sexta-feira, 9 de agosto de 2013


Por que orar?

Há pessoas que não creem, em absoluto, na validade da prece e assim procedem durante toda a sua existência, até que a provação, surgida sob a forma de enfermidade irreversível ou da ruína nos negócios, abata seu orgulho e as leve à meditação em Deus.

Certo amigo que nas horas vagas colaborava com assiduidade num dos hospitais da cidade, relatou-nos oportunamente como era o comportamento de determinadas criaturas de vida abastada quando, internadas naquele hospital, tomavam conhecimento da gravidade de sua enfermidade.

Ciente de antemão do caso, nosso amigo sugeria ao enfermo, em particular, a presença de um sacerdote para – quem sabe? 

– o necessário desabafo. 

A resposta era, contudo, no início, invariavelmente desanimadora: “Não creio em padre nem em religião nenhuma!” 

Com o passar dos dias, toda doença insidiosa mostra os sinais de sua dureza e determinação. 
A família passa a rodear o enfermo, os parentes chegam de todos os cantos e, evidentemente, o resultado não se fazia esperar. 

O enfermo acabava enviando ao amigo o esperado recado: “Se o senhor quiser, não me importo com a vinda do sacerdote”, ou seja, quando a ciência se revela impotente e o dinheiro nada mais pode fazer, só resta recorrer à religião, como último recurso na busca de melhores dias.
Com as pessoas de vida mais singela o fato se passa de forma diferente. 

A escassez de recursos e a simplicidade da vida fazem com que esses irmãos sintam, geralmente, na prece um elemento importante em suas vidas e, talvez, o único recurso diante das vicissitudes.

O convívio com famílias que vivem na periferia da cidade comprova isso

 Essas pessoas, não raro, acompanham a oração com seriedade e gosto.

 Sim, com gosto, alegria, interesse, compreensão. 

É que a prece sincera transforma nosso estado d´alma e, quando fervorosa, traz-nos uma paz indefinida, assentando por alguns momentos uma vida nova em nosso campo mental.

Por que a prece conforta tanto?

Que mistério profundo encerra essa comunhão que os povos mais antigos já cultuavam?

O Espiritismo trata do tema com respeito e carinho, ao definir a prece como sendo um ato de adoração a Deus e, ao mesmo tempo, uma conversa com o Criador ou seus prepostos.

Sendo um ato de adoração, ela agrada ao Senhor e nos torna melhores, não requerendo para isso uma forma exterior determinada ou uma dissertação alongada. Seu conteúdo é que vale, a atitude de quem ora é que importa, cientes todos nós de que a prece deve ser espontânea, objetiva e repleta de sentimentos elevados.


Do mesmo modo como Jesus ensinou, propõe-nos o Espiritismo que devemos orar em secreto, visto que, tratando-se de uma invocação e uma conversa íntima, ela requer os mesmos cuidados que temos quando desenvolvemos com alguém um entendimento particular.

Ensina Emmanuel: “A prece deve ser cultivada no íntimo, como a luz que se acende para o caminho tenebroso ou como o alimento indispensável na jornada longa e difícil, porque a oração sincera estabelece a vigilância e constitui o maior fator de resistência moral no centro das provações mais escabrosas e mais rudes” (O Consolador, pergunta 245).
Há, como sabemos, vários modelos de prece. O Pai Nosso, a prece de Cáritas, a oração de São Francisco de Assis, todas são peças de altíssimo valor literário e sentimental.

 O essencial, contudo, não é o que elas dizem, mas como as dizemos, o que sentimos ao dizê-las, a maneira, enfim, como as vivenciamos, sobretudo no momento de pô-las em execução.

Editorial - O consolador


segunda-feira, 5 de agosto de 2013






Espiritualmente, com quem Convivemos?

- Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?"Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem ou suscetíveis de progredir; os Espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que podem viciar-se; daí o seu apego, resultante da semelhança de sensações.” 

(Questão 484, de “O Livro dos Espíritos”- Allan Kardec.)O apóstolo Paulo, em suas notáveis epístolas, afirmou categoricamente que: “estamos cercados por uma multidão de testemunhas”, deixando bem claro que todos nós caminhamos, tendo espiritualmente, ao lado, aqueles que se afinizam conosco.

Ante o nosso comportamento e postura de vida atraímos para o convívio as amizades espirituais que vivem no mesmo patamar.Os Espíritos, que são nós mesmos quando desencarnados, se vinculam aos encarnados pela força do pensamento.

 Os homens bons chamam a atenção dos Espíritos bons, enquanto as criaturas más despertam os interesses dos desencarnados convivemos?da mesma natureza.Obviamente, a escolha é sempre nossa.

 E, naturalmente, os reflexos dessas amizades produzem bons ou maus resultados, de acordo, certamente, com as vibrações íntimas de cada relacionamento.

Por isso é indispensável refletir no tipo de vida que estamos levando. 

Quem semeia um canteiro de flores, por certo, experimentará a feliz sensação da primavera, já quem planta um espinheiro não poderá esperar outra coisa senão os ferimentos decorrentes das perfurações.

Tendo a certeza disso, buscando pelo nosso bem-estar, prudente será pautar as nossas ações com base no bem, sempre no bem, até mesmo por questão de inteligência, pois que somente assim lograremos desfrutar a vida de paz e serenidade que sempre almejamos.

E, para fazer o bem, basta que olhemos ao nosso redor e de imediato vislumbraremos uma gama enorme de possibilidades de ser útil.Crianças desnutridas e carentes de afeto passam frequentemente ao nosso lado, cujos olhares sofridos lançam silenciosos pedidos de socorro. 

Ao ampará-las, dentro das nossas possibilidades, chamamos para junto de nós a presença de Espíritos superiores que, desejando ajudá-las, nos ajudam também.

Mães desesperadas por não poderem atender as necessidades básicas da família, ante a fome dos filhinhos, sem palavras, estendem mãos suplicantes esperando a nossa sensibilidade e altruísmo. 

Socorrendo-as conforme pudermos, abrimos um canal de comunicação com os emissários divinos, que utilizando a nossa boa vontade, aliviam os padecimentos dessas genitoras sofridas e, por consequência, acabam por nos proteger também.Idosos sem lar, vivendo ao abandono, refletem triste realidade social, requerendo providências urgentes, em nome da fraternidade e do respeito à dignidade humana. 

Aliviando os padecimentos deles, enviamos ao mundo espiritual uma mensagem de solidariedade que atrairá os Espíritos sensíveis e generosos que prestarão socorro à velhice abandonada, refletindo em nós também.

E pela mesma lei, a da afinidade e da sintonia, obviamente que  os gestos infelizes, desequilibrados e maus enviam, também, recados ao mundo espiritual, despertando o interesse e a atenção dos Espíritos inferiores, que virão em atendimento aos nossos apelos mentais, intensificando os nossos gestos desalinhados e nos causando, também, sérios prejuízos.A mão que distribui flores fica perfumada..., a mão que atira detritos retém a sujeira e o mau cheiro...  

A escolha, obviamente, pertence a cada criatura.

Não se tem notícia de que o mal, em lugar algum, tenha rendido qualquer benefício ao praticante. Já o bem, em todos os lugares, em todos os tempos, sempre foi e é a incomensurável fonte da paz, da alegria e da felicidade entre os homens.

Meditemos...
Waldenir Aparecido Cuin - O consolador




sábado, 3 de agosto de 2013


Emancipação da alma, animismo e mediunidade: onde termina um fenômeno e começa o outro?A determinação de uma “fronteira” definitiva que separe os fenômenos denominados “Emancipação da Alma”, “Animismo” e “Mediunidade” não se trata de uma tarefa trivial. 

Tais definições e, sobretudo, diferenciações, constituem estudos complexos, pois, provavelmente, não exista uma distância cabal entre esses fenômenos. 
Este contato, no mínimo “interfacial” entre os fenômenos em questão, ocorre devido ao fato de que estes três processos psíquicos têm sua fundamentação básica nas propriedades do Perispírito. 

De fato, tais fenômenos estão calcados nas características de maleabilidade e expansibilidade do Perispírito

Alguns autores, como a própria Dona Yvonne Pereira, utilizam a expressão "Mediunidade de Sonhos", denotando que, pelo menos em alguns casos, o sonho poderia se tratar de um fenômeno mediúnico, além de ser uma Emancipação da Alma.

 Realmente, a Emancipação da Alma e a Mediunidade são dois fenômenos muito correlacionados. 

Poderíamos dizer "fenômenos irmãos". Inicialmente, é importante registrar que Emancipação da Alma, Animismo e Mediunidade não são fenômenos excludentes, pois podem acontecer concomitantemente. 

A Emancipação da Alma assim como o Animismo poderiam, a priori, acontecer das duas formas, isto é, com ou sem a presença de uma atuação significativa de um Espírito desencarnado. 

A Mediunidade, todavia, sempre estaria associada a uma manifestação anímica, mesmo que tal contribuição anímica fosse muito pouco representativa.

Possivelmente, Kardec diferenciou a Emancipação da Alma da Mediunidade propriamente considerada para facilitar didaticamente o nosso aprendizado. 

Realmente, há fenômenos de bilocação (desdobramento), bem como de Dupla Vista (também chamada Clarividência), em que não existe a detecção de nenhum Espírito desencarnado. 

Neste caso, pode-se afirmar que se trata de fenômenos, em princípio, somente de Emancipação da Alma, pois não existe a participação ostensiva e detectável pelo encarnado de uma inteligência desencarnada. 

No entanto, se nós sonhamos e contatamos um Espírito desencarnado, tendo, por exemplo, uma revelação espiritual, esse fenômeno não deixa de ser, realmente, mediúnico, pois está associado a um contato com um ser espiritual desencarnado. 

Seria, por conseguinte, um fenômeno misto, pois abrangeria Mediunidade e Emancipação da Alma, em concordância com Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos". 

Se, por outro lado, ocorrer um desdobramento simples, sem nenhum contato com entidade espiritual desencarnada, podemos dizer que foi apenas uma Emancipação da Alma “simples”, o que não impede que, em outra oportunidade, o mesmo indivíduo apresente um fenômeno misto ou somente mediúnico, pois a predisposição aos dois fenômenos apresenta uma mesma raiz fundamental que é a facilidade de maleabilidade e expansão do Corpo Espiritual. 

Vale lembrar que Chico Xavier, Dona Yvonne do Amaral Pereira e Divaldo Pereira Franco, indiscutíveis referências doutrinárias em matéria de Mediunidade com Jesus, sempre apresentaram, concomitantemente aos fenômenos mediúnicos, extraordinários fenômenos de Emancipação da Alma.

De fato, a famosa afirmação "Todos são médiuns", que é utilizada excessivamente nos centros espíritas, é apenas uma meia verdade. 

Todos são médiuns em potencial, como todos que saibam escrever são escritores em potencial; como todos os que saibam falar são oradores em potencial; como a semente de mangueira é uma mangueira em potencial etc. 
Entretanto, é importante convir que, dentro de um determinado momento específico no tempo, não é razoável considerar que uma enorme mangueira é exatamente a mesma coisa que uma semente de mangueira. 

Seria o mesmo que considerar que todas as colheitas são obtidas imediatamente após as plantações, independentemente do tipo de semente plantada. 

O fato de todos serem médiuns em potencial não significa, portanto, que todos são "médiuns de ação", ou seja, "médiuns ostensivos". 

Quando nós dizemos de forma simples e objetiva "João é médium", queremos dizer que sua mediunidade é significativamente ostensiva, isto é, que ele é um médium de ação, implicando que a intensidade da Mediunidade desse indivíduo é representativamente superior àquela encontrada na maioria das criaturas humanas.

É também importante asseverar que a mediunidade basal comum a todos os indivíduos, por um lado, é, de fato, significativa (em função da importância dos fenômenos intuitivos), mas, por outro lado, é tão sutil que faz com que a maioria da humanidade ignore a própria existência da Mediunidade. 

Se fosse minimamente intensa para todos os indivíduos do planeta, não existiriam tantos materialistas no mundo. 

Não há como comparar tal Mediunidade com alguém que vê um Espírito ou que psicografa uma mensagem mecanicamente. 
Trata-se de uma análise incoerente, pois os dois tipos de fenômenos são de intensidades totalmente desproporcionais! 

E muitos dirigentes espíritas, equivocadamente, utilizam dessa premissa para respaldar um amplo e irrestrito acesso às reuniões mediúnicas, sob o pretexto de que “todos são médiuns”. Kardec precisou frisar esse fato (“Todos são médiuns”), pois essa "Mediunidade basal", comum a todas as criaturas, é o que faz com que todos possam ser obsidiados e/ou inspirados por “Espíritos de luz”. 

Isto ocorre, pois todos nós, em maior ou menor grau, conscientes disto ou não, manifestamos a chamada "telepatia", que é um pré-requisito basilar do fenômeno mediúnico. 
Desta forma, Kardec valorizou esse ponto, pois, possivelmente, queria utilizar essa discussão para despertar o nosso senso de responsabilidade espiritual com relação aos próprios pensamentos. 

Seria uma maneira de ratificar, ilustrar e dar maior dimensão ao "Vigiai e Orai" de Jesus. Ademais, seria reforçar a necessidade de reforma íntima e vigilância de todos os espíritas, médiuns ou não. 
Afinal, todas as pessoas, sem exceção, podem vir a ser obsidiadas, justamente em função da possibilidade de comunicação telepática com outrem, o que é inerente a todos os seres espirituais, encarnados ou não.

A discussão deste tema nos leva, indiretamente, a analisar a definição de Mediunidade. Entre várias definições coerentes com os postulados Kardequianos encontradas no movimento espírita, é possível que uma definição bem próxima àquela utilizada por Divaldo Pereira Franco em suas palestras favoreça a nossa compreensão inicial do fenômeno mediúnico:

 "Mediunidade é uma faculdade de intercâmbio espiritual inerente ao Espírito que determinada predisposição orgânica e/ou perispiritual favorece em maior ou menor grau sua manifestação". 
Essa definição consegue abranger, por exemplo, os fenômenos mediúnicos que ocorrem no mundo espiritual, já que não restringe o fenômeno mediúnico a um processo puramente físico. 

Importante adir que tal definição também é respaldada pelos ensinos do Dr. Bezerra de Menezes na obra de Yvonne Pereira "Recordações da Mediunidade", onde o Benfeitor afirma que os grandes médiuns são preparados para suas tarefas, normalmente, em mais de uma encarnação, denotando que é uma faculdade do Ser Espiritual, muito embora, também dependa de condições perispirituais e orgânicas.

Um adendo relevante diz respeito aos termos vidência e audiência/clarividência e clariaudiência, pois, de fato, existe certa confusão no movimento espírita, e, muitas vezes, só conseguimos decodificar o que o autor está enunciando pelo contexto da frase. No entanto, o emprego dos referidos termos utilizados por Allan Kardec, ainda parece ser o mais conveniente.  

Para o Codificador do Espiritismo, vidência seria basicamente a Mediunidade de ver Espíritos desencarnados, e clarividência, também chamada Dupla Vista, seria o fenômeno de Emancipação da Alma associado à faculdade de ver algo material além das limitações dos olhos de carne através de um desdobramento perispiritual (Emancipação da Alma). 

De forma similar, audiência seria fundamentalmente a mediunidade de ouvir os Espíritos desencarnados, enquanto que clariaudiência seria ouvir algo material além do alcance dos ouvidos de carne, ou seja, com os "ouvidos perispirituais", através de desdobramento perispiritual (Emancipação da Alma).

Obviamente, há casos em que os dois fenômenos acontecem concomitantemente, pois o indivíduo pode desdobrar-se, conversar e ver um Espírito desencarnado em um local físico distante. 
Contudo, os dois fenômenos poderiam acontecer de forma independente.O termo "Animismo" foi cunhado por Alexander Aksakof, autor de "Animismo e Espiritismo". Kardec discute a mesma ideia, mas não utiliza esse termo. 
Alguns também utilizam o termo "Personismo", mas essa expressão não foi consagrada pelo uso. 

De qualquer forma, assim como ocorre com o termo “Passe”, de autoria de Samuel Hahnemann, e com a palavra “Ectoplasma”, criada por Charles Richet, o “Pai da Metapsíquica”, o Movimento Espírita utiliza regularmente tal expressão para designar basicamente a manifestação dita “paranormal”, em que o Espírito atuante é o próprio médium. 

Vale ressaltar que tal fenômeno de maneira nenhuma pode ser confundido com mistificações conscientes, onde, obviamente, não há a ocorrência de um fenômeno paranormal real.
Com relação à Mediunidade, também é importante fazer uma pequena distinção entre a percepção extrassensorial ou suprassensorial “simples” e a Mediunidade “Completa”. 
As crianças até a faixa etária dos sete anos, por exemplo, estão vivenciando um processo sob certo aspecto incompleto de encarnação, o que torna o indivíduo nessa fase mais predisposto a um contato de natureza espiritual. 

Entretanto, essa condição, na maioria das vezes, aumenta um pouco a predisposição mediúnica, o que pode não ser tão decisivo do ponto de vista da ocorrência de fenômenos ostensivos propriamente ditos, se o reencarnado já não apresentar um nível significativo de mediunidade. Chico, Divaldo, Raul e Yvonne já manifestavam intensos fenômenos mediúnicos nessa faixa etária e continuaram durante toda a vida, porque eram "médiuns de ação".caso destes notáveis exemplos, inclusive, podemos tranquilamente afirmar que se trata de portadores do chamado “Mediunato”. 

Em indivíduos que não são médiuns de ação, esses contatos mediúnicos na primeira infância poderiam acontecer, mas em um grau muito menos efetivo. 
Aliás, nesta mesma obra (Recordações da Mediunidade), Dr. Bezerra de Menezes afirma, através de D. Yvonne Pereira, que os médiuns que manifestam significativa Mediunidade desde a primeira infância, normalmente, são os médiuns mais seguros, pois já foram preparados para essa tarefa em vidas anteriores. 
Realmente, a vida missionária destes irmãos ilustra a coerência desta afirmação. Os animais, por exemplo, também poderiam apresentar uma percepção espiritual, o que não deixa de ser um rudimento de mediunidade. 

Porém, a Mediunidade em sua proposta mais profunda à luz da Doutrina Espírita, implica em uma finalidade de bondade e iluminação intelectual de todos os envolvidos no processo psíquico em questão. 

Tal diferenciação é discutida pelo Professor Herculano Pires em sua obra intitulada “Mediunidade”.

Aliás, Kardec discute a mediunidade dos animais no capítulo 22 de "O Livro dos Médiuns" (intitulado "Da Mediunidade dos Animais"), mas, de fato, é um texto apenas introdutório sobre tão complexo tema. 

Inclusive, são dignas de registro as excelentes notas de rodapé do Professor J. Herculano Pires, na versão da LAKE, que muito contribuem para uma melhor compreensão desse capítulo. 

É possível que o Codificador do Espiritismo, conscientemente, tenha deixado alguns pontos para o futuro, talvez por entender que não tínhamos naquele momento histórico condições para discussões mais profundas sobre o nível de consciência dos animais. 

 


domingo, 28 de julho de 2013


 
Sexo nos Espíritos: o pensamento de Kardec

Discute-se, em nosso movimento espírita, a respeito da sexualidade dos Espíritos desencarnados. Se eles mantêm a forma humana, então conservam o gênero masculino ou feminino? 
Há entre eles relação sexual?  E se existe esse tipo de relação, podem reproduzir-se, no além?
Allan Kardec ocupou-se dessa temática e teve oportunidade de apresentar suas ideias de forma didática e esclarecedora. Sem desconsiderar opiniões de outros autores (encarnados ou desencarnados) valemo-nos, neste estudo, das ideias do mestre Kardec, Codificador da Doutrina Espírita.
Na resposta ao item 822-a de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores grafaram o seguinte: Os sexos só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferenças entre eles a esse respeito.
Anteriormente, nos itens 200 a 202 da obra citada eles haviam dito que os sexos dependem da constituição orgânica (item 200), que o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher em uma nova existência, pois são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres (item 201) e que quando somos Espíritos preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher dependendo das provas que tivermos de sofrer (item 202).
Pelo dito, fica claro que os Espíritos não possuem polaridade sexual, gênero masculino/feminino, sendo, nesse particular, assexuados. Tal constatação, todavia, pode levantar o seguinte questionamento: como então, nas obras mediúnicas, ou nas sessões de intercâmbio com os desencarnados eles se apresentam com a forma masculina e feminina, até mesmo enamorados uns dos outros ou eventualmente vivendo juntos na condição de esposos?
A excelente explicação vem pelo codificador, em ensaio publicado na Revista Espírita, janeiro de 1866, página 4: Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências impostas pelo mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos.
Importa considerar que as descrições do Mundo dos Espíritos que recebemos via mediúnica referem-se a regiões muito próximas da crosta terrestre, habitadas por Espíritos ainda muito materializados, segundo refere Kardec, no texto acima. Quase nenhuma referência possuímos da vida dos Espíritos em esferas superiores. (Uma referência breve vamos identificar em Nosso Lar, no capitulo “O sonho”, quando André Luiz, em corpo mental, visita sua mãe em uma esfera acima daquela onde se encontra a colônia citada descrita no livro.) Nas esferas próximas da crosta há absoluta prevalência de Espíritos de evolução primária, que, em sua maioria, nem se dão conta da desencarnação, nutrindo apetites e ansiando vivências similares às da Terra.
No Livro dos Médiuns, item 74, Kardec escreveu: Nos Espíritos inferiores (seu perispírito) aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade.
Isso poderia explicar os relatos mediúnicos sobre Espíritos atormentados pelas emoções sexuais, verdadeiros vampiros da sexualidade de encarnados imprevidentes. Impossibilitados de saciarem sua libido, se acoplam magneticamente a casais com os quais sintonizam, todos eles igualmente com a sexualidade destrambelhada, absorvendo as emanações psíquicas liberadas durante a relação sexual.
É curioso observarmos que Kardec, no ensaio citado anteriormente (Revista Espírita, janeiro de 1866) admite a hipótese de uma inversão da libido desencadeada pela reencarnação em um corpo físico que não corresponde à psicologia do Espírito, que vinha vivenciando muitas existências em apenas uma polaridade sexual (masculina ou feminina). Tal ocorrência poderia explicar alguns casos da homossexualidade. Confira o texto original: Se essa influencia se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres.
Mas afinal, os Espíritos desencarnados fazem sexo, ou seja, existem relações sexuais entre eles? As descrições do modo de vida na erraticidade se reportam a Espíritos dormindo, se alimentando, namorando... mas intercurso sexual ocorre ou não?
A resposta é não, segundo o pensamento de Allan Kardec.
Em duas oportunidades, ambas registradas na Revista Espírita, Kardec expõe suas ideias de maneira indiscutível.
Na Revista Espírita de junho de 1862, após dialogo instrutivo com uma entidade que pertencera à Sociedade Parisiense, Kardec escreve: Os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil.
Ainda na Revista Espírita, janeiro de 1866, Kardec volta ao tema com o mesmo posicionamento: As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que os unem nada têm de carnal e, por isso mesmo, são mais duráveis, porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da matéria. Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Admite o codificador que há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos (O Livro dos Espíritos, item 200).
E, finalmente, examinando o sofrimento advindo das paixões inferiores, Kardec reproduz em O Livro dos Espíritos o seguinte pensamento dos Benfeitores: Embora as paixões não existam materialmente, ainda persistem no pensamento dos Espíritos atrasados (item 972). Referindo-se à impossibilidade do intercurso sexual entre eles, comenta que esse tipo de paixão causa suplício no espírito devasso que vê as orgias de que não pode participar (item 972-a).
O tema é complexo e está aberto a novas contribuições. Esperamos ter colaborado para o debate, ao apresentar a linha de pensamento de Kardec.


Discute-se, em nosso movimento espírita, a respeito da sexualidade dos Espíritos desencarnados. Se eles mantêm a forma humana, então conservam o gênero masculino ou feminino? Há entre eles relação sexual?  E se existe esse tipo de relação, podem reproduzir-se, no além?
Allan Kardec ocupou-se dessa temática e teve oportunidade de apresentar suas ideias de forma didática e esclarecedora. Sem desconsiderar opiniões de outros autores (encarnados ou desencarnados) valemo-nos, neste estudo, das ideias do mestre Kardec, Codificador da Doutrina Espírita.
Na resposta ao item 822-a de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores grafaram o seguinte: Os sexos só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferenças entre eles a esse respeito.
Anteriormente, nos itens 200 a 202 da obra citada eles haviam dito que os sexos dependem da constituição orgânica (item 200), que o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher em uma nova existência, pois são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres (item 201) e que quando somos Espíritos preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher dependendo das provas que tivermos de sofrer (item 202).
Pelo dito, fica claro que os Espíritos não possuem polaridade sexual, gênero masculino/feminino, sendo, nesse particular, assexuados. Tal constatação, todavia, pode levantar o seguinte questionamento: como então, nas obras mediúnicas, ou nas sessões de intercâmbio com os desencarnados eles se apresentam com a forma masculina e feminina, até mesmo enamorados uns dos outros ou eventualmente vivendo juntos na condição de esposos?
A excelente explicação vem pelo codificador, em ensaio publicado na Revista Espírita, janeiro de 1866, página 4: Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências impostas pelo mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos.
Importa considerar que as descrições do Mundo dos Espíritos que recebemos via mediúnica referem-se a regiões muito próximas da crosta terrestre, habitadas por Espíritos ainda muito materializados, segundo refere Kardec, no texto acima. Quase nenhuma referência possuímos da vida dos Espíritos em esferas superiores. (Uma referência breve vamos identificar em Nosso Lar, no capitulo “O sonho”, quando André Luiz, em corpo mental, visita sua mãe em uma esfera acima daquela onde se encontra a colônia citada descrita no livro.) Nas esferas próximas da crosta há absoluta prevalência de Espíritos de evolução primária, que, em sua maioria, nem se dão conta da desencarnação, nutrindo apetites e ansiando vivências similares às da Terra.
No Livro dos Médiuns, item 74, Kardec escreveu: Nos Espíritos inferiores (seu perispírito) aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade.
Isso poderia explicar os relatos mediúnicos sobre Espíritos atormentados pelas emoções sexuais, verdadeiros vampiros da sexualidade de encarnados imprevidentes. Impossibilitados de saciarem sua libido, se acoplam magneticamente a casais com os quais sintonizam, todos eles igualmente com a sexualidade destrambelhada, absorvendo as emanações psíquicas liberadas durante a relação sexual.
É curioso observarmos que Kardec, no ensaio citado anteriormente (Revista Espírita, janeiro de 1866) admite a hipótese de uma inversão da libido desencadeada pela reencarnação em um corpo físico que não corresponde à psicologia do Espírito, que vinha vivenciando muitas existências em apenas uma polaridade sexual (masculina ou feminina). Tal ocorrência poderia explicar alguns casos da homossexualidade. Confira o texto original: Se essa influencia se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres.
Mas afinal, os Espíritos desencarnados fazem sexo, ou seja, existem relações sexuais entre eles? As descrições do modo de vida na erraticidade se reportam a Espíritos dormindo, se alimentando, namorando... mas intercurso sexual ocorre ou não?
A resposta é não, segundo o pensamento de Allan Kardec.
Em duas oportunidades, ambas registradas na Revista Espírita, Kardec expõe suas ideias de maneira indiscutível.
Na Revista Espírita de junho de 1862, após dialogo instrutivo com uma entidade que pertencera à Sociedade Parisiense, Kardec escreve: Os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil.
Ainda na Revista Espírita, janeiro de 1866, Kardec volta ao tema com o mesmo posicionamento: As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que os unem nada têm de carnal e, por isso mesmo, são mais duráveis, porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da matéria. Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Admite o codificador que há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos (O Livro dos Espíritos, item 200).
E, finalmente, examinando o sofrimento advindo das paixões inferiores, Kardec reproduz em O Livro dos Espíritos o seguinte pensamento dos Benfeitores: Embora as paixões não existam materialmente, ainda persistem no pensamento dos Espíritos atrasados (item 972). Referindo-se à impossibilidade do intercurso sexual entre eles, comenta que esse tipo de paixão causa suplício no espírito devasso que vê as orgias de que não pode participar (item 972-a).
O tema é complexo e está aberto a novas contribuições. Esperamos ter colaborado para o debate, ao apresentar a linha de pensamento de Kardec.

Ricardo Baesso de Oliveira - O Consolador