terça-feira, 15 de outubro de 2013




Jean Pierre, o rapaz das moedas de ouro

“Somente o homem que escreveu tais linhas pode me ajudar. 

Vou encontrá-lo’’, pensou o pobre rapa. 

O inverno daquele ano fora um dos piores de que se tivera notícia. Os parques da cidade deixavam à mostra as árvores sombriamente cobertas de neve. 

Os parisienses encolhiam-se, recolhendo-se mais cedo. 

As lareiras crepitavam, quando bem alimentadas pelo carvão, escasso e caro.

As revoluções que varriam a Europa há décadas ainda não haviam conseguido atender os trabalhadores mais pobres de Paris, nas suas necessidades mais básicas. 

O ar intelectual que se respirava deixava ver que profundas transformações aconteciam; as descobertas e as invenções se sucediam; livros eram editados, quadros expostos; a vida cultural nos teatros e nos salões era de raro esplendor.

 No entanto, havia fome. 
E frio.
 E outras comezinhas necessidades humanas, não atendidas.Jean Pierre vagava na noite pouco iluminada e fria. O ano: 1865. Inverno. 
Mês de dezembro. 

Ele carregava um livro nas mãos – “L’Évangile sélon L’Spiritisme”. 

Descobrira o endereço do autor, situado no centro da cidade e para lá se encaminhava em tão adiantada hora.Localizada a moradia do professor Rivail, conforme lhe informou um guarda, bateu-lhe à porta. 

Transido de frio e fome, não teve forças para dizer nada. Desmaiou. O livro lhe cairia das mãos e Kardec ao pegá-lo leria o que ele próprio escrevera, destacado em lápis vermelho pelo seu inesperado visitante noturno e leitor: 

Nas grandes calamidades, a caridade se comove e veem-se os rasgos de generosidade para reparar os desastres, mas ao lado dessas desgraças coletivas, há milhares de desgraças particulares que passam despercebidas, de pessoas que jazem sobre um leito miserável, sem uma queixa. São os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir sem esperar que venham pedir auxílio.  

professor acolheu-o em sua casa, onde dormiria aquela noite. 
Alimentou-o, deu-lhe roupas de frio e conversaram longamente sobre o trecho em destaque, que tanto o sensibilizara.
Ao despedirem-se, entregou-lhe uma carta de recomendação, lavrada de próprio punho, para que pudesse mais facilmente arrumar um emprego.

Jean Pierre não andara muito e notou que num dos bolsos do grande casaco que ganhara tinha algo que não percebera antes: duas moedas de ouro. 

Como tinham ido parar ali? Vestira o casaco ainda dentro da casa e nada notara. 

Que mãos ligeiras teriam colocado aquelas moedas naquele bolso?Voltou à casa do professor, pois aquelas moedas não lhe pertenciam. 

Muito embora elas pudessem lhe garantir o sustento por quase um mês... Kardec atendeu-o de boa vontade e perguntou-lhe o que o trazia de volta tão rapidamente. Jean Pierre mostrou-lhe as moedas.

– Deixe-me vê-las, pediu o mestre lionês. – Não são minhas não, meu caro rapaz! 

Tens mesmo certeza de que estavam no casaco?O rapaz o olhou admirado e indagou a si mesmo: “Então terá sido um milagre?”.

Lembrou, então, do rigor com que o professor tratava toda e qualquer questão e argumentou:

– Bem, se não são suas e o casaco me foi dado, é natural que eu me aposse delas, pois fará parte do casaco, que agora me pertence, não é?

Houve concordância mútua e Jean Pierre lá se foi com suas moedas de ouro, feliz da vida.Dois anos mais tarde, numa das reuniões da Sociedade Espírita de Paris, Kardec lê a mensagem de um Espírito, que se manifestara, trazendo ao grupo uma interessante narrativa. 

Ei-la, na íntegra:‘Meus amigos, Deus vos abençoe. Um dia, há pouco mais de dois anos, encontrei um homem verdadeiramente caridoso.

 E discreto. 

Generoso, deu-me duas moedas de ouro. Ensinara-me, através do que escrevera no ano anterior, que devíamos buscar as misérias ocultas e socorrer suas vítimas. 

Assim fiz. Multipliquei as moedas de ouro, primeiro trocando-as em moedas menores e depois as empregando em um bom negócio, o que as quintuplicou. 

Trocava-as, distribuía parte delas a quem muito necessitava e a outra parte investia de novo nos negócios. 

Em pouco tempo fiz pequena fortuna e, tanto mais as doava, mais elas se multiplicavam.Embora todo o meu cuidado em não me revelar, um dia fui descoberto, pois não tinha as mãos tão ligeiras quanto à daquele homem generoso. Empreguei, então, abertamente todo o meu capital numa pequena indústria e proporcionei trabalho a muita gente. Quando a morte me acolheu em seus braços, muitos corações me choraram a ausência. 

Eu, por graça divina, pude continuar aqui o trabalho iniciado. E sempre que posso, saio por aí, buscando inspirar as pessoas para que elas não se esqueçam das misérias que se ocultam tão próximas de seus olhos. 

Basta ter olhos de ver, conforme ensinou o Mestre... Não se esqueçam de multiplicar os tantos talentos que a vida vos concedeu!”.  

Jean Pierre, o rapaz das moedas de ouroNão consta nenhuma referência ao fato, nas várias biografias que se escreveu sobre Kardec. 

Nem mesmo se sabe se ele revelou ser aquele homem generoso e discreto, que doara as tais moedas de ouro àquele rapaz.

 Possivelmente não, pois se revelasse o feito, deixaria de ser discreto, embora continuasse generoso. 

Como a verdadeira generosidade anda a braços dados com a discrição, ele, certamente, calou-se.

Como descobriram o caso das  moedas de ouro é outra história, muito longa, que convém deixar para outra oportunidade. Ou mesmo ocultar...

ABEL SIDNEY - O CONSOLADOR 











sábado, 12 de outubro de 2013

O espanto do céptico

 Os que tiverem querido derrubar o Espiritismo terão
preparado o seu triunfo


“És mestre e não sabes essas coisas?” - Jesus. (Jo., 3:10.)


Ambos são católicos: marido e mulher.  Esclarecidos e de mente arejada, longe estavam de qualquer eiva preconceituosa, e, embora fiéis à sua titularidade religiosa, sentiam singular simpatia pelos postulados espiritistas aos quais, ao contrário de muitos outros “cristãos”,  respeitavam... 

 Vez por outra recebiam a visita fraterna de um frade a quem se vinculavam por estreitos laços de afinidades. Em uma ou duas oportunidades, ao visitá-los, o frade-amigo deparou-se com “um estranho no ninho”, isto é, uma pessoa que de forma clara e inequívoca era reconhecida na sociedade daquela morigerada cidade como Espírita confessadamente declarado!...

Da primeira vez, o bondoso frade ficou calado, limitando-se a lançar esquivos olhares de soslaio. Porém, no segundo flagrante, não aguentou: 

Achou que era seu dever alertar às “indefesas ovelhas” sobre aquela invasão indébita ao seu redil.  


Mui delicadamente, com extrema diplomacia e tato, exorou aos amigos a se precaverem com tal amizade, vez que os Espíritas “têm parte com o demônio”, e, se não evitassem tais contatos, cedo ou tarde estariam“mexendo com essas coisas”, e estariam, assim, irremediavelmente condenados ao fogo do Inferno. 

Encerrou seus avisos com o seguinte argumento: 

“Os Espíritas são como cordeiros por fora, mas lobos rapaces por dentro; são envolventes e têm enorme poder de sedução!...”
O casal sorriu das fobias e ingenuidade do amigo, mas não deu maiores apreços às suas palavras, vez que, na verdade, o amigo espírita de longa data lhes cumulava com as benesses da mais alta estima e consideração.  

E a vida continuava sua rotina de sempre... 

Um belo dia, numa de suas visitas habituais ao jovem casal, o frade amigo não encontrou nenhum dos dois em casa.   

Mas a empregada, solícita, pediu-lhe que os esperasse na sala de visitas, pois não tardariam a regressar.  

Instalou-se, então, na poltrona macia e – despreocupadamente – começou a folhear um livro que se encontrava sobre a mesinha de centro... 

Tão deslumbrado ficou o frade com o conteúdo do livro que tomou de um lápis e começou a sublinhar os conceitos que lhe causavam admiração.

 A cada página que virava, novas surpresas!...

 À medida que avançava pelas páginas, mais empolgado ficava. Foi então surpreendido pelo casal que acabava de chegar. 

Ao vê-los, exclamou feliz: – “

Que livro maravilhoso!  Quantos ensinamentos cristãos! Que beleza!...”

O casal, um tanto sem graça e constrangido, pediu ao Frade para prestar atenção na capa do livro.  Então, ele leu: “SINAL VERDE”, ditado pelo Espírito André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier.

Com o susto, o livro caiu no chão, e, de olhos esbugalhados, tartamudeou:“Não disse para vocês que os Espíritas são envolventes?”
A partir daí não sabemos mais o que aconteceu, mas que a semente foi plantada, ah!, isso foi!... 

São sementes que, se não dão uma colheita abundante e imediata na primeira safra, não estão perdidas para as safras futuras...

Já no ano de 1868, Kardec escrevia em a “Revue Spirite”: “(...) 

É notório para todos, e da própria confissão dos adversários, que as ideias espíritas ganharam terreno consideravelmente. 

(...) Elas se infiltram por uma porção de brechas; tudo concorre para isto; as coisas que, à primeira vista, a elas pareciam estranhas, são meios com a ajuda dos quais essas ideias vêm à luz.

É que o Espiritismo toca em tão grande número de questões, que é muito difícil abordar, seja o que for, sem ver aí surgir um pensamento espírita, de tal sorte que, mesmo nos meios refratários, essas ideias brotam sob uma ou outra forma, como essas plantas de cores variadas, que crescem por entre as pedras. 

 E como nesses meios geralmente repelem o Espiritismo, por espírito de prevenção, sem saber o que ele diz, não é surpreendente que, quando pensamentos espíritas aí aparecem, não os reconheçam, mas, então, os aclamam, porque os acham bons, sem suspeitar que seja o Espiritismo.


A literatura contemporânea, grande ou pequena, séria ou leviana, semeia essas ideias em profusão: é por elas esmaltada e não lhe falta senão o nome. 

Se se reunissem todos os pensamentos espíritas que correm o mundo, constituir-se-ia o Espiritismo completo. Cada pessoa tem em si alguns de seus elementos, no estado de intuição.  

Entre os seus antagonistas não há, o mais das vezes, senão uma questão de palavras. 

 Os que o repelem com perfeito conhecimento de causa são os que têm interesses subalternos a defender, por isso o combatem...

Mas, então, como chegar a fazê-lo conhecer para triunfar das prevenções?   Isso é obra do tempo!...”

“Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio de espiga.”, 

são as palavras de Jesus registradas pelo evangelista Marcos, no capítulo quatro, versículo vinte e oito.

Continua Kardec:

 “É preciso que as circunstâncias favoreçam as condições de a luz chegar aos meios refratários naturalmente, e para isto pode-se contar com os Espíritos, que sabem fazê-las nascer em tempo oportuno.

 Essas circunstâncias são gerais ou particulares. 

As primeiras agem sobre as massas e as outras sobre os indivíduos. 

As primeiras, por sua repercussão, fazem o efeito das minas que, a cada explosão, arrancam alguns fragmentos do rochedo da ignorância.

Que cada Espírito trabalhe de seu lado sem desanimar com a pouca importância do resultado obtido individualmente, e pense que, à força de acumular grãos de areia, se forma a montanha.

(...) No exame da situação, não só há que considerar os grandes movimentos ostensivos, mas há, sobretudo, que levar em conta o estado íntimo da opinião e das causas que a podem influenciar. 

Se se observar atentamente o que se passa no mundo, reconhecer-se-á que uma porção de fatos, em aparência estranhos ao Espiritismo, parece vir de propósito para lhe abrir as vias.  É no conjunto das circunstâncias que se deve procurar os verdadeiros sinais do progresso. 

O futuro do Espiritismo, sem contradita, está assegurado; e seria preciso ser cego para duvidá-lo. 

A sua invulnerabilidade e sua força são incontestáveis e não só os espíritas verdadeiros, mas, por mais paradoxal que possa parecer, os que tiverem querido derrubá-lo, terão preparado o seu triunfo”.

O Espiritismo está em a Natureza. Faz parte dos desígnios Divinos. 

Afinal, não foi o próprio Cristo quem prometeu para o futuro o advento do “Consolador”?

Pois o futuro já chegou pelos meados do século XIX, quando Allan Kardec, segundo a promessa de Jesus, juntamente com os Espíritos Benfeitores da Humanidade, trouxeram a “Codificação Espírita” ao mundo e, tal como uma árvore frondosa, o Espiritismo espraiará por toda a Humanidade a sua ramaria fértil e plena de frutos sazonados do Amor, da Esperança, da Caridade e da Fé Raciocinada, que, sem sombra de dúvida, serão as alavancas de nossa definitiva alforria espiritual.   

Rogério Coelho....O consolador

terça-feira, 8 de outubro de 2013


Não fazer o mal ainda é pouco
– Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura? “Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.” (Questão 642, de “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec.)
 
Com frequência, ante o acanhado estado evolutivo que apresentamos, vivendo neste mundo de expiações e provas, acreditamos que não fazer o mal já é o suficiente para a garantia de uma boa posição para o futuro. 

Mas, observando atentamente as lições contidas em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, podemos perceber nitidamente que isso somente não basta.

Informaram-nos os Espíritos benfeitores que atuaram sob a coordenação de o Espírito da Verdade, na obra citada, que será preciso mais, muito mais para que nos dias do porvir venhamos a desfrutar de uma situação de conforto e tranquilidade espiritual.

Além de evitarmos o mal será necessário fazer o bem, pois que tal postura, pela lei de ação e reação e de causa e efeito, nos assegurará reflexos da mesma natureza. 

O bem que fazemos é força criadora que se juntará às forças idênticas que grassam pelo universo, retornando em nossa direção mais potente, trazendo consigo os benefícios naturais de que temos necessidade.

Mas isso ainda é pouco, uma vez que será preciso vivenciar o bem no limite das nossas forças, ou seja, fazer o máximo de bem possível, dentro das possibilidades e condições de que dispomos.

E ainda nos advertem os Benfeitores da Espiritualidade que seremos responsáveis pelo mal que decorrer do bem que deixarmos de fazer. Sem dúvida, uma observação de longo alcance, uma vez que nos remete a reflexões profundas sobre a nossa caminhada rumo à perfeição.

Portanto, é sumamente importante não fazer o mal, indispensável fazer todo o bem possível, pois que responderemos pelo mal que se originar do bem que deixarmos de fazer. Assim, com clareza podemos concluir que nossa caminhada pela vida tem uma importância muito mais abrangente do que supomos até agora.

Tomando ciência disso, por certo nossa postura será outra, uma vez que se alargam os limites da nossa compreensão; evitar o mal, fazer o bem no limite das próprias forças e responder pelo mal que nascer do bem que deixamos de fazer.

Doravante, imperioso será intensificarmos, com responsabilidade, as nossas ações visando ajudar a construir um mundo melhor, mais justo, fraterno e humano.

Obviamente que a nossa felicidade terá o tamanho da felicidade que promovermos aos nossos irmãos do caminho. Conscientes disso “tomemos a nossa charrua, sem olhar para trás, para sermos dignos do reino de Deus”. (Lucas, cap. IX,  62.)   

Assim sendo, valerá imensamente a movimentação de todos os nossos recursos e potencialidades para que todas as nossas ações, gestos e procedimentos tenham como meta o bem coletivo.

Em nosso caminho encontramos mãos suplicantes estendidas, pedindo socorro, corações torturados em busca de alívio, lágrimas abundantes nascidas de olhos sofridos esperando por um lenço amigo, mentes confusas aguardando um roteiro de esperanças, braços desocupados implorando por trabalho, velhice abandonada à espera de afetividade, infância desorientada em busca de um norte e muito mais.

Esse vasto campo que se descortina ante os nossos olhares de observação se caracteriza como a lavoura a ser cultivada.

 Nela, convictamente, poderemos evitar o mal, fazer o bem no limite das nossas próprias forças, para que nenhum bem deixe de ser realizado.


Reflitamos...

Valdenir aparecido Cuin - O Consolador

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

UM GRANDE ABISMO

“E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo...”  - (Lucas 16:26.)


Na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16,19-31), vemos que não é apenas adiferença econômica que separa os dois personagens bíblicos. 


nosso ver,tanto a riqueza quanto a pobrezaque são mencionadas por Jesus, podem
ser entendidas igual e preferencialmentepelo aspecto moral, ao material, o
qual, na maioria das vezes, é compreendido.

Essa diferença de entendimentos entre duas ou mais pessoas, em relação a um determinado fato ou coisa, é confirmada na sexta parte introdutória de “O Livro dos Espíritos”, onde lemos que estes pertencem a diversas categorias e não sã iguaisnem em poderinteligência,   saber ou moralidade


Achamos que o homem verdadeiramente rico, é aquele que pode dizer-sehomem de bem

“O Evangelho Segundo o Espiritismo” no capítulo 17, no item 3, descreve muito bem esse homem. Vejamos isso a seguir

“O homem de bem 

verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e decaridade, na sua maior pureza.

 Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outro e tudo o que desejara lhe fizessem.

Deposita  em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria.
 Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas

Tem  no futurorazão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bemsem esperar paga alguma;

 retribui o mal com o bemtoma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos

Seu primeiro impulso é para pensar nos outrosantes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse.

 O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdasdecorrentes de toda ação generosa.

homem de bem é bomhumano e benevolente para com todossem distinção de raçasnem de crençasporque em todos os homens  irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.

Em todas as circunstânciastoma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica  a outrem com palavras malévolas,  que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguémque não 
recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedadeainda que ligeiraquando a pode evitarfalta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não alimenta ódionem rancornem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e  dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado. 

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo

‘Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado’.

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheiosnemaindaem evidenciá-los. 

Se a isso se  obrigadoprocura sempre o bem que 
possa atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. 

Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguintequalguer  coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espíritonem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riquezanem de suas vantagens pessoaispor saberque tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego quelhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros
  homens,  trata- os com bondade e benevolênciaporque são seus iguais perante Deususa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu  orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.
subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.)

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Naturezacomo quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bemmasaquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz.” (KARDEC, 1996, pp. 272-274).

Visto tudo issonão temos dúvidas em afirmar que existe um precipíciointerpretativo entre os que, no Evangelho, praticam uma  raciocinada eaqueles que têm olhos unicamente para a letra.

Referência bibliográfica:

KARDEC, A. Evangelho segundo o EspiritismoRio de Janeiro: FEB, 1996.