sexta-feira, 18 de maio de 2012

Obras Póstumas!
Soa novamente a hora de o divulgarmos amplamente, para que seus preciosos
textos estejam conosco a nos orientar
o procedimento e os passos no bem

Eis um livro muito especial. Esquecido, infelizmente! Convido o leitor a buscar seu exemplar na estante de sua biblioteca para folhear a obra. Sugiro iniciar pelo índice para inteirar-se do conteúdo do livro.  
Contém ele duas partes. Na primeira delas, estudos de Kardec sobre empolgantes temas e na segunda parte anotações íntimas, detalhes da vida particular do Codificador, comunicações dos Espíritos diretamente ligados à tarefa da Codificação Espírita e a preciosidade dos textos Projeto 1868, Constituição do Espiritismo e Credo Espírita.  
Como se sabe, o livro foi publicado em janeiro de 1890, após a desencarnação de Allan Kardec, contendo anotações, textos e estudos encontrados em seu gabinete de trabalho.  
Apesar da riqueza dos estudos contidos na primeira parte da obra, parece-nos que a segunda parte do livro deva ser consultada e amplamente divulgada entre todos nós, atuais espíritas do Brasil e do mundo, principalmente a partir do texto Fora da Caridade Não Há Salvação. Referido texto dá início a uma sequência maravilhosa de reflexões, que se distribuem nos capítulos Projeto 1868, Constituição do Espiritismo e Credo Espírita, como já citado acima.  
A obra ainda contém a biografia de Kardec, o discurso de Flammarion por ocasião do sepultamento do Codificador e os preciosos estudos intitulados Teoria da Beleza, A música celeste, Música Espírita, O Caminho da Vida e As cinco alternativas da Humanidade, entre outros.  
“Os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou
tratados com dureza”
 
Quando volto a reler tais preciosidades, fico a pensar: Por que nos esquecemos delas? Seria leviandade nossa? Seria desprezo ou indiferença? O que nos leva a desprezar tão valiosos escritos e tão importantes reflexões de Kardec?  
Digo isto porque se trata de textos tão importantes que deveriam constituir material de reflexão diária para os estudiosos do Espiritismo.        
Para mostrar a importância do conteúdo desse livro, infelizmente pouco conhecido dos espíritas, seleciono para o leitor alguns pequenos trechos.  
Ao final das pequenas transcrições, inseri outros comentários: 
a) “Estes princípios, para mim, não são apenas uma teoria, eu os coloco em prática; faço o bem tanto quanto o permite a minha posição; presto serviço quando posso; os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou tratados com dureza; (...)  Continuarei, pois, a fazer todo o bem que puder, mesmo aos meus inimigos, porque o ódio não me cega; e eu lhes estenderia sempre a mão para tirá-los de um precipício, se a ocasião disso se apresentasse. Eis como entendo a caridade cristã; compreendo uma religião que nos ordena retribuir o mal com o bem, com mais forte razão restituir o bem pelo bem. Mas não compreenderia jamais a que nos prescrevesse retribuir o mal com o mal.” – do capítulo Fora da Caridade não há salvação.  
“A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e
todos os deveres sociais”
 
b) “(...) Os homens não podem ser felizes se não vivem em paz, quer dizer, se não estão animados de um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocos, em uma palavra, enquanto procurarem se esmagar uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; mas supõem a abnegação; ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; portanto, com seus vícios nada de verdadeira fraternidade, partindo, da igualdade e da liberdade, porque o egoísta e o orgulhoso querem tudo para eles. Estarão sempre aí os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto eles reinarem, os sistemas sociais mais generosos, mais sabiamente combinados, desabarão sob os seus golpes. (...)” – do capítulo O egoísmo e o orgulho – suas causas, seus efeitos e os meios de destruí-los.  
c) “(...) Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade, trabalhai, antes de tudo, na base do edifício, antes de querer coroar-lhe a cumeeira; dai-lhe por base a fraternidade em sua mais pura acepção; mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la sobre uma bandeira; é preciso que ela esteja no coração e não se muda o coração dos homens com decretos. Do mesmo modo que, para fazer um campo frutificar, é preciso arrancar-lhe as pedras e os espinheiros, trabalhai sem descanso para extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, porque aí está a fonte de todo mal, o obstáculo real ao reino do bem; destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, até os últimos vestígios, os tempos de barbárie e de privilégios, e todas as causas que mantêm e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, que se recebe, por assim dizer, desde a meninice e que se aspira por todos os poros na atmosfera social; só então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade; então, também, se estabelecerão por si mesmos, sem abalos e sem perigo, os princípios complementares da igualdade e da liberdade. (...)” – do capítulo Liberdade, Igualdade, Fraternidade. 
“O anátema secreto tornar-se-á oficial, e os Espíritas serão rejeitados pela Igreja romana” 
d) O clero clamará heresia, porque verá que nele atacas firmemente as penas eternas e outros pontos sobre os quais apoia a sua influência e o seu crédito, clamará tanto  mais que se sentirá muito mais ferido do que pela publicação de O Livro dos Espíritos, do qual a rigor, podia aceitar os princípios dados; mas, no presente, vais entrar num novo caminho onde ele não poderá te seguir. O anátema secreto tornar-se-á oficial, e os espíritas serão rejeitados junto aos judeus e aos pagãos pela Igreja romana. Em compensação, os espíritas verão seu número aumentar, em razão dessa espécie de perseguição, sobretudo vendo os padres acusarem de obra absolutamente demoníaca uma Doutrina cuja moralidade brilhará como um raio de Sol pela publicação mesma de teu novo livro, e daqueles que o seguirão. Eis que a hora se aproxima em que será preciso declarar abertamente o Espiritismo por aquilo que ele é, e mostrar a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; a hora se aproxima em que, diante do céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana.” – Trecho de uma  mensagem mediúnica obtida em Ségur, em 9 de agosto de 1863, sobre as consequências da publicação d´O Evangelho segundo o Espiritismo. 
Percebe-se, com clareza, que referidos textos – entre outros – precisam ser copiados, distribuídos, lidos e estudados em conjunto por todos nós em nossas reuniões públicas ou íntimas de estudos, em nossas instituições, pela preciosidade de suas considerações. Pela nossa imperfeição humana, estamos muitas vezes esquecidos da caridade nos relacionamentos, nos julgamentos, ou nos iludimos com tolas vaidades, colocando a perder esforços de décadas daqueles que ergueram ou fundaram as instituições a que atualmente nos entregamos. 
Por outro lado, as anotações pessoais do Codificador, seus pensamentos íntimos (como o texto Fora da Caridade não há salvação), suas lutas e dificuldades precisam novamente ser colocados à nossa visão para refletirmos no tempo que perdemos com picuinhas e assuntos sem importância, retardando esforços no bem, onde deveríamos concentrar mais nossas atenções... 
Parece-nos que não podemos deixar tal obra no esquecimento. Cento e vinte anos depois de sua publicação, soa novamente a hora de a divulgarmos amplamente, para que seus preciosos textos estejam conosco a nos orientar o procedimento, o comportamento, os passos no bem.