terça-feira, 23 de setembro de 2014

                                              Em defesa do bem

No capítulo III de O Evangelho segundo o Espiritismo (Há muitas moradas na casa de meu Pai), 
item 3: Diversas categorias de mundos habitados, Allan Kardec classifica os diversos mundos do Universo em cinco categorias: 

Mundos primitivos, onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana; 

mundo de expiação e provas, em que o mal predomina;

 mundos de regeneração, onde as almas que ainda têm o que expiar  adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta; 

mundos felizes, onde o bem supera o mal; 

mundos celestes ou divinos, moradas dos Espíritos purificados, onde o bem reina sem mistura.

A Terra, que já foi um mundo primitivo, hoje é um mundo de expiação e provas e será, futuramente  mundo de regeneração.

 Pelas características referidas no parágrafo anterior quanto à condição atual da Terra,  é que assistimos a tanta violência, tanto desamor.

Na questão 742 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec faz uma pergunta com relação à guerra, que pode ser estendida à violência em geral:

– Qual a causa que leva o homem à guerra? “Predominância da natureza animal sobre a espiritual e satisfação das paixões.” (...)

Pergunta 743:– A guerra desaparecerá um dia da face da Terra? “Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticar a lei de Deus. 

Então, todos os povos serão irmãos.”

Logo, a violência desaparecerá da face da Terra, proporcionalmente à moralização do homem.

No Sermão do Monte (Mateus, 5:5), Jesus afirma: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”. 

Devemos entender que a Terra, que está se encaminhando para a categoria de mundo de regeneração, será a morada dos Espíritos bons que nela estão encarnados, pois os maus não poderão retornar mais aqui, indo assim para um planeta inferior, que esteja de acordo com o seu grau evolutivo.

Na Terra, defrontamo-nos com duas situações: os que espalham o mal e os que semeiam o bem. 

Surge, então, a pergunta: como devem os bons se posicionar diante deste quadro?

Jesus nos aconselhou a pagar o mal com o bem: “... mas se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a outra”, isto é, o Mestre de Nazaré não proibiu a defesa, mas condenou a vingança. 

Não devemos retribuir o mal com o mal, devemos aceitar com humildade tudo o que tende a reduzir-nos o orgulho.

 “É mais glorioso ser ferido do que ferir; suportar pacientemente uma injustiça que cometê-la; mais vale ser enganado que enganar; ser arruinado que arruinar os outros.”

 (O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XII: Amai os vossos inimigos, itens 7 e 8.)

Amemo-nos, pois, indistintamente, por ser esta a verdadeira caridade, a caridade moral, que materialmente nada custa, que consiste em suportarmo-nos uns aos outros, apesar das diferenças que existem entre as criaturas, por serem Espíritos em evoluções diferentes.

Outra recomendação de Jesus é que se o nosso olho é motivo de escândalo, que o arranquemos, isto é, se o nosso procedimento nos leva (ou leva os semelhantes) à perdição, que extirpemos de nós essa excrescência, uma das atitudes que devemos tomar para promover a nossa reforma íntima, ou seja, a substituição dos vícios e defeitos por qualidades e virtudes.

Por mínimas que sejam as nossas boas ações, elas contribuição enormemente para a melhoria do planeta Terra.

 Como aquela ave, que molhava as suas asas num lago e as espalhava no grande incêndio da floresta, com a consciência de que estava fazendo a sua parte, é importante que cada um faça a sua parte, que, somada à demais, contribuirá para um planeta cada vez melhor e para uma Humanidade mais feliz.

Altamirando Carneiro


terça-feira, 16 de setembro de 2014

                 
                                   Família: cadinho de amor

Filosoficamente define-se família como sendo “a célula mater da sociedade”

Ruy Barbosa, um dos maiores juristas brasileiros, chegou a afirmar que a sociedade é a família ampliada, e esta é aquela miniaturizada;

Perante os seres humanos, ela pode ser considerada uma reunião de pessoas ligadas por laços consanguíneos ou afinidade, elastecendo e mesclando o grau de parentesco.

Sob a égide da divindade, compara-se a um cadinho de amor, onde o Pai da vida reúne seus filhos, sob a orientação educacional dos pais, para que todos, educadores (pais) e educandos (filhos), ao voltarem para o mais além, ou seja, para a vida espiritual, cheguem lá melhores do que quando se aportaram no aquém, como Espíritos encarnados.

Na prática, para que esses amoráveis objetivos sejam alcançados, a primeira atitude paterno-maternal é a educação aureolada sempre pela verdade, tendo em vista que ela ilumina a justiça que se traduz em dar a cada um aquilo que lhe pertencer e o que merecer, não é o que desejar.

Isso porque os seres humanos, com raríssimas e respeitáveis exceções, são por vezes inconformados com certos acontecimentos; insaciáveis com o que possuem; e invejosos por excelência. 

Não é difícil comprovar essas afirmativas. Basta se perguntar:

“Será que eu estou e vivo satisfeito e feliz,

- com o corpo físico que tenho?

- com a esposa ou esposo de quem sou parceiro e cúmplice?

- com as atitudes demonstradas pelos meus filhos adolescentes?  

- com as condições sociais, financeiras e salariais nas quais me encontro?

- com os políticos nos quais votei?
- etc.”

Por que esses inconformismos?  

Será que uma pessoa já nasce estigmatizada para viver assim, ou aprendeu em algum lugar com alguém?

Aqui entra a família com a educação e o poder público com a instrução.

Educar é ensinar hábitos salutares, edificantes, glorificantes para convivência em fraternidade.

 Instruir é proporcionar conhecimentos para a vivência com cidadania.


Quem for educado e instruído tem mais possibilidade de viver e agir com a consciência reta, coração que ama e mãos que trabalham. 

Tudo isso se aprende na família quando ela é um cadinho de amor.


PEDRO DE ALMEIDA LOBO 

domingo, 14 de setembro de 2014

RODA  DOS EXCLUÍDOS

No longínquo ano de 1853, no primeiro dia do mês de fevereiro, na cidade de Resende, ao sul do Estado do Rio de Janeiro, às margens do rio Paraíba do Sul e aos pés da Serra da Mantiqueira, chegava ao mundo, no lar do casal Antônio e Teresa, uma menininha que seria, num futuro não muito distante, o bálsamo e o braço acolhedor e protetor estendido a milhares de corações pequeninos e desabrigados do amparo fraterno do lar.

Essa alma, recém-chegada ao círculo da humanidade, comportou-se como todos os que por aqui aportam, apresentando suas necessidades infantis, mas já trazendo consigo os compromissos que seriam despertados em momento oportuno, como de fato o foi, fazendo transbordar em profusão sua personalidade caridosa, como veremos sobre Anália Emília Franco Bastos, que ficou conhecida até o final de seu tempo como Anália Franco.

Espírita por convicção, Anália Franco conheceu de perto os problemas consequentes do abandono de crianças, especialmente a partir da entrada em vigor da Lei do Ventre Livre (também conhecida como Lei Rio Branco), de 28-9-1871, assinada pela Princesa Imperial Regente, Isabel Cristina, em nome de Sua Majestade, o Imperador Sr. D. Pedro II. Com isso, uma vez livres, os filhos dos escravos passaram a ter, a contar dessa data, seus registros de nascimento lavrados em livros especiais por sacerdotes católicos, que, a bem da verdade, foram os responsáveis pelas anotações e consignações registradas antes mesmo da existência do sistema cartorário, atualmente em vigor.
 Este foi, sem dúvida, o primeiro documento de cidadania conquistado.

Nessa ocasião, o sistema conhecido como Roda dos Expostos (1)já estava em funcionamento na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo desde o dia 2 de julho de 1825, pelo 
Primeiro Governador da Província de São Paulo, Lucas Antônio Monteiro de Barros (1767-1851), que na época exercia a função de Provedor da Santa Casa, esta fundada antes de 1560.

Com a presença desse aparelho, os recém-nascidos eram colocados na Roda que ficava sobre o muro com a abertura voltada para a rua. 

Na lateral esquerda dessa peça havia um sino que era tocado na casa das Irmãs, avisando que dentro dela havia uma criança.   
  
Com o vigor da Lei que declarava libertos todos os filhos de escravos, chegou ao conhecimento de Anália Franco que recém-nascidos estavam sendo destinados à chamada “Roda”, além do que muitos outros estavam sendo expulsos das fazendas por serem impróprios ao trabalho e já perambulavam pelas ruas e estradas, mendigando.

A Roda dos Expostos funcionou ativamente até o ano de 1950, quando foi desativada, obedecendo ao mesmo critério para o qual havia sido criada, qual seja, o simples abandono.

 Qualquer mãe que não quisesse ficar com o filho, poderia deixá-lo ali. Depois dessa data e até 1960, as crianças foram aceitas, mas teriam que ter, pelo menos, o devido registro.

Após vencer preconceitos e humilhações, Anália empenhou-se em dar guarida aos desvalidos em geral, não só aos que lhe batiam à porta, mas também àqueles que sabia necessitarem de ajuda. 
  
Nos dias atuais, são muitas as instituições posteriormente criadas com a atenção voltada ao atendimento infantil, em homenagem aos feitos dessa Embaixadora da Fraternidade, somadas às outras 71 escolas fundadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro durante o tempo em que viveu e por ela própria, afora outras centenas criadas sob sua inspiração e utilizando-se de sua metodologia. 

Também são de sua criação 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para órfãos, 1 banda musical feminina denominada “Regente Feijó”, 1 grupo teatral, 1 Liceu feminino e dezenas de oficinas de chapéus, costuras, bordados e flores artificiais etc., que auxiliavam na sustentação econômica do complexo, além de livros de cultura geral, obras especiais destinadas à educação escolar e cristã-espírita, estes juntamente com seu marido Francisco Antônio Bastos (6-1-1850/19-8-1929).

A grandiosidade da obra, por si só, espraia as virtudes do Espírito idealizador de Anália Franco que, em 20-1-1919, retornou ao Universo infinito, um exemplo dignificante de personalidade altruísta.
       
As pessoas passam, como sabemos, mas as obras em benefício da comunidade se eternizam.



(1)
 Roda dos expostos. Trata-se de uma peça no formato de um cilindro oco, confeccionada em maneira de Pinho de Riga, que girava em seu eixo, colocada em muros e com uma abertura voltada para a rua.

Vladimir Polízio - O Consolador

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

 O mundo está louco…
(estará?)

É convicção que o mundo… está louco! Quem o diz é cada um de nós, mas qual será o mundo louco? O que vemos? O dos outros, ou nós também fazemos parte desse mundo? E nós, como estamos, como habitantes desta grande nave terrestre?
As pessoas são unânimes: “o mundo está louco”, dizem, “está tudo doido”, “guerras e mais guerras, mortes, violência brutal, escândalos, roubos, mentira, falsidade”.
Aparentemente, não existe esperança no horizonte, não há volta a dar.
O medo espalha-se, qual vírus contagioso.
Os direitos humanos foram pela sarjeta abaixo.
Os princípios ético-morais foram substituídos pelo materialismo caduco e feroz que transformou o ser humano numa máquina de produção.
As doenças psicológicas campeiam, os casamentos destroem-se, os suicídios aumentam.
Busca-se a causa de tanta desgraça nos modelos macroeconômicos, nas políticas de direita ou de esquerda, no FMI, no BCE, no grupo de Bilderberg.
Procuram-se os “culpados” algures, fora de nós…
No entanto, nós fazemos parte da sociedade terrestre, do mundo louco que criticamos e contribuímos para que ele esteja como está, com os nossos pensamentos, sentimentos e atitudes.
Entretanto, veio a Física quântica e deu um golpe mortal no… materialismo.
Tudo é energia, não existe matéria, mas sim energia em diversos estados, alguns deles é que denominamos de “matéria”.
Os Espíritos já tinham informado isso há 157 anos (O Livro dos Espíritos) quando Allan Kardec compilou o Espiritismo (Doutrina Espírita ou Doutrina dos Espíritos), isto é, os ensinamentos dados pelos Espíritos, através de inúmeros médiuns, num trabalho exaustivo e científico, usando o método indutivo, o método experimental.
Ver o futuro pelos binóculos ultrapassados do materialismo é o mesmo que estudar ciências pelos livros do século XIX.
Há que estarmos atentos aos novos paradigmas que a sociedade nos apresenta e que os cientistas têm atestado mundo afora, vindo de encontro aos postulados espíritas: a vida continua após a morte do corpo físico, a comunicabilidade com o mundo espiritual é possível em certas condições, e a reencarnação é uma realidade científica.
Não há como fugir da realidade dos casos sugestivos de reencarnação (CSR), da transcomunicação instrumental (TCI), da transcomunicação mediúnica (TCM), das experiências de quase morte (EQM’s), das visões no leito de morte (VLM’s) e das experiências fora do corpo (EFC’s).
Remontando aos tempos de Jesus de Nazaré, ele apontava para o fim do mundo e para aqueles que herdariam a Terra.
Atualmente, os bons Espíritos explicam que esse ensinamento refere-se a um período de transição, ao longo do 3º milênio, onde haverá o fim do mundo de misérias morais e materiais, e que somente os Espíritos mais pacificados voltarão a reencarnar na Terra, havendo a separação do “trigo e do joio” e, assim, os Espíritos belicosos reencarnarão em planetas inferiores, servindo assim de expiação para os mesmos e, simultaneamente, de motor de desenvolvimento para as sociedades pouco evoluídas que encontrarem. 
Os tempos são, pois, de esperança, nunca houve tanto bem, tanto voluntariado, tanta solidariedade, mas isso não aparece nas televisões, que ainda são canais de notícias deprimentes e escandalosas, perturbando assim quem as vê.
Apesar das dificuldades por que quase todos passamos, os bons Espíritos são unânimes em incentivar-nos à calma, à esperança, à compreensão, à tolerância e ao entendimento, estimulando o ser humano a colocar em prática, nestes momentos de decisões difíceis, o ensinamento evangélico de “não fazermos ao próximo o que não queremos que nos façam”.
O Espiritismo tem como máxima “Fora da caridade não há salvação”, incentivando-nos à caridade para conosco e para com o próximo, objetivando, acima de tudo, a melhoria íntima, a superação dos defeitos e a amplificação das virtudes.
Não nos iludamos… É um trabalho urgente, intransferível e inevitável, mais cedo ou mais tarde!
Conhecendo-se, o homem pacifica-se e, pacificando-se, o desmoronar das más práticas sociais não o atormentam, antes, felicita-se por ver essa mudança, passo a passo, mas contínua, com a reencarnação de Espíritos mais evoluídos que já aí estão sob a forma de nossos filhos, e que trazem no bojo do seu subconsciente uma vontade férrea de mudar o estado em que se encontram as sociedades.
Dizem-nos, os bons Espíritos, que vivemos temporariamente num corpo de carne, numa grande nave com 7 bilhões de habitantes, e que nesta viagem breve de cerca de 80 anos devemos apostar o máximo que pudermos na nossa reforma íntima.
Evoluindo intelectual e moralmente, o homem vai ascendendo na sua escala evolutiva ao nível espiritual, tendo reencarnações cada vez mais felizes, assim faça por isso.
Os tempos são, pois, de esperança, nunca houve tanto bem, tanto voluntariado, tanta solidariedade, mas isso não aparece nas televisões, que ainda são canais de notícias deprimentes e escandalosas, perturbando assim quem as vê.
“Nascer morrer, renascer ainda, progredir sem cessar, tal é a lei.”
Bibliografia: 
Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos.

O Consolador - José Lucas


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

                                             
                                  O AMOR É DALTÔNICO!

O filme Chico Xavier teve retumbante estréia. Perto de 600.000 ingressos vendidos, um número não alcançado desde 1995, com a diferença de que naquele tempo o cinema ainda era a opção de lazer mais procurada.

Incrível como um mineiro humilde, filho de família paupérrima, que em linguagem atual viveu uma infância “abaixo da linha da pobreza”; que estudou apenas até o quarto ano do chamado “grupo escolar”, que foi modesto serventuário do Estado, tenha alcançado tal notoriedade, a ponto de arrastar multidões para apreciar um filme sobre sua vida.
Sem dúvida, em boa parte essa notoriedade sustenta-se na prodigiosa mediunidade que fez de Chico autêntica máquina linotipo do Além, a produzir livros à mão cheia, como diria Castro Alves, com espantosas revelações sobre o mundo espiritual e o inter-relacionamento entre o “lado de lá” e o “lado de cá”, incluindo mensagens dos mortos aos entes queridos.Mas, meu caro leitor, o que realmente fez de Chico Xavier uma das figuras mais ilustres do Brasil, eleito o mineiro do século passado, reverenciado pela população brasileira, foi sua figura humana, de autêntico discípulo do Cristo, a ensinar e exemplificar, o amor preconizado por Jesus, amor em plenitude, que se exprime no empenho de servir, vendo no Bem prestado ao próximo um estilo de vida, uma razão para viver.

Dizia Chico:

O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que escalássemos o Everest ou fizéssemos grandes sacrifícios.

Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.Foi exatamente isso que ele fez a vida inteira – amou o próximo, distribuindo bênçãos de auxílio ao redor de seus passos, atendendo necessitados, confortando aflitos, solidarizando-se com os sofredores, estendendo a esperança aos desesperados...

Por isso, independente de credo religioso, as pessoas empolgam-se com seu Espírito resplandecente, porquanto o amor, quando realizado em plenitude por alguém, é um fenômeno espantoso, que comove, atrai, motiva e jamais se esquece!

Abençoado Chico Xavier!***
Na contramão do amor, o mais execrável de todos os preconceitos – o religioso.

Chico o combateu sempre, com a excelência do exemplo. Multidões de adeptos de outras religiões, incluindo até gente sem religião, foram atendidas ao longo de seus 75 anos de labores mediúnicos, sem que Chico jamais lhes perguntasse a crença.

Lamentável nesse aspecto a postura de jogadores famosos do Santos Futebol Clube que, conforme foi largamente noticiado pela mídia, recusaram-se a descer do ônibus que os conduzia para visita a uma entidade filantrópica que acolhe crianças com deficiência física e mental, ao serem informados de que se tratava de uma instituição espírita.

A razão: 

sua religião não permitia.

Religião? 

Cristã?

Está faltando um Chico Xavier, ou uma Madre Teresa de Calcutá, ou um Albert Schwartzer em seitas que se dizem cristãs, mas não aprenderam o elementar – o amor ao próximo, incansavelmente ensinado e exemplificado por Jesus é daltônico, não tem cor religiosa.

Richard Simonetti.....................................

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

                                CAIR EM SÍ

Inegavelmente, as parábolas de Jesus são um manancial de aprendizado e beleza, porquanto são narrativas simples, mas de conteúdos espiritual e moral inigualáveis, sendo que permitem ao leitor ou ao ouvinte a identificação espontânea com o sentido ético da lição.

Jesus raramente apontava os erros individuais, pois sabe que o ego possui mecanismos automáticos de defesa, dentre eles, a negação, de tal sorte que, com as parábolas, facultava à criatura humana, de acordo com seu nível de maturidade, o reconhecimento e a análise de seus desvios morais e equívocos existenciais.

Dentre as parábolas narradas no evangelho, destaco a do filho pródigo, porque representa a síntese da evolução espiritual, permitindo-nos uma profunda reflexão a respeito de como anda a nossa atual existência física.

A benfeitora Joanna de Ângelis, na obra “Em Busca da Verdade”, pela lavra mediúnica do confrade Divaldo Pereira Franco, escreve sobre a referida parábola, dando-nos diversos enfoques sobre a conduta de cada personagem, tornando a parábola ainda mais rica e bela de ensinamentos.

Fica registrada a sugestão para a leitura da obra mencionada.

A parábola expõe o momento em que o filho pródigo, imaturo e impulsivo, opta por sair da casa do genitor para viajar a um país longínquo, onde gasta sua parte da herança com leviandades e prazeres materiais.

 Após consumir-se nas paixões e gastar todo seu recurso econômico, vê-se diante de um período de fome que se instalara naquela região. Privado de tudo e passando necessidades, começa a trabalhar com porcos, vindo a disputar a comida com eles.

Porém, chega o momento em que o filho pródigo cai em si e retorna à casa do pai, onde é acolhido com imensa ternura e amor. 

 Essa parábola explica claramente o processo do deotropismo, isto é, fomos criados por Deus, portanto, saímos “das suas mãos”, mas, por imaturidade e ignorância, perdemo-nos na estrada da evolução e afastamo-nos dele, até o momento em que, extenuados pelo sofrimento e famintos de amor e conhecimento, caímos em nós e optamos por voltar à casa do Pai Celestial, que, generoso e confiante, sempre nos aguardava.

Cair em nós significa o exato momento em que ocorre o despertar da consciência.

A consciência desperta quando identificamos que somos Espíritos imortais a caminho da plenitude e que a vida no corpo tem um sentido ético, devendo abranger o crescimento intelecto-moral.

Obviamente que é o primeiro passo na direção de regresso a Deus, pois outros desafios evolutivos surgirão, tais como, libertar-se dos conflitos cultivados, harmonizar o eixo ego-self, eliminar os defeitos morais e converter o despertar da consciência em atitudes renovadas sob a égide do amor.

No capítulo quarto da citada obra, Joanna de Ângelis compara o despertar da consciência com o mito da expulsão do paraíso.

Enquanto vivemos, simbolicamente, no jardim do Éden, o ego (carga de egoísmo presente no inconsciente, fruto da evolução nos reinos inferiores da criação) toma todo o espaço do Self (ser espiritual que contém o germe divino para a plenitude), gerando uma vida materialista, de acomodação e deleite.

 Era a conduta do filho pródigo, cuja consciência ainda estava adormecida.

Notemos que Adão e Eva não trabalhavam, porque o necessário para as suas sobrevivências estava à disposição no Éden. 

Todavia, após comerem o fruto da árvore proibida (mito), foram expulsos do paraíso, e Deus condenou Adão ao trabalho.

A partir dessa ocorrência, Adão passa a descobrir o valor do trabalho e do esforço, na medida em que tudo o que necessita passa a ser fruto do merecimento, portanto, há o despertar da consciência.
Assim ocorre conosco.

 Quando os ensinamentos de Jesus preenchem os vazios da alma, passamos a trabalhar em favor do nosso crescimento espiritual, na busca dos valores imperecíveis que dignificam a nossa vida.

Na simbologia de Joanna de Ângelis, passamos a ser um novo Adão, isto é, um homem novo, com ideais bem definidos, procurando mais servir do que ser servido.

Caímos em nós e redefinimos o rumo de nossa vida como ser imortal destinado à plenitude, porque começamos a regressar à Casa do Pai, nesse processo de integração com o Arquétipo Primordial, razão pela qual Jesus disse que Ele e o Pai eram um só (perfeita integração).

Paulo de Tarso, ao cair em si, verbalizou “já não sou eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim”, porque se integrou com o pensamento de Jesus e, por conseqüência, de Deus.

Anote-se que ao cair em si é natural que surjam as culpas, que, do ponto de vista psicológico, é produtiva desde que bem direcionada.

Joanna de Ângelis fala do “Eu-Angélico” (recursos divinos em nossa intimidade), que estimula a culpa, pois a presença desta é sinal de instalação do despertar da consciência, que nos aponta o certo e o errado, o bem e o mal proceder.

Diante da presença da culpa, cabe-nos não repetir o erro e reparar o mal causado, se possível.

Caso não seja, basta fazer o bem em favor de alguém ou da vida, porquanto a ação fraterna é ponto positivo na contabilidade divina a anular ou amenizar o mal causado (o amor cobre a multidão de pecados – Simão Pedro).

À medida que vamos evoluindo, aproximamo-nos cada vez mais de Deus, tornamo-nos mais livres e felizes, uma vez que começamos a superar os impulsos inferiores e as tendências agressivas, bem como não permitiremos que o mal dos maus nos atinjam. Isto é ser livre.

Não permitir que os outros afetem a serenidade interior conquistada a partir do cair em si.

O Espírito de Joanna de Ângelis ainda nos apresenta Jesus como sendo o filho pródigo do amor, haja vista que se afastou das regiões celestes (Casa do Pai) e foi para o país longínquo da matéria densa, vivendo com a ralé (pigmeus morais – simbologia do porco na parábola). Ensinou a criatura humana a dissipar a sombra individual, mas foi incompreendido e crucificado, voltando, rico de bênçãos, à Casa do Pai.

Todavia, seus ensinos permanecem como lições vivas de esperança e júbilo, tendo suas parábolas contribuídas para esse cenário, auxiliando-nos no processo inevitável do cair em si, com o escopo de renovação moral.

Para os espíritas, cujo despertar da consciência foi mais intenso em virtude dos conhecimentos amealhados a partir do Espiritismo, percebemos que o cair em si se dará diante dos mínimos erros, porque a consciência, de imediato, apontará que não procedemos conforme deveríamos.

O Espírito de Bezerra de Menezes fala-nos sobre o ousar no bem, dar um passo além, de forma que o verdadeiro cristão, por ter caído em si, sabe que pode fazer mais em favor do amor e da paz, sobretudo, dulcificando a própria conduta.

Frise-se que o processo do cair em si não é um episódio único, mas inicia-se com o despertar da consciência, cuja extensão vai se ampliando na exata proporção do nosso esforço em favor da busca do conhecimento e da vivência do amor.

 “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” dos equívocos, da ignorância.

Naturalmente, chegará um momento da evolução em que não mais precisaremos cair em nós, pois a consciência e a conduta estarão perfeitamente afinadas com as diretrizes do evangelho.

O tema e a parábola em questão são profundos, de forma que caberiam outros apontamentos, mas fica o convite para o auto encontro, cientes de que o Pai Generoso nos aguarda sempre, amoroso e gentil, cabendo a cada um de nós apressar esse retorno, sobretudo pelas escolhas acertadas e por uma vida pautada pela pureza de coração.

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”.

Alessandro Viana Vieira de Paula -  O Consolador