quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O PINTOR

 Certo pintor foi contratado para pintar o barco de um homem rico, que morava na mesma cidade que ele. 

Durante seu trabalho, percebeu um furo no casco, que poderia provocar o afundamento da embarcação e pôr em risco seus ocupantes. 

Reparou o problema e concluiu seu trabalho, deixando o barco como novo.

Dias depois, o dono do barco o procurou para pagar pelo serviço feito. Ao receber o cheque, o pintor notou que o valor era muito superior ao combinado. Estende-o de volta, informa o emitente sobre o erro e o valor correto. 

E o homem rico se explica:

― O cheque é seu e você merece o valor que registrei aí.

Depois que recebi o barco de volta, pintado, e deixei que meus filhos saíssem nele, é que me lembrei do furo no casco, que queria ter-lhe pedido que reparasse antes da pintura.

 Corri, desesperado, até à beira do lago, imaginando que o barco teria afundado e meus filhos morrido.

 Encontrando-os de volta à terra firme, tomei conhecimento de que você havia feito o conserto sem que eu lhe pedisse. Além do serviço perfeito, você não me cobrou por ele. Aliás, sequer o mencionou. Você tem ideia do que fez?

 Foi além do demandado e salvou a vida dos meus filhos. Receba o cheque – você merece cada centavo.

O pintor ouviu com atenção e retrucou:

― Por favor, pegue seu cheque de volta e me faça outro, no valor que havíamos combinado pela pintura. 

Não me tire a oportunidade e o prazer de ter sido útil sem ganho financeiro.

 A alegria que sinto, sabendo que fui útil, ainda mais acrescido com a possibilidade de ter salvado as vidas de seus filhos, é pagamento mais do que suficiente pelo que fiz. 

Além disso, creio que a vida deles vale muito mais do que isso. Mesmo que eu aceitasse seu dinheiro, não creio que você consideraria que foi o suficiente.

Essa parábola, cuja origem desconhecemos, nos leva a refletir nas nossas motivações. 

De tudo o que fazemos num dia de trabalho, o que é motivado pela remuneração pretendida, e o que é pelo espírito de servir além do pagamento? 

Quanto somos levados a agir em troca de algo, e quanto apenas pelo prazer de fazer um bem, mesmo que pequeno? 

Que fração de nós é mercantil, e que fração é benemérita? 

Já aprendemos a agir de forma totalmente desinteressada, pelo menos em algumas oportunidades, ou só nos movimentamos tendo em vista alguma compensação?

Trabalhar por um salário é justo e necessário, afinal de contas precisamos sobreviver. Mas trabalhar só pelo salário é muito empobrecedor.

 Qualquer um que só vise o ganho, financeiro ou não, sempre recebe mais do que vale.

O espírito de servir vai muito além do simples trabalhar. Implica uma doação de algo que flui da alma e só pode fazê-lo quem tem o que doar.

 Mercenários que somos na maior parte do tempo, sempre pensamos em termos de reciprocidade. 

Num mundo mesmerizado pelo consumismo exacerbado, pensamos o tempo todo em termos de troca – o que ganho, se lhe dou isso? 

Qual a paga pelo meu esforço extra? Quanto vale cada gesto que faço?

Nessa pauta, perdemos um dos prazeres mais puros e, talvez, o que mais dignifica o homem – o prazer de servir por servir, de fazer o bem pelo bem. 

Essa incapacidade é que nos leva a cobrar a gratidão do outro – 

“Não precisa me pagar; basta-me um ‘muito obrigado’!”

Na própria expressão de agradecimento está o aprisionamento moral do beneficiado, que passa a estar obrigado a uma contrapartida. 

E recusamos novos préstimos, se o outro não é agradecido o suficiente.

Doadores não cogitam retorno.

Conta-se que alguém, observando o trabalho abnegado de Madre Teresa de Calcutá, disse-lhe: ― “Irmã, por dinheiro nenhum do mundo eu faria o que a senhora faz!”.

 E ela respondeu: ― “Nem eu, meu filho, nem eu.” Poucos entendem essa postura, e muitos a reprocham.

O ato de bondade desinteressado é alimento para nossas almas. Se anônimo, então, é néctar divino, ambrosia que só os moradores do Olimpo do espírito podem apreciar.

Apesar de tudo, esse tipo de realização não é difícil.

O indivíduo que dedique um pouco de atenção para descobrir em todo trabalho que execute a oportunidade de servir, encontrará inúmeras possibilidades.

 É um motorista? 

Dirija com cuidado extra, zelando algo mais pela segurança de seus passageiros e do trânsito em volta. 

É um atendente de balcão ou telefone? 

Seja cortês além do que lhe exige o treinamento recebido e a etiqueta da função. É um artesão? 

Faça seu produto como quem executa uma obra de arte, não como um mero objeto de consumo. É um gestor? 

Gerencie com espírito de líder, que se sabe responsável pela felicidade de seus liderados.

 É um médico?

Veja seu paciente como uma vida demandando sua cooperação para prosseguir sua caminhada, em vez de apenas mais um nome na lista do convênio.

Tudo na vida é trabalho, e em todo trabalho há oportunidade de servir, embora nem sempre nos preocupemos com isso.

E, se “o trabalho-ação transforma o ambiente, o trabalho-serviço transforma o homem” (Emmanuel).


Estamos servindo, para construir um mundo melhor, ou apenas trabalhando para manter o que aí está?


JOSÉ LOURENÇO DE SOUSA NETO - O Consolado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

 
               Espíritas: estudar, por quê?

“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram.” 
O Espírito da Verdade. (Paris, 1860).

Aprendemos, logo ao adentrarmos os portões do conhecimento Espírita, que a Doutrina nada mais é do que o pagamento de uma promessa, feita, há dois mil anos, pelo governador de nosso Planeta: Jesus.
Trata-se do fenômeno conhecido como “O Consolador”, comentado pelo Mestre e registrado pela pena do apóstolo João, alguns anos depois: "Se me amais, guardai meus mandamentos.

 E rogarei a meu Pai e ele vos dará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós" (João, 14:15 a 17).

Em meados do século XIX, quando a humanidade já se encontrava em condições de recebê-lo e compreendê-lo, iniciaram-se vários fenômenos singulares nos cafés da França. 

Mesas giravam, ‘sozinhas’, respondendo questões propostas pelos visitantes, numa verdadeira apresentação do Além, que buscava, através dos fenômenos que feriam os sentidos, chamar a atenção das pessoas para algo muito mais grandioso do que até então se imaginara. 

Muito do que há entre ‘o céu’ e a Terra, foi revelado durante tais contatos. Então, aos dezoito dias do mês de abril de 1857, surgiu para a humanidade a Terceira Revelação, ditada pelos Espíritos e organizada pelo professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, nosso querido Allan Kardec.

Temos, portanto, no Consolador, uma vontade, uma programação, um planejamento da Espiritualidade Superior. Jesus desejou que recebêssemos tais informações e estas nos chegaram, límpidas, claras, objetivas e lógicas.

Na obra viga mestra - verdadeiro tratado filosófico que recebeu o nome de O Livro dos Espíritos - podemos encontrar, divididos em quatro grandes módulos, questões e apontamentos sobre o Criador, sobre a natureza da criatura, as relações destas criaturas com o meio e os resultados de tais interações, com encadeamento lógico, estruturado, repleto de racionalidade e objetivos bem definidos.
Proposta fundamental 

Uma das exortações feitas pelo Consolador, ou Espírito da Verdade, durante suas revelações a Kardec, destacamos no início deste artigo. Pediu-nos Ele que nos amássemos e nos instruíssemos. 
Em seguida, comenta que aquilo que Jesus nos ensinou é a Verdade, mas que deturpamos tais conceitos, tendo como resultado o que vimos ao longo de nossa própria história. 
Ou seja, devido à falta de amor e de estudo, o cristão adulterou o cristianismo, causando imensos prejuízos à humanidade.
Meditemos mais, pois, nesta exortação.
Num primeiro momento, pede-nos que nos amemos. 

Podemos concluir, portanto, que precisamos aprender a nos suportar uns aos outros, nos compreender, e, acima de tudo, nos ajudar, mutuamente, com verdadeiro espírito fraternal. 

Parece-nos que, embora ainda não tenhamos conseguido colocar em prática esta parte da proposta em toda a sua pujança, já compreendemos a sua necessidade e temos nos esforçado neste sentido. 

Tanto que, na maior parte das Casas Espíritas, o bom convívio se faz presente, a ajuda aos desafortunados do mundo é constante, com as mais diversas formas de ajuda material.

Entretanto, quando analisamos a prática da segunda parte, proposta na mesma frase, percebemos que nem sempre existe uma consciência sobre tal necessidade, muito menos de que a primeira parte da evocação depende, diretamente, da segunda e que a segunda, por sua vez, depende, totalmente, da primeira.

Explico-me.

O uso da razão, dos conhecimentos doutrinários, é que norteará a expressão do amor, impulsionando-o para a realização de forma plena, segura e eficaz.

Um exemplo simples, para auxiliar-nos na compreensão do que afirmo:

 Chega a informação, para certo espírita, de que determinada pessoa está às voltas com problemas emocionais, ouvindo vozes e vendo vultos pela casa, apresentando episódios de terror, com profundos desequilíbrios psíquicos. 

Com muito ‘amor’, aproxima-se o tarefeiro da Casa Espírita, propondo àquele que sofre estes revezes, o exercício da mediunidade e coloca-o, de imediato, como participante das tarefas de intercâmbio com o além.

 E afirma: 

Isso é mediunidade, tenha certeza. Basta que comece a trabalhar, que desenvolva seu dom, para que cessem os problemas”.

 Ledo engano. Reflexo da falta de estudo. Apesar de estar munido da melhor das intenções, devido ao fato de não conhecer bem os pressupostos básicos do Espiritismo, talvez acabe por encaminhar a pessoa em desequilíbrio a problemas ainda maiores.

A mediunidade em si é uma faculdade neutra, que não tem qualquer conexão com os desajustes físicos, mentais e espirituais da criatura. Estes surgem por motivos específicos, e requerem o tratamento médico, psicológico ou espírita adequado ao caso. 

Somente após seu retorno à normalidade é que o companheiro poderá vir a participar, como médium, dos trabalhos mediúnicos, se a faculdade surgir espontaneamente. 

No caso de desequilíbrios mentais e/ou espirituais, o exercício mediúnico não pode nunca ser iniciado, ou continuado. 

Um médium nessas condições não poderá contribuir positivamente com nada, além de gerar problemas para o grupo, inclusive facilitando a atuação de Espíritos interessados na instalação da desarmonia, dos melindres, das suspeitas, do enregelamento das relações entre os membros” (CHIBENI, 1995). 

*grifos nossos.

Falta-lhe, pois, [ao tarefeiro em questão] debruçar-se sobre as Obras Básicas, para delas absorver o conhecimento necessário sobre este e tantos outros temas que fazem parte de nosso cotidiano.

Amor sem conhecimento é como um facho de luz sem direção inteligente. 

Tanto pode iluminar os caminhos como ser abruptamente eclipsado pela barreira da ignorância, deixando de atuar dentro de suas potencialidades. 

O verdadeiro amor educa, eleva, promove autonomia, amadurecimento. E, para tanto, precisa da razão como bússola.
Por outro lado, a inteligência necessita do amor para ser útil, ética e sublime.

Ferramenta preciosa, deve ser usada para o bem, pois que, sem o amor, a inteligência se perde na escuridão da vaidade e do egoísmo.

Ainda dentro dos conceitos espíritas, aprendemos que todos tendemos à perfeição, e, para que tal objetivo se cumpra, precisaremos desenvolver tais aspectos complementares: o amor e o conhecimento.

A Sabedoria nada mais é que a inteligência revestida de amor, ou ainda podemos situá-la como sendo o amor guiado pela Inteligência.

Tipos de Caridade

Outro ponto que desejamos destacar está na concepção sobre o significado e abrangência da palavra ‘caridade’.

 Muitos espíritas, apoiados na exortação de Kardec, que afirmou, categoricamente, que fora da caridade não há salvação, consideram a necessidade de ajuda material ou moral a todas as criaturas, atendendo aos necessitados que batem à sua porta, seja através de alimentos, roupas, utensílios, diálogo amoroso, ajuda com documentações etc. Belo e importante trabalho, que deve continuar sendo realizado da melhor forma possível. 

Esquecem-se, porém, de que esta [a caridade] é ainda mais ampla, abrangendo outro aspecto, tão importante quanto os anteriores.

 Devemos realizar caridade material, claro, assim como devemos realizar a caridade moral, nos suportando, nos ajudando nas questões ligadas ao emocional, nos diversos setores da vida.

Entretanto, a caridade envolve um aspecto importantíssimo do desenvolvimento humano, relacionado à instrução. 

Esta faceta da caridade pode ser classificada, segundo as palavras de Jesus, como sendo ‘o pão para o Espírito’.

Desenvolver e praticar esta caridade é, antes de tudo, exercício de inteligência aliada ao amor.
*
Conhecer, compreender e manter a mensagem enviada por Jesus à Terra em sua forma original, respeitando suas diretrizes, inclusive no que se refere à progressão dos conhecimentos relacionados, é compromisso de todo espírita-cristão, sendo grande sua responsabilidade diante do manancial de informações contidas dentro da Doutrina Espírita.

Compromissos do Espírita-Cristão

Podemos, portanto, relacionar, de forma sucinta, três grandes compromissos assumidos pelo Espírita, diante de Deus e de Jesus:

a) Compromisso com a Doutrina:

 Não conseguiremos manter, proteger e divulgar com responsabilidade uma Doutrina se não conhecermos sua base, seu conteúdo. 

Numa analogia bastante simples, podemos comparar com certa pessoa que segue em direção ao aeroporto para receber alguém, com o compromisso de protegê-lo e encaminhá-lo até que chegue a seu destino, neste país. 

Porém, chegando lá, percebeu que não sabia como era tal pessoa, não conhecia seu nome completo e sequer estudara o caminho que deveria usar para levá-la a seu destino, em segurança. Impossível realizar tal missão com sucesso.

Urgente que estudemos a Doutrina com seriedade! Tal atitude é demonstração de respeito, de amor, de importância a Jesus, à Sua mensagem e ao empenho de seus tarefeiros. 

Divulgá-la, de forma responsável, é dever de todos nós, sob risco de cometermos os mesmos erros já ocorridos com a Doutrina trazida pelo próprio Cristo, há dois mil anos.

Admitir a progressão doutrinária apenas através de obras confiáveis, que caibam dentro do método proposto por Kardec [o CUEE], faz parte deste contexto de infinita importância. Logo mais tornaremos a falar a respeito.

b) Compromisso com sua melhora íntima:

 "Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade" – esclarece Allan Kardec. 

E continua: "A fé raciocinada que se apoia nos fatos e na lógica não deixa qualquer obscuridade: crê-se, porque se tem certeza e só se está certo quando se compreendeu" (KARDEC, 1861). 

Portanto, crer com propriedade, depende, invariavelmente, de se conhecer, racionalmente, o objeto de sua crença. 

Alterar o que não vai bem em nós, abrindo mão de vícios, abastecendo-nos de virtudes – a tão famosa reforma interior – só se concretiza, em toda a sua plenitude, se sabemos o porquê precisamos mudar, em que tempo e de que forma.

 “No caminho da evolução é imprescindível passarmos pela esquina do autoconhecimento.” (GELERNTER, 2011). Precisaremos nos reconhecer no mundo, em nós mesmos, em nossas relações interpessoais, para, então, conseguirmos avaliar as mudanças que precisam ser realizadas.

c) Compromisso com o próximo: Ninguém chega a Deus se não for através de Suas criaturas. 

Portanto, sem as relações humanas, não há evolução. 

É através da tessitura das relações que conseguiremos dar os passos necessários, exercitando o amor progressivamente, vida após vida, num continuummaravilhoso, repleto de oportunidades oferecidas pelo Criador. 

Todo espírita-cristão deve ter em sua mente que, independentemente da experiência que esteja vivendo, precisará buscar desenvolver em si aquilo que chamaremos de ‘postura do mestre’:

 ensinar e praticar aquilo que ensina, amando e ajudando as pessoas em seu desenvolvimento individual, ao mesmo tempo em que trabalha, incessantemente, por seu próprio desenvolvimento. Neste sentido, utilizando-se de tom fraternal, explica-nos Emmanuel: 

se abraçaste, meu amigo, a tarefa espiritista-cristã, em nome da fé sublimada, sedento de vida superior, recorda que o Mestre te enviou o coração renovado ao vasto campo do mundo para servi-Lo. 

Não só ensinarás o bom caminho. Agirás de acordo com os princípios elevados que apregoas” (EMMANUEL, p. 371).

Deve, todo aquele que se diz espírita, praticar o Espiritismo, o verdadeiro cristianismo redivivo na Casa Espírita, contribuindo pelo progresso do Planeta, saindo de ideias rudimentares dos cultos exteriores para os cultos interiores. 

Deve, ainda, saber como receber os neófitos, como prestar o melhor atendimento fraterno, sem confusões doutrinárias, sendo, portanto, imprescindível [mais uma vez repetimos] estudar os preceitos básicos do Espiritismo.

O que estudar?

Toda a construção de novos conhecimentos dentro de disciplinas preexistentes, parte, essencialmente, de certos axiomas, certos pontos fundamentais, apresentados por teóricos sérios, que se tornam, devido a seu esforço, responsabilidade e seriedade, clássicos da área em questão. 

Einstein tornou-se um clássico da Física Quântica; Freud, da Psicanálise; Commenius, da Pedagogia, e assim por diante. Para construirmos novos conhecimentos dentro das ciências destacadas, necessitamos repassar conceitos primevos, trazidos por estes expoentes.

Pois bem: 

O Espírito de Verdade, sendo o Consolador prometido por Jesus, é o clássico da Doutrina Espírita, em conjunto com sua equipe espiritual e Allan Kardec que, deste lado da vida, organizou, codificou os conhecimentos, dando enorme contribuição à Doutrina com seus comentários lúcidos, pertinentes. 

Portanto, nossos primeiros passos dentro do estudo espírita devem ser em torno das Obras Básicas, sendo que estas mesmas obras devem ser reestudadas ao longo de toda a encarnação do estudante, sendo este um eterno aprendiz. 

Ousamos comentar que o Espiritismo assemelha-se muito mais com o cordão que liga todas as contas do colar dos saberes humanos do que mais uma das contas. 

Precisaremos estudá-lo, por sua grandiosidade a abrangência, ininterrupta e sistematicamente, ao longo de todos os anos em que habitarmos o Planeta, e, certamente, após a nossa desencarnação. 

Não apenas para podermos contribuir com sua manutenção e propagação responsável dos conhecimentos, mas também para que possamos utilizá-los em proveito próprio e por toda a Humanidade.

André Luiz, diante deste tema, comenta que devemos 

"consagrar diariamente alguns minutos à leitura de obras edificantes, esquecendo os livros de natureza inferior, e preferindo, acima de tudo, os que, por alimento da própria alma, versem temas fundamentais da Doutrina Espírita. Luz ausente, treva presente. (...) Digerir primeiramente as obras fundamentais do Espiritismo, para entrar em seguida nos setores práticos, em particular no que diga respeito à mediunidade. Teoria meditada, ação segura. Disciplinar-se na leitura, no que concerne a horários e anotações, melhorando por si mesmo o próprio aproveitamento, não se cansando de repetir estudos para fixar o aprendizado. Aprende mais, quem estuda melhor" (LUIZ, A, 1978).

Conjuntamente, podemos nos enriquecer com os conteúdos existentes em obras complementares confiáveis, por serem verdadeiros manuais sobre Espiritismo a nos facilitar o entendimento, ampliando as revelações, de acordo com o método CUEE, anteriormente citado, que nada mais é do que o uso da razão em novas questões apresentadas por médiuns diversos [e idôneos], todas elas contendo os mesmos ensinamentos, assinadas por determinados Espíritos que se manifestaram através destes. Tais obras, para que sejam consideradas complementares, devem ser, concomitantemente, coerentes com os axiomas da Doutrina, lógicas, racionais, sendo que sua linguagem, seu estilo deve ser “elegante, instrutivo, lúcido, pacificador, consolador, moralizante e respeitador”. (PEREIRA, p. 28).

 Caso alguma informação nos chegue que não esteja de acordo com os pressupostos acima mencionados, não deve ser acatada como conhecimento Espírita, sendo de responsabilidade do divulgador esclarecer aos neófitos sobre este escolho, comum na atualidade, que tantos prejuízos tem trazido à saúde da propagação e manutenção doutrinária.

Como estudar?

Disciplinando o uso do tempo: Emmanuel, o orientador mediúnico de Chico Xavier, quando se apresentou pela primeira vez ao grande médium brasileiro, foi enfático, pronunciando as três regras básicas, necessárias para que Chico pudesse exercer seu mandato mediúnico com sucesso.

 Disse ele: “Disciplina, disciplina, disciplina”.

Na esperança de termos conseguido clarificar o leitor quanto à importância dos estudos para o espírita-cristão, seguimos o raciocínio, salientando sobre a imprescindibilidade da disciplina nas questões do estudo, aproveitando-se, da melhor maneira, do tempo sagrado que nos é concedido.

Sabemos que a realização de determinadas atividades em nosso cotidiano depende do quanto de tempo temos para nos dedicarmos a elas. 

Entretanto, não é menos verdadeiro que o tempo estará fatiado de acordo com nossas prioridades. 

Temos, num dia, 1440 minutos. Se consagrarmos 40 minutos, diariamente, aos estudos, estaremos utilizando apenas 3% do total. 

Somados, estes 40 minutos resultarão em preciosas 240 horas ao ano, utilizadas com sabedoria. Significativo empenho em benefício do ser, do próximo e da própria Doutrina.

Podemos ainda, a titulo de modesto auxilio, destacar alguns hábitos saudáveis no campo dos estudos espíritas:

a)                A prática do Evangelho no Lar, uma vez na semana, em dia e horário pré-determinado, além de trazer proteção ao lar, colabora eficazmente para a manutenção do equilíbrio dos familiares. Encontro marcado com Benfeitores Espirituais é compromisso com o bem, resultando em harmonia íntima e do grupo que ali se reúne.

b)                O estudo dentro da Casa Espírita, uma vez na semana, como exercício de troca e absorção dos conhecimentos doutrinários. Respondendo a relevante pergunta a este respeito, o Espírito Emmanuel esclarece que “tanto para os jovens como para os adultos o estudo em grupo é o mais eficiente, até porque não podemos nos esquecer que, na base do Cristianismo, o próprio Jesus desistiu de agir sozinho, procurando agir em grupo. Ele reconheceu a sua missão divina, constituiu um grupo de doze companheiros para debater os assuntos relativos à doutrina salvadora do Cristianismo, que o Espiritismo hoje restaura, procurando imprimir naquelas mentes, vamos dizer, todo o programa que ainda hoje e' programa para nossa vida, depois de quase vinte séculos. Programa de vivência que nós estamos tentando conhecer e tanto quanto possível aplicar na Doutrina Espírita, no campo de nossas lides e lutas cotidianas" (EMMANUEL).

c)                 A oração com leitura de pequeno trecho de teor elevado, em todas as manhãs e todas as noites, tranquiliza a mente, promove reflexões e lucidez para os embates do dia, servindo, ainda, de preparação para o desdobramento do Espírito, durante o descanso do corpo. Cabe a cada um a melhor organização de seu tempo no aproveitamento das horas para este mister. Muitas outras possibilidades existem, sendo todas elas de grande valor para o espírita responsável, ciente de seus deveres diante de si e do mundo.

Lembremos ainda que a função principal da Casa Espírita é a de auxiliar a humanidade através de estudos constantes, ofertando campo de trabalho, facilitando o amadurecimento do indivíduo e das sociedades. 

Neste sentido, recordemos a salutar advertência do Espírito Batuíra, quando nos informa que “toda congregação espírita na Terra tem como finalidade maior esclarecer pelo estudo, promover o amadurecimento emocional pelo trabalho e desenvolver as virtudes em potencial. 

Eis a atividade prudente e prioritária dos aprendizes do Evangelho. A ação caritativa e a boa vontade do Movimento Espírita prestam inestimáveis serviços à sociedade e ao Estado, conquanto não devam assumir de maneira simplista e com espírito salvacionista as funções do serviço social, que cabe à administração pública

 (na obra ‘Conviver e Melhorar’). *grifos nossos.

Finalizando nossos apontamentos, agradecemos vossa atenção até aqui. Sabemos que este tema não é tão popular quanto tantos outros, que por si só chamam a atenção de muitos, como por exemplo, as curas espirituais. 

Entretanto, sabemos que estudar também é medida profilática nas questões da saúde, uma vez que o saber é a antessala do fazer. Na esperança de ter contribuído com algo, despeço-me, realmente agradecida.

"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor."  Paulo (1 Coríntios 15:58).

Referências Bibliográficas:
CHIBENI, S., Noções Básicas da Mediunidade, artigo disponível no site Portal do Espírito, acessado através do endereço:
CRISTIANO, E./ pelo Espírito de Yvonne Pereira; A Pena e o Trovão; A Importância do Conhecimento Espírita; Campinas, SP, Ed. Allan Kardec, 2010.
GELERNTER, C. A Fala e a Escrita Espírita: Uma Reflexão, artigo disponível no site Proseando, através do link: http://claudiagelernter.blogspot.com/2011/05/fala-e-escrita-espirita-uma-reflexao.html, acessado em 01 de junho de 2011.
NETO, F.E.S., Conviver e Melhorar, pelo Espírito Batuíra, Ed. Boa Nova, 1999.
JOÃO, Apóstolo, Novo Testamento, 14:15 a 17.
KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo, Advento do Espírito da Verdade, Tradução Guillon Ribeiro. 3ª Edição. Rio de Janeiro: FEB. 1994.
__________ O Livro dos Espíritos. Tradução Evandro Noleto Bezerra. Edição Especial. Rio de Janeiro: FEB. 2006.
XAVIER, F. C. Pão Nosso, lição Crê e Segue, pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 24ª edição, 2004.
XAVIER, F. C.; VIEIRA, W. Conduta Espírita. 6ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978.

XAVIER, F.C.; A terra e o Semeador, 6ª. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1975.

CLAUDIA GELERNTER 

sábado, 1 de novembro de 2014

               Tempos novos. Velhos hábitos?

Toda a natureza se comporta de alguma forma. Naquelas em que o instinto vige, o comportamento parece uniforme, com pequenas variações de acordo com a parcela da inteligência rudimentar que começa a surgir. 

Exemplo rápido, algumas espécies de macacos que já conseguem utilizar pequenas ferramentas para melhor conseguirem seus alimentos. 

Uma infinidade de estudos pode ser empreendida nos comportamentos dos irracionais. Sempre impressionam pela sutileza, multidiversidade e sofisticação.

Como viemos de lá, desde cedo lidamos com este assunto. Nós humanos nos comportamos de acordo com nossas culturas, tradições, pressões e histórico individual. Cada qual tem sua história. Cada qual tem suas respostas.
Verdade é que vivemos dentro do nosso universo particular. 

O que já conseguimos perceber de tudo o que nos cerca significa o reflexo dos avanços que já fizemos em nossa maneira de olhar e entender e racionalizar a partir da lógica.

 Tudo o que ocorre à nossa volta faz parte do lado de fora de nós. Para esta relação nos utilizamos dos cinco sentidos. Eles nos capacitam a ver, tocar, cheirar, ouvir e sentir o gosto das coisas, de tudo aquilo que nos rodeia. 

Temos uma estrutura psíquica formada desde milênios nas múltiplas experiências vividas a partir da mônada divina quando se desprendeu de Deus e foi buscar sua evolução. 

Como somos singulares em Deus, cada qual vivenciou no tempo à sua maneira. Isto é particular de cada ser, donde não podemos exigir que o outro faça exatamente o que fazemos. Todos podem chegar a um resultado único seguindo caminhos diferentes. É isto que torna a evolução satisfatória e diferente para cada ser.
Ora, segundo Jung, o ego é o centro da consciência e um dos maiores arquétipos da personalidade. Ele fornece um sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes. 

Ainda, de acordo com Jung, a princípio a psique é apenas o inconsciente. O ego emerge dele e reúne numerosas experiências e memórias, desenvolvendo a divisão entre o inconsciente e o consciente. É, pois um estágio de transição entre o que já foi vivido com o despertamento do self, o

 “eu interno” ou o “em si mesmo”.

O ego assume várias personas que são as máscaras criadas para cada situação. 

Eis aí a grande diferença entre os indivíduos. Tudo vai depender da forma como cada qual trabalha seus recursos mnemônicos e suas libertações dos mitos, ritos e tabus, ou não. Daí a enorme diferença entre as pessoas. Cada qual vivenciando o que já se auto-construiu.

Não raro estamos condicionados a vários tipos de comportamento padrão, existentes no meio social ao qual pertencemos, colocando ainda a herança familiar nos quesitos da ética e da moral, lições de berço. Como somos Espíritos reencarnados, cada qual traz um projeto e um histórico.

Ao adentrarmos o seio familiar e concomitantemente o social, começamos a reagir de acordo com nossas tendências. 
Assim é que as crianças muitas vezes têm um início de encarnação totalmente diferente do que vai ser quando chegar à adolescência e à fase adulta. Muitos educadores e pais buscam encontrar um modelo de educar. 
Muito difícil tal tentativa. 
Cada criança deve ser observada em suas reações. 

Assim, pais e educadores necessitam agir como cientistas que trabalham em seus laboratórios, num processo empírico, às vezes, solitários, de experimentação e anotação dos resultados. Quando vemos um cérebro e lemos André Luiz dizendo que ele é o ninho da mente, é bom que aprofundemos um pouco mais nossas definições acerca dos comportamentos. A mente vem de longe. O cérebro é, de agora, agente que reflete o que cada um é.

Dentro deste complexo chamado evolução, cada qual está num grau.

 Minha avó dizia que “os dedos da mão não são iguais”. 

Ela estava certa. 
Os filhos se diferem. 
As lições padronizadas do bem ou do mal sofrem alterações quando entram no universo de cada um. 

Segundo Paolo Pieri da Associação Internacional de Psicologia Analítica da Universidade de Florença, Itália,

 “... os procedimentos racionais são efeitos do inconsciente de reconduzir todo elemento psíquico que observa aos saberes que ela própria já constituiu”. 

Então cada pessoa reagirá a um estímulo de acordo com seu patrimônio psíquico. É sempre bom relembrar que vemos e presenciamos tudo de acordo com as expansões da mônada divina que somos.

Os comportamentos partem dessa premissa. Um indivíduo que ainda não vivenciou as possibilidades dos aprendizados de grande estrutura cognitiva não consegue entender o que outro já entende com facilidade. 
Da mesma forma as reações comportamentais seguirão a ordem dos processos ético-sociais e morais que já aglutinamos e depuramos ao longo da nossa milenar experiência evolutiva. 

Dentro da Pedagogia de Jesus verificamos que o Mestre sempre propunha. Suas lições de alto grau de profundidade podem ser apreendidas por todo tipo de mente no degrau evolutivo em que se situe.

 Há pessoas que entendem que “dar a outra face” significa virar o rosto para que o agressor bata no outro lado. Há outros que entendem que Jesus dizia das faces de uma moeda ou um papel. Se alguém lhe jogar pedras, devolva-lhe flores, correspondendo à outra face daquela ação.

O prof. Carlos Torres Pastorino sabiamente colocou no livro: Impermanência e Imortalidade, psicografia de Divaldo Franco, que 

“um comportamento dinâmico sob inspiração dos sentimentos do ser profundo não opera cansaço nem sofreguidão, não produz inquietação, nem marasmo, porque é sempre renovador em face da vitalidade que possui”. 

Eis um conteúdo que pode alavancar nossas mudanças de comportamentos. 

Comumente se acha que mudar paradigmas é tarefa difícil. Imaginemos alguém que reencarna no Brasil vindo de um país que ainda pune com chibatadas alguns tipos de comportamentos. 

Essa pessoa certamente terá dificuldades em viver aqui desde o início da sua encarnação. Possivelmente terá um comportamento arredio, medroso, especulativo. Precisará conhecer a nova sociedade. 

Precisará se envolver com novas formas de práticas religiosas aqui existentes e, certamente, buscará aquela que mais se aproximar da sua antiga crença, quiçá, retorna a ela através de reencontros com pessoas da sua antiga etnia. 

Quantas vezes nos deparamos com irmãos quase que alienados do contexto social vivido aqui. Não conseguem se adaptar e levam tempo para tal ou até mesmo nunca conseguem e desencarnam sem mudar antigos hábitos, remanescentes do seu passado. O lado contrário também. 

Um brasileiro reencarnado numa região do oriente médio certamente terá grandes dificuldades em adequar-se às leis que regem aquelas sociedades, tendo em vista que o islamismo, diferente das religiões aqui praticadas em grande escala, é, ali, quase religião oficial. Seria um brasileiro, renascido naquelas terras, um rebelde comportamental? 

No outro exemplo seria um antigo islâmico, também aqui renascido, um desajustado social?  São as tais diferenças que necessitam estudos e não julgamentos tácitos, apriorísticos.

Por isso mesmo que Jesus propôs a fundação do Seu Reino na Terra. Quando isto ocorrer, as pessoas falarão uma mesma língua comportamental, pois que o Cristianismo, além de informar, liberta. Além de instruir, expande consciências. 

Atualmente o que se vê é um conjunto de comportamentos setorizados seguindo mais ou menos um padrão. 

E, dentro desses núcleos comportamentais, seus membros diferem da lei geral, motivados por seu livre-arbítrio. 

Quando nos é proposta a reforma íntima, os objetivos a serem alcançados são uma melhor justaposição dos membros sociais, adequando-os não só para a vida como encarnados e sim após a encarnação. 

Sabemos que os planos espirituais mais evoluídos respeitam o livre-arbítrio, mas seus moradores participam de um modelo superior de consciência pela racionalização, pela lógica e pelos sentimentos elevados.

De novo vamos citar o Prof. Pastorino, agora na obra: Técnica da Mediunidade. Segundo ele são vários os planos que nos permeiam. 

A começar pelo mais puro, temos o Plano Divino, depois o Plano Monádico, habitado por consciências que já despertaram em si o Cristo Interno. 

Após, o Plano Espiritual, onde residem os seres transcendentes. Depois o Plano Mental, onde residem os Espíritos que estão no estágio de Homem para cima, noutra faixa da evolução. 

Em seguida temos o Plano Astral, que nos rodeia.

Mais conhecido como plano espiritual, para onde a grande maioria da humanidade vai quando desencarna ou que ali se encontra aguardando sua encarnação e, por último, o Plano Físico, este em que nos encontramos. 

Ou seja, estamos envolvidos num processo de interpenetração onde cada qual comporta de acordo com seu estágio.

Dialogando com as páginas daquele livro, concluímos que o importante é que todos nós passemos a nos nutrir de bons pensamentos, que vão gerar boas palavras e boas ações. 

Como aqueles campos são regidos por faixas de frequências, estaremos atraindo as mais altas frequências que nos capacitarão a maiores entendimentos da vida e suas propostas. 

O tempo de passar pela vida deixando que ela nos leve já está perdido. 

Kardec nos diz em A Gênese, capítulo 18, item 27, que: “... No dizer dos Espíritos, a Terra não deve ser transformada por um cataclismo que anulará subitamente uma geração. 

A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas...”.           

Novos Espíritos mais evoluídos já estão renascendo. Serão eles os precursores da nova civilização. Eles mudarão o projeto de educar, pois necessitarão mais e exigirão muito. 

Eles varrerão o uso das drogas lícitas ou não, por elas não se fazerem representar em seus conteúdos ético-morais e transcendentes. Eles erguerão as novas balizas sociais. 

E já se encontra entre nós uma grande quantidade desses irmãos vindos dos planos superiores da Terra, ou, como disse Manoel Philomeno de Miranda em “Transição Planetária”, virão de outros orbes. 

E como não têm história gravada por aqui, serão livres para obrarem, uma vez que não terão adversários formais em seus encalços. É necessário e de bom senso anexar estas informações aos nossos conteúdos vivenciais diários e em nossos projetos futuros.

Vejamos quais são os nossos comportamentos atuais. O que mais gostamos, desejamos e buscamos. Observemos qual a relação deles com o Evangelho de Jesus. Não o Evangelho religioso e sim o crístico. Ou seja, o Evangelho que toca nossa intimidade e nos convida a modificar ações. 

Analíticos dizem que predomina atualmente nos meios sociais a geração Z – aqueles renascidos entre 1993 a 2010. Estão hoje entre um ano a dezoito anos de idade. 

Segundo dizem é uma geração privilegiada porque recebeu muita coisa pronta e desde criança podem manipular informações de forma digital, bem como buscar conhecimentos. 

São empreendedores e adoram quebrar paradigmas e com senso crítico muito apurado. São estes os novos irmãos que estão chegando ao plano físico. 
Como os estamos recebendo? 

É preciso nos adaptar. Com todo respeito ao dizer, mas existem pessoas que não mudam uma vírgula dos seus hábitos. 

São os famosos “teimosos”, “cabeças duras”, “intransigentes”, que fazem da sua palavra uma lei, dos seus “achismos” a mais absoluta verdade. 

Será que chegarão à velhice como ranzinzas e estorvos para os filhos e netos? Há pessoas que não se completam de forma alguma numa atividade de cunho religioso ou assistencial. 

Não suportam ouvir uma palestra espírita. Não aguentam ou não têm tempo para assistir a um documentário televiso que fale dos progressos das ciências e tecnologias, que quase nunca buscam ler um livro edificante para aprimorar seus conteúdos espirituais e cognitivos, dizendo que não têm paciência para tal, que dormem durante a leitura.

 Ora, se eu durmo perante uma aula, significa que tenho que me cuidar.

A Terra é uma grande escola. São pessoas que não arredam pé das suas posturas vindas desde gerações passadas. 

Não saem do homem de antanho, repetitivo nas encarnações e ultrapassado no tempo atual. É bom que se diga que não estamos aqui falando de avanços comportamentais que maculam a idoneidade moral dos seres, como os inúmeros portais da sensualidade, dos alcoólicos, da gula desenfreada pelo atual e crescente glamour da culinária. 

Da falta de respeito social e familiar, das intransigências pessoais, da busca deliberada do enriquecimento a qualquer custo, da política exercida a seu próprio favor etc. Em tudo se deve buscar a verdade com a bússola do bom senso. Sebe-se que a verdade absoluta é Deus refletido em Suas Leis Naturais.

Comportar-se regiamente significa estar de pleno acordo com as aludidas Leis Naturais, instituídas por Deus, dentro do seu tempo social e espiritual. 

Quando o indivíduo se entende como observador “ele se curva diante da mente superior que dá a essa energia modos de realidade com que ainda temos de sonhar em nossa existência. Nós ainda entendemos essa energia como caos, mas sua ordem é definida. Está acima de nós. É mais profunda”. 

Quem nos fala assim é Ramtha, da Escola da Mente nos EUA. Sim, nos tornarmos observadores do contexto no qual estamos inseridos é dar um passo à frente para a quebra de paradigmas. É dar um avanço no quesito: mudança de comportamentos. Daqui a pouco muitos de nós estaremos do lado de lá suplicando a possibilidade da volta. E voltaremos como? Velhos avós em crianças novas? 

Mas também não se coloca remendo velho em roupa nova. Vai desconfigurar aquilo que acaba de nascer ou ser criado. O velho hábito do ganhar mais no menor tempo e com o menor esforço não prevalecerá dentro em pouco. Em poucas décadas as sociedades terão que modificar sua maneira de interagir, pois que os pobres poderão ir às tribunas exigir seus status. E o farão com justiça. Outros grupos raciais subjugados poderão reivindicar sua posição certa de filhos de Deus. E para esses grupos não vale aqui o conceito de reencarnantes necessitando reparos. Não. Muitos deles são Espíritos luminares lutando pela igualdade social. É preciso saber observar o fruto para conhecer a árvore, como disse Jesus.


“Há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas. Mas, quando um povo não progride suficientemente rápido, Deus lhe suscita, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma”. O Livro dos Espíritos – questão 783. Tudo nos leva a pensar seriamente como estão nossas opções e nossas ações. Bom para refletir. Bom
para analisar. Bom para modificar sempre e sempre para melhor.

Guaraci de Lima Silveira