quinta-feira, 23 de abril de 2015

                                     Kardec no Facebook
 
Com a curiosidade natural dos jovens, um dia desses minha filha questionou:

 – Pai, se Kardec vivesse nos tempos de hoje ele teria Facebook ou Orkut?

Surpreso com a indagação, respondi:

 – Não posso afirmar, filha, afinal, ele não vive nos dias de hoje. Porém, acredito que o Codificador utilizaria as mídias sociais para divulgar o Espiritismo.

Confesso que naquele momento não pude limpar da tela mental a imagem de Kardec interagindo com milhares de internautas divulgando e respondendo questões da Doutrina Espírita àqueles que se mostrassem verdadeiramente interessados em aprender sobre as verdades da vida.

Entretanto, vale destacar que Kardec ficou conhecido como o BOM SENSO ENCARNADO, tamanha sua capacidade de separar coisas sérias de abobrinhas. 

Não se precipite, caro leitor, não quero dizer que as redes sociais são abobrinhas. 

Absolutamente.

Somos, sim, obrigados a reconhecer que a internet com suas redes sociais modificou a interação estabelecida entre as pessoas. Em minha época de garoto era tudo tão diferente. Eu nem sonhava com Facebook, Orkut e etc.

Os segredos das meninas e dos meninos estavam todos muito bem trancafiados nos famosos diários.

 O acesso a essas verdadeiras fofocas adolescentes ficavam apenas aos cuidados de uns poucos amigos. Sabíamos do segredo de alguém apenas quando algum indiscreto dava com a língua nos dentes.

Hoje, entretanto, com as redes sociais, os diários foram praticamente abandonados, assim como os velhos segredos. Está tudo escancarado e facilmente mergulhamos na vida do outro sabendo seus pensamentos, objetivos, se é casado, solteiro, se busca relacionamento ou quer apenas amizade, se odeia segunda-feira ou se tem saudade do passado. 

Se gosta de trabalho ou apenas de balada, se curte gato ou o negócio é charuto, enfim, atualmente é muito simples saber as ideias de alguém.

Basta olhar em seu perfil em uma dessas inúmeras redes sociais espalhadas pela internet para ter uma noção sobre os gostos de pessoas que conhecemos apenas de Oi, até logo, olá...

E por falta de bom senso, coisa que Kardec tinha de sobra, algumas pessoas se expõem de maneira desnecessária para o mundo todo. 

Revelam  endereço, nome do cachorro, local de trabalho, cor predileta e até restaurante que frequentam com os amigos.

No MSN, por exemplo, é comum verificarmos mensagens do tipo 

– TOMANDO BANHO – NA CASA DA PRIMA – e coisas do gênero. 

Sinceramente, considero que não há necessidade para tanta exposição. 

Mas isso não é o pior: não raro no perfil do cidadão estão fotos em churrascos, festas e outras coisas mais, expondo, aliás, familiares e amigos.

No entanto, essas pessoas que participam das redes sociais são pessoas como todas as outras, querem vencer na vida, querem casar, têm sonhos e, nesses sonhos, certamente almejam um bom emprego.

Poucas, entretanto, desconfiam que o mundo corporativo há muito tempo está de olho nas redes sociais para saber as preferências de seus candidatos ou funcionários.

Por isso é preciso bom senso (relembrando Kardec de novo), sempre, em redes sociais ou não, tenhamos bom senso.

A propósito, recordo-me de um professor de Teoria Geral da Administração que dizia: 

Olhem, meus filhos, muito cuidado com o que vocês fazem nesses churrascos de final de ano. 

Pensem bem antes de beber todas e baixar o nível, porque, embora estejam todos em momentos de descontração, os chefes estarão lá. E geralmente eles têm boa memória e não se esquecem do que vocês fizeram.

Em realidade, meu professor aconselhava o bom senso. Tenham bom senso para não se arrependerem mais tarde. 

Já fiquei sabendo de carreiras promissoras em grandes organizações que foram decepadas pelos porres cometidos nessas festas de final de ano.

O mesmo princípio de meu velho professor aplica-se às redes sociais que, se bem utilizadas, só agregam valor sob o ponto de vista profissional e pessoal. Eu mesmo as utilizo e retiro delas gratas satisfações e alegrias.

Será que Kardec as utilizaria?

Acredito que com bom senso, provavelmente o Codificador trocaria impressões com outros internautas.

No entanto, é preciso saber utilizá-las com inteligência, transformando-as em aliadas ao nosso processo de aprimoramento como ser humano e não como bombas que explodem por conta de nosso despreparo em lidar com essas mídias.

A propósito, há até quem cometa o disparate de clonar um perfil. Isto mesmo. 

Clonaram o perfil do notável orador espírita Raul Teixeira no Facebook. 

No entanto, o orador já tratou de acertar a situação e avisar a todos que não se utiliza da ferramenta.

Perceba, caro leitor, como a falta de bom senso faz com que as pessoas extrapolem os limites e causem enorme dor de cabeça aos outros. 

Um absurdo!

Por isso, nos churrascos de final de ano ou em nossos perfis nas redes sociais, o bom senso é que deve nortear a nossa conduta. 

Nada de extravagâncias, segredos contados e opções que só dizem respeito a nós, partilhados com o resto do mundo. 

Nada, também, de clonar perfil, de se fazer passar por outro. 

Tenhamos a coragem de assumir nossos pontos de vista e nossa identidade.

 Pois isso pega mal; pega mal e prejudica em processos de seleção, na expansão dos círculos de amizade, possibilitando, inclusive, acerto de contas com a justiça.

Tomemos, pois, cuidado com o que andamos espalhando ao mundo sobre nós mesmos e os outros. 

Pois todos estão com os olhos bem abertos sobre o que pensamos, fazemos, sonhamos, enfim, sobre o que somos ou o que queremos ser, principalmente as empresas e aqueles que foram, de uma forma ou outra, prejudicados, como no caso de Raul Teixeira.


Pensemos nisso.

WELLINGTON BALBO - O Consolafor

quarta-feira, 15 de abril de 2015

                                     Caridade com meias sujas

Aconteceu numa casa espírita do Estado do Rio de Janeiro. Um frequentador chegou com uma sacola de roupas infantis para serem doadas. 

Entre as roupas, e em evidência, um par de meias sujas. Tão em evidência que foram notadas pelo voluntário da casa espírita assim que a sacola passou para a mão dele.

De início, a vontade desse colaborador foi chorar. De tristeza. Afinal, o bom senso recomenda que não se deve fazer caridade com meias sujas. Por falar nisso, o que é caridade?

Não há (e nem sei se houve um dia), no currículo escolar brasileiro, uma disciplina chamada etimologia. E o que é etimologia? É a ciência que estuda de onde vêm as palavras, mostrando como são formadas e o que significam.

Caridade não deixa de ser sinônimo de amor. Os teólogos cristãos empregam, de forma distinta, duas palavras para o amor. Eros (deus grego do amor) é o amor carnal; ágape (banquete fraterno do início da era cristã), o amor espiritual. 

Pois bem, o amor ágape, que é o amor da reunião, do estar junto de forma fraterna, dividindo tudo com prazer, é traduzido na língua portuguesa por caridade, palavra derivada do latim, caritas, que significa grande amor.

O apóstolo Paulo, em Coríntios, cap. 13, versículos 1 a 3, diz:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até o ponto de transportar montes, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuísse todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregasse o meu corpo para ser queimado, se todavia não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.

Em suma, se eu não tiver o amor em forma de movimento, amor fraterno que compartilha tudo de forma prazerosa, nada serei.

Eis por que Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, nomeia a última Lei Moral como Lei de Justiça, Amor e Caridade. 

Amor é a força que rege o universo, que vitaliza. Justiça é o amor que corrige, educa e leva ao amadurecimento. 

Caridade é o amor dinamizado, é a prática pela qual deixamos fluir o amor, seja na forma de bondade, compaixão... Basta consultar a questão 886 da obra citada. 

Está lá: “Caridade, segundo Jesus, não se restringe somente à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores”.

Por que tantas definições e explicações? 

Para dizer que doar meias sujas a pessoas carentes não é fazer caridade. Se a caridade abrange todas as relações com os nossos semelhantes, devemos dar a quem precisa roupas e objetos que façam o necessitado se sentir valorizado, nunca inferiorizado ou humilhado.

Amigos meus de outras religiões já me contaram da quantidade de quinquilharias que recebem de doação para encaminhamento aos socialmente carentes: móveis quebrados, roupas sujas e rasgadas, remédios e mantimentos fora do prazo de validade, livros despencados... No meio espírita acontece a mesma coisa. Infelizmente, muitas pessoas não conhecem nem praticam o real significado da palavra caridade. Se conhecessem, não tirariam do armário as tralhas para serem doadas.

Caridade nunca será sinônimo de dar qualquer coisa aos pobres. São pobres, não é mesmo? Então, qualquer bugiganga serve?

 Nada disso! 

Caridade é doar com prazer tudo que estiver em bom estado, na certeza de que o necessitado que receber a doação fará bom uso dela, igualando, dessa forma, na mesma vibração de amor, quem a doou e quem a recebeu.

Bibliografia:
1 - MOLLO, Elio. Amor e Caridade. É Bom Saber Quem é Quem.

Marcelo Teixeira – O Consolador

domingo, 5 de abril de 2015

                      VISÃO ESPÍRITA DA PEDOFILIA
Assunto delicado e grave. Vejamos alguns aspectos iniciais:
Como o espiritismo vê a questão da pedofilia?
Como um grave desequilíbrio mental e espiritual, necessitando severo tratamento multidisciplinar, isto é envolvendo diversos profissionais além de tratamento espiritual complementar.
Qual a razão de existirem pedófilos?
A mesma razão de existirem quaisquer outros desequilíbrios psíquicos. São atitudes doentias que se estruturaram ao longo de uma ou mais existências ou seja reencarnações. Ninguém foi criado pedófilo.
O que se passa nas suas mentes?
Cada um deles tem uma história. Não há como colocar todos em um mesmo rótulo. Mas poder-se-ia dizer que tem um impulso sexual doente e destituído de ética.
Quais os traumas que eles têm?
Diversos, e variam conforme cada caso. Podem ter sofrido: violência infantil, abandono, desprezo, presenciado quando em tenra idade, sexo entre os pais, enfim outras distorções de educação ou de vivência.
Como se explica tal comportamento?
A resposta é tão difícil como explicar qualquer outra grave alteração de comportamento. São espíritos que pelo seu atraso, imaturidade, ignorância e sobretudo pelo livre arbítrio desviaram-se da linha normal de conduta.
E as vitimas, por que isso?
Em diversas oportunidades, quando fizemos palestra sobre reencarnação, fomos questionados posteriormente sobre a dolorosa e delicada circunstância da pedofilia. Principalmente, ao se propiciar perguntas nos serem dirigidas por escrito viabilizava-se este questionamento.
Embora o tema seja potencialmente polêmico e desagradável, não há como ignorá-lo no contexto de nossa situação planetária.
Nossa abordagem será pelo ângulo transcendental e reencarnacionista considerando que são dois espíritos, no mínimo, envolvidos na tragédia em questão. Cumpre-nos esclarecer que o livre arbítrio é o maior patrimônio que nós, espíritos humanos, temos alcançado ao atingirmos a faixa evolutiva pensante. Livre arbítrio que não legitima atitudes, mas oportuniza às criaturas decidir e se responsabilizar pelas consequências de seus atos posteriores.
Outra premissa que deveremos estabelecer é aquela da maior ou menor repercussão dos atos perante a Lei Universal, em função do nível de esclarecimento que possuímos. Importante também salientar que não há atos perversos que tenham sido planejados pela espiritualidade superior. Seria de uma miopia intelectual sem limites, a ideia de que alguém deve reencarnar a fim de ser violentado ou sofrer pedofilia. A concepção do Deus punitivo e vingativo já não cabe mais no dicionário dos esclarecidos sobre a vida espiritual. Deus é a fonte inesgotável de amor. É a Lei maior que a tudo preside, uma lei de amor que coordena as leis da natureza.
Então, como conceber a violência física? Como enquadrar a onipresença divina em situações e sofrimentos que observamos? Deus estaria ausente nestas circunstâncias? Ou estaria presente? Para muitos indivíduos se estivesse presente já seria motivo para não crer na sua existência ou na sua infinita bondade e onisciência.
Outra questão importante: Quem é a “vítima”? Analisemos. Cada um de nós ao reencarnar trouxe todo o seu passado impresso indelevelmente em si mesmo, são os núcleos energéticos que trazemos em nosso inconsciente construídos no passado.
Espíritos que somos e pelas inúmeras viagens que percorremos, representadas pelas inúmeras vidas, possuímos no nosso “passaporte” inúmeros “carimbos” das pousadas onde estagiamos em vidas anteriores. Hoje, a somatória dessas experiências se traduzem em manancial energético que irradia constantemente do nosso interior para a superfície desta vida.
Assim, é também a “vítima”. A criança, que hoje se apresenta de forma diferente, podem trazer de seu passado profunda marcas de atitudes prejudiciais a irmãos seus. Atitudes de desequilíbrio que são gravadas em si mesma.
Algumas dessas, hoje crianças, participaram intelectualmente de verdadeiras emboscadas visando atingir de maneira dolorosa a intimidade sexual de criaturas; outras foram executoras diretas, pela autoridade que eram investidas, de crimes nesta área. Enfim, são múltiplas as situações geradoras da desarmonia energética que agora pulsa constantemente nos arquivos vibratórios da criança, nossa personagem neste drama.
Pela Lei Universal da sintonia de vibrações, poderá ocorrer, em um dado momento, uma surpresa desagradável. O espírito, criança agora, poderá atrair e sintonizar com o agressor, ou seja, o pedófilo, e ser agredida.
Identificados dois dos protagonistas (agressor e criança), temos também que considerar o frequente processo obsessivo que vinha se desenvolvendo. Uma outra entidade pode estar fixa perifericamente ou até profundamente à trama perispiritual de um ou dos dois envolvidos no processo.
Lembramos, novamente, não foi em hipótese alguma programada a violência ou o estupro, nem ele em qualquer circunstância teria justificativa. No entanto, o crime existindo, necessário compreender em uma visão mais ampla o que está acontecendo. A espiritualidade sempre fará o máximo para evitar o “mal” ou não sendo possível, apoiar aos que sofrem.
O espírito submetido à violência da pedofilia sofre intensamente no processo, conforme o seu grau de maturidade espiritual. Não houve a programação, mas a tendencia que trazia era forte e havia o risco em passar por algo do gênero, que a espiritualidade não conseguiu evitar.

A violência da pedofilia gera, muitas vezes, profundos traumas em todos os envolvidos, exacerbando a dolorosa situação kármica da constelação familiar.
Há, também, espíritos afins e benfeitores que visam amparar os envolvidos nesta dor. Amigos do extrafísico cheios de ternura em seu coração, com projetos de dedicação e amparo, sempre se fazem presentes. O tempo se encarregará de cicatrizar os ferimentos da alma.

sábado, 4 de abril de 2015

                         AH, UM JARDIM
        


Minha avó avisava que quando uma mulher se sentisse triste a melhor coisa que podia fazer era atravessar um bosque habitado por velhas árvores, e para lhes transmitir, durante o trajeto, esse estado emocional sombrio. 

Ademais, dizia, durante a noite, enquanto as pessoas repousam, essa matéria escura, que foi de maneira gentil pelas árvores absorvidas, adentrará finalmente a terra para lhe servir de generoso adubo.

Mas no caso de ausência de bosque, deveria ter cuidado a mulher para que a tristeza não se apossasse de sua cabeça, porque iria impregnar sem piedade as suas ideias ou mesmo escorregar para a boca, intoxicar suas palavras, tornando feio ou denso o seu discurso cotidiano.

Mas pior ainda se a tristeza migrasse para suas mãos, pois sem-vergonha atingiria a comida, deixando-a pobre ou, por descuido, insossa e indigesta. 

Grave também seria se a tristeza, perante uma mulher desprevenida, permitisse que tempo suficiente lhe fosse arranjado para se alojar no campo fecundo do coração, furtando-lhe para sempre o sal de cada dia. 

Melhor seria, ela dizia, na hipótese de uma tristeza densa, se a mulher pudesse cultivar um jardim:

Quando você ficar reiteradamente triste, decida-se por cultivar com muito cuidado e atenção o seu jardim. 

Diariamente, por uns instantes, caminhe entre as plantas, observe-as com delicadeza, sinta o cheiro das benditas flores. 

Respire sem pressa, contemple a matéria invisível do vento, pois ele, por si só, sem modéstia, arrastará para longe essa descabida tristeza, cuja natureza fria, que destoa do destino de um jardim, faz o coração estalante e seco, a vida insincera e vazia“.

Hoje em dia, quando percebo mulheres tristes, mulheres que vivem nas grandes cidades, o mistério tão esquecido, distantes dos bosques e das velhas árvores, pressinto que elas podem se apoiar em árvores crescidas nas ruas, nas praças, ou, na falta disso, modestamente escolher cultivar, com amor e coragem, flores na varanda do apartamento.

Tenho uma amiga que mora em São Paulo. Contou-me que nos últimos tempos se sentia invadida por uma tristeza resiliente, que a fitava, o indiferente olhar de um moribundo, e começou a intuir uma casa com cheiro de mato. 

Não teve dúvidas, correu atrás e se decidiu por um mini jardim vertical, cheio de liberdade para ervas e temperos. 

Ao terminar sozinha o projeto, queria ainda a todo custo uma árvore que tanto amava desde a infância: socorreu-se em uma miniatura e hoje, o vaso com romãzeira, dá uma flor linda, revigorando de encanto e alegria, bem no fundo, os habitantes da casa.

EUGÊNIA PICKINA - O Consolador