonstrando segurança, sinceridade, amadurecimento, convicção e abnegação pela causa do Bem e do Progresso da Humanidade.
   O jovem espírita que começa mais cedo,  o seu esforço do conhecimento da Doutrina Espírita, sua transformação moral, sua reforma íntima e trabalho de amor desinteressado no bem do próximo renova o seu destino mai cedo, pois aproveita melhor o tempo da existência humana e adquire maiores valores de mérito e proteção espiritual, aliviando as dívidas cármicas e aprimorando-se mais rápido.
    Se os pais dedicarem mais cuidado e zelo à posição espiritual dos filhos e os dirigentes espíritas não desprezarem a participação atuante dos jovens, poderemos estar certos de que a juventude brasileira caminhará nos trilhos da educação cristã.


Aprendendo Amando e Servindo - Cap XII




sábado, 23 de fevereiro de 2013

0 VENENO DA TRAIÇÃO



“Todo aquele que repudia sua mulher e casa com outra, comete adultério; e quem casa com a que foi repudiada pelo marido, também comete adultério.” (Mateus 5:32)
 
A traição foi motivo de muitos escândalos em todas as épocas da humanidade, não somente a traição no campo do sentimento, mas nos negócios, nas amizades, nos ideais em todos os aspectos humanos. Trair, seja a confiança, um relacionamento, uma amizade, sempre deixa marcas profundas, sequelas difíceis de apagarem das lembranças; só nos ofendemos por aqueles a quem realmente amamos e que por uma ocasião tenha nos ferido.

O termo traição pode ser entendido como deslealdade, desapontamento da expectativa de alguém; é desvendar os segredos de outrem, entregar um amigo aos seus inimigos; distanciamento; é também decepcionar um amigo, além de ser contada como engano e infidelidade, perfídia, desonestidade. A traição é baseada na mentira. É um dos piores, senão o pior golpe que alguém pode receber de um amigo ou de uma pessoa que se considera ou que se ama.

Há personagens que simbolizam tal atitude, o traidor Joaquim Silvério dos Reis, que entregou Tiradentes, o Alferes mártir do movimento separatista da Inconfidência Mineira, aos seus julgadores e executores, os representantes da Coroa Portuguesa. Por razões políticas, Joana D'Arc foi traída por companheiros franceses. Aprisionada, foi acusada pelos ingleses de heresia e bruxaria, para depois ser condenada por um tribunal da Igreja e queimada viva em Ruão em 1431.

Antes da publicação do “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec é orientado pelo Espírito de Verdade. Ele diz no livro “Obras Póstumas” que: “a missão dos reformadores é cheia de escolhos e perigos; a tua é rude; previno-te, porque é ao mundo inteiro que se trata de agitar e de transformar. Não creias que te seja suficiente publicar um livro, dois livros, dez livros, e ficares tranquilamente em tua casa; não, é preciso te mostrares no conflito; contra ti se açularão terríveis ódios, implacáveis inimigos tramarão a tua perda; estarás exposto à calúnia, à traição, mesmo daqueles que te parecerão mais dedicados; as tuas melhores instruções serão impugnadas e desnaturadas; sucumbirás mais de uma vez ao peso da fadiga; em uma palavra, é uma luta quase constante que terás de sustentar com o sacrifício do teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e mesmo da tua vida, porque tu não viverás muito tempo”.

Allan Kardec então escreve uma nota, no dia 1° de janeiro de 1867, dizendo que: “Passados dez anos e meio depois que esta comunicação me foi dada, e verifico que ela se realizou em todos os pontos, porque experimentei todas as vicissitudes que nela me foram anunciadas. Tenho sido alvo do ódio de implacáveis inimigos, da injúria, da calúnia, da inveja e do ciúme; têm sido publicados contra mim infames libelos; as minhas melhores instruções têm sido desnaturadas; tenho sido traído por aqueles em quem depositara confiança, e pago com a ingratidão por aqueles a quem tinha prestado serviços. A Sociedade de Paris tem sido um contínuo foco de intrigas, urdidas por aqueles que se diziam a meu favor, e que, mostrando-se amáveis em minha presença, me detratavam na ausência. Disseram que aqueles que adotavam o meu partido eram assalariados por mim com o dinheiro que eu arrecadava do Espiritismo. Não mais tenho conhecido o repouso; mais de uma vez, sucumbi; sob o excesso do trabalho, tem-se-me alterado a saúde e comprometido a vida”.

O discípulo Judas Iscariotes entregou o Cristo aos seus inimigos, os sacerdotes hebreus, com um beijo em sua face, ele é preso pelos romanos. É considerado culpado de sacrilégio pelo sumo sacerdote e entregue ao aparelho judicial romano, na pessoa de Pôncio Pilatos. Jesus é condenado, como se fosse um vulgar criminoso, à morte na cruz.

No momento mais difícil da vida do Mestre, Pedro sequer admite que havia convivido com ele, negando por três vezes. Judas, por sua vez, aproveita-se da proximidade de Jesus para denunciá-lo de modo mais eficaz e seguro. Se analisarmos bem, ambos são traidores porque traíram o Mestre, suas atitudes até podem ser explicadas, Pedro estava com medo e inseguro, sentindo-se fragilizado e inútil diante da prisão de Jesus, Judas enganou-se completamente sobre a mensagem do Mestre e por sua ação pacífica e mansa, esperando mais um líder político e belicoso, como o rei Davi.

Pedro e Judas eram seguidores do Mestre, indivíduos que foram escolhidos por ele para ajudar na divulgação da Boa Nova, exemplificando através das ações altruístas e pela conduta reta divulgando a mensagem libertadora e transformadora do Cristo. Muito mais do que apóstolos eram seus amigos, sujeitos que compartilhavam na sua mais profunda intimidade.

Todos nós invariavelmente possuímos imperfeições e fraquezas humanas e temos que entender os erros dos outros, porque podemos passar pela mesma situação. Podemos errar pelos mais diversos motivos, o que torna compreensíveis os erros, mas isso não altera e nem justifica a realidade gerada por uma ação errada.

No entanto, aquele que comete este ato tão condenável que é traição, por si só, já se condenou, pois o sofrimento, o abandono, a discriminação e o escândalo do ato são, às vezes, muito piores, gerando uma prisão íntima que é alimentada pelo remorso e pela própria consciência. Quando não vem, a “dor moral” que custa muito a passar. Às vezes doendo muito mais em quem cometeu o ato, do que na própria vítima. O algoz pelo erro se condena e se julga por duas vezes, por si mesmo e pelo outro.

O arrependimento e a culpa frequentemente são tão dolorosos processos que martelam nossos pensamentos; pelo relato de Mateus, não foi Jesus quem sofreu, mas Pedro e Judas é que sentiram o forte impacto do erro que cometeram. Porque o Mestre sabia o peso da reação perante as duas consciências, Jesus lhes perdoou.

Contudo, é evidente a diferença no modo como os dois lidaram com o erro que cometeram e com o remorso e o sentimento de culpa que sentiram. Judas não aguentou a pressão e suicidou-se, já Pedro tornou-se um grande líder da comunidade cristã. Judas infelizmente não suportou a força do próprio erro e caiu nas malhas da autodestruição, enquanto Pedro foi capaz de superá-lo e ir adiante.

Judas simboliza uma maneira destrutiva e pessimista de encarar as próprias faltas e imperfeições, enquanto Pedro mostra um modo mais altruísta de reagir.
A diferença entre os dois é que Judas não foi capaz de perdoar a si mesmo, de encontrar forças para ter esperança e coragem de seguir adiante, buscando no suicídio uma alternativa para fugir de suas falhas, gerando pelo ato mais dor e sofrimento.

O perdão é uma força libertadora e regeneradora, na medida em que nos dá uma oportunidade de tentarmos de novo e melhorar sempre. Rejeitar a si mesmo é negar a reabilitação íntima, é jogar fora a possibilidade de uma nova oportunidade de ser feliz e fazer diferente, é abandonar os sonhos, a esperança, é desperdiçar aquilo que temos de mais precioso: a vida que o criador nos deu, e isso já é, por si mesmo, uma punição estrondosa. Judas é um pouco de todos nós. Sua figura, por todo desespero e angústia que sofreu, não merece malhação, merece compaixão e compreensão.

São experiências dolorosas que nos pedem reconciliação com a nossa consciência e com aqueles que ferimos; nada pior do que lesar o outro no campo do sentimento; é uma das lições mais complexas de serem superadas, muitas vezes são décadas para se reconstruir um relacionamento rompido pelas marcas da traição, outras vezes são inúmeras reencarnações para se acertar os desatinos ocorridos no passado. A instituição chamada família sempre é o palco destes resgates, maridos e esposas, filhos e pais vão polindo as arestas e desfazendo as diferenças criadas em muitas existências pregressas.

As atitudes de uma pessoa estão diretamente ligadas à sua condição moral e evolutiva, a vida terrena gera as situações onde precisamos nos corrigir, surgindo de forma natural em consequência da nossa conduta, vítimas e algozes se encontrão e aí caberá a cada um lutar ou recair no mesmo erro.

A traição provém de vários fatores que levam para este ato: questões culturais, carências, insatisfação em relação a desejos e expectativas com o (a) parceiro (a), vingança, a busca pelo novo, o estímulo provocado pela sensação de perigo, ou mesmo de poder.

O ato de trair não precisa necessariamente consumar o ato sexual. Não compartilhar mais as regras de fidelidade com o parceiro já pode ser encarado como traição. Uma terceira pessoa presente nos pensamentos é uma traição. Cobiçar a mulher ou o homem alheio é uma forma de adultério, como nos orienta Mateus “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Como tratou Jesus a mulher adúltera?” (5:27-28).

Todo pensamento, palavra e ação que tomamos têm na sua consequência uma direção psíquica voltada para nós mesmos, porque todo pensamento é vida, com isso, tudo aquilo que projetamos retorna à sua origem, iniciando um tipo de comportamento condizente com aquilo que pensamos. Devemos ser responsáveis pelos nossos pensamentos e entender que podemos contribuir com os nossos mais íntimos desejos com a infelicidade ou a felicidade do outro.

Tudo começa no pensamento, Jesus fala da força do pensamento, considerando-o como algo concreto e real. Entendemos que tudo o que sai da mente como pensamento, sentimento, palavra e finalização da ação, retorna na mesma intensidade, pois projetamos os nossos desejos, sonhos e toda vontade, direcionando nossa fé, crenças e os nossos verdadeiros tesouros. Fé não é apenas algo relacionado ao divino, fé é tudo aquilo que você acredita, seja por temor ou amor.


REVISTA O CONSOLADOR Nº 122


 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

SEM PERDÃO NÃO HÁ SAIDA


Jamais haverá paz no mundo se vivermos odiando e alimentando o desejo de vingança.

 Se queremos de fato a paz, é preciso eliminar esses sentimentos inferiores, usando o perdão em qualquer circunstância.

Eis a razão pela qual o Benfeitor Espiritual Emmanuel diz que o perdão não se adquire nos armazéns, pois, na essência, o perdão é uma luz que se irradia, começando por nós mesmos. 

Mas, para irradiarmos essa luz, precisamos sair da “tolerância zero” para a “tolerância máxima”, recomendada e vivida por Jesus. 

Somente perdoando de maneira incondicional aos nossos inimigos, é que poderemos promover definitivamente a paz na Terra.

Na realidade, o mundo hoje passa por uma crise de intolerância devido à falta de perdão.

Segundo Emmanuel, que foi o guia espiritual de Chico Xavier, o perdão é o único antibiótico mental capaz de acabar com as infecções do ressentimento no organismo do mundo.

 Como é sabido,  a falta de perdão também tem sido a causa de inúmeras doenças físicas e mentais, tornando-se um dos males do mundo moderno. 

É bem verdade que nós continuamos clamando por paz, diante de tanta violência que vem ensanguentando a Terra. 

No entanto, se não resolvermos essa crise de intolerância, Emmanuel preconiza que a nossa agressividade acabará expulsando a civilização dos cenários terrestres.

 Porém, para que tal situação não ocorra, aconselhou-nos Jesus que perdoemos os que nos ofendam setenta vezes sete cada ofensa, ou seja, infinitamente.

 Neste sentido, deu-nos o exemplo no alto da cruz, rogando para os seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Perdão, pelo visto, é a base fundamental para construirmos um mundo de paz. 

Por isso, é preciso abolir a pena de talião, que prescreve o direito de arrancarmos o olho de alguém que tenha arrancado o nosso.

Eis por que Gandhi chegou à conclusão de que, se continuarmos praticando a lei do “olho por olho”, todos terminaremos cegos.

Sem o perdão, continuaremos alimentando o círculo vicioso do ódio e da vingança.

 Perdoar, enfim, é a única saída para a paz!

Gerson Simões Monteiro - O consolador

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

OBSTÁCULOS E RESULTADOS



A compassividade de Deus, através de suas leis justas e perfeitas, conhece por antecipação todas as nossas necessidades e da mesma forma os nossos méritos muito melhor do que nós mesmos.
As benesses de Deus são entregues de igual modo para todos. A sua bondade e misericórdia usam de um só e justo critério de distribuição para todos.
Acontece, porém, que a Lei do Merecimento, que regula essa distribuição, determina que cada um receba de conformidade com a sua capacidade, pois ela se regulamenta pelas ações individualizadas. 
Assim sendo, compreendemos que cada um de nós está possuindo aquilo que precisa ter e passando exatamente por aquilo que deve passar. Isso porque Deus não erra, não castiga e não persegue. “A cada um segundo suas obras”, ensinou Jesus.
É natural desejarmos e lutarmos por soluções através de benefícios de ordem espiritual que venham alterar o quadro de nossas necessidades e sofrimentos. Entretanto, se nos dedicarmos ao estudo sério do Espiritismo, que ajuda o nosso entendimento a respeito da justiça divina, compreenderemos que não há como conseguir isso através de ações milagrosas e nem com urgência. A lei divina que é imutável não vai alterar seu curso só porque estamos com pressa.
Será natural então aceitarmos a ideia de que teremos que construir o nosso próprio crédito espiritual, alterando assim o nosso merecimento.
O Espiritismo, na qualidade da Terceira Revelação dada ao homem, nos ajuda nesta parte; primeiro a descobrir qual o problema que está causando as dificuldades por que passamos e depois orienta-nos como agir, do que carecemos e o que nos é possível fazer no encontro da solução adequada.
O homem comum, aquele que ainda não despertou o interesse por questões a respeito da vida espiritual, encontra muitas dificuldades para esse despertamento consciencial. Felizes são os que venham a se interessar pelos estudos espíritas, pois passam a compreender que primeiro é necessário identificar nossa realidade intima, o que somos, e, a seguir, aceitar as alterações a serem processadas em nossa vida, pondo as mãos no arado para as mudanças que precisam ser feitas.
É importante ficarmos alertas para com as companhias espirituais que nos cercam por afinidade, pois, segundo André Luiz, existe o “Hálito Mental”, o reflexo do que pensamos e sentimos, através do qual somos identificados pelo mundo espiritual. Nosso esforço em melhorar implica na troca desses companheiros espirituais. Essa é a Lei de Deus, lei do merecimento.
Para essa tarefa, comecemos por trabalhar o nosso egoísmo, pois de todas as imperfeições humanas é a mais difícil de ser extirpada, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem é ainda escravo, por estar muito perto de sua origem, e ter dificuldade dela se libertar.
A boa vontade é instrumento indispensável para que comecemos a mudar o falso modo de encarar as coisas e interpretar a vida, usando o bom senso na própria avaliação. Em verdade somos responsáveis pelo nosso comportamento, por sermos pessoas adultas e agora conscientes de onde viemos, o que estamos fazendo e para iremos depois que a morte nos levar daqui. Assim devemos controlar nossas ideias, rejeitando os pensamentos inferiores e perturbadores, estimulando as tendências boas e repelindo as más.
Tomemos conta de nós. Deus nos concedeu o livre-arbítrio para essa finalidade. Aprendamos a controlar em todos os instantes e em todas as circunstâncias o nosso poder e veremos que ele é maior do que pensamos. 
Quase sempre encaramos as pessoas de modo desconfiado, indiferente, principalmente aquelas que são de nossa intimidade imediata, o que denota desrespeito e desamor. Procuremos mudar essa maneira de agir, colocando atenção pelos outros. Exercitemos estes conceitos e verificaremos os resultados positivos advindos daí.
Tudo isso é muito importante se colocado em prática nos dias de nossa vida. Estaremos criando em torno de nós a empatia e o afeto daqueles com quem convivemos e assim iremos ganhando bônus espirituais que muito nos ajudarão na obtenção dos resultados possíveis de alcançar na presente existência terrena. Será, sem dúvida, um passo a mais na nossa caminhada.


Este artigo foi editado e organizado por RODRIGUES FERREIRA - o CONSOLADOR



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A CAMINHO DO AMOR


“Desculpismo sempre foi a porta de escape dos que abandonaram as próprias obrigações.” (2)



O chamamento divino tem sido constante ao longo dos milênios para toda a Humanidade, que, no entanto, o tem relegado a segundo plano, em favor dos interesses materiais.

- “Estou muito jovem ainda”...
- “Sou velho demais”...
- “Tenho muitos compromissos e não posso atender ao convite”...
- “A casa toma muito meu tempo”...

Deus chama as criaturas humanas para a posse dos bens espirituais, mas aqueles que são convidados, e não aceitam, não podem ser alimentados espiritualmente, não porque o alimento lhes seja negado, mas porque não estão interessados em recebê-lo.
 Seus focos de atenção estão voltados para as satisfações de ordem material. As evasivas para o não atendimento ao convite são tão veementes e tão convincentes, que ouvintes menos atentos ficam convencidos de que estão diante de pessoas sofredoras, e tão incapazes, que acabam por ajudá-las nessa fuga.
 Todavia, enganando a si próprias, terminam um dia por acordar envoltas em comprometimentos ruinosos, consequência de suas leviandades e, constrangidas, rogam a oportunidade de novas reencarnações.

O ser humano, naturalmente, volta-se para a busca da felicidade, da realização pessoal. É como uma intuição que tem do próprio futuro, ainda que de forma nebulosa. Mesmo sem ter essa certeza, ele a procura, como algo pleno, ignorando que, na verdade, essa é a nossa destinação, como Espíritos imortais que somos.

O fato é que não temos, ainda, a perfeita compreensão da nossa identidade. Não sabemos quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Ignoramos a nossa condição de filhos de Deus, de seres espirituais, portadores de dons, de faculdades, de forças latentes que, aos poucos, vamos desenvolvendo através do próprio esforço. 

Seres portadores da própria essência divina que, transitoriamente, sob vestes carnais – apenas de passagem pelo mundo –, buscam enriquecer-se com novas experiências, que o campo material oferece, favorecendo nossa condição.

Morrer é viajar, e o que levamos é somente o que somos
Entretanto, nossa atenção, sempre absorvida pelos interesses materiais, ofusca a visão da nossa vida infinita, e permanecemos iludidos, julgando que a felicidade está na satisfação dos nossos desejos imediatos; imaginando que podemos ser felizes, apenas por possuirmos isto ou aquilo; por desfrutarmos desta ou aquela posição social; por determos algum tipo de poder transitório, esquecidos da nossa realidade espiritual.

Se as necessidades materiais – transitórias – são importantes por estarmos revestidos de um corpo material, muito mais importantes são as espirituais, tendo em vista que são eternas, pois prosseguiremos vivendo, ainda mais intensamente, após a passagem pelo túmulo.

Diz-nos um Instrutor Espiritual que morrer é viajar e o que levamos é somente o que somos. Assim, todo conhecimento adquirido, todas as virtudes e dons desenvolvidos, em nossa vida material, são patrimônios eternos do Espírito. É o tesouro que não se perde, que não se tem roubado e que não pode ser devorado pelas traças. 

Jesus ensinou-nos a buscar, antes, o Reino de Deus e Sua Justiça, porque tudo o mais nos seria dado por acréscimo de Sua Misericórdia. Por essa razão, todo conhecimento, todas as virtudes e todas as qualidades morais representam poder espiritual, que se reflete, imediatamente, na vida material, transformando a nossa realidade por completo, em uma vida mais bela, porque em harmonia com as Leis Divinas.   

E o caminho para transformarmos a nossa realidade é o caminho do amor a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Em síntese, é a prática do Bem.
O sentimento religioso que possuímos, embora não tenhamos, muitas vezes, uma religião – como a definimos –, deixa-nos em uma situação privilegiada para atendermos ao chamamento divino.  

O berço é somente o início de uma viagem laboriosa 
Em se tratando do espírita, particularmente, muito mais isso é verdadeiro, pois contamos com o conhecimento da vida espiritual e com a consciência de que não há fatalidade absoluta nos acontecimentos que nos cercam, porque sabemos que não somos marionetes, uma vez que somos dotados de livre-arbítrio, razão e inteligência.

Já compreendemos, perfeitamente, o que significa o ensinamento evangélico de que “a cada um será dado segundo suas obras”, endossado pelos Espíritos Superiores como Lei de Causa e Efeito e confirmado pela Ciência Humana como Lei de Ação e Reação, lei universal a nos chamar à responsabilidade dos nossos atos. 

Não desconhecemos a afirmativa de Jesus de que, se semearmos o bem, o bem será nossa colheita. Temos, portanto, liberdade para agir e modificar, a qualquer tempo, o nosso caminhar.

Diante dos conhecimentos com que a Doutrina Espírita nos brinda – através de estudos nobremente conduzidos – não vemos mais a ideia da reencarnação como dogma religioso ancestral, mas como um fato comprovado, cientificamente, pela Psicologia Transpessoal; temos o conhecimento de que somos Espíritos imortais; que o berço é somente o início de uma viagem laboriosa para a alma necessitada de experiência; que continuaremos vivos após o cumprimento da tarefa planetária, que nos compete realizar por Misericórdia Divina; que é permanente a comunicação e a solidariedade entre os dois planos da Vida; que quando oramos, mentalizando os entes queridos que estão na dimensão espiritual, nós os beneficiamos, os fortalecemos com nossa mensagem de amor e paz, na mesma medida em que somos amparados por eles, muitas vezes, sem suspeitarmos disso.

A luz que o Espiritismo coloca em nossas mentes faz com que não tenhamos mais dúvidas acerca da existência de muitas moradas na casa do Pai – sejam estados físicos ou conscienciais.
  
Que estamos fazendo com o conhecimento adquirido? 
Após conhecermos as obras da codificação da Doutrina Espírita, através das mensagens de O Evangelho segundo o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, O Céu e O Inferno, O Livro dos Médiuns e A Gênese, e de outras obras contemporâneas, psicografadas por médiuns sérios e abnegados, e de estudiosos honestos em suas colocações, dando-nos informações detalhadas dos diversos mundos, que se estendem ao infinito, em perfeito acordo com as descobertas científicas de físicos, astrônomos, que nos revelam um Universo em expansão, o planeta Terra – que é hoje o nosso mundo – descortina-se como um minúsculo ponto no espaço, situado na periferia de uma modestíssima galáxia, a Via Láctea, entre bilhões de outras galáxias.

Com todo esse conhecimento, por que duvidarmos, ainda, da nossa imortalidade? Por que continuarmos, excessivamente, apegados aos interesses materiais que terminam por nos infelicitar, quando não usados com bom senso e caridade?

 Será que, com todas essas informações, já temos condição de responder a questões que nos acompanham a caminhada, como por exemplo: “Somos plenamente felizes?”, “Somos criaturas realizadas?

 “Como estamos vivendo?”, “O que estamos fazendo com o conhecimento adquirido, em nosso benefício e daqueles que foram colocados sob nossos cuidados para progredirem?”.

É importante refletirmos sobre a luta dos homens para solucionar os problemas sociais da pobreza, do vício, do crime, das enfermidades, por ser uma luta inglória, na medida em que vamos colecionando fracassos incontáveis, porque até então tem sido alicerçada sobre conceitos materialistas.

O homem, ignorando sua realidade espiritual, não se deu conta de que todos esses problemas têm sua origem no Espírito – orgulho, egoísmo, vaidade, ambição, avareza, possessivismo, para citar apenas alguns – e, portanto, somente pelo Espírito esses males poderão ser vencidos.  

Todos temos condições de assumir tarefas no Bem 
Emmanuel diz-nos que hoje estamos passando por muitas dificuldades, mas se não mais ignorarmos que a nossa realidade, hoje, é a consequência dos nossos atos de ontem – por força da Lei de Causa e Efeito, que atua mecanicamente em todo o Universo –, não podemos esquecer que temos hoje condições para criar, pela força da mesma Lei Divina, um novo destino para nós.

É fundamental termos a consciência da possibilidade de recomeçar, sempre, desde que, realmente, assim desejarmos, pois cada dia que amanhece é uma nova oportunidade que a vida nos oferece. Mas é importante sermos firmes nesse recomeço. É imprescindível não cultivarmos lembranças amargas, desfazendo-nos do pessimismo, dos enganos anteriores, das aflições que nos impedem de progredir.

Todos temos condições de assumir tarefas no Bem. As quedas que vivemos no passado e que muitas vezes nos colocam na posição de criaturas menos dignas – assim pensamos –, na qual os remorsos, sentimentos de culpa e complexos de inferioridade nos fazem estagnar num tempo ido, engessam nossas ações para o avanço em direção ao futuro.

O alívio que buscamos para a nossa libertação, encontramo-lo em Jesus, em Seu chamado para que fôssemos a Ele, atribulados que estamos, pois Ele nos aliviará.

Aceitando o convite, é inevitável o nosso encontro com o consolo, a esperança, a resignação e, mais que tudo isso, o entendimento das nossas potencialidades para caminharmos, com segurança, sobre os próprios pés, rumo a um porvir muito mais feliz.

Todos nós, sem exceção, temos ainda limitações morais para caminharmos sozinhos. Entretanto, ao toque do Evangelho em nossos corações, eis-nos transformados para o Bem, que ainda hoje podemos realizar, desfazendo o mal do passado, porque o amor cobre a multidão de pecados.
 E com calma, paciência e orientação segura, que os ensinamentos de Jesus nos propiciam, construiremos uma vida superior compatível com a nossa condição de filhos de Deus. 

Bibliografia:  
1 - EMMANUEL (Espírito), Fonte Viva – [psicografo por] Francisco Cândido Xavier – 16. ed.; Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro/RJ – 1988, lições 17, 55, 82 e 83.
2 - Palavras de Vida Eterna – [psicografado por] Francisco Cândido Xavier; 20. ed., Comunhão Espírita Cristã – Uberaba/MG – 1995, lições 127 e 128. 

LEDA MARIA FLABOREA - O CONSOLADOR

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ATRÁS O TRIO ELÉTRICO TAMBÉM VAI QUEM JÁ MORREU




                           
 Atrás do trio elétrico só não vai que já morreu...”. – Caetano Veloso

Ao contrário do que reza o frevo de Caetano Veloso, não são somente os “vivos” que formam a multidão de foliões que se aglomera nas ruas das grandes cidades brasileiras ou de outras plagas onde se comemore o Carnaval. O Espiritismo nos esclarece que estamos o tempo todo em companhia de uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. Essa massa de espíritos cresce sobremaneira nos dias de realização de festas pagãs, como é o Carnaval. Nessas ocasiões, como grande parte das pessoas se dá aos exageros de toda sorte, as influências nefastas se intensificam e muitos dos encarnados se deixam dominar por espíritos maléficos, ocasionando os tristes casos de violência criminosa, como os homicídios e suicídios, além dos desvarios sexuais que levam à paternidade e maternidade irresponsáveis. Se antes de compor sua famosa canção o filho de Dona Canô tivesse conhecido o livro “Nas Fronteiras da Loucura”, ditado ao médium Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, talvez fizesse uma letra diferente e, sensível como o poeta que é, cuidaria de exortar os foliões “pipoca” e aqueles que engrossam os blocos a cada ano contra os excessos de toda ordem. Mas como o tempo é o senhor de todo entendimento, hoje Caetano é um dos muitos artistas que pregam a paz no Carnaval, denunciando, do alto do trio elétrico, as manifestações de violência que consegue flagrar na multidão.

No livro citado, Manoel Philomeno, que quando encarnado desempenhou atividades médicas e espiritistas em Salvador, relata episódios protagonizados pelo venerando Espírito Bezerra de Menezes, na condução de equipes socorristas junto a encarnados em desequilíbrios.

Philomeno registra, dentre outros pontos de relevante interesse, o encontro com um certo sambista desencarnado, o qual não é difícil identificar como Noel Rosa, o poeta do bairro boêmio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, muito a propósito, integrava uma dessas equipes socorristas encarregadas de prestar atendimento espiritual durante os dias de Carnaval. Interessado em colher informações para a aprendizagem própria (e nossa também!), Philomeno inquiriu Noel sobre como este conciliava sua anterior condição de “sambista vinculado às ações do Carnaval com a atual, longe do bulício festivo, em trabalhos de socorro ao próximo”. Com tranqüilidade, o autor de “Camisa listrada” respondeu que em suas canções traduzia as dores e aspirações do povo, relatando os dramas, angústias e tragédias amorosas do submundo carioca, mas compreendeu seu fracasso ao desencarnar, despertando “sob maior soma de amarguras, com fortes vinculações aos ambientes sórdidos, pelos quais transitara em largas aflições”.

No entanto, a obra musical de Noel Rosa cativara tantos corações que os bons sentimentos despertados nas pessoas atuaram em seu favor no plano espiritual; “Embora eu não fosse um herói, nem mesmo um homem que se desincumbira corretamente do dever, minha memória gerou simpatias e a mensagem das musicas provocou amizades, graças a cujo recurso fui alcançado pela Misericórdia Divina, que me recambiou para outros sítios de tratamento e renovação, onde despertei para realidades novas”. Como acontece com todo espírito calceta que por fim se rende aos imperativos das sábias leis, Noel conseguiu, pois, descobrir “que é sempre tempo de recomeçar e de agir” e assim ele iniciou a composição de novos sambas, “ao compasso do bem, com as melodias da esperança e os ritmos da paz, numa Vila de amor infinito...”.

Entre os anos 60 e 70, Noel Rosa integrava a plêiade de espíritos que ditaram ao médium, jornalista e escritor espírita Jorge Rizzini a série de composições que resultou em dois discos e apresentações em festivais de músicas mediúnicas em São Paulo. O entendimento do Poeta da Vila quanto às ebulições momescas, é claro, também mudou: “O Carnaval para mim, é passado de dor e a caridade, hoje, é-me festa de todo, dia, qual primavera que surge após inverno demorado, sombrio”.

“A carne nada vale”. O Carnaval, conforme os conceitos de Bezerra de Menezes, é festa que ainda guarda vestígios da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre os encarnados, marcado pelas paixões do prazer violento. Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um dia tudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seu lugar, então, predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade. A folia em que pontifica o Rei Momo já foi um dia a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica, quando a festa se chamava bacanalia; na velha Roma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão, chamou-se saturnalia e nessas ocasiões se imolava uma vítima humana.

Na Idade Média, entretanto, é que a festividade adquiriu o conceito que hoje apresenta, o de uma vez por ano é lícito enlouquecer, em homenagem aos falsos deuses do vinho, das orgias, dos desvarios e dos excessos, em suma.

Bezerra cita os estudiosos do comportamento e da psique da atualidade, “sinceramente convencidos da necessidade de descarregarem-se as tensões e recalques nesses dias em que a carne nada vale, cuja primeira silaba de cada palavra compõe o verbete carnaval”. Assim, em três ou mais dias de verdadeira loucura, as pessoas desavisadas, se entregam ao descompromisso, exagerando nas atitudes, ao compasso de sons febris e vapores alucinantes. Está no materialismo, que vê o corpo, a matéria, como inicio e fim em si mesmo, a causa de tal desregramento. Esse comportamento afeta inclusive aqueles que se dizem religiosos, mas não têm, em verdade, a necessária compreensão da vida espiritual, deixando-se também enlouquecer uma vez por ano.

Processo de loucura e obsessão. As pessoas que se animam para a festa carnavalesca e fazem preparativos organizando fantasias e demais apetrechos para o que consideram um simples e sadio aproveitamento das alegrias e dos prazeres da vida, não imaginam que, muitas vezes, estão sendo inspiradas por entidades vinculadas às sombras. Tais espíritos, como informa Manoel Philomeno, buscam vitimas em potencial “para alijá-las do equilíbrio, dando inicio a processos nefandos de obsessões demoradas”. Isso acontece tanto com aqueles que se afinizam com os seres perturbadores, adotando comportamento vicioso, quanto com criaturas cujas atitudes as identificam como pessoas respeitáveis, embora sujeitas às tentações que os prazeres mundanos representam, por também acreditarem que seja lícito enlouquecer uma vez por ano.

Esse processo sutil de aliciamento esclarece o autor espiritual, dá-se durante o sono, quando os encarnados, desprendidos parcialmente do corpo físico, fazem incursões às regiões de baixo teor vibratório, próprias das entidades vinculadas às tramas de desespero e loucura. Os homens que assim procedem não o fazem simplesmente atendendo aos apelos magnéticos que atrai os espíritos desequilibrados e desses seres, mas porque a eles se ligam pelo pensamento, “em razão das preferências que acolhem e dos prazeres que se facultam no mundo íntimo”. Ou seja, as tendências de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são o imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do desequilíbrio, o qual, em suma, não existiria se os homens se mantivessem no firme propósito de educar as paixões instintivas que os animalizam.

Há dois mil anos. Tal situação não difere muito dos episódios de possessão demoníaca aos quais o Mestre Jesus era chamado a atender, promovendo as curas “milagrosas” de que se ocupam os evangelhos. Atualmente, temos, graças ao Espiritismo, a explicação das causas e conseqüências desses fatos, desde que Allan Kardec fora convocado à tarefa de codificar a Doutrina dos Espíritos. Conforme configurado na primeira obra da Codificação – O Livro dos Espíritos -, estamos, na Terra, quase que sob a direção das entidades invisíveis: “Os espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações?”, pergunta o Codificador, para ser informado de que “a esse respeito sua (dos espíritos) influência é maior do que credes porque, freqüentemente, são eles que vos dirigem”. Pode parecer assustador, ainda mais que se se tem os espíritos ainda inferiorizados à conta de demônios.

Mas, do mesmo modo como somos facilmente dominados pelos maus espíritos, quando, como já dito, sintonizamos na mesma freqüência de pensamento, também obtemos, pelo mesmo processo, o concurso dos bons, aqueles que agem a nosso favor em nome de Jesus. Basta, para tanto, estarmos predispostos a suas orientações, atentos ao aviso de “orar e vigiar” que o Cristo nos deu há dois mil anos, através do cultivo de atitudes salutares, como a prece e a praticada caridade desinteressada. Esta última é a característica de espíritos como Bezerra de Menezes, que em sua última encarnação fora alcunhado de “o médico dos pobres” e hoje é reverenciado no meio espírita como “o apostolo da caridade no Brasil”.


Fonte: VISÃO ESPÍRITA

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

CRIANÇAS

                                              

C R I A N Ç A S
Há pouco mais de 300 anos que a civilização descobriu a infância.
 O que significa isso? 
A criança não valia nada durante toda a história – não era sujeito de direitos, não era lamentada, se morta; não havia literatura a ela direcionada, as escolas não tinham métodos adequados para desenvolver-lhe os talentos, a criança não tinha voz alguma e… não era considerada criança.
 Isso significa que não era vista como um ser em desenvolvimento, com necessidades especiais, merecedora de respeito em sua fase de amadurecimento. Não se condenava socialmente a pedofilia, o espancamento de crianças na escola e em casa era coisa corriqueira, o trabalho infantil era legal.
Depois de grandes educadores, como Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Montessori, Janusz Korzcak, que trabalharam incansavelmente pela infância, demonstrando nos últimos séculos, que a criança é criança, e não um adulto em miniatura, tem que ser tratada e respeitada enquanto tal – uma nova cultura e até uma nova legislação passaram a vigorar em muitos países. A Declaração Universal dos Direitos das Crianças inspira legislações locais, como o nosso Estatuto da Criança e do Adolescente.
Entretanto, apesar desses avanços, ainda a criança está longe de ter a voz que merece, de ser respeitada em sua especificidade infantil, de ser tratada com o amor que faria com que ela desabrochasse plenamente suas potencialidades.
Apesar de condenada socialmente, a pedofilia é um fato por demais frequente em todo o mundo e, o que é pior, dentro das famílias de todas as classes sociais; a violência contra a criança, em casa ou na sociedade é algo por demais comum; a exploração do trabalho infantil toma proporções indecentes na China e acontece diante de nosso nariz, aqui mesmo no Brasil! Então, a militância para que as crianças tenham seus direitos, tenham voz, é uma necessidade constante, uma urgência humanitária. Acontece que todos os setores sociais têm sua representatividade, sua militância, sua voz: as mulheres, há 200 anos têm lutado por sua igualdade e suas conquistas são patentes; as minorias étnicas, sexuais – todos vão às ruas, reivindicam… mas e a criança? Ela é tutelada! Não pode denunciar o pai que a estrupa, a mãe que a massacra, a escola que a tortura psiquicamente e não cumpre seu papel… Não pode ir às ruas, ao Congresso Nacional, não têm sites, não aparece entrevistada na televisão, opinando sobre as condições em que vive. A criança não tem canais de manifestação e de reivindicação – quando ela pode falar, como adulta, o estrago já foi feito, o sofrimento já foi desmedido, a marca já se tornou irreversível. Então, cumpre-nos falar por ela, lutar pela criança e emprestar-lhe a nossa voz.
Mas se pensamos que a criança só é desrespeitada nesses casos extremos de abuso sexual, espancamento e trabalho infantil, estamos muito enganados. Digo sempre que a infância é o último reduto da tirania. Em nosso cotidiano, entre pessoas “normais” e “civilizadas”, que não admitiriam a pedofilia, a violência e a exploração, ainda aí a criança é desrespeitada em todas as situações. Vamos enumerar algumas:
• Na propaganda diária da TV, a que está exposta e de que os pais não reclamam, ou se reclamam, nada fazem ou acham que nada podem fazer. Aí as crianças são manipuladas para um consumismo desenfreado, para uma alimentação de lixo, para uma arte degenerada, para uma estimulação sexual precoce e para uma violência desmedida… e ninguém toma uma atitude.
• A escola, com lousa, nota, provas, aulas de desinteressantes de 50 minutos, dadas por professores arcaicos, despreparados, mal pagos, desestimulados … é uma prisão da criatividade infantil, um processo de morte lenta de seus talentos, de sua curiosidade, de seu impulso de desenvolvimento. Essa escola tradicional nunca atendeu às necessidades, curiosidades e capacidades da infância e, muito menos, da infância do século XXI!
• A negligência a que a criança hoje está exposta. Muitos pais (de todas as classes sociais) não colocam os filhos em primeiro lugar e a criança deveria ser sempre a prioridade na família, na escola e na sociedade. Pois a criança é a melhor parte da humanidade, ainda não corrompida, com promessas maravilhosas, que se não cumpridas, se tornam essa frustração dos adultos amargados. A criança é o futuro e quem não prioriza o futuro está se condenando ao retrocesso! As crianças estão com fome de atenção, de carinho, de diálogo, de olhos nos olhos!
• As relações com as crianças ainda padecem de muitos vícios imperdoáveis: gritamos o tempo todo com esses seres sensíveis; achamos normal mentir para essas pessoinhas tão sinceras e crédulas… Temos o hábito de desprezar suas opiniões e de não conversarmos com elas, de maneira respeitosa, serena e amorosa!
 Como se vê, ainda temos muito o que conquistar para que as crianças tenham uma vida feliz nesse planeta, recebam o amor que merecem e possam desabrochar como seres inteiros, para uma vida plena!
 Há muitos anos, num congresso em Curitiba, elaborei o que chamei de Decálogo do Educador Espírita (mas, se tirarmos o item da reencarnação, pode ser simplesmente o Decálogo do Educador):
1)    Prometo ajudar a extrair da criança seus germes divinos, reverenciando nela a presença do Criador.
2)    Prometo olhar a criança como um ser integral, individualidade livre, dotada de direitos.
3)    Prometo me dedicar à criança com amor e respeito.
4)    Prometo permitir a criança aprender por si mesma.
5)    Prometo aprender da criança a sua ternura, sinceridade e senso de justiça.
6)    Prometo ser exemplo à criança de integridade e de bom senso.
7)    Prometo ser para a criança o amigo que ouve, o pai que oferece segurança, a mãe que dá aconchego.
8)    Prometo enxergar na criança um ser reencarnado com uma herança a ser trabalhada.
9)    Prometo favorecer a criança para que descubra e cumpra sua tarefa existencial.
10) Prometo abrir à criança o caminho para um mundo mais fraterno e feliz.

Às crianças do mundo inteiro, o voto de que num breve futuro, todos os dias sejam das crianças!

Dora Incontri