Kardec no Facebook
Com a curiosidade natural dos jovens, um dia desses minha filha
questionou:
– Pai, se Kardec vivesse nos tempos de hoje ele teria Facebook ou
Orkut?
Surpreso com a indagação, respondi:
– Não posso afirmar, filha, afinal, ele não vive nos dias de hoje.
Porém, acredito que o Codificador utilizaria as mídias sociais para divulgar o
Espiritismo.
Confesso que naquele momento não pude limpar da tela mental a imagem de
Kardec interagindo com milhares de internautas divulgando e respondendo
questões da Doutrina Espírita àqueles que se mostrassem verdadeiramente
interessados em aprender sobre as verdades da vida.
Entretanto, vale destacar que Kardec ficou conhecido como o BOM SENSO
ENCARNADO, tamanha sua capacidade de separar coisas sérias de abobrinhas.
Não
se precipite, caro leitor, não quero dizer que as redes sociais são abobrinhas.
Absolutamente.
Somos, sim, obrigados a reconhecer que a internet com suas redes sociais
modificou a interação estabelecida entre as pessoas. Em minha época de garoto
era tudo tão diferente. Eu nem sonhava com Facebook, Orkut e etc.
Os segredos das meninas e dos meninos estavam todos muito bem
trancafiados nos famosos diários.
O acesso a essas verdadeiras fofocas
adolescentes ficavam apenas aos cuidados de uns poucos amigos. Sabíamos do
segredo de alguém apenas quando algum indiscreto dava com a língua nos dentes.
Hoje, entretanto, com as redes sociais, os diários foram praticamente
abandonados, assim como os velhos segredos. Está tudo escancarado e facilmente
mergulhamos na vida do outro sabendo seus pensamentos, objetivos, se é casado,
solteiro, se busca relacionamento ou quer apenas amizade, se odeia
segunda-feira ou se tem saudade do passado.
Se gosta de trabalho ou apenas de
balada, se curte gato ou o negócio é charuto, enfim, atualmente é muito simples
saber as ideias de alguém.
Basta olhar em seu perfil em uma dessas inúmeras redes sociais
espalhadas pela internet para ter uma noção sobre os gostos de pessoas que
conhecemos apenas de Oi, até logo, olá...
E por falta de bom senso, coisa que Kardec tinha de sobra, algumas
pessoas se expõem de maneira desnecessária para o mundo todo.
Revelam
endereço, nome do cachorro, local de trabalho, cor predileta e até restaurante
que frequentam com os amigos.
No MSN, por exemplo, é comum verificarmos mensagens do tipo
– TOMANDO
BANHO – NA CASA DA PRIMA – e coisas do gênero.
Sinceramente, considero que não
há necessidade para tanta exposição.
Mas isso não é o pior: não raro no perfil
do cidadão estão fotos em churrascos, festas e outras coisas mais, expondo,
aliás, familiares e amigos.
No entanto, essas pessoas que participam das redes sociais são pessoas
como todas as outras, querem vencer na vida, querem casar, têm sonhos e, nesses
sonhos, certamente almejam um bom emprego.
Poucas, entretanto, desconfiam que o mundo corporativo há muito tempo
está de olho nas redes sociais para saber as preferências de seus candidatos ou
funcionários.
Por isso é preciso bom senso (relembrando Kardec de novo), sempre, em
redes sociais ou não, tenhamos bom senso.
A propósito, recordo-me de um professor de Teoria Geral da Administração
que dizia:
Olhem, meus filhos, muito cuidado com o que vocês fazem nesses
churrascos de final de ano.
Pensem bem antes de beber todas e baixar o nível,
porque, embora estejam todos em momentos de descontração, os chefes estarão lá.
E geralmente eles têm boa memória e não se esquecem do que vocês fizeram.
Em realidade, meu professor aconselhava o bom senso. Tenham bom senso
para não se arrependerem mais tarde.
Já fiquei sabendo de carreiras promissoras
em grandes organizações que foram decepadas pelos porres cometidos nessas
festas de final de ano.
O mesmo princípio de meu velho professor aplica-se às redes sociais que,
se bem utilizadas, só agregam valor sob o ponto de vista profissional e
pessoal. Eu mesmo as utilizo e retiro delas gratas satisfações e alegrias.
Será que Kardec as utilizaria?
Acredito que com bom senso, provavelmente o Codificador trocaria
impressões com outros internautas.
No entanto, é preciso saber utilizá-las com inteligência,
transformando-as em aliadas ao nosso processo de aprimoramento como ser humano
e não como bombas que explodem por conta de nosso despreparo em lidar com essas
mídias.
A propósito, há até quem cometa o disparate de clonar um perfil. Isto
mesmo.
Clonaram o perfil do notável orador espírita Raul Teixeira no Facebook.
No entanto, o orador já tratou de acertar a situação e avisar a todos que não
se utiliza da ferramenta.
Perceba, caro leitor, como a falta de bom senso faz com que as pessoas
extrapolem os limites e causem enorme dor de cabeça aos outros.
Um absurdo!
Por isso, nos churrascos de final de ano ou em nossos perfis nas redes
sociais, o bom senso é que deve nortear a nossa conduta.
Nada de
extravagâncias, segredos contados e opções que só dizem respeito a nós,
partilhados com o resto do mundo.
Nada, também, de clonar perfil, de se fazer
passar por outro.
Tenhamos a coragem de assumir nossos pontos de vista e nossa
identidade.
Pois isso pega mal; pega mal e prejudica em processos de seleção,
na expansão dos círculos de amizade, possibilitando, inclusive, acerto de contas
com a justiça.
Tomemos, pois, cuidado com o que andamos espalhando ao mundo sobre nós
mesmos e os outros.
Pois todos estão com os olhos bem abertos sobre o que
pensamos, fazemos, sonhamos, enfim, sobre o que somos ou o que queremos ser,
principalmente as empresas e aqueles que foram, de uma forma ou outra,
prejudicados, como no caso de Raul Teixeira.
Pensemos nisso.
WELLINGTON BALBO - O Consolafor