domingo, 25 de janeiro de 2015


                   IMATURIDADE DO SENSO MORAL

A compreensão da parte essencial do Espiritismo exige
um certo grau de sensibilidade
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral
e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”
- Allan Kardec
 
Numa página psicografada pelo médium René Pessa, em Rio das Flores, aprazível e morigerada cidade do Estado do Rio de Janeiro, terra natal de Dona Yvonne do Amaral Pereira, essa benfeitora abençoada identificou duas causas principais do mecanismo de interferência dos inimigos da Luz na seara espírita:

Primeira: 

É o próprio companheiro espírita que recebe todo o repositório de informações de uma Casa Espírita, mas que não o vivencia no dia a dia de sua existência.

Segunda: É a persistência dos chamados “donos dos Centros Espíritas”, que não observam os conteúdos da Codificação Kardequiana, deixando-se levar pelos reflexos da “modernidade” das teorias espiritualistas, que jamais se aproximam do vero exercício da Doutrina Espírita. (Torna-se evidente que a segunda causa decorre da primeira.)

Mas, por que o companheiro espírita, aquele que se diz “trabalhador” da Seara do Cristo, assenhoreando-se de todo o repositório de informações do conteúdo doutrinário do Espiritismo, torna-se um aliado das sombras, oferecendo “brechas” para a interferência nefasta e destruidora dos agentes das trevas?

Antes de apelar para Kardec, em busca da solução, devemos nos lembrar de que até mesmo o Colégio Apostólico teve o seu Judas. 

Além disso, arriscamos uma hipótese: movidas pelo orgulho, pelo egoísmo e pelo abominável personalismo dissolvente, tais criaturas não atentam para o lamentável corolário de seus “labores” na seara espírita, onde comumente não primam pela fidelidade doutrinária. 

Mas isso ainda não é tudo, porque não podemos subestimar a influência ativa e persistente dos Espíritos obsessores. 

Com tais ingredientes tão explosivos, fabrica-se a “dinamite” da cizânia, do destempero e da irresponsabilidade, com o consequente desmantelamento dos profícuos e sérios trabalhos da Casa Espírita e a evasão dos bons trabalhadores que os executavam.

No livro “Tormentos da Obsessão” de Manoel Philomeno de Miranda, psicografado por Divaldo Franco, podemos observar o destino que aguarda no Mundo Maior esses pretensos espíritas. 

Aliás, André Luiz também já deu mostras dessa realidade no livro “Os Mensageiros”, psicografado por Chico Xavier.

Kardec, assessorado pelos Maiores da Espiritualidade, elucida o problema da seguinte forma1
“(...) Muitos dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos.

 A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. 

A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direto à inteligência.

 Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo. Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum?

 Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. 

Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado.

Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do Infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. 

Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. 

Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. 

Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura cediça e monótona. 
Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os arcanos do Criador. 

Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. 

Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.

Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. 

O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé”.

Identificamos, assim, com Kardec, ser a imaturidade do senso moral o vulnerável “tendão de Aquiles” dos “trabalhadores” espíritas, que tantos danos intestinos têm provocado no movimento doutrinário.

Jesus conclamou2: “Resplandeça a vossa luz diante dos homens”, e para tal, segundo Martins Peralva, torna-se necessário o aprendizado, a reflexão e o automelhoramento, através do trabalho.

Continua Peralva3: “(...) O interesse do Senhor é que os Seus discípulos de ontem, de hoje e de qualquer tempo, sejam enobrecidos por meio de uma existência moralizada, esclarecida, fraterna...

 O Evangelho aí está, como presente dos Céus, para que o ser humano se replete com as suas bênçãos, se inunde de suas luzes, se revigore com as suas energias, se enriqueça com os seus ensinos eternos.

O Espiritismo, em particular, como revivescência do Cristianismo, também aí está, ofertando-nos os oceânicos tesouros da Codificação. 

Então de que mais precisa o homem para engrandecer-se, pela cultura e pelo sentimento, se lhe não faltam os elementos de renovação, plena, integral, positiva?!... Que falta ao homem moderno, usufrutuário de tantas bênçãos, para que se lhes resplandeça a luz?!...

A renovação do homem, sob o ponto de vista moral, intelectual e espiritual, é difícil, sem dúvida; mas é francamente realizável.

 É indispensável, tão somente, disponha-se ele ao esforço transformativo, com a consequente utilização desses recursos, desses meios, desses elementos que o Evangelho e o Espiritismo lhe fornecem farta e exuberantemente, sem a exigência de qualquer outro preço a não ser o preço de algo bem simples: a boa vontade, a disposição de automelhoria.

(...) Renovação moral, cultural, espiritual... Tal o sublime programa ao qual fomos convocados por Jesus. 

A estrada é difícil, o caminho é longo, repleto de espinhos e pedras, de obstáculos e limitações, porém, a meta é perfeitamente alcançável.

 E uma condição apenas é indispensável: um pouco de boa vontade. Boa vontadeério coelho construtiva, eficiente, positiva... O resto virá, no transcorrer natural da longa viagem...”.
 
[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125. ed. Rio: FEB, 2006, cap. XVII, item 4.
[2] - Mateus, 5:16.
[3] - PERALVA, Martins. Estudando o Evangelho.  3. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1975, cap.: “Renovação”.

Rogério Coelho - O Consolador

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

                        Ferias e feriados. Lá vamos nós outra vez

No meu livro anterior – “Inquietações de um Espírita” – há um capítulo chamado

 “As férias e o centro espírita”

Nele, comento Férias e feriados. Lá vamos nós outra vez

No meu livro anterior – “Inquietações de um Espírita” – há um capítulo chamado “As férias e o centro espírita”. Nele, comento sobre trabalhadores e frequentadores de centros espíritas que somem por dois ou três meses quando as atividades das quais participam entram em recesso em dezembro, janeiro e fevereiro. 

Volto ao assunto por julgar pertinente e por achar que se trata de um fato mais corriqueiro – e preocupante – do que eu imaginava.
Fui responsável por alguns anos pelas escalas das reuniões públicas doutrinárias da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep).

 Certa vez, Cilene (nome fictício), expositora escalada para falar no sábado seguinte ao carnaval, me ligou dias antes do início das festas de momo. Ela iria estender o feriado além da terça-feira gorda e viajar com marido e filhos.

 Por isso, não poderia fazer a palestra e pediu para que eu escalasse outra pessoa. Sem problema. Trocas na escala acontecem. Além disso, todo mundo tem direito de aproveitar um feriado para dar uma relaxada.

No entanto, o que ela disse em seguida me surpreendeu. Cilene alegou que não deveria haver reunião pública doutrinária nos sábados seguintes ao carnaval. Afinal, é um feriado longo e muita gente aproveita para descansar por toda a semana.

 Respondi, então, que, se fosse assim, deveríamos suspender as reuniões públicas de sábado quando dos feriados de Semana Santa e Corpus Christi.

 E deveríamos, também, suspender toda e qualquer reunião pública que caísse em feriado (Finados, Proclamação da República, Dia do Trabalho...), fosse no sábado, quarta-feira, segunda-feira... Calhou de ser feriado em dia de reunião pública, suspende-se a reunião, pois ninguém vai e todo mundo quer descansar.

Ninguém e todo mundo costumam ser conceitos bem subjetivos. Certa vez, Reginaldo, amigo meu residente em outra cidade, ouviu do filho Mateus, de 14 anos, que não haveria reunião de mocidade no sábado seguinte. Motivo: a coordenadora de mocidade suspendera a reunião porque iria ser feriado prolongado e todo mundo iria viajar. 

Todo mundo quem, cara-pálida? Só se for todo mundo que essa coordenadora conhece. Como pode ela responder por todas as pessoas que frequentam o centro espírita?

 Reginaldo e família não iriam viajar, pois a grana estava curta. As famílias de outros jovens também iriam ficar na cidade, e por vários motivos: trabalho, compromissos sociais, falta de vontade de viajar... Em suma, vários jovens, frequentadores da mocidade, iriam ficar sem a evangelização, da qual tanto gostavam, pois todo mundo iria viajar, segundo a coordenadora.

Não sei se ela viajou. Provavelmente sim. E talvez outros aplicadores de estudo quisessem descansar no feriado prolongado. Todos têm esse direito, é claro. 

Mas decerto havia outros aplicadores que não iriam viajar e poderiam muito bem tocar a reunião de mocidade. Mas optou-se pela conveniência de alguns, que acham que todo mundo vai viajar.

Já vi centros espíritas que suspendem a reunião de mocidade no mês de janeiro alegando que todo mundo está de férias.

 Quem é todo mundo, afinal? Sei que é período de férias escolares. Sei também que muitos profissionais tiram férias no início do ano. Mas sei, ainda, que nem todo mundo tira férias nessa época. 

E muitos que tiram férias não têm condições de viajar. Estamos no Brasil, país de muitos contrastes econômicos.

Fechar as portas da mocidade em janeiro é tirar de muitos jovens o ensejo de se encontrarem. Digo isso de cadeira, pois evangelizei jovens por muitos anos e sempre mantivemos a reunião de mocidade em janeiro, e com o salão cheio. 

Aproveitávamos para fazer atividades diferentes, como dinâmicas de grupo. Os jovens adoravam, e os evangelizadores que não estavam de férias também.
Inquieta a mim quando reuniões são suspensas por causa de feriados. E me inquieta quando vejo que a frequência às reuniões públicas cai porque é feriado.

No centro do qual faço parte há reuniões públicas nas terças e quartas-feiras às 20h. Certa vez, fiz a palestra do dia 12 de outubro, feriado nacional, que caiu numa terça-feira. 

O salão, sempre cheio, estava praticamente vazio. Não estou questionando, deixo claro, o fato de as pessoas aproveitarem o feriado para descansar. Muitos tiram o dia para dormir até tarde, visitar alguém, curtir a família... 

Mas uma reunião pública doutrinária noturna não é alcançada pelo horário comercial do feriado. Ou seja, em dias comuns, saímos do trabalho no fim da tarde, passamos em casa ou vamos tratar de outro assunto. Em seguida, vamos ao centro assistir à palestra. Se for feriado, eu vou descansar do trabalho e de outras atividades. 

À noite, já estou pronto para ir ao centro. No entanto, muita gente encara a ida ao centro espírita não como uma atividade prazerosa que tem a ver com nossa evolução espiritual, mas como uma obrigação da qual se deve descansar se for feriado.

 É como se fosse algo imposto pelo meio social, como trabalhar e ir à escola. Como é feriado, não se vai ao centro. É triste atestar como as pessoas ainda tratam a educação do Espírito imortal de forma tão secundária.

Há centros espíritas que enfrentam problemas parecidos, mas com os grupos de estudo, que geralmente entram em recesso no final do ano e só retornam em fevereiro. Sem problema quanto a isso. 

Afinal, o estudo sistematizado tem uma dinâmica e um cronograma que permitem um recesso. Tanto que se trata de um estudo feito de forma sistemática. É diferente da mocidade, na qual o estudo pode ser conduzido de forma mais informal e com atividades lúdicas, como já observado.

Certa vez, uma integrante de um grupo de estudos entrou na livraria da Umep para comprar um livro. Era dezembro. Eneida, responsável pela livraria, disse que não tinha o livro, mas que ele chegaria dentro de 10 dias. A moça, então, disse:

 - Ué, mas a Umep não está entrando de férias hoje? Como eu vou comprar o livro daqui a 10 dias se só voltaremos das férias em fevereiro?Eneida, então, explicou que centro espírita não tira férias.

O que estava entrando de férias, ou melhor, recesso, eram os grupos de estudo. E completou dizendo que a moça, como integrante de um desses grupos, já era para ter percebido isso. Vânia, coordenadora do grupo da moça, virou-se para Eneida e disse:

 - Não é por falta de aviso.

Infelizmente, há quem frequente os grupos de estudo do centro espírita como se estivesse matriculado em um curso técnico. Às vezes, passam anos dentro do centro indo apenas na sala onde estudam. 

Chegam e saem uma vez por semana e não percebem que o centro espírita é um espaço de convivência fraterna e uma escola de aprimoramento de almas. Quando chega o final do ano letivo, saem de férias e só voltam quando do reinício das aulas.

 Só faltou fazerem prova. E julgam equivocadamente que todo o centro funciona desse jeito, apesar dos reiterados esclarecimentos que recebem.

Tudo isso ainda acontece pelo fato de ainda não termos despertado para todas as potencialidades que um centro espírita possui.

 No livro “O Jovem Espírita quer Saber”, o professor e pedagogo espírita Ney Lobo, no capítulo que aborda o assunto sociedade, diz, em resposta à terceira pergunta que lhe foi formulada, que os centros espíritas devem ter centros de convivência social para que os jovens (e também todas as pessoas, a meu ver) tenham acesso não só à boa música atual, mas também à clássica, além de leituras coletivas, debates, lanches culturais, jogos instrutivos e afins

Mas tudo intercalado com exposições e debates doutrinários. Além disso, todo centro espírita deveria ficar aberto até às 22h, de domingo a domingo. Seria uma forma de tornar o centro espírita cada vez mais vivo e atraente, iluminando consciências de forma sempre criativa e abrindo várias frentes de trabalho.

É um desafio que nos aguarda e um trabalho que precisa ser posto em prática. Quando os que somente frequentam ou estudam se dispuserem a pôr a mão na massa, veremos o quanto um centro espírita é capaz de fazer por todos nós. Aí, não haverá férias ou feriados que mantenham gente afastada.

sobre trabalhadores e frequentadores de centros espíritas que somem por dois ou três meses quando as atividades das quais participam entram em recesso em dezembro, janeiro e fevereiro.  

Volto ao assunto por julgar pertinente e por achar que se trata de um fato mais corriqueiro – e preocupante – do que eu imaginava.
Fui responsável por alguns anos pelas escalas das reuniões públicas doutrinárias da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep). 

Certa vez, Cilene (nome fictício), expositora escalada para falar no sábado seguinte ao carnaval, me ligou dias antes do início das festas de momo. 

Ela iria estender o feriado além da terça-feira gorda e viajar com marido e filhos. Por isso, não poderia fazer a palestra e pediu para que eu escalasse outra pessoa. Sem problema. Trocas na escala acontecem. Além disso, todo mundo tem direito de aproveitar um feriado para dar uma relaxada.

No entanto, o que ela disse em seguida me surpreendeu. Cilene alegou que não deveria haver reunião pública doutrinária nos sábados seguintes ao carnaval. 

Afinal, é um feriado longo e muita gente aproveita para descansar por toda a semana. Respondi, então, que, se fosse assim, deveríamos suspender as reuniões públicas de sábado quando dos feriados de Semana Santa e Corpus Christi. 

E deveríamos, também, suspender toda e qualquer reunião pública que caísse em feriado (Finados, Proclamação da República, Dia do Trabalho...), fosse no sábado, quarta-feira, segunda-feira... Calhou de ser feriado em dia de reunião pública, suspende-se a reunião, pois ninguém vai e todo mundo quer descansar.

Ninguém e todo mundo costumam ser conceitos bem subjetivos. Certa vez, Reginaldo, amigo meu residente em outra cidade, ouviu do filho Mateus, de 14 anos, que não haveria reunião de mocidade no sábado seguinte. 

Motivo:

 a coordenadora de mocidade suspendera a reunião porque iria ser feriado prolongado e todo mundo iria viajar. Todo mundo quem, cara-pálida? Só se for todo mundo que essa coordenadora conhece. Como pode ela responder por todas as pessoas que frequentam o centro espírita? 

Reginaldo e família não iriam viajar, pois a grana estava curta. As famílias de outros jovens também iriam ficar na cidade, e por vários motivos: trabalho, compromissos sociais, falta de vontade de viajar... 
Em suma, vários jovens, frequentadores da mocidade, iriam ficar sem a evangelização, da qual tanto gostavam, pois todo mundo iria viajar, segundo a coordenadora.

Não sei se ela viajou. 

Provavelmente sim. 

E talvez outros aplicadores de estudo quisessem descansar no feriado prolongado. 

Todos têm esse direito, é claro. Mas decerto havia outros aplicadores que não iriam viajar e poderiam muito bem tocar a reunião de mocidade. Mas optou-se pela conveniência de alguns, que acham que todo mundo vai viajar.

Já vi centros espíritas que suspendem a reunião de mocidade no mês de janeiro alegando que todo mundo está de férias. Quem é todo mundo, afinal? Sei que é período de férias escolares. 

Sei também que muitos profissionais tiram férias no início do ano. Mas sei, ainda, que nem todo mundo tira férias nessa época. E muitos que tiram férias não têm condições de viajar. 

Estamos no Brasil, país de muitos contrastes econômicos.

Fechar as portas da mocidade em janeiro é tirar de muitos jovens o ensejo de se encontrarem. 

Digo isso de cadeira, pois evangelizei jovens por muitos anos e sempre mantivemos a reunião de mocidade em janeiro, e com o salão cheio. Aproveitávamos para fazer atividades diferentes, como dinâmicas de grupo. 

Os jovens adoravam, e os evangelizadores que não estavam de férias também.

Inquieta a mim quando reuniões são suspensas por causa de feriados. E me inquieta quando vejo que a frequência às reuniões públicas cai porque é feriado.

No centro do qual faço parte há reuniões públicas nas terças e quartas-feiras às 20h. Certa vez, fiz a palestra do dia 12 de outubro, feriado nacional, que caiu numa terça-feira. 

O salão, sempre cheio, estava praticamente vazio. Não estou questionando, deixo claro, o fato de as pessoas aproveitarem o feriado para descansar. 

Muitos tiram o dia para dormir até tarde, visitar alguém, curtir a família... Mas uma reunião pública doutrinária noturna não é alcançada pelo horário comercial do feriado. 

Ou seja, em dias comuns, saímos do trabalho no fim da tarde, passamos em casa ou vamos tratar de outro assunto. Em seguida, vamos ao centro assistir à palestra. 

Se for feriado, eu vou descansar do trabalho e de outras atividades. À noite, já estou pronto para ir ao centro. No entanto, muita gente encara a ida ao centro espírita não como uma atividade prazerosa que tem a ver com nossa evolução espiritual, mas como uma obrigação da qual se deve descansar se for feriado.

 É como se fosse algo imposto pelo meio social, como trabalhar e ir à escola. Como é feriado, não se vai ao centro. É triste atestar como as pessoas ainda tratam a educação do Espírito imortal de forma tão secundária.

Há centros espíritas que enfrentam problemas parecidos, mas com os grupos de estudo, que geralmente entram em recesso no final do ano e só retornam em fevereiro. 

Sem problema quanto a isso. Afinal, o estudo sistematizado tem uma dinâmica e um cronograma que permitem um recesso. Tanto que se trata de um estudo feito de forma sistemática. É diferente da mocidade, na qual o estudo pode ser conduzido de forma mais informal e com atividades lúdicas, como já observado.

Certa vez, uma integrante de um grupo de estudos entrou na livraria da Umep para comprar um livro. 

Era dezembro. 

Eneida, responsável pela livraria, disse que não tinha o livro, mas que ele chegaria dentro de 10 dias. 

A moça, então, disse: - Ué, mas a Umep não está entrando de férias hoje? Como eu vou comprar o livro daqui a 10 dias se só voltaremos das férias em fevereiro?Eneida, então, explicou que centro espírita não tira férias.

 O que estava entrando de férias, ou melhor, recesso, eram os grupos de estudo. E completou dizendo que a moça, como integrante de um desses grupos, já era para ter percebido isso. 

Vânia, coordenadora do grupo da moça, virou-se para Eneida e disse: - Não é por falta de aviso.

Infelizmente, há quem frequente os grupos de estudo do centro espírita como se estivesse matriculado em um curso técnico. Às vezes, passam anos dentro do centro indo apenas na sala onde estudam. 

Chegam e saem uma vez por semana e não percebem que o centro espírita é um espaço de convivência fraterna e uma escola de aprimoramento de almas. 

Quando chega o final do ano letivo, saem de férias e só voltam quando do reinício das aulas. Só faltou fazerem prova. 

E julgam equivocadamente que todo o centro funciona desse jeito, apesar dos reiterados esclarecimentos que recebem.

Tudo isso ainda acontece pelo fato de ainda não termos despertado para todas as potencialidades que um centro espírita possui. 

No livro “O Jovem Espírita quer Saber”, o professor e pedagogo espírita Ney Lobo, no capítulo que aborda o assunto sociedade, diz, em resposta à terceira pergunta que lhe foi formulada, que os centros espíritas devem ter centros de convivência social para que os jovens (e também todas as pessoas, a meu ver) tenham acesso não só à boa música atual, mas também à clássica, além de leituras coletivas, debates, lanches culturais, jogos instrutivos e afins.

 Mas tudo intercalado com exposições e debates doutrinários.

 Além disso, todo centro espírita deveria ficar aberto até às 22h, de domingo a domingo. Seria uma forma de tornar o centro espírita cada vez mais vivo e atraente, iluminando consciências de forma sempre criativa e abrindo várias frentes de trabalho.


É um desafio que nos aguarda e um trabalho que precisa ser posto em prática. 

Quando os que somente frequentam ou estudam se dispuserem a pôr a mão na massa, veremos o quanto um centro espírita é capaz de fazer por todos nós. Aí, não haverá férias ou feriados que mantenham gente afastada.

Marcelo Teixeira - O Consolador

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Nas horas difíceis, quando lembramos de rogar a Deus por Seu socorro, nem sempre sabemos interpretar a Sua resposta.

No entanto, a resposta sempre chega de conformidade com as nossas necessidades e merecimentos.

Um homem que costumava fazer pedidos específicos a Deus, um dia conseguiu entender a Sua resposta e escreveu o seguinte:

Eu pedi a Deus para tirar a minha dor.
 Deus disse não. 
"Não cabe a Mim tirá-la, mas cabe a você desistir dela."

Eu pedi a Deus para fazer com que meu filho deficiente físico fosse perfeito. 
Deus disse não.
 "Seu Espírito é perfeito e seu corpo é apenas provisório."

Eu pedi a Deus para me dar paciência. 
Deus disse não. 
"A paciência nasce nas tribulações.
 Não é doada, é conquistada."
Eu pedi a Deus para me dar felicidade.
 Deus disse não. 
"Eu lhe dou bênçãos.
 A felicidade depende de você."
Eu pedi a Deus para me proteger da dor.
 Deus disse não. 
"O sofrimento o separa dos apelos do Mundo e o traz para mais perto de Mim."

Eu pedi a Deus para me fazer crescer em Espírito.
 Deus disse não.
 "Você tem que crescer sozinho, mas Eu o podarei para que você possa dar frutos."

Eu pedi a Deus todas as coisas para que eu pudesse gostar da vida.
 Deus disse não.
 "Eu lhe dou vida para que você possa gostar de todas as coisas."
E, por fim, quando pedi a Deus para me ajudar a amar os outros, tanto quanto Ele me ama, Deus disse:

"Finalmente você captou a idéia!"

* * *

Se, porventura, você está se sentindo triste por não ter recebido do Pai Criador a resposta que desejava, volte a sorrir.

O sol beija o botão da flor e ela sorri.

A chuva beija a terra e ela, reverdecida, sorri.

O fogo funde os metais e esses, depurando-se, expressam formas para sorrir.

Vai a dor, volta a esperança.
Foge a tristeza, volta a alegria.

* * *

Certa vez um discípulo rogou, emocionado, ao seu mestre:

Senhor, quando identificarei a plenitude da paz e da felicidade, vivendo neste Mundo atribulado de enfermidades e violências?

O mestre, compassivo, respondeu:

Quando puder ver com a suavidade do meu olhar as mais graves ocorrências, sem julgamento precipitado;

Quando lograr ouvir com a paciência da minha compreensão generosa;

Quando puder falar auxiliando, sem acusação nem desculpismo;

Quando agir com misericórdia, mesmo sob as mais árduas penas e prosseguir sem cansaço no caminho do bem entre espinhos pontiagudos, confiando nos objetivos superiores, você se identificará comigo e gozará de felicidade e paz.

O aprendiz ouviu, meditou, e, levantando-se, partiu pela estrada do serviço ao próximo, disposto a conjugar o verbo amar, sem cansaço, sem ansiedade e sem receio.

* * *
Se, porventura, você está triste por não ter recebido a resposta que desejava do Pai Criador, volte a amar e a sorrir.

Só assim vai a dor e volta a esperança.

Foge a tristeza e volta a alegria.


Redação do Momento Espírita


terça-feira, 13 de janeiro de 2015



                                     QUANDO OS FILHOS CRESCEM


Há um momento, na vida dos pais, em que eles se sentem órfãos. Os filhos, dizem eles, crescem de um momento para outro.
É paradoxal. Quando nascem, pequenos e frágeis, os primeiros meses parecem intermináveis.

 Pai e mãe se revezam à cata de respostas aos seus estímulos nos rostinhos miúdos.

Desejam que eles sorriam, que agitem os bracinhos, que sentem, fiquem em pé, andem, tudo é uma ansiosa expectativa.

Então, um dia, de repente, ei-los adolescentes. Não mais os passeios com os pais, nos finais de semana, nem férias compartilhadas em família.

Agora tudo é feito com os amigos.

Olham para o rosto do menino e surpreendem os primeiros fios de barba, como a mãe passarinho descobre a penugem nas asas dos filhotes. 

A menina se transforma em mulher. 

É o momento dos voos para além do ninho doméstico.

É o momento em que os pais se perguntam: Onde estão aqueles bebês com cheirinho de leite e fralda molhada? 

Onde estão os brinquedos do faz-de-conta, os chás de nada, os heróis invencíveis que tudo conseguiam, em suas batalhas imaginárias contra o mal?

As viagens para a praia e o campo já não são tão sonoras.

 A cantoria infantil e os eternos pedidos de sorvetes, doces, pipoca foram substituídos pelo mutismo ou a conversa animada com os amigos com que compartilham sua alegria.

Os pais se sentem órfãos de filhos. Seus pequenos cresceram sem que eles possam precisar quando.

Ontem, eram crianças trazendo a bola para ser consertada.

 Hoje, são os que lhes ensinam como operar o computador e melhor explorar os programas que se encontram à disposição.

A impressão é que dormiram crianças e despertaram adolescentes, como num passe de mágica.

Ontem, estavam no banco de trás do automóvel; hoje, estão ao volante, dando aulas de correta condução no trânsito.

É o momento da saudade dos dias que se foram, tão rápidos. 

É o momento em que sentimos que poderíamos ter deixado de lado afazeres sempre contínuos e brincado mais com eles, rolando na grama, jogando futebol.

Deveríamos tê-los ouvido mais, deliciando-nos com o relato de suas conquistas e aventuras, suas primeiras decepções, seus medos. 

Tê-los levado mais ao cinema, desfrutando das suas vibrações ante o heroísmo dos galãs da tela.

Tempos que não retornam, a não ser na figura dos netos, que nos compete esperar.

Pais, estejamos mais com nossos filhos. A existência é breve e as oportunidades preciosas.

Tudo o mais que tenhamos e que nos preencha o tempo não compensará as horas dedicadas aos Espíritos que se amoldaram nos corpos dos nossos pequenos, para estar conosco.

Não economizemos abraços, carícias, atenções, porque nosso procedimento para com eles lhes determinará a felicidade do crescimento proveitoso ou a tristeza dos dias inúteis do futuro.
* * *
A criança criada com carinho aprende a ser afetuosa.
A mensagem da atenção ao próximo é passada pelos pais aos filhos.

No dia-a-dia com os pais, os filhos aprendem que o ser humano, seus sentimentos são mais importantes do que o simples sucesso profissional e todos os seus acessórios.

Em essência, as crianças aprendem o que vivem.

Redação do Momento Espírita

ESCEM

sábado, 10 de janeiro de 2015

                                      Alfredo e a força de vontade
 

“A perseverança é a base da vitória. 

Não olvides que ceifarás, mais tarde, em tua lavoura de amor e luz, mas só alcançarás a divina colheita se caminhares para diante, entre o suor e a confiança, sem nunca desfaleceres”. 
(Emmanuel, Livro “Fonte Viva”, item 124 – Psicografia de Francisco C. Xavier.)
 
Ávido por obter informações sobre espiritualidade e tomar contato com as sábias e valiosas lições do Cristo, Alfredo deliberou procurar uma instituição espírita que pudesse, pelas suas atividades no bem, satisfazer a sua expectativa e curiosidade.

Logo nos primeiros dias, estando vinculado a grupos de estudos, entendeu a necessidade de seguir além das letras e dos ensinamentos, na realização de tarefas que pudessem se prestar a servir aos mais necessitados, como bem ensinou e exemplificou Jesus.

Em contato com os companheiros mais antigos da instituição conheceu as atividades assistenciais que ali eram desenvolvidas no socorro, dentro do possível, aos irmãos em penúria e em dificuldades.

Com detalhes, inteirou-se da “Campanha do Quilo” ou “Campanha Auta de Souza”, como é conhecido popularmente esse trabalho, que trata da distribuição de saquinhos nas residências por grupos de trabalhadores das instituições, geralmente num sábado, ficando para a semana seguinte a coleta dos alimentos que formarão as cestas básicas, que serão oferecidas às famílias carentes.

Percebeu que não poderia participar do grupo de voluntários que realizava a “Campanha”, pois sendo dono de um pequeno empreendimento comercial, aos sábados de lá não poderia sair, pois que as portas de seu estabelecimento precisavam permanecer abertas para a obtenção de recursos financeiros necessários à manutenção de sua numerosa família.

Mas desejava ardentemente cooperar para a diminuição das dores e do sofrimento alheio.

Pensou, meditou, refletiu, buscou Jesus em preces, e, movido por uma grande e decisiva força de vontade encontrou a solução para também se prestar a servir aos irmãos do caminho que experimentam sorte inferior à sua.

Com a coordenação da “Campanha do Quilo” da entidade onde milita, apanha os saquinhos e, no final de seu expediente de trabalho, ou em suas horas de descanso, procura os vizinhos, os moradores do seu quarteirão, do bairro e, uma vez por mês, faz a coleta e distribui os gêneros alimentícios que lhes são ofertados. 

Quando o grupo da citada “Campanha” chega à instituição espírita para a formação das cestas básicas que são oferecidas às famílias em penúria, lá encontram o Alfredo com o material coletado, ajudando a “engordar” a quantidade de alimentos que são entregues aos necessitados.

Impedido por compromissos profissionais e obrigações familiares, não conseguia estar junto ao grupo de trabalho, mas nem por isso deixava de trabalhar em favor do próximo. 

A força do seu ideal e a perseverança no bem fizeram com que superasse os obstáculos para poder servir em nome do Cristo.

Tem profundo significado o adágio popular:

 “Querer é Poder”. 

Realmente, quem quer com determinação e labora com convicção suplanta todas as barreiras e vence todas as dificuldades, ainda mais quando se coloca ao lado de Jesus para ajudar aos “pequeninos do caminho”. 

Revista O Consolador.



sábado, 3 de janeiro de 2015


ENTRAR E SAIR
Havia restrições e comentários desairosos sobre pessoas que Chico costumava visitar.
– Não devia ir!
– É gente de má vida!
– Não fica bem!
Preocupado, o médium expôs o assunto a Emmanuel:
– O senhor acha então que não devo entrar lá?
– Pode, sim, Chico. Apenas desejo saber como vai sair.

***
Há, nesse sugestivo, episódio alguns aspectos que merecem nossa atenção.
O primeiro diz respeito ao velho problema do preconceito, atavismo psicológico que trazemos desde os tempos bíblicos, em que o contato com as chamadas pessoas de má vida era proibido, sob pena de contaminação ou, pior, de identificação.
Uma espécie de dize-me com quem andas e te direi quem és, que pode ter uma dose de verdade, mas passível de inibir qualquer tentativa de ajudar alguém cujo comportamento fuja aos bons costumes.
Um dos problemas de Jesus dizia respeito às críticas dos fariseus, sempre dispostos a encontrar chifre em cabeça de cavalo, buscando comprometê-lo.
Certa feita, perguntaram aos seus discípulos por que ele se relacionava com cobradores de impostos e pecadores.
Ouvindo a conversa, o Mestre fez um comentário antológico (Mateus, 9:12):
Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes.
A chance dos maus superarem suas tendências está justamente em não serem discriminados pelos bons, dispostos estes a lhes oferecer referencial adequado com a força do exemplo.

***
Há a questão do julgamento, a ser levada em consideração.
No Sermão da Montanha, Jesus proclama que tendemos a enxergar ciscos em olhos alheios e não observamos lascas de madeira em nossos olhos.
Traduzindo: identificamos nos outros o que existe amplamente em nós.
Outro detalhe: se, não obstante a advertência de Jesus, resolvemos “apreciar” o comportamento alheio, imperioso conhecer todos os detalhes, a fim de não incorrermos em injustiça.
O Espírito Hilário Silva, em psicografia de Waldo Vieira, no livro A Vida Escreve, narra ilustrativo episódio ocorrido com diretor de Centro Espírita, preocupado com um companheiro que fora visto, várias vezes, entrando, no dizer discreto do autor, numa casa suspeita, lugar tristemente adornado para encontros clandestinos de casais transviados.
Indo até o local, esperou que ele saísse, por volta de meia-noite, quando o admoestou severamente e, não satisfeito em ouvir que estava ali em missão de paz, procurando recuperar uma jovem inexperiente, dispôs-se a confirmar a informação, ignorando os apelos do companheiro, que lhe implorava não o fizesse.
Enfatiza o autor:
E sem mais nem menos entrou casa a dentro, encontrando, num pequeno salão, sua própria filha chorando ao pé de um cavalheiro desconhecido.
***
Há círculos religiosos que revivem as restrições dogmáticas do passado, enfatizando a necessidade de evitar a “contaminação”.
Carnaval – nem pensar!
Festas mundanas – tentação!
Bar – casa do demônio!
Contato com os Espíritos – perdição!
Estendem-se restrições variadas, inibindo a iniciativa.
O Espiritismo, doutrina da consciência livre, não impõe nada, partindo do princípio de que a responsabilidade é uma planta frágil que deve crescer em clima de liberdade.
Podemos entrar onde nos aprouver.
O cuidado, como adverte Emmanuel, está em saber como estaremos ao sair.


Livro Rindo e Refletindo com Chico Xavier

domingo, 28 de dezembro de 2014

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO

 – Por que o trabalho é imposto ao homem?  "É uma consequência da sua natureza corpórea.

 É uma expiação e, ao mesmo tempo, um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual...” (Questão 676, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)


É inegável a força do trabalho.

O homem precisa trabalhar por uma série de razões, mas duas delas se destacam: a obtenção de recursos para a sua sobrevivência e o desenvolvimento da inteligência.

A criatura saudável e em perfeitas condições jamais poderá se tornar um peso econômico para a sociedade. 

Trabalhando conseguirá se manter sem onerar a vida do próximo e causar incômodos à sociedade em que vive. 

Além disso, ao desenvolver suas atividades no labor, exercita a mente promovendo progresso intelectual, indispensável ao aprimoramento moral, que todos buscamos.

Dentro do contexto evolutivo em que mourejamos, manter a mente ociosa é um enorme risco, pois que ainda temos imensas dificuldades em lidar com os nossos pensamentos. 

Mente desocupada de coisas úteis é porta que se abre aos convites do que não é digno e nem nobre.

Sendo o trabalho toda ocupação útil, não podemos olvidar a nossa posição de cocriadores no universo. 

Enquanto laboramos exercitamos o nosso campo mental e contribuímos para o progresso da Terra, que urgentemente precisa sair da condição de mundo de expiações e provas, subindo para a posição de mundo regenerador.

Não importa a dimensão do nosso trabalho, o quanto produzimos, a abrangência das nossas ações, importa sim que façamos alguma coisa, dentro das possibilidades que temos, segundo os nossos limites, mas não cruzemos os braços ante a quantidade de serviço que espera por execução.

Os mais fortes têm a obrigação fraternal de trabalhar ajudando aos mais fracos, os mais ricos têm o dever de laborar em favor dos mais pobres, os influentes devem agir sempre pensando naqueles que vivem no anonimato e os poderosos jamais poderão olvidar os irmãos que caminham pela vida desprovidos de coragem e determinação.

Cada ser humano na Terra tem a sua finalidade e importância. Nenhuma criatura é destituída de valores. O mundo precisa do trabalho de todos, pois que a junção dos esforços redundará na formação de uma sociedade mais justa, fraterna e humana.

Crianças abandonadas seguem pela vida esperando um gesto de carinho e afetividade; jovens sem oportunidades perambulam pelas vielas sombrias das incertezas quanto ao futuro; muitas famílias vivem na carência material sem o mínimo necessário para a sobrevivência dos seus membros; mães se afligem ao verificar o fogão sem lume e a panela vazia; doentes desprovidos de recursos financeiros gemem de dor ao nosso redor e idosos infelizes lamentam a solidão em que vivem.

Como podemos perceber, a seara é enorme e são inúmeros os problemas a serem contornados, no entanto, os trabalhadores não são tantos. 

Foi então que o mestre Jesus sentenciou; “meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também (Jesus-João, 5:17)”, deixando nítida a necessidade da participação de cada criatura no campo do trabalho, para juntos construirmos a sociedade dos nossos sonhos.

Observemos, então, as nossas forças, as nossas potencialidades, os nossos talentos e saiamos a trabalhar destemidamente, cumprindo assim os nossos deveres.

Reflitamos...                                 



WALDENIR APARECIDO CUIN

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A arte de ser feliz
 
O que é a felicidade?

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, pode ser: 

"1) [...] estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar; 

2) boa fortuna, sorte; 

3) bom êxito; acerto, sucesso".

De acordo com Lisa Fields (SELEÇÕES, 2014, p. 36), uma pesquisa realizada pela Universidade de Minnesota, nos EUA, aponta quatro áreas que influem em nossa felicidade: a família, a comunidade, o trabalho e a fé. 

Para a maioria, a harmonia em família é a principal causa da felicidade. Em seguida vêm: a fé, o trabalho e, por último, o relacionamento comunitário.

James Roberts, professor de Marketings da Universidade Baylor, no Texas, diz que "o amor às coisas materiais pode prejudicar o modo como nos sentimos a nosso respeito e nos custar relacionamentos pessoais e, em última análise, a felicidade". 

 O professor explica que "O segredo é ter consciência do 'tsunamiconsumista' que nos inunda e fazer escolhas que nos levem a passar mais tempo reforçando os relacionamentos sociais". 

Conclui Roberts que uma boa escolha é a do "trabalho voluntário, que, como já comprovaram numerosos estudos, aumenta a felicidade pessoal" (SELEÇÕES, 2014, p. 80).

Na conquista da felicidade, os pensamentos positivos e a prática da gratidão também são propostos pelo Dr. Paterson, da universidade de Indiana, segundo Young (op. cit., p. 83).

O jornalista Preston (op. cit., p. 65) comenta que em sua visita aos EUA, o Dalai Lama, "alegre e cheio de entusiasmo", certo dia, foi abordado por uma garçonete, que lhe perguntou qual é o sentido da vida. Sua resposta foi de que o sentido da vida é a felicidade, mas o difícil é saber o que traz felicidade:

 "Dinheiro?

 Casa grande? 

Amigos? Ou...

 – Ele fez uma pausa. –..... Compaixão e bom coração?".

A pergunta ao Dalai Lama, mais que a resposta, por sinal corretíssima, fez-nos refletir sobre o significado da palavra "sentido", que aqui, segundo o dicionárioHouaiss representa "aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; 

alvo, fim, propósito". Ou seja, 

"para que ou para qual finalidade" serve a vida?

Embora sejam sinônimas, nos dicionários, as palavras objetivo e finalidade, na pedagogia têm significados diferentes.

 Segundo Araújo (Apud VEIGA; CASTANHO, 2000, p. 96-99), a finalidade tem origem na palavra grega telos,ou no vocábulo latino finis, que significa "fronteira, limite, término".

 Finalidade é, pois, meta.

Já os objetivos são direcionados ao que é passível de operacionalização, embora impliquem mediações. 

Exemplo: “estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo" são objetivos educacionais, segundo Araújo (op. cit.). Entretanto, a "finalidade tripartite" da educação é o "desenvolvimento pleno do educando", o seu "preparo para o exercício da cidadania" e a sua "qualificação para o trabalho". (id., ibid.).

 É a resposta ao "para que", citado antes.

Com base no exposto, deduzimos que a vida humana tem por objetivo alcançar a perfeição (operacionalização) e por finalidade (meta) a felicidade. 

Mas só é plenamente feliz o Espírito perfeito, e foi por isso mesmo que Jesus nos recomendou:

 "Sede perfeitos como o vosso Pai que está nos Céus" (Mateus, 5:48)

 e também nos disse:

 "Eu e o Pai somos um" (João, 10:30); embora igualmente tenha afirmado: 

"bom mesmo só Deus o é" (Marcos, 10:18). Assim, em nosso objetivo de perfeição relativa, quanto mais nos livrarmos das paixões grosseiras e nos devotarmos ao bem, mais seremos felizes.

Desse modo, podemos entender algumas questões propostas n'O livro dos Espíritos (LE), como esta: 

"132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?"

 Resposta: "Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição [...] Visa ainda outro fim [entenda-se objetivo, acréscimo nosso] a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação [...]".

Na questão 153 a), dessa obra, somos informados de que os Espíritos puros gozam da "felicidade eterna". 

Isso significa que atingiram a finalidade da vida, mas permanecem desempenhando sua missão como auxiliares de Deus na obra da criação.

 Concluímos do exposto que o Espírito purificado alcança sua meta ou finalidade, que é a da "felicidade eterna", mas seus objetivos continuam a ser "operacionalizados".

Essa condição de perpetuidade da vida feliz, entretanto, é relativa nos mundos ainda imperfeitos, como a Terra, tanto na carne como fora dela, como se observa na resposta à questão 231 do LE: 

"São felizes ou desgraçados os Espíritos errantes?" 

Por errantes, entenda-se os Espíritos que ainda estão no plano espiritual sujeitos à reencarnação, nos mais diversos graus evolutivos, mas ainda longe da perfeição.

Resposta à pergunta:

Mais ou menos, conforme seus méritos. Sofrem por efeito das paixões cuja essência conservam, ou são felizes, de conformidade com o grau de desmaterialização a que hajam chegado.

 Na erraticidade, o Espírito percebe o que lhe falta para ser mais feliz e, desde então, procura os meios de alcançá-lo. Nem sempre, porém, lhe é permitido reencarnar como fora de seu agrado, representando isso, para ele, uma punição.

Na quarta parte do LE, intitulada "Das penas e gozos terrestres", sob o subtítulo "Felicidade e infelicidade relativas", com quatorze questões, lemos o seguinte, na questão 920: 

"Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?" Resposta: 

"Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra".

Logo abaixo, respondendo à pergunta 921 sobre a possibilidade da felicidade relativa do homem, enquanto a humanidade não "estiver transformada", somos informados de que "O homem é quase sempre o obreiro de sua própria infelicidade.

 Praticando a Lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira".

Passemos à questão 967 do LE. Nela, Kardec deseja saber "em que consiste a felicidade dos bons Espíritos". Vale a pena refletir sobre esta resposta:

Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. 

O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade.

 Não experimentam as necessidades nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem.

 Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um [...].
Os gozos materiais, lemos na resposta à questão seguinte, são próprios dos Espíritos animalizados. 

"Quando não podes satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura." 

E não é assim mesmo que acontece? 

Quantos jovens ficam tão desesperados diante de uma recusa amorosa que chegam a cometer crimes contra o ser objeto de seus sonhos não realizados? 

Quantas pessoas penam nas cadeias por se apropriarem do que não lhes pertencia? 

Quantos há que, sem pensarem nas consequências terríveis deste gesto, suicidam-se por não suportarem suas provas que, com o auxílio da fé, da perseverança e do trabalho no bem seriam suavizadas?

Como reflexão final, transcrevemos as duas estrofes finais do soneto parnasiano do poeta Vicente de Carvalho, intitulado Velho Tema I:

Essa felicidade que supomos,

Árvore milagrosa que sonhamos

Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos.

"Tudo na natureza, desde o grão de areia, canta, isto é, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus", afirmam-nos os Espíritos superiores que responderam a Allan Kardec as 1019 questões formuladas por ele nesta obra básica da Doutrina Espírita, 

O Livro dos Espíritos, que deu origem a mais outras quatro: 

O Livro dos Médiuns, 

O Evangelho segundo o Espiritismo, 

A Gênese e

O Céu e o Inferno

códigos maravilhosos sobre a ciência do Espírito, que aconselhamos o leitor e a leitora a lerem, relerem, refletirem, meditarem e trilharem, incessantemente, pois nelas se encontra o roteiro de nossa felicidade, meta ou finalidade eterna de todos nós. Feliz Ano-Novo!

Referências:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. 1. imp. (Edição histórica). Brasília: FEB, 2013.
SELEÇÕES Reader's Digest, jul. 2014.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro; CASTANHO, Maria Eugênia L. M. Orgs.Pedagogia universitária: a aula em foco. Campinas, SP: Papirus, 2000 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

  JORGE LEITE DE OLIVEIRA